Oração à Mim Mesmo
Oswaldo Antônio Begiato
Que eu me
permita olhar e escutar e sonhar mais. Falar menos. Chorar menos. Ver nos olhos
de quem me vê a admiração que eles me têm e não a inveja que prepotentemente
penso que têm.
Escutar
com meus ouvidos atentos e minha boca estática, as palavras que se fazem gestos
e os gestos que se fazem palavras. Permitir sempre escutar aquilo que eu não
tenho me permitido escutar. Saber realizar os sonhos que nascem em mim e por
mim e comigo morrem por eu não os saber sonhos.
Então,
que eu possa viver os sonhos possíveis e os impossíveis; aqueles que morrem e
ressuscitam a cada novo fruto, a cada nova flor, a cada novo calor, a cada nova
geada, a cada novo dia. Que eu possa sonhar o ar, sonhar o mar, sonhar o amar,
sonhar o amalgamar. Que eu me permita o silêncio das formas, dos movimentos, do
impossível, da imensidão de toda profundeza.
Que eu
possa substituir minhas palavras pelo toque, pelo sentir, pelo compreender, pelo
segredo das coisas mais raras, pela oração mental (aquela que a alma cria e que
só ela, alma, ouve e só ela, alma, responde).
Que eu
saiba dimensionar o calor, experimentar a forma, vislumbrar as curvas, desenhar
as retas, e aprender o sabor da exuberância que se mostra nas pequenas
manifestações da vida.
Que eu
saiba reproduzir na alma a imagem que entra pelos meus olhos fazendo-me parte
suprema da natureza, criando-me e recriando-me a cada instante. Que eu possa
chorar menos de tristeza e mais de contentamentos. Que meu choro não seja em
vão, que em vão não sejam minhas dúvidas. Que eu saiba perder meus caminhos mas
saiba recuperar meus destinos com dignidade.
Que eu
não tenha medo de nada, principalmente de mim mesmo: Que eu não tenha medo de
meus medos!
Que eu
adormeça toda vez que for derramar lágrimas inúteis, e desperte com o coração
cheio de esperanças. Que eu faça de mim um homem sereno dentro de minha própria
turbulência, sábio dentro de meus limites pequenos e inexatos, humilde diante
de minhas grandezas tolas e ingênuas(que eu me mostre o quanto são pequenas
minhas grandezas e o quanto é valiosa minha pequenez).
Que eu me
permita ser mãe, ser pai, e, se for preciso, ser órfão. Permita-me eu ensinar o
pouco que sei e aprender o muito que não sei, traduzir o que os mestres
ensinaram e compreender a alegria com que os simples traduzem suas
experiências; respeitar incondicionalmente o ser; o ser por si só, por mais
nada que possa ter além de sua essência, auxiliar a solidão de quem chegou, render-me
ao motivo de quem partiu e aceitar a saudade de quem ficou.
Que eu
possa amar e ser amado. Que eu possa amar mesmo sem ser amado, fazer gentilezas
quando recebo carinhos; fazer carinhos mesmo quando não recebo gentilezas. Que
eu jamais fique só, mesmo quando eu me queira só. Amém
- Oswaldo
Antônio Begiato –
Postado por Dharmadhannya
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