Raiva – Inferno pessoal. Interpretação no budismo
Gioia diz que “este Reino não é um
lugar para onde se vai depois da morte... E algo que pode-se realmente
experienciar nesta vida... A agressão externa é muito intensa...
Interiorizando-a, tornamo-nos a própria agressividade... o ódio em pessoa... a
sensação claustrofóbica de prisioneiros. O inferno nosso de cada dia... Eu,
caçador de mim...
O Reino dos Infernos é o último dos
seis remos da existência condicionada na qual vivemos ciclicamente. Ultimo, no
sentido descendente do girar da Roda da Vida (figura 2).
Na pintura, este Reino localiza-se na
parte central inferior. Dentro dele vemos em destaque, acima, um monstro com os
cabelos em chama. Este monstro é novamente Varuna, o Senhor da Morte. É o mesmo
que segura A Roda da Vida.
Ele está aí para mostrar o que
estamos fazendo com a nossa vida e que necessariamente não precisamos fazer
dela um inferno. E o principal caminho para transformá-la é olhando para ela,
conscientizando-se dela e permanecer olhando para ela.
Atrás de Yama e dos lados estão montanhas
cobertas de neve com seres afundados no gelo até o pescoço, duros, rijos,
congelados, caracterizando os infernos frios, como dizem os tibetanos.
À frente do monstro, envolvidos no
imenso calor do fogo dos seus cabelos, encontram-se seres de outros reinos como
os animais, espectros famintos, humanos, todos tentando matar uns aos outros,
no meio de chamas de fogo. Esta cena refere-se aos infernos quentes na
linguagem tibetana.
Os dois tipos de infernos, tanto o
quente quanto o frio, descrevem as duas maneiras possíveis de se experimentar o
ódio.
Podemos ficar vermelhos de tanta
raiva, isto é, indignados, rebeldes, hiper-sensíveis, vitimizados, cheios de
energia para agir no sentido de acabar com aquela pessoa ou aquela situação a
qual não estamos tolerando.
Podemos ficar brancos, lívidos de
tanta raiva, isto é, duros, contraídos, gelados, insensíveis. Recrudesce em nós
uma coragem destrutiva para eliminar a nós mesmos!
Em ambos os infernos, a experiência é
descrita como muito intensa. E algo totalmente egocentrado e auto-inflável.
No Reino anterior, dos espíritos
famintos, estávamos completamente sem energia própria, sentíamos como se não
tivéssemos mais nada que fosse bom dentro da gente, achando que tudo de bom
estava com os outros.
Tínhamos uma sensação de vazio, uma
carência imensa de tudo e não conseguíamos alcançar, nada que nos alimentasse.
Era a vivência paranóica de que todos à nossa volta conseguiam tudo que
queriam.
Isso nos fazia sentir sozinhos,
querendo o que os outros têm para nos sentir felizes. Daí a ilusão de que o
caminho da satisfação era grudar parasitariamente em alguém e desfrutar a
felicidade do outro.
Caminho perigoso pois, dependendo de
alguém, gostávamos de receber, mas, ao mesmo tempo, sentíamos inveja de quem
nos dava.
Este conflito foi minando o
sentimento de gratidão que sentíamos pelos que nos ajudavam. Para resolvê-lo,
fomos transformando nossa necessidade de receber numa aceitação desconfiada, humilhante,
projetamos nossa raiva de precisar em intenções interesseiras de quem nos dava.
Assim, passamos a não confiar em mais
ninguém: nem em quem não nos ajudava como também em quem nos ajudava. E,
consequentemente, não confiamos mais em nós mesmos, de tão confusos que
estávamos interiormente.
Quanto mais vazios, com a auto-estima
baixíssima, menos credibilidade demos aos nossos recursos internos de
esclarecimento e sabedoria, nosso Buda interior como a nossa intuição, por
exemplo.
Afastados nos nossos centros internos
de confiança e proteção. tornamo-nos eufóricos (eu-fora de mim) chegando a
viver em estados de ansiedade altíssimos, como a mania. Tornando-nos
intolerantes, déspotas, necessitando mandar e comandar, na ilusão de
conseguirmos segurança e controle das nossas confusas situações internas.
Nem assim conseguindo solução,
equilíbrio e paz de espírito, a perda de confiança em quaisquer saída
instalou-se nos nossos corações.
Experimentamos assim a entrada no
Reino dos Infernos. Chegamos a ele depois de tentarmos diversas maneiras de
evitar o sofrimento. Paradoxalmente, experimentamos os maiores deles; os
sofrimentos do Reino dos Infernos.
É quando não sentimos mais amor
desinteressado por nada nem por ninguém.
Para sentirmos amor incondicional,
necessitamos ter satisfação conosco mesmo, confiança em si, na nossa essência,
para não necessitarmos do retorno de fora.
Na ausência da capacidade de amar e
confiar a solidão cresce dentro de nós, tornando—se tão grande, dando-nos a
sensação de estarmos muito, mas muito distantes de tudo de bom e de todos.
Não conseguimos mais nos vincular a
ninguém e a nenhuma situação boa e satisfatória. Parece que existem muralhas
intransponíveis ao nosso redor que nos espremem e nos tornam cada vez mais
inacessíveis.
A situação vai ficando intolerável. A
insatisfação e o vazio são agressivos a nossa natureza. Mas esta agressividade
é a única vivência que estamos tendo, portanto, e dela que nos alimentamos.
Preenchidos de agressão, vamos nos fortalecendo da energia dela que é o ódio.
Sentimos muita aversão, repulsa e
ódio. Queremos fugir desta situação criada e não vemos saída: passamos também a
nos odiar por estar vivendo uma vida que não escolhemos, que não queríamos para
nós.
É total falta de opção, isto é, de
livre—arbítrio. Sentimo-nos presas de um destino implacável, alheio à nossa
vontade. Este sofrimento claustrofóbico é o pior dos sofrimentos. Pior no
sentido de não ter opção. Não ter liberdade de ação. A possibilidade de escolha
não Faz parte deste estado de espírito.
Só reagimos. Sentimos desespero (desesperança) e
queremos fugir. Fugir da situação externa e interna. Só pensamos em nos
libertar, matar e/ou morrer. Se destruímos fora e não conseguimos libertação,
fortalecemos nosso assassino interior.
Ele buscará mais e mais destruição.
Com isto, destruímos quaisquer possibilidades internas de criar alternativas de
vida, matando-nos progressivamente.
Estas possibilidades de assassinato e
suicídio podem ocorrer física, emocional e espiritualmente falando. Este é o
estado de espírito dos assassinos e suicidas.
Os lugares externos com muita energia
do reino dos infernos são, por exemplo, as penitenciárias, os asilos,
manicômios e hospitais, as pessoas que lá se encontram (fora os profissionais e
voluntários), estão confinadas, entre paredes sólidas, sem escolha.
Ao descrevermos um Reino estamos nos
referindo a um grupo de experiências que desencadeiam um acúmulo energético em
nós se as repetimos continuamente. Este acúmulo, de fato, pode ser percebido
num lugar específico do nosso corpo.
A raiva é sentida geralmente no corpo
todo, mas há lugares específicos onde o acúmulo acontece. Uma das razões para
praticarmos ioga é reconhecer estes acúmulos de tensões e dissolvê-los
preventivamente. E comum ouvir o ditado popular: “Estou com o fígado envenenado
de tanta raiva”.
Doenças graves como os tumores
malignos são resultado de um crescimento acelerado de células assassinas
destruindo nosso sistema imunológico. Assim como as doenças auto-imunes são
resultado de uma incapacidade súbita do sistema imunológico de reconhecer suas
próprias células, rejeitando-as, destruindo-as.
Podemos fazer uma analogia destes
processos físicos com os processos emocionais do inferno quente, como sendo
ódio contra o Outro, e do inferno frio, ódio contra si mesmo.
— Uma avalancha de descobertas na
última década nos forneceu urna imagem mais clara do que nunca de como o
cérebro regula as emoções. Há muito foi admitido que os centros emocionais
estavam situados nas profundezas do cérebro, em uma série de estruturas que
circundam o lado inferior do córtex, chamadas de sistema límbico((límbico, do
latim orla).
Dados neurológicos mais recentes
indicam que, embora o impulso emocional tenha origem nos centros límbicos, a
maneira como expressamos nossas emoções é regulada por estruturas cuja evolução
é mais nova, situadas no córtex pré-frontal logo atrás da testa.
E, além disso, cada lado do córtex
pré-frontal parece lidar com um conjunto diferente de reações emocionais, com
as emoções mais angustiantes — aquelas que podem nos fazer recuar, digamos, com
medo ou repulsa — reguladas pelo lado direito, e sentimentos mais positivos,
como a felicidade, pelo esquerdo.
Essas descobertas da neurociência
oferecem um pano de fundo para o entendimento da dinâmica da nossa vida
emocional. As emoções que sentimos e a maneira como lidamos com elas são
governadas por esse e outros circuitos cerebrais extensos e interligados.
Psicologicamente falando, os estados
psicóticos são alucinações do Reino dos Infernos. As reações psicopáticas de
domínio, humilhação e destruição do Outro (do qual a pessoa se sente
dependentemente necessitada) são reações perturbadas do inferno quente.
Segundo a psicologia tibetana, o que
realmente suporta este ódio é um tipo de orgulho, com muita indignação e a
tendência em níveis paranóicos a supervalorizar a importância da pessoa ou
situação perturbadora. A dissociação entre o amor/ódio seria o resultado e a
causa desta dissociação, seu veneno é o orgulho do apego.
Já as reações esquizofrênicas de
distanciamento, auto- suficiência e megalomania são reações perturbadas do
inferno frio. Segundo a psicologia tibetana, o que realmente suporta este ódio
é um outro tipo de orgulho, com auto comiseração, pena de si mesmo e a
tendência a diminuir a importância da pessoa ou situação perturbadora.
A negação do conflito amor/ódio seria
o resultado e a causa desta negação, o seu veneno, o orgulho da aversão.
O bom deste Reino é que ele é tão
intenso que temos muita energia para sair dele. O problema com os outros Reinos
é que liberamos um pequeno bit de energia, que seria a força
necessária para sair dele. Assim, neste sentido, o Reino dos Infernos pode não
ser tão ruim, por que há a chance nele de sair dele por impulsão.
Em algumas pinturas da Roda da Vida,
veremos uma abertura dos Reinos dos Infernos em direção à metade branca do
círculo interior, a qual, de acordo com os ensinamentos tradicionais, é por onde
podemos alcançar o patamar da iluminação.
Com exceção da subida da montanha no
Reino dos Humanos, não achamos nenhuma abertura comparável à ascensão para a
Iluminação nos outros Reinos.
Costuma-se ouvir que, quanto pior a
experiência, mais perto chegamos da salvação. Quando é muito intensa, nos
conscientizamos que é preciso mudar, que algo precisa ser feito e que temos de
achar recursos para fazê-lo. Em todos os outros Reinos as coisas são mais
leves, assim nossa resposta pode não ser tão séria.
Os problemas podem até não ser tão
sérios, mas a vivência deles no Reino dos Infernos é descrita como um estado de
espírito muito feio. E o importante é perceber que está tudo dentro da gente,
na nossa mente obscurecida. Que as torturas do inferno são auto fabricadas e
auto-infladas” Gioia H.
O segundo demônio comum que iremos
encontrar é muito mais doloroso que o desejo. Enquanto o desejo e a mente ávida
têm um grande poder de sedução, seu oposto, a energia da raiva e da aversão, é
algo bastante desagradável.
Em certos momentos e por curto espaço
de tempo, é possível encontrar nela algum prazer. Mas, mo nesses momentos, ela
fecha o nosso coração. A raiva tem um lado tenso e corrosivo do qual não
conseguimos escapar.
Enquanto oposto da carência, a raiva
é força que afasta, condena, julga ou odeia algumas experiências da nossa vida.
O demônio da raiva e da aversão tem
muitas faces e disfarces; ele pode ser encontrado formas tais como o medo, o
tédio, punição, a má vontade, o julgamento e a censura.
Assim como o desejo, a raiva é uma
força extremamente poderosa. Com a maior facilidade deixamo-nos aprisionar por
ela ou, então, sentimos tanto medo dela que, mil maneiras inconscientes,
manifestamos a sua capacidade de destruição.
Uma triste verdade é que pouquíssimos
de nós aprendemos a lidar com a raiva de um modo direto. Sua força pode
crescer, passando da simples contrariedade ao medo profundo, ao ódio e à fúria.
Ela pode ser experimentada em relação
a alguém ou algo que esteja presente, junto a nós, agora, ou que esteja
distante no tempo ou no espaço. Às vezes sentimos profunda raiva por fatos
passados que há muito se concluíram e a respeito dos quais nada podemos fazer.
Também é possível que fiquemos
furiosos com alguma coisa que não aconteceu, mas que apenas imaginamos que
talvez a acontecer. Quando sua presença é forte na nossa mente, a raiva matiza
toda a nossa experiência de vida.
Quando nosso mau humor independe de
quem entra na sala ou do lugar aonde precisamos ir, então, algo está errado
conosco. A raiva pode uma fonte de imenso sofrimento, tanto na nossa mente
quanto no nosso relacionamento com os outros, e no mundo em geral.
Nome à Raiva
Tudo isso pode ser compreendido
quando começamos a dar nome aos aspectos raiva, à medida que ela aflora.
Podemos sentir, por experiência própria, como o medo, o julgamento e o tédio
são formas de aversão.
Examinando-os, vemos que são baseados
na nossa aversão a algum aspecto de uma experiência. Dar um nome às formas da raiva
oferece-nos uma oportunidade de encontrar a liberdade em meio a essas formas.
De início, chame-a com suavidade
dizendo “raiva, raiva” ou “ódio, ódio”, enquanto esse estado persistir. Ao dar
nome a ele, observe quanto tempo esse estado permanece, em que se transforma e
como volta a aflorar.
Chame a raiva pelo nome e observe
como você a sente. Em que lugar do corpo você a percebe? Seu corpo se enrijece
ou se enternece com a raiva? Você nota diferentes tipos de raiva? Quando a
raiva surge, qual é a sua temperatura, o seu efeito sobre a respiração, o seu
grau de dor?
Como ela afeta a mente? Sua mente
fica menor, mais rígida, mais contida? Você sente tensão ou contração? Ouça as
vozes que acompanham a raiva.
O que elas dizem? “Tenho medo
disso.”“Odeio isso.”“Não quero experimentar aquilo.” Será que temos condições
de dar nome ao demônio e tornar o nosso coração suficientemente grande para
permitir que tanto a raiva quanto o sujeito da raiva nos mostrem a sua dança?
Assim descrito numa página impressa,
o processo de dar nome a uma experiência e senti-la com uma atenção equilibrada
pode parecer bastante fácil — mas, é claro que nem sempre é assim.
Em um retiro que dirigi na Califórnia
há muitos anos, havia alguns terapeutas treinados na tradição do “grito
primal”.* Sua metodologia envolvia um processo de liberação e catarse: gritar e
liberar os sentimentos.
Depois de meditar por alguns dias,
esses terapeutas disseram: “Esta prática não está funcionando”. Perguntei-lhes
por que e me responderam: “Ela está represando nossa energia e raiva
interiores.
Precisamos de um lugar para
liberá-las. Poderíamos usar a sala de meditação, numa certa hora do dia, para
gritar e liberar? Caso contrário, sé as mantivermos represadas, elas se
tornarão tóxicas”.
Nossa sugestão foi que eles
recomeçassem, dessem nome àquela energia interior e simplesmente tomassem
consciência dela isso não iria matá-los! Já que tinham vindo ao retiro para
aprender algo novo, nós lhes pedimos que continuassem a meditar para ver o que
poderia acontecer.
Eles assim o fizeram. Depois de
alguns dias, afirmaram: “Surpreendente!” Perguntei-lhes: “O que é
surpreendente?” Responderam-me: “Depois de tratá-la pelo nome por algum tempo,
ela mudou”.
Raiva, medo, desejo — podemos estudar
o processo de todas essas forças. Elas emergem dentro de certas condições e,
quando estão presentes, de algum modo afetam o corpo e a mente. Se não nos
deixarmos aprisionar por elas podemos observá-las como se fossem uma tempestade
e ver que, depois de estarem presentes por algum tempo, elas passam, como a
própria tempestade.
Quando prestamos atenção à raiva,
também podemos sentir suas origens. Existem dois estados difíceis que precedem
o aparecimento da raiva; as raízes da raiva quase sempre estão em um deles.
Deixamo-nos dominar pela raiva quando
somos feridos e sofremos, ou, então, quando sentimos medo. Preste atenção à sua
vida e veja se isso é verdade. A próxima vez que a raiva e a irritação surgirem
dentro de você, observe se sentiu medo ou dor um instante antes de elas
aflorarem.
Se você, em primeiro lugar, prestar
atenção ao medo e à dor, será que a raiva chegará a aparecer?
A raiva mostra-se exatamente no local
onde estamos paralisados, no local onde se fixam os nossos limites, no local
onde nos apegamos aos nossos medos e às nossas crenças.
A aversão é semelhante a um sinal de
alerta; ela acende uma luz vermelha e avisa: “Apegado, apegado!” A força da
nossa raiva revela a intensidade do nosso apego. Contudo, sabemos que esse
apego é opcional. Podemos manter um relacionamento mais sábio.
Nossa raiva, condicionada pelo ponto
de vista do momento, não é permanente; é um sentimento que associou as
sensações e os pensamentos que aparecem e desaparecem. Não é necessário que nos
liguemos a ela nem que sejamos por ela conduzidos.
Em geral, a raiva baseia-se na
limitação das nossas idéias sobre o que deveria acontecer. Pensamos saber como
Deus deveria ter criado o mundo, como alguém nos deveria ter tratado, qual é
exatamente o nosso dever.
Mas, na verdade, o que sabemos? Será
que estamos em contato assim tão íntimo com o plano divino a ponto de conhecer
as mágoas e dificuldades, a beleza e os milagres que nos são concedidos?
Em vez de envolver-nos com o modo
segundo o qual desejaríamos que a história fosse escrita, podemos começar a
enfrentar e compreender as forças que fazem a raiva aflorar.
Assim como ocorre com o desejo, assim
também temos a possibilidade de estudar a raiva e de aprender a usá-la de
maneira adequada. Teria ela algum valor? Teria ela valor como proteção ou fonte
de energia?
Seria ela necessária para alcançarmos
a força, para estabelecermos limites ou para crescermos? Existem outras fontes,
além da raiva, para a força que buscamos?
Muitos de nós fomos condicionados a
odiar a nossa própria raiva. Quando tentamos observá-la, encontramos a
tendência a julgá-la e a reprimi-la, a nos livrar dela, pois ela é “má” e
dolorosa, é vergonhosa e “não espiritual”.
Precisamos ser muito cuidadosos ao
abrir a mente e o coração à nossa prática, deixando-nos sentir a nós mesmos
plenamente, ainda que isso signifique atingir o poço mais profundo da mágoa, do
medo, da culpa, do julgamento, da solidão, da tristeza e da raiva dentro de
nós. Essas forças movem a nossa vida e precisamos senti-las para poder chegar a
um acordo com elas.
A meditação não é um processo de
livrar-se de alguma coisa; é um processo de abertura e de compreensão.
Quando trabalhamos com ela na
meditação, a raiva pode tomar-se bastante forte. De início, talvez sintamos
apenas um pouco de raiva; mas, naqueles que aprenderam a reprimi-la e a
mantê-la oculta, a raiva se transformará em fúria.
Toda a raiva que foi conservada no
corpo se mostrará sob a forma de tensão e calor nos braços, nas costas ou no
pescoço. Todas as palavras que foram engolidas poderão vir à tona, fazendo
tomar plena consciência de imagens poderosas, de fúrias vulcânicas e censuras
abusivas.
É possível que esse processo de
abertura dure muitos dias, semanas ou meses. Esses sentimentos são excelentes –
necessários, mas é importante ter em mente como lidar com eles.
Quando os demônios tiram a máscara,
você talvez sinta que está enlouquecendo ou fazendo algo errado, mas, na
verdade, você finalmente começou a enfrentar as forças que o impediam de viver
de um modo amoroso plenamente consciente.
Enfrentamos essas forças repetidas
vezes. Talvez precisemos trabalhar com a raiva um milhar de vezes na nossa
prática, antes de chegarmos a uni modo de vida equilibrado e atento. Isso é
natural.
O veneno a ser identificado em nós é
o veneno do ódio, da reprovação e da ilusão de que, através da culpa e da
punição, encontraremos a salvação eterna.
Este texto é resultado de uma pesquisa é uma compilação inspirada em vários autores:
Heloisa Gioia , Dalai Lama e
outros...
Pesquisado por Dharmadhannya
Este texto está livre para divulgação desde que seja
citada a fonte:
Repassando à Chama Violeta da Purificação e da
Liberação
se puder repasse...
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