Como aquietar os pensamentos
Na Meditação, enquanto um lado da
mente ordena que o praticante se concentre e faça silêncio, o outro desfia
razões infindáveis para demovê-lo dessa intenção. Com método e disciplina, no
entanto, é possível neutralizar essa dicotomia
Mestre Wu Jyh Cherng
O beabá da Meditação Taoísta
– passo a passo
- Procure uma posição confortável.
· Cruze as pernas em posição de lótus ou semilótus.
· Apóie o dorso das mãos sobre as coxas.
· A mão esquerda deve ficar sob a direita e os polegares devem se tocar levemente.
· A coluna deve ficar reta; porém, se houver dificuldade de mantê-la ereta, pode apoiar as costas.
· Feche os olhos e relaxe o corpo, da cabeça aos pés.
· Encoste a ponta da língua no céu da boca.
· Concentre a atenção na respiração,- que deve ser suave, lenta e
harmoniosa.
· Mantenha a atenção na respiração, buscando - a fusão da mente com a respiração.
· A completa quietude interior é resultado da fusão da energia com a consciência de uma pessoa, ou seja, da integração da mente com a respiração.
· Mergulhe nesse estado de integração entre mente e corpo até atingir- o
estado de extrema quietude.
· Somente a partir desse ponto é que, na verdade, damos início à meditação…
Uma das principais dificuldades do
processo da meditação é a dicotomia que se estabelece na mente do praticante,
no momento em que ele se senta para meditar e se criam duas forças oponentes
que passam a disputar a primazia de seu raciocínio:
um lado da mente ordena que
o praticante se concentre e faça silêncio, enquanto o outro desfia razões
infindáveis para demovê-lo dessa intenção.
Isso significa que, no momento em a
pessoa se senta para descansar, procurando esvaziar a mente dos pensamentos
obsessivos, passa, em vez disso, a se debater perante duas ordens
contraditórias, sem conseguir definir a qual das duas deve obedecer.
No processo da meditação, o
praticante não pode dar continuidade ao pensamento que surge em sua mente no
momento em que ele está procurando concentrar-se em sua respiração, para uni-la
com sua consciência. Ou seja: não se deve alimentar pensamentos.
A pessoa
alimenta um pensamento quando dá livre continuidade ou rejeita rispidamente
esse pensamento; isso significa, na primeira situação, deixar-se levar por
quimeras e, na segunda, brigar com o pensamento, dizendo para ele, por exemplo:
“Vá embora, não se aproxime porque eu não quero dialogar com você”.
Em ambas as situações o praticante
terá saído do estado de meditação para conversar com seus pensamentos: na
primeira hipótese, uma conversa agradável, fundamentada em fantasias; e, na
segunda, uma polêmica disputa de forças.
Se quem conversa durante a meditação
não está de fato meditando, a pessoa que conversa com seus pensamentos terá
deixado de meditar também, ainda que permaneça em posição de lótus.
Como agir
diante dessa situação? Para eliminar e controlar rapidamente o pensamento, tão
logo ele apareça em sua mente, é preciso tomar consciência de sua existência e,
imediatamente, ignorá-lo, voltando sem demora a atenção para a respiração.
A concentração na respiração tem o
poder de controlar pensamentos. Quando o praticante age assim, o pensamento
perde a força que o mantém ativo na mente, interrompe sua trajetória e se
desmancha por si mesmo. Isso é fazer com que ele se torne quieto.
A
concentração na respiração deve ser feita numa medida em que o praticante
consiga contemplar o ar que está respirando, sem apegar-se a ele nem tampouco
se desligar dele. E, para conseguir esse resultado, é preciso não se afastar do
estado de relaxamento.
A concentração excessivamente forte
gera doenças físicas e psíquicas, enquanto a falta de concentração gera
devaneios. Por isso, é de essencial importância a pessoa conseguir se manter na
medida certa da concentração, se quiser um resultado de excelência para sua
prática.
É fundamental manter permanentemente a atenção no ar que se respira
porque assim, conforme o progresso, o praticante poderá alcançar o estado do
Vazio. Desse modo, e envolvido por uma energia harmoniosa, a luz interior
alcançará todo seu ser, criando a Plena Iluminação.
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Fonte: Jornal Tao do Taoísmo – n. 20
Taoismo: Respiração e Ecologia
Quem respira apressado não dura Quem alarga os passos não caminha
Lao Tsé – Tao Te Ching cap. 24
Os versos de Lao Tsé falam da pressa. Todas as coisas feitas com pressa são feitas de uma maneira superficial. Falam da naturalidade.
odas as coisas têm um tempo próprio para acontecerem. Ao darmos um passo maior do que podemos dar, nos cansamos e não podemos caminhar mais.
Também essas palavras dizem que a cultura moderna é uma cultura de “alargar passos”. Nós consumimos muito rapidamente. Existe uma grande crise na Terra em função do que o ser humano dá um passo maior que a natureza.
Ou seja, o homem deixa de se integrar à natureza, com o céu, com a terra, com a floresta e com outros seres, por que tende a dar passos maiores, consumir mais do que pode oferecer.
A terra é rica, mas por mais rica que seja, esse consumo exagerado, esses grandes passos, acabam cansando a terra, cansando o mundo.
Igualmente, passos grandes podem significar o excesso de informações. Temos informação através da visão, da audição, do paladar, das sensações.
Nossos sentidos sensoriais e não sensoriais (intelectuais, racionais e memórias) estão em processo muito acelerado. A quantidade de informações é muito grande. São os grandes passos. Isso nos leva ao stress, a uma ruptura.
Se andarmos muito rapidamente com passos grandes, vamos tropeçar, cair e pisar em buracos, sem conseguirmos nos desviar dos obstáculos da estrada. Ou nos cansamos. Isso traz a ruptura, a quebra.
Quando a vida é vivida em excesso de informação, alimentação e preocupações, de efeitos intelectuais, racionais e sensoriais, todo o nosso recurso humano é desgastado rapidamente quando “alargamos os passos” estamos reduzindo nossa distância de vida.
Se a vida é uma estrada que pode ser caminhada durante digamos, até 120 anos, hoje somos capazes de caminhá-la em doze, trinta, cinquenta anos e terminá-la.
A vida reduz e a intensidade de cada momento aumenta. Isso faz com que a vida se torne muito estressante e curta.
O Taoismo dá muita importância à longevidade, à constância e a fluidez contínua da vida humana. E “alargar os passos” é metaforicamente, uma atitude de redução da vida.
Uma respiração muito apressada não dura muito tempo. Quando a respiração é lenta, podemos respirar por muito tempo. Quem pratica o Tai-Chi, Chi Kun ou meditação sabe disso.
Existe no Taoismo um conceito que é pouco diferente das outras tradições místicas. As outras tradições dizem que uma pessoa quando nasce já vem com um relativo karma que lhe proporciona a possibilidade de uma certa duração na vida.
A maioria das escolas pensa que, dependendo do karma da pessoa, ela pode ter uma vida de menor ou maior duração.
O Taoismo não vê assim. O Taoismo diz que quando uma pessoa nasce, de acordo com o seu karma anterior, ela vai ter provavelmente uma certa quantidade de respirações.
Em resumo, se a pessoa conseguir realizar um bom trabalho respiratório, profundo, e não apressado, naturalmente terá um prolongamento de sua vida, independente do seu “merecido karma”. Respiração mais suave e profunda, vida mais longa.
Quem respira profunda e suavemente capta maior quantidade de oxigênio, energia vital e elimina mais gás carbônico e energias impuras. Uma pessoa com uma respiração suave e profunda possui um diafragma mais conservado, sem tensão e sem reter energias do campo emocional.
Na parte superior do corpo, uma boa energização e oxigenação, possibilitam uma capacidade mental mais ampla. Na parte inferior do corpo, as energias vitais e sexuais ficarão mais plenas. A pessoa tem mais saúde física e mental.
Por isso o Taoismo prega que quem respira mais suavemente e profundamente, naturalmente terá mais saúdo física, energética, mental e emocional.
Imaginemos nós e um trilhão de pessoas respirando com ansiedade, como seria a energia do planeta? Isso traz os desastres naturais como a alteração do clima, do vento, das tempestades, na Terra.
A alteração emocional altera imediatamente a respiração. A grande alteração emocional coletiva altera a respiração da humanidade”.
Devemos ter equilíbrio para respirar e caminhar integrados com a vida. O Taoismo tem uma visão da consciência. Uma pessoa com consciência é naturalmente uma pessoa ecológica e sensata.
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Mestre Wu Jyh Cherng, Sociedade Taoista do Brasil
Fonte: Jornal Tao do Taoismo – n. 19






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