A Arte da empatia
Seis Hábitos de Pessoas
Altamente Empáticas!
Hábito 1: Cultive curiosidade por
desconhecidos
Pessoas Altamente Empáticas têm uma
curiosidade insaciável em relação a estranhos. São aqueles que vão falar com a
pessoa que senta do lado deles no ônibus, mantendo aquela atitude questionadora
natural que todos nós tínhamos quando crianças, mas que a sociedade é tão boa
em arrancar da gente.
Eles acham que outras pessoas são
mais interessantes, acredita que cada um tem sua lição de vida para ensinar,
que eles mesmos, contudo, não estão ali para interrogá-los. Eles respeitam o
conselho do historiador oral Studs Terkel: Não seja um examinador, pergunte com
interesse.
A curiosidade expande nossa empatia
quando conversamos com pessoas de fora do nosso círculo social habitual, na
medida em que nos deparamos com vidas e perspectivas de mundo muito diferentes
das nossas.
Curiosidade é bom para a gente também: o guru
da felicidade Martin Seligman identifica curiosidade como uma força de caráter
chave que pode aumentar nossa satisfação na vida.
Além de ser um remédio útil
para a solidão crônica que tem afligido quase um entre três americanos.
Cultivar curiosidade requer mais que
ter uma rápida conversa sobre o tempo. Essencialmente, é preciso tentar
entender o mundo dentro da cabeça da outra pessoa.
Nós nos deparamos com estranhos todos os dias,
como a mulher cheia de tatuagens que entrega a correspondência ou o novo
empregado que sempre almoça sozinho.
Estabeleça para você mesmo o desafio de ter uma
conversa com um estranho toda semana. Tudo que você precisa é coragem.
Hábito 2: Desafie seus preconceitos e
descubra coisas em comum.
Nós todos fazemos suposições sobre os
outros e usamos rótulos coletivos – por exemplo, “islâmico fundamentalista”,
“mãe para ganhar bolsa família” – que nos impedem de apreciar a individualidade
deles.
As Pessoas Altamente Empáticas enfrentam seus
próprios pré-conceitos e preconceitos na medida em que procuram por coisas que
compartilham com as pessoas; e não pelo que os dividem.
Um episódio que ocorreu na história racial dos
Estados Unidos ilustra como isso pode acontecer.
Claiborne Paul Ellis nasceu em uma
família de brancos pobres em Durham, na Carolina do Norte, em 1927. Com
dificuldades para pagar as contas, trabalhando em uma oficina e acreditando que
os afro-americanos eram a causa de todos os problemas dele,
ele seguiu os
passos do pai e se filiou a Ku Klux Klan (KKK)*, eventualmente alcançando a
mais alta posição de “Elevado Ciclope” (Exalted Cyclops) da filial local do
KKK *grupo que historicamente se reúne
sob a bandeira da segregação racial e da crença na superioridade do “homem
branco”.
Em 1971, ele foi convidado – por ser
um cidadão local de destaque – para um encontro da comunidade que iria durar
dez dias para lidar com as tensões raciais nas escolas. Acabou sendo escolhido
para liderar o comitê de coordenação com Ann Atwater, uma ativista negra que
ele desprezava.
Mas trabalhar com ela explodiu os preconceitos
dele em relação aos afro-americanos. Ele viu que ela passou pelas mesmas
dificuldades da pobreza que ele próprio.
“Eu estava começando a olhar para um negro,
apertar a mão dele e vê-lo como um ser humano”, disse ele, relembrando a experiência
no comitê. “Foi quase como nascer de novo”. Na última noite do encontro, ele
rasgou o cartão dele de membro do Klan diante de mil pessoas.
Ellis se tornou depois um líder
sindical de uma organização em que 70 por cento dos associados era afro-americanos.
Ele e Ann permaneceram amigos pelo resto da vida. Talvez não haja melhor
exemplo do poder da empatia para vencer o ódio e mudar as nossas mentes.
Hábito 3: Experimente a vida de outra
pessoa
Você acha mesmo que escalada no gelo
ou voar de asa delta são esportes radicais? Então você precisa experimentar a
empatia experiencial: o mais desafiador – e potencialmente mais gratificante –
de todos.
Pessoas Altamente Empáticas expandem a empatia
adquirindo uma experiência direta da vida de outras pessoas. Eles colocam em
prática o provérbio dos indígenas norte-americanos: “ande por um quilômetro com
a sandália do outro antes de criticá-lo”.
George Orwell é um exemplo
inspirador. Depois de muitos anos como oficial da polícia colonial britânica em
Burma (atual Myanmar), na década de 1920, Orwell retornou para a Grã-Bretanha
determinado a descobrir como era a vida daqueles que viviam à margem da
sociedade.
“Eu queria submergir, descer junto aos
oprimidos”, escreveu ele.
Então, ele se vestiu como um mendigo, com sapatos e
casacos maltrapilhos, e viveu nas ruas da zona leste de Londres com pedintes e
desocupados.
O resultado, registrado em seu livro
Na pior em Paris e Londres, foi uma mudança radical em suas crenças,
prioridades e relacionamentos. Orwell não só compreendeu que as pessoas em
situação de rua não são “bêbados safados”, como fez novas amizades, mudou sua
visão sobre a desigualdade e juntou um material literário magnífico.
Foi a melhor experiência de viagem da vida
dele. Ele compreendeu que empatia não apenas te faz uma pessoa do bem, mas
também faz bem para você.
Todos nós podemos fazer os nossos
próprios experimentos. Se você for uma pessoa religiosa, experimente fazer uma
“troca de Deus”, indo a cerimônias religiosas que professem fé diferente da
sua, incluindo encontros de Humanistas.
Ou, se você for ateu, experimente ir a
diferentes igrejas. Passe suas próximas férias vivendo e trabalhando como
voluntário em um país em desenvolvimento. Siga o caminho que defendia o
filósofo John Dewey, que falava: “toda educação genuína vem da experiência”.
Hábito 4: Ouça bastante e tenha
abertura
Há duas características que são
necessárias para ser uma pessoa boa de conversa empática.
Uma é dominar a arte da escuta
radical.
“O essencial”, afirma Marshall Rosenberg, psicólogo
e fundador da Comunicação Não-Violenta (CNV), “é nossa habilidade de estar
presente para o que realmente está acontecendo ali dentro – para aqueles
sentimentos e necessidades que só aquela pessoa está vivenciando naquele exato
momento”.
Pessoas Altamente Empáticas ouvem os outros
com intensidade e fazem tudo que podem para compreender o estado emocional e as
necessidades deles, seja a pessoa um amigo que tenha acabado de ser
diagnosticado com câncer ou a esposa que está chateada porque ele vai ter que
trabalhar até tarde mais uma vez.
Mas não basta ouvir. A segunda
característica é expor nossa própria vulnerabilidade. Remover nossas máscaras e
revelar nossos sentimentos a alguém é vital para que seja criado um forte
vínculo empático.
Empatia é uma via de mão dupla que, na sua
forma mais elevada, é construída sobre o entendimento mútuo – uma troca em que
compartilhamos nossas crenças e experiências mais importantes.
Organizações como o Círculo de Pais
Israelo-palestiniano colocam tudo isso em prática quando juntam famílias de
vítimas dos dois lados do conflito para se reunirem, ouvirem, e falarem.
Compartilhar histórias sobre como seus entes
queridos morreram possibilita que as famílias compreendam que elas compartilham
a mesma dor e o mesmo sangue, embora estejam em lados opostos do muro político.
E isso tem ajudado a criar um dos mais poderosos movimentos sociais de
construção da paz.
Hábito 5: Inspire ações de grande
escala e de transformação social
Normalmente, presumimos que a empatia
ocorre entre indivíduos, mas as Pessoas Altamente Empáticas compreendem que
empatia também pode ser um fenômeno de massa que leva a transformações sociais
fundamentais.
Pense nos movimentos antiescravistas
no século XVIII e XIX em ambos os lados do Atlântico. Como o jornalista Adam
Hochschild nos lembra:
“Os abolicionistas não colocaram a esperança
deles em textos sagrados, mas sim na empatia humana”, fazendo tudo que podiam
para fazer com que as pessoas compreendessem a real situação de sofrimento que
se passava nas plantações e nos navios negreiros.
Da mesma forma, o movimento sindical
internacional cresceu em função da empatia que havia entre os trabalhadores
industriais que se uniram por causa da exploração que sofriam.
A impressionante
resposta das pessoas ao tsunami asiático de 2004 surgiu de um sentimento de
preocupação empática pelas vítimas, cuja situação foi exibida em nossos lares
de forma dramática em vídeos que chacoalhavam.
É muito mais provável que a empatia
floresça em uma escala coletiva se as sementes forem plantadas em nossas
crianças. É por isso que Pessoas Altamente Empáticas apoiam iniciativas como a
iniciativa canadense pioneira “Raízes da Empatia” (Roots of Empathy), o mais
efetivo programa de ensino de empatia do mundo, que tem beneficiado mais de meio
milhão de crianças em escolas.
O currículo único dessa iniciativa foca em
crianças, com ênfase no aprendizado de inteligência emocional – e os resultados
incluem reduções significativas de bullying no playground e níveis mais
elevados de desempenho acadêmico.
Além da educação, o grande desafio é
descobrir como a tecnologia de redes sociais pode mobilizar o poder da empatia
para criar ações políticas de massa.
O Twitter pode ter levado pessoas para as
ruas no Ocupe Wall Street (Ocupy Wall Street) e na Primavera Árabe, mas será
que ele consegue nos convencer a nos preocupar profundamente com o sofrimento
de estranhos em lugares distantes,
sejam eles produtores rurais na África
sofrendo com a seca ou sejam as futuras gerações que vão ter que suportar o impacto
do nosso modo de vida viciado em carbono? Isso só vai acontecer se as redes
sociais aprenderem a espalhar não apenas informações, mas também conexões
empáticas.
Hábito 6: Desenvolva uma imaginação
ambiciosa
Uma última característica de Pessoas
Altamente Empáticas é que elas fazem muito mais do que ter empatia pelo
público-alvo habitual. Nós tendemos a acreditar que empatia deve ficar
reservada para aqueles que vivem à margem da sociedade ou que estão sofrendo.
Isso é necessário, mas não está nem perto de ser o bastante.
Também precisamos ter empatia por
pessoas cujas crenças não compartilhamos ou que, de alguma forma, são
consideradas “inimigas”. Se você é um ativista do aquecimento global, por
exemplo, pode valer a pena tentar se colocar no lugar de executivos de
companhias de petróleo – compreendendo o pensamento e as motivações deles – se
você quiser elaborar estratégias efetivas para colocá-los no rumo do
desenvolvimento de energias renováveis.
Um pouco dessa “empatia instrumental”
(às vezes conhecida como “antropologia de impacto”) pode ir longe.
Ter empatia por adversários é também
uma via para a tolerância social. Esse era o pensamento de Gandhi durante os
conflitos entre muçulmanos e hindus que antecederam a independência da Índia em
1947, quando ele declarou: “Eu sou um muçulmano! E um hindu, e um cristão e um
judeu”.
Organizações, também, devem ser
ambiciosas com seu pensamento empático. Bill Drayton, o renomado “pai do
empreendedorismo social”, acredita que, em uma era marcada pela rápida mudança
tecnológica, adquirir domínio sobre a empatia é a habilidade crucial para a
sobrevivência do negócio, uma vez que ela está na base do sucesso do trabalho
em equipe e da liderança.
A influente Fundação Ashoka, criada por ele, lançou a
iniciativa “Ativando Empatia”, que está levando suas ideias para líderes
empresariais, políticos e educadores de todo o mundo.
No século XX, tivemos a Era da
Introspecção, quando a autoajuda e a cultura da terapia nos encorajaram a
acreditar que o melhor jeito de entender quem nós somos e como devemos viver
era olhando para dentro de nós mesmos.
Mas isso nos deixou focados em nossos
próprios umbigos. O século XXI deve se tornar a Era da Empatia, quando nós
descobriremos a nós mesmos não simplesmente por meio da autorreflexão, mas
gerando interesse pelas vidas dos outros.
Precisamos de empatia para criar um
novo tipo de revolução. Não uma revolução antiquada criada por novas leis,
instituições ou políticas, mas uma revolução radical nos relacionamentos
humanos.
“Um mar calmo nunca fez um bom
navegador” – Citação inglesa.
*Traduzido do artigo publicado no
site UPLIFT (http://upliftconnect.com/six-habits-highly-empathic-people)
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