Hoje eu sei
Monja Coen
Publicado em Redação Criativa - Editora Globo
Hoje eu sei que a compaixão é capaz de transformar o mundo e transformar o ser.
Hoje eu sei que a compaixão pode ser desenvolvida, cultivada, que as áreas do cérebro responsáveis pela compaixão podem ser estimuladas.
Hoje eu sei que é possível "musculação de neurônios" através da meditação e do pensamento amoroso, terno, inclusivo, compreensivo, sábio.
Hoje eu sei que Buda se manifesta em cada ser que se entrega à bondade e ao Caminho do Bem, que é o Caminho Iluminado.
Hoje eu sei que a Verdade é o Caminho. A Verdade com "V" maiúsculo, onde tudo está incluso - até mesmo as mentiras.
Hoje eu sei que não sei, que não há nem mesmo um "eu" que sabe e não sabe.
Hoje eu sei que intersomos, interconectados com tudo que existe. Somos um só corpo e uma só vida. Estamos em rede. Na rede de Indra, feita de raios luminosos e em cada intersecção uma jóia recebendo e emitindo raios em todas as direções.
Hoje eu sei que somos co responsáveis pela realidade em que vivemos, pelo mundo em que estamos e que não adianta reclamar, é preciso agir para transformar.
Hoje eu sei que a juventude passa, os amores passam, a velhice passa, os desamores passam. Tudo é transitório e passageiro. O que se une inevitavelmente se separa. E assim é.
Hoje eu sei que a pessoa mais forte é aquela que se bende primeiro - assim como o bambu - flexível.
Hoje eu sei que a água é capaz de se moldar ao recipiente que a contém e que o gelo é duro e pode ferir. Então faço dos ensinamentos sagrados o sol que derrete o gelo e nos liberta de nossa própria frieza.
Hoje eu sei que é preciso sentir, que a indignação é uma alavanca para as grandes transformações e que as grandes transformações são feitas de pequenos gestos simples no dia a dia.
Hoje eu sei que palavras amorosas e ternas afetam as moléculas de água e que somos mais de 75% água. Então eu cuido do que falo, do que penso e como ajo.
Hoje eu sei que a mudança depende de mim, de cada um de nós. E que só há um caminho: ação amorosa e não violenta para resolver conflitos e atritos.
Hoje eu sei que a vida vale a pena ser vivida em sua plenitude deste instante eterno.
E tudo que temos é este instante. Aqui e agora.
Mãos em prece
Monja Coen
Para viver com mais
plenitude
Revista Bons fluidos.
Revista Bons fluidos
Monja Coen acaba de
lançar um livro que toca em um tema fundamental para os dias de hoje: a
depressão. Por meio de uma linguagem lúcida, ela nos mostra caminhos possíveis
para lidar com essa questão com mais presença e energia de vida
Texto: Mônica Manir
De calça, mangas
compridas e colete almofadado, Monja Coen recebeu BONS FLUIDOS na sua casa, no
bairro do Pacaembu, em São Paulo.
Todas as peças que usava eram pretas e,
talvez por isso, seu sorriso parecia luminoso. Ou vai ver já estávamos
influenciados pelo seu novo livro O Sofrimento É Opcional (Bella Editora), que
explica como o zen-budismo pode ajudar a lidar com uma das doenças mais
complexas dos últimos tempos: a depressão.
A conversa foi temperada com
histórias de pessoas devastadas de sentidos que a abordam com sintomas desse
mal. Cláudia Dias Baptista de Souza, que antes de ganhar o nome Coen já teve de
lidar com o próprio desencanto profundo, não vê caminho fácil.
Aos 70 anos, ela
lembra que Buda também se deprimiu ao sair de seu castelo de mimos há 2.600
anos e vislumbrou a doença, a velhice e a morte. Levou lá seu tempo até chegar
ao caminho do meio, sem excessos ou faltas, apego ou aversão. Nesse processo, a
dor é inevitável. O sofrimento? Não exatamente.
Para entender essa sutileza,
meditar, evitar discussões inúteis, silenciar
e conectar-se com
fontes certas ajuda, claro, mas nada como abrir um sorriso ao acordar. “Afinal,
você não morreu durante o sono”, diz a budista seguida por quase 190 mil fãs no
YouTube. A seguir, Coen discorre sobre o tema em um discurso muito generoso.
Depressão é um mal
desse tempo?
Acho que hoje as
pessoas têm mais noção da doença. Antes falavam “estou triste e cansado”. Agora
existe a palavra “depressão”, que reúne toda essa tristeza, cansaço e
desesperança. Não é um mal desse tempo.
Quando os índios brasileiros foram
escravizados, por exemplo, alguns ficaram sem vontade própria e morreram de
tristeza. O mesmo aconteceu com os escravos negros, quando lhes tiraram todas
as perspectivas de vida e possibilidades de alegria, construção, casa e
família. Era um sentimento que eles chamavam de banzo.
Quem costuma procurá-la
com esse sentimento, esse banzo?
Pessoas de várias
organizações (governamentais ou não) me chamam para fazer palestras. Qual o
ponto principal? Depressão. Dentro dos órgãos públicos, o maior motivo de
licença médica é a depressão. É uma doença que está se espalhando e que parece
contagiosa.
É uma epidemia?
É uma epidemia.
E qual seria o
principal agente transmissor da depressão?
Penso que estamos sendo
atingidos por uma mídia não muito responsável e que nem sempre percebe o que
está fazendo. As manchetes costumam ser desagradáveis: criminosos, pessoas
fazendo coisas erradas, desastres, guerras e violência.
A sensação é de
bombardeio por todos os lados. Você liga a televisão e sempre há pessoas
falando mal de alguém, criticando algum partido político, afirmando que o Brasil não tem solução, que está em
crise, quebrado e que ninguém por aqui presta. Como não ficar deprimido com
isso?
O que as pessoas
relatam nas empresas que a convidam para encontros e palestras?
Falam da instabilidade.
Não sabem se continuarão empregadas. Percebo que as pessoas concorrem entre si
em vez de colaborar, uma querendo a posição da outra. O que deveria ser um
lugar de produção, de criatividade, de alegria e de contentamento acaba virando
um local de estresse.
Como podemos
diferenciar tristeza profunda de depressão?
Primeiro, é importante
dizer que não sou especialista em depressão. Mas sei que essa doença não chega
de repente. Ela começa com o que chamamos de dukkha, que é a insatisfação. Essa
é a primeira nobre verdade de Buda. Insatisfação existe. Não é mentira, não é
falsidade. É um desencanto que aos poucos bloqueia a pessoa.
Uma jovem me disse
esses dias: “O mundo está perdido, a senhora viu o que está acontecendo na
Síria?”. Só se ouve essas notícias prejudiciais e que atingem muitos. E, ao
mesmo tempo, a jovem vai atrás delas. Não vê que nasceu uma flor em seu
caminho, não reconhece o bom relacionamento que tem, não cumprimenta quem deu
uma resposta positiva e não percebe que a maioria das pessoas é
honesta, boa e amigável.
Por vez, quando percebe, não entra no sistema dela,
que só absorve o que é desagradável. Um psiquiatra de Porto Alegre, José Ovídio
Waldemar, praticante zen-budista, tem uma expressão de que gosto muito: “A vida
nos dá flechadas; nós não precisamos colocar outra flecha em cima e ficar
apertando”.
Estamos mais
insatisfeitos do que já fomos no passado?
Hoje temos mais
conhecimento e repercussão. Mas veja: Buda, há 2.600 anos, já falava sobre
isso. Até ele, príncipe, foi insatisfeito. Rico, saudável, inteligente, casado
e com um filho, mas, de repente, começa a perceber que existe velhice, doença e
morte. Nunca havia pensado sobre isso. Estava vivendo aquela alegria do momento
até que passa a refletir
sobre o significado da
vida.
Quem não tem depressão
sabe lidar com quem está passando por isso?
Muitas vezes não e diz:
“Levanta daí”, “Vem pra cá”, “Chega de dormir”, “O que você tem?”, “Vamos rir”,
“Sai disso”. Não adianta, não sai. Dependendo do nível, a pessoa precisa de
ajuda, de tratamento, de psiquiatra, de psicólogo, de atividade física. Aliás,
para chegar numa atividade física, muitas vezes, precisa tomar remédio antes.
Em seu livro, há um
destaque para a depressão nos mais velhos. Não damos a atenção necessária a
isso?
As pessoas costumam
isolar o idoso sem se dar conta disso. Depois dos meus 60 anos, percebi que, se
eu estiver numa sala com muitas pessoas conversando, e suponha que nós duas
quiséssemos bater um papo nessa mesma sala, eu ficaria exausta. Antes, não me
cansava.
Hoje, se houver muito som no ambiente, o esforço para manter o foco
aumenta. Daí que as famílias se reúnem, todos falando, crianças correndo e
brincando, e lá estão o vovô e a vovó. O que eles fazem? Vão se fechando,
porque não dá para acompanhar, é muito
cansativo. E o que as
pessoas fazem? Colocam os idosos de lado.
Se falassem diretamente com essa
pessoa, ela responderia. E, muitas vezes, quando o mais velho fala, as opiniões
dele não interessam. O que estamos fazendo com esse ser humano? Excluindo. E a
pessoa não fica triste? Fica.
O livro traz oito
práticas para superar a depressão: a memória, o pensamento, o ponto de vista, a
fala, o meio de vida, a ação, o esforço e a meditação. E todos são seguidos da
palavra “correta (o)”. O que seria uma memória correta, por exemplo?
Isso é uma tradução dos
textos budistas. Estar em contato com o real, sem fantasiar, é o que chamamos
de “correto”. O que seria uma memória correta? Não é lembrar-se de ontem.
É lembrar que nada é
fixo ou permanente e que estamos interligados. E que existem dificuldades, sim,
mas há também um estado de tranquilidade possível de acessar. Foi o que nosso
príncipe fez. Ele passou por todas as dificuldades, tanto que abandonou tudo.
Como identificar então
os pensamentos “incorretos”?
Vamos comparar nossa
mente com um computador. Esse computador já vem com alguns programas, nossa
genética, por exemplo.
A genética pode conter
programas de depressão?
Sim, pode, mas que
outros programas você pode colocar nesse computador? No começo da vida, a gente
vai colocando o programa dos nossos pais, professores, amigos, dos livros.
Dizem os
neurocientistas que temos apenas 5% de livre-arbítrio; 95% é determinado tanto
pela genética como pelas experiências de vida.
Então boa parte do que
manifestamos como nossa maneira de
pensar foi apreendida. Se não percebo isso, posso pensar como meu bisavô, que
comprava escravos. Aí vou lá em Charlottesville levantar a bandeira de que
branco é superior.
Aqueles meninos foram educados e treinados a pensar dessa
maneira. Não nasceram pensando assim. O que é o pensamento correto? Será que eu
estruturo fórmulas lógicas de pensar e que levam à realidade? Ou são
discriminações, preconceitos, questões que talvez fossem certas há cem anos,
mas que hoje não cabem?
Mas como quebrar isso?
Pela observação
profunda e comparando. Como eu penso? Esse pensamento veio de onde? Quem me
ensinou a pensar assim? Isso leva ao caminho? Ou desvia? Conduz ao bem do maior número de
seres?
Ou só traz uma vantagenzinha para mim? Porque posso manipular a mente,
tanto a dos outros como a minha.
A meditação é um
recurso para mudar pensamentos depressivos?
Quem medita de forma
sistemática e por anos tem mais facilidade para resolver questões antagônicas.
Precisa de menos oxigenação no cérebro para solucionar dilemas. Resolve
facinho, não tem muito drama, porque o corpo já está mais oxigenado. Quem
medita teria, assim, mais tranquilidade e confiança em si mesmo diante das
dificuldades.
Quais outros recursos
teríamos?
A leitura, a discussão
filosófica. O que acho interessante hoje é que temos quatro pensadores que
estão na mídia. São o Mario Sergio Cortella, o Leandro Karnal, o Luiz Felipe
Pondé
e o Clóvis de Barros
Filho. Desde quando filósofo “bomba”?
Desde quando usaram uma
linguagem mais atraente?
Sim, e desde quando
levantaram questões sobre o que é a vida, o que é a morte, que sentidos pode
ter a existência. São perguntas básicas que todo mundo estava colocando sob o tapete. Não quero
pensar nisso, vamos brincar, fazer piada.
Dá para fazer piada, mas preciso
responder a isso – mais ou menos o que aconteceu com o príncipe. Estou
brincando no meu castelo, bebo, canto, todo mundo me agrada, faz massagem, que
delícia, mas é só isso? O que tem lá fora? Na hora em que sai, ele sofre.
O título do seu livro
diz que o sofrimento é opcional...
Sim, é opcional. A dor
existe, a tristeza, a realidade. Está tudo lá. Agora, vai ficar num quarto
sofrendo? O que faz a respeito disso, ou para entender ou para mudar a si mesmo
e, logo, a realidade à volta? É fácil? Não é. Muitos precisam de apoio.
Um dos
meus alunos disse: “Olha, monja, eu estava em depressão, tomando remédio, e vim
para cá. Sabe o que mais me ajudou? A rotina. Era o horário de vir, o pé com
que se entra na sala, a posição da mão, a reverência para um lado, a reverência
para o outro”. Porque a cabeça está voando na tristeza, no sofrimento, nos
dramas, e não na solução disso tudo.
É estar com a cabeça no
que se está fazendo naquele momento?
É o ritual de presença
absoluta. Às vezes, com a cabeça rodando, temos de falar em voz alta para nós
mesmos: “Estou abrindo a porta”.
O Dalai Lama diz: “Nossa mente é incessante e luminosa”. Ela
brilha, é energia pura, as sinapses são uma conexão de eletricidade. A pessoa
fala: “Meditar é parar isso”.
Não é parar. É perceber que há muitas conexões
neurais, mas que você pode fazer escolhas. A gente tem de perceber o momento em
que não está bom. E que pode sair. Porque a maioria acha que não tem saída.
Há vários níveis de
depressão?
Sim, há tristezas
profundas em diferentes níveis, mas até a depressão faz parte do que a gente
chama de natureza iluminada. É uma fase da vida, e ela é importante. Não tem
que passar correndo e jogar fora. Vale apreciar, sentir onde pega, como fica a
respiração, como são os movimentos do diafragma, estar presente no que está
acontecendo.
Estamos respirando mal?
A respiração consciente
está ruim. Na hora em que fazemos a respiração completa, nos libertamos. Começo
as minhas palestras e aulas botando todo mundo para respirar. Inspire
pelas narinas, solte
pela boca. O pessoal acha lindo. Esquecemos que respirar é lindo. A única forma
de suicídio impossível é tapar o nariz. Expirar é o espírito que saiu, inspirar
é o que entrou.
É preciso chegar ao
fundo do poço?
Às vezes, sim. Mas
alguns não precisam. Buda dizia que os humanos podem ser comparados a quatro
tipos de cavalos. Tem uns que veem a sombra do chicote e já começam a galopar.
Ficam sabendo de um tsunami no Japão, percebem a vida por fio, param de empurrar
o dia a dia com a barriga.
O segundo tipo precisa levar no lombo. Morre um ator
conhecido, fica doente uma personalidade, a pessoa diz: “Nossa, isso poderia
estar acontecendo comigo, deixa eu apreciar a vida”. No terceiro tipo, tem que
cortar a carne, morrer alguém muito próximo, muito querido.
O quarto, tem que
ser com a própria pessoa. Alguém chegar e dizer que a vida dela está acabando.
“Nossa, mas é tão legal viver. É tão bom! São os últimos dias?”
Queria falar sobre
suicídio. O que é achar que não há saída?
A saída seria: “Eu
acabo com isso de uma vez”, “Não sei lidar com isso, então dou um fim”. Temos
tanto o instinto da vida quanto o da morte, e os dois são fortes. O suicídio é
quando o impulso de morrer fica maior que o de viver. Começo a entrar em
situações não benéficas, não sei como sair disso e vou afundando.
Estamos nos
relacionando com pessoas que têm problemas e que
precisariam de tratamento, mas não percebemos. Depois nos arrependemos de não
ter insistido no tratamento. Achamos que o amor e a bondade vão salvar o outro. Não salvam.
Nem o zen-budismo salva. Ele pode ajudar, mas não é a salvação.
O que é a salvação?
É despertar, é perceber
que a vida tem ganhos e perdas, alegria e tristeza, sol e lua. Quando não
consegui morrer [Monja Coen tentou suicídio no passado], eu disse: “Nem isso eu consigo” [risos]. Nem
sobre isso eu tinha controle. Porque a gente acha que tem controle.
Interessante é que ali começou a minha procura,
com intensidade, por sentidos
na vida.
Um dos maiores
ensinamentos do budismo é a impermanência?
Sim, sem apego, mas
também sem aversão. Parece que chamamos aquilo pelo que temos aversão. É como
pessoas que têm medo de cachorro. Quando chegam aqui, o cachorro ataca. Acho que a
depressão tem uma coisa com isso.
Encontrei uma menina de 11 anos há poucos
dias. Eu preparava o almoço e perguntei se ela estava com fome. Ela disse que
não porque estava tomando um remédio para depressão, que tirava o apetite. “Por
que você está deprimida?” “Porque meninos estão fazendo bullying comigo”.
Eu
disse: “Quantos meninos?” “Um.” Alguém
rotula sua aversão, lhe dá um remédio e você toma porque já sabe o que tem:
depressão. Não vai tentar mudar isso? Falei pra menina: “Esse carinha
provavelmente gosta de você e você dele, porque ele parece muito importante na
sua vida”.
Sobre o medo de
cachorro... Os animais nos ajudam a sair de um estado de depressão?
Cachorro tira qualquer
um da cama. Ele vem, lambe, chama você, põe a pata perto e não tem jeito: nos
obriga a sair, no mínimo porque precisa ir ao banheiro. Criança também nos
obriga ao movimento.
Vidas que dependem da nossa vida nos ajudam a não cair em tanta tristeza. Como
vão ficar sem a nossa presença? Eles são uma bênção.
Revista Bons fluidos.
Bibliografia utilizada:
Quatro Nobres Verdades
As Quatro Nobres
Verdades, de acordo com os textos canônicos, são a Verdade do Sofrimento, a
Verdade da Causa do Sofrimento, a Verdade da Extinção do Sofrimento e a Verdade
do Caminho de Oito Aspectos para a Extinção do Sofrimento.
Nobre aqui é usado com
o sentido oposto de comum, ordinário, indicando iluminação supramundama, uma
condição transcendendo a existência mundana.
"A básica doutrina
Budista das Quatro Nobres Verdades é completamente lógica: exclui qualquer
coisa que seja ilógica. A exclusão do ilógico é característica básica e única
do Budismo." (Prof. Mizuno Kogen "Essentials of Buddhism").
O Sutra do Girar a Roda
do Darma no Parque dos Cervos, uma das seções do Samyutta-nikaya, é onde as
Quatro Nobre Verdades são descritas por Xaquiamuni Buda (cerca do século VII
antes de Cristo):
"Monges!
Nascimento é sofrimento, velhice é sofrimento, doença é sofrimento, morte é
sofrimento."
"Estar unido ao
que se detesta é sofrimento. Separar-se do que se ama é sofrimento. Não se
obter o que se deseja é sofrimento. Resumindo, apego aos cinco agregados é
sofrimento."
"Esta é a Nobre
Verdade do Sofrimento."
"Monges! É o apego
que leva ao renascimento, conectado à alegria e ganância, continuamente
encontrando deleite e prazer ora aqui ora ali. É o apego por satisfações
sensuais, apego à existência e apego à não-existência."
"Esta é a Nobre
Verdade da Causa do Sofrimento."
"Monges! O apego
pode ser afastado e destruído, abandonado e rejeitado. Libertar-se e livrar-se
dos apegos (é possível)."
"Esta é a Nobre
Verdade da Extinção do Sofrimento."
"Monges! Esta é a
Nobre Verdade sobre o Caminho de Exterminar o Sofrimento:
ponto de vista correto, pensamento correto, fala correta, ação correta, meio de vida correto, esforço correto, atenção correta e concentração correta."
ponto de vista correto, pensamento correto, fala correta, ação correta, meio de vida correto, esforço correto, atenção correta e concentração correta."
Sofrimento
A importância da
Verdade do Sofrimento (dukkha-satya, dukkha-sacca) é a necessidade primordial
de ver a realidade como é. Em termos do absoluto, o relativo é incompleto,
repleto de contaminações e sofrimentos.
Há oito espécies de
sofrimento: nascimento, velhice, doença, morte, contato com o que detestamos,
separação do que amamos, objetivos inalcançáveis e o sofrimento inerente ao
apego aos cinco agregados (elementos psicofísicos: forma - rupa, sentimentos -
vedana, percepção -
samjna, sanna, constituintes mentais -
samskara, sankhaara e consciência -
vijnana, vinnana.
Coletivamente são chamados de numa (nome) e rupa (forma).
Assim o composto de nome-forma é um sinônimo dos cinco agregados. Tanto os
agregados físicos como mentais são caracterizados pela impermanência,
sofrimento e não-eu.
Causa do Sofrimento
Na Verdade da Causa do
Sofrimento (samudaya-satya, samudaya-sacca) a palavra da Índia traduzida como
"causa" significa "vir junto, formar-se conjuntamente e surgir,
aparecer". O Sutra considera apego como a causa do sofrimento.
Há três
tipos de apegos:
Apegos sensuais, dos cinco desejos ou seja, dos desejos resultantes dos objetos dos
cinco sentidos. Apego mundano.
Apego por existência se refere a existência superior, nos níveis celestiais, de
renascimento nesses estados. É ainda um aspecto egoista.
Apego à não-existência é o desejo pelo nada, como condição de paz interior, considerado
egoísta. Alguns traduzem não existência como apego à prosperidade desde que a
palavra Vibhara também pode ter esse sentido. Os comentários tradicionais
interpretam como não-existência e é nesse sentido que aqui interpretamos.
("Budismo
recomenda atividade positiva e uma atitude de não-eu para purificar a sociedade
nesta vida." - Prof. Mizuno)
Extinção do Sofrimento
Extinção do Sofrimento
O Sutra define a
Verdade da Extinção do Sofrimento (nirodha-satya, nirodha-sacca) como a
eliminação dos apegos e o estado de Nirvana.
Sutras primitivos
descrevem Nirvana como eliminação das máculas, extinção da ganância, raiva e
ignorância. Neste contexto a extinção do sofrimento é Nirvana.
O Caminho
A Verdade do Caminho
(marga-satya, magga-sacca) se refere á extinção do sofrimento, ao caminho de
prática e ao nirvana. Conhecido como O Caminho Nobre de Oito Aspectos ou Oito Passos (arya-astangika-marga,
ariya-aatthangika-magga). Embora estudados individualmente cada aspecto faz
parte de um todo orgânico e indivisível.
Ponto de Vista Correto - sabedoria e compreensão das Quatro Verdades Nobres e da Origem
Interdependente. Alguns consideram como Fé Correta, para os de pouca
experiência que ainda não adentraram o nível da sabedoria superior.
Pensamento Correto - pensamento ou determinação que precede ação ou fala. Para uma
pessoa ordenada é a prática do pensamento correto através da mente cada vez
mais gentil, compassionada e pura. Para os leigos é pensar corretamente sobre
sua situação e agir determinadamente de acordo.
Fala Correta - surge do pensamento correto. Não mentir, não usar linguagem
pesada, não falar mal dos outros, não caluniar, não falar frivolamente e usar a
fala beneficiando a todos e conduzindo à harmonia, pela ternura que nutre a
todos os seres.
Ação Correta - surge do pensamento correto. Não matar, não roubar, não cometer
adultério. É praticar boas ações como a de proteger e cuidar de todos os seres,
observando os valores éticos.
Meio de Vida Correto - conduta correta na maneira de viver, de se manter, com hábitos
regulares e saudáveis de dormir, comer, trabalhar, fazer exercícios, descansar.
Viver de maneira a melhorar a saúde, ser mais eficiente e criar harmonia,
eficiência e saúde para todos.
Ter meios de vida que considerem outros seres,
outras formas de vida, o respeito e dignidade próprios e dos outros presentes e
passados, as futuras gerações, a sustentabilidade e a melhor qualidade da vida.
Esforço Correto - dedicar-se constante e assíduamente ao caminho de obter os ideais
de fé religiosa, ética, eduação, política, economia e saúde produzindo e
aumentando o que é bom e prevenindo e eliminando o que é mal.
Atenção Correta - manter-se atento garante que com a correta consciência e
percepção nunca sejam esquecidos os objetivos ideais de fazer o bem a todos os
seres. Na vida diária é agir com cuidado e atenção, pois qualquer momento
desatento pode causar um desastre. Do ponto de vista Budista tradicional
significa manter constante atenção à impermanência, sofrimento, não-eu.
Concentração Correta - aqui a referência é aos Dhyanas ou estados meditativos. Manter a
mente calma e concentrada para permintir a manifestação da sabedoria completa e
verdadeira a partir da qual surgem os pensamentos e ações corretas. Manter a
mente clara e brilhante ativa em tranquilidade, tranquila em atividade.
Bibliografia utilizada:
Essentials of Buddhism
- Basic Terminology and Concepts of Buddhist Philosophy and Practice (Primeira
Edição 1996)
Autor: Kôgen Mizuno -
Autoridade em Budismo Primitivo e Pali, foi Presidente da Universidade de
Komazawa, em Tóquio onde ensinava também Budismo.
Editora: Kosei
Publishing Co, - Tokyo - Japan
Tradução e Revisão de
Monja Coen
Janeiro de 2003
Janeiro de 2003
Postado por dharmadhannya
Postado por Dharmadhannya
Psicoterapeuta Transpessoal
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Amem!
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