Casos
recorrentes de violência, ansiedade, apatia e outros transtornos entre
estudantes no retorno às aulas presenciais requerem acolhimento e ações por
parte das escolas e demais setores; saiba mais
Por
Stephanie Kim Abe
No começo de abril deste ano, a Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Ageu Magalhães, no Recife (PE), esteve em destaque na mídia por conta do episódio em que 26 estudantes tiveram que ser socorridos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) devido a crises de ansiedade na última semana de provas.
Pouco mais de um mês depois, outro caso parecido aconteceu na Erem Professor Mardônio de Andrade Lima Coelho, na Bomba do Hemetério, zona norte da capital pernambucana. Mais de 20 estudantes tiveram crise de ansiedade, com falta de ar e crises de choro, e também tiveram que ser atendidos pelo Samu.
A professora Dra. Silvia M. Gasparian Colello, da Universidade de São Paulo (USP), que trabalha com psicologia da educação, relata:
Muitas escolas estão reclamando também que as crianças voltaram com falta de limites. Outras perceberam estudantes mais apáticas(os). Ou seja, o impacto desse período de isolamento social nas crianças e nos adolescentes tem se manifestado de diferentes formas: problemas de sono, transtornos alimentares, crises de ansiedade, apatia, depressão, agressividade etc. Como esses sintomas são difusos, é difícil ter ideia do quanto, de fato, as crianças e jovens foram afetadas(os). Por isso acho que esse problema está subnotificado.”
Silvia Colello
Isolamento,
desenvolvimento, saúde mental e aprendizagem
É direito
de toda criança, adolescente e jovem frequentar a escola, onde devem ser
garantidas condições para cada um(a) se desenvolver em suas múltiplas
dimensões: física, intelectual, social, emocional e simbólica. Ainda que os
benefícios que esse espaço traz para sua formação sejam bem conhecidos pela
população no geral, com a pandemia ficou mais evidente o quanto as crianças
sofreram ao estarem limitadas por dois anos apenas ao lar como espaço de
convívio.
Mais do que isso, é no espaço escolar que as crianças e as(os) adolescentes também desenvolvem sua identidade, sua capacidade de questionamento, de problematização do mundo. E, para que a aprendizagem de fato ocorra, elas(es) precisam estar dispostas(os) e em sintonia com a escola e as pessoas com quem convivem nesse ambiente.
É por isso que as escolas têm que acolher e encontrar estratégias para trabalhar os conteúdos de modo significativo nesse retorno presencial, já que os vínculos foram cortados e os sujeitos precisam se abrir de novo para a aprendizagem.”
Os
problemas relacionados à saúde mental, intensificados neste momento, também
atingem fortemente adolescentes e jovens, afetando inclusive sua relação com a
educação. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep), a taxa de abandono escolar no ensino médio na rede
pública, de 2020 para 2021, mais do que dobrou, saltando de 2,3% para 5%. Os
dados integram a segunda etapa do Censo Escolar da Educação Básica, divulgada
em maio deste ano.
Pode Falar
Muito se
fala em acolhimento, mas, de acordo com as especialistas entrevistadas, esse
acolhimento vai além de uma simples roda de conversa no começo de cada período
escolar.
No Brasil, nós não fazemos ideia de quantas(os) estudantes perderam os entes responsáveis por elas(es), por exemplo. Nos Estados Unidos, eu tenho um dado de que uma a cada 450 crianças perdeu seu cuidador direto (pai, mãe ou avó) para a Covid. Em Nova York, esse número é de uma a cada 200 crianças. É preciso entender essa e outras situações que afetam o emocional de nossas(os) alunas(os) e, assim, pensar em ações de prevenção e atenção.”
Anna
Helena Altenfelder, presidente do Conselho de Administração do Cenpec, pondera:
“Considerando que já estamos em aulas presenciais há pelo menos um semestre, o
foco agora é olhar para a sala de aula e para a promoção da saúde mental nesse
espaço.”
Com base
nesse roteiro de observação, professoras(es) e gestoras(es) saberão melhor em
que pontos é preciso trabalhar para garantir a devida atenção à saúde mental
das(os) estudantes. É importante que
esse trabalho seja feito em conjunto por todo o corpo docente e a equipe
gestora.
"Sabemos quando um(a) aluno(a) super participativo(a) está mais introspectivo(a) e que, se ele(a) se mantém assim por alguns dias, vale encaminhar para a coordenação ou acionar algum protocolo. O papel da escola é de acompanhamento”, explica Carolina.
Nesse
sentido, a escola precisa investir mais em reconstruir esse vínculo com as(os)
estudantes, que ficou fragilizado durante a pandemia, reforça a professora
Silvia Colello. Investir em atividades lúdicas, como jogos e brincadeiras, ou
eventos que agreguem todas(os) na escola, como mostra de artes, piquenique,
contação de história ou olimpíadas, são algumas de suas sugestões para motivar
as(os) estudantes a se sentirem pertencentes à escola novamente. Repensar
regras de convivência no espaço escolar junto com as turmas também é uma boa
opção.
Educação
infantil e anos inicias do ensino fundamental
💭 Rememorando vivências pela arte
💭 Conhecendo e representando o(a)
outro(a) pela arte
💭 Recriando histórias com as crianças
💭 Brinquedoteca para todo mundo
💭 Jogos e brincadeiras na praça
💭 Um cineclube na comunidade
💭 Vamos fazer um sarau?
💭 O direito de dizer Sim ou Não
💭 Visitando museus
Sem
dúvida, em um contexto como o que estamos vivendo é importante falar sobre
estratégias de acolhimento, mas também falar do acolhimento no próprio ensino e
aprendizagem, pondera a educadora Maria Amabile Mansutti, consultora do Cenpec:
A escola precisa garantir às(aos) estudantes o espaço de protagonismo no aprendizado, colocá-las(os), de fato, no centro do processo de ensino e aprendizagem. Para isso, é preciso fazer mudanças profundas nas práticas pedagógicas e nas relações que acontecem na escola. É preciso investir na autonomia das(os) alunas(os), valorizar que pensem e ajam por conta própria, busquem informações e alternativas, discordem, façam autoavaliação. É preciso ensinar mostrando que o conhecimento é uma construção conjunta entre professoras(es) e estudantes, e destes entre si, a partir das potencialidades cognitivas, físicas, sociais e emocionais de cada um(a).”
Investimento
e políticas públicas
No estudo
A situação mundial da infância 2021, a UNICEF faz um apelo para que governos de
todos os países se comprometam a realizar ações que promovam a saúde mental de
crianças e adolescentes, combatendo o estigma e a falta de financiamento. Entre
as medidas propostas, estão a integração e a ampliação de serviços de
diferentes setores que lidam com a questão, como saúde, educação e proteção
social.
Para Anna Helena Altenfelder, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reconhece a educação integral como fundamento pedagógico e afirma um compromisso com uma visão de desenvolvimento humano complexa e não linear.
A escola é a pauta: escuta em jogo
Por DÉBORA SOUZA DE BRITTO
Postado por Dharmadhannya
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