A inveja - Pesquisam nos revelam...
Resumo
Inveja : Quem está livre dela?
Revista Mente e Cérebro
Por Jan Crusius e Thomas Mussweiler
DIFÍCIL DE SER ADMITIDO, O
SENTIMENTO TEM NUANCES QUE VÃO DO INTENSO DESEJO DE DESTRUIR A FELICIDADE
ALHEIA À MOTIVAÇÃO PARA BUSCAR REALIZAÇÕES PESSOAIS; ESTUDOS RECENTES REVELAM
QUE RECONHECÊ-LO PODE NOS AJUDAR A SUPERAR LIMITAÇÕES.
É raro encontrar alguém que, em nenhum momento
tenha sido alvo da inveja alheia. Ao mesmo tempo, porém, ninguém gosta de
admitir que nutre esse sentimento em relação a qualidades, oportunidades ou
posses de outra pessoa afinal, reconhecer isso pode ser interpretado como
fraqueza ou mesmo defeito de caráter.
Para
atenuar o eventual mal-estar, muitos recorrem ao termo “inveja branca” para se
referir a um sentimento de admiração “não destrutivo”.
O fato, porém, é que as várias manifestações e
intensidades da inveja fazem parte do dia a dia e são, com alguma frequência,
explicitadas nas artes e na cultura.
Numa passagem bíblica clássica, o invejoso
Caim, filho de Adão e Eva, mata Abel, seu próprio irmão. Na Antiguidade, o
filósofo grego Sócrates a considerava “a úlcera da alma”.
Em Otelo, de William Shakespeare, o
sentimento move o personagem lago a destruir o protagonista. Na ...
Divina comédia,
Dante Alighieri descreve com detalhes como almas carregadas de ressentimento
por aquilo que não desfrutaram marcham pelo purgatório com as pálpebras
fechadas para nunca mais verem o mundo através de “olhos invejosos”.
O fato é que de alguma forma, ainda que inconfessa,
a maioria de nós está bastante familiarizada com esse poderoso sentimento,
muitas vezes definido pela dor de ocupar uma posição inferior àquela que
almejamos ou por querer o que é do outro.
Esse
desejo intenso pode ser direcionado tanto para uma reluzente Ferrari vermelha,
como para uma conquista de trabalho ou ainda para uma característica física ou
capacidade, como a de falar bem em público.
Entre os
sete pecados capitais, a inveja ocupa uma posição singular: nunca é divertida,
como a gula ou a luxúria, por exemplo, que têm seu apelo calcado em algum tipo
de satisfação.
ONDE MORA A DOR
A novidade é que o sentimento tem chamado a
atenção de psicólogos e neurocientistas que começam a se dedicar a estudar suas
nuances com mais profundidade. O neurocientista japonês Hidehiko Takahashi,
pesquisador do Instituto Nacional de Ciência Radiológica, em Tóquio, conduziu
um estudo sobre o desconforto mental que o sucesso alheio nos causa, com base
em correlações neurais, publicado pela Science.
Usando
ressonância magnética, ele examinou o cérebro de 19 voluntários (dez homens e
nove mulheres) na faixa etária dos 20 anos e identificou o lugar onde esses
sentimentos são processados: a região do córtex cingulado anterior é ativada -
a mesma região onde a dor física se processa. Ou seja, a inveja é uma emoção
dolorosa.
Em seu pior aspecto, o sentimento pode nos
levar a sentir prazer com o sofrimento alheio e até mesmo a prejudicar os
outros de maneira direta ou indireta, com um comentário maldoso, por exemplo.
Mas, por incrível que pareça, a inveja tem seu
lado bom: se soubermos lidar com ela, é possível que funcione como um incentivo
para melhorar nosso próprio desempenho em tarefas desafiadoras.
Um defensor da ideia de que o sentimento nem
sempre é destrutivo foi o grego Aristóteles. Ele descreveu seu lado escuro e
destrutivo e o prazer com a dor do outro, hoje capturado pelo termo alemão Schadenfreude,
algo como “bem feito, acho pouco”. No entanto, o filósofo também sugeriu
que a inveja pode nos incentivar a lutar com mais afinco pelo que desejamos,
outra faceta ainda pouco explorada pelas investigações empíricas.
Para a Psicanálise , nem os bebes estão livres
dela.
Em certa ocasião, um homem extremamente
invejoso de outro que morava na casa ao lado recebeu a visita de uma fada, que
lhe ofereceu a chance de realizar um único desejo.
“Você pode pedir o que quiser, desde que seu
vizinho receba o mesmo e em dobro”, disse ela. O invejoso respondeu, então, que
queria que ela lhe arrancasse um olho. Moral da história: o prazer de ver o
outro se prejudicar prevaleceu sobre qualquer anseio de, benefício pessoal.
A fábula foi usada pela psicanalista Melanie
Klein (1882-1960) em sua obra Inveja e gratidão (1947), um dos principais trabalhos
sobre o tema, para ilustrar o funcionamento psíquico de quem vive intensamente
esse sentimento.
“Cheguei à conclusão de que a inveja é um fator
muito poderoso no solapamento das raízes do sentimento de amor e gratidão, pois
ela afeta a relação mais antiga de todas, a relação com a mãe”, escreveu.
De acordo com esse olhar, a inveja é a mais
radical das manifestações do impulso destrutivo, pois leva a atacar e destruir
o objeto bom, aquele cuja introjeção é a base da saúde psíquica.
Esse
afeto, nem sempre consciente, dificulta a apropriação de experiências boas e,
portanto, a integração psíquica.
Segundo a autora, esse afeto não é fruto da
decepção ou frustração, faz parte de nossa vida mental desde que somos bebês e
independe das atitudes maternas e do ambiente. Pelo contrário, provém do
próprio sujeito, é endógena.
Propor que seja um aspecto constitucional
significa salientar o fator interno. A proposta de uma inveja primária é uma
das mais polêmicas da teoria kleiniana.
De acordo com essa tese, ainda bem pequenos
invejamos o seio materno, capaz de nos alimentar e confortar.
A ideia
de que o alimento bom e reconfortante não nos pertence aparece associado ao
sentimento de impotência, já os psicanalistas Donald Winnicott, William R. D.
Fairbaim e Michael Ballint postulam que a inveja é sempre secundária,
resultante de uma falha do ambiente
LONGE DOS OLHOS
Embora tenhamos a tendência de ignorar o sucesso
dos outros - até mais do que gostaríamos de admitir-, não agimos assim
exclusivamente por inveja.
Para
entender o motivo desse comportamento, nossa equipe da Universidade de
Colônia, na Alemanha, decidiu investigar como suprimimos os impulsos negativos
antes que tomem conta de nós.
Descobrimos diversas razões: além de
socialmente indesejável, a inveja pode ser extremamente desagradável e
dolorosa, por isso não medimos esforços para esconder nossa insatisfação ou
transformar essa emoção. Em outras palavras, nos controlamos para conter a
inveja.
No entanto, essa capacidade pode ser diminuída
por qualquer fator que limite nosso pensamento, como ter de lidar com
interações complexas, pressões de tempo ou outras situações estressantes.
Seria
possível suscitar inveja ao sobrecarregar o estado de alerta e diminuir o grau
de bem-estar emocional de uma pessoa? Como parte de um estudo desenvolvido em
2012.
Realizamos o que chamamos de um “teste doce”
com pedestres que festejavam o carnaval de rua de Colônia. Imaginamos que a
maioria estivesse embriagada, portanto com o autocontrole enfraquecido.
Pedimos
que os voluntários fizessem um desenho para disputar com nosso assistente um
chocolate caro ou um doce medíocre.
O que eles não sabiam é que manipulamos os
resultados para que sempre perdessem. Aqueles com níveis mais altos de álcool admitiram
com certa facilidade sentir inveja do nosso colega.
Mas
quando repetimos o teste com outras pessoas, dessa sem a presença do assistente
(ao entregarmos resultado dissemos que o concorrente já há recebido o melhor
chocolate);
os
participantes reagiram com maior tranquilidade, sem expressar inveja. Ou seja,
o ditado popular “longe dos olhos, longe do coração” parece fazer sentido: os
indícios sugerem que ter o objeto fisicamente presente favorece a inveja.
O sentimento também pode ampliar nossos desejos
e apegos.
Por
exemplo, se descobrirmos que um colega de trabalho que têm a mesma função e o
mesmo tempo na empresa ganha mais isso certamente nos incomodará e passaremos
desejar ter o mesmo salário que ele, ainda que antes de obter a informação
estivéssemos satisfeitos com nossos rendimentos.
Para
investigar melhor essa relação, realizamos em nosso laboratório outro teste de
paladar. Sobrecarregamos o autocontrole de nossos voluntários com uma tarefa
cognitiva: eles deveriam guardar na memória um número de oito dígitos.
Então,
distribuímos biscoitos simples aos participantes enquanto viam as pessoas de
outra sala receberem sorvete de excelente qualidade.
Observamos que quando estavam preocupados em
se lembrar da sequência numérica a tendência era que sua capacidade de conter
emoções fosse diminuída, o que os fazia expressar com maior facilidade inveja e
desejo intenso pela sobremesa alheia.
A oxitocina hormônio que favorece a criação de
vínculos e fortalece a ligação da mãe com seu bebê, deflagra sentimentos de
confiança mas também pode ter efeito bastante adverso: faz aumentar a inveja.
A constatação vem de um estudo desenvolvido por
pesquisadores da Universidade de Haifa, em Israel.
Durante o experimento, 59 voluntários participaram
de um jogo que prevê ganhos e perdas monetárias. Os pesquisadores perceberam
que os participantes do experimento sentiam mais inveja depois de serem
derrotados por um oponente virtual se tivessem recebido uma dose de oxitocina.
Os integrantes do grupo que usou placebo tiveram essa reação bastante
atenuada.
A oxitocina também impulsionou sentimentos
prazer com o infortúnio alheio quando as pessoas ganharam mais dinheiro que seu
oponente.
“Esse
hormônio não enfatiza apenas emoções pró-sociais, que entendemos como
positivas; tem efeito sobre sentimentos em geral e age de acordo com a situação
em que a pessoa se encontra”, diz a especialista em cognição Simone
Shamy-Tsoory, que coordenou a pesquisa.
Ela
reconhece, porém, que nem sempre é fácil pesquisar o tema em razão da
dificuldade das pessoas de admitir diante de um pesquisador aspectos sombrios
da personalidade, como inveja e regozijo com a infelicidade alheia.
Experimentos anteriores realizados com animais
já sugeriam esse efeito “duplo” da oxitocina. Fêmeas de ratos que receberam uma
infusão de oxitocina em uma área do cérebro onde o hormônio age, foram mais
agressivas com os intrusos da mesma espécie.
A
maioria das pesquisas com seres humanos, entretanto, tem mostrado que o
hormônio nos torna mais propensos a confiar nos outros, a ser mais tolerantes,
a avaliar as pessoas com benevolência e a se lembrar do rosto daqueles com
quem interagimos.
O artigo
sobre o estudo realizado em Israel foi publicado no periódico científico Journal
of Biological Psychiatry. (Da redação)
O que diz a neurociência
A ATIVAÇÃO DO SISTEMA DE RECOMPENSA E,
PORTANTO, A SENSAÇÃO DE PRAZER, É
REDUZIDA QUANDO O CÉREBRO ENTENDE QUE O SUCESSO ALHEIO É MAIOR
Se o mundo fosse simples, pouco importaria o
que acontece com os outros quando a gente ganha ou perde. Mas não: se você
perde dinheiro, fama ou recursos mas seus colegas perdem ainda mais, sua perda
é relativizada, e você sente até um prazerzinho com a dor maior dos outros.
É a Schadenfreude,
palavra alemã que descreve o prazer com o sofrimento alheio quando este alivia
o nosso. A Schadenfreude tem sua utilidade ao relativizar nossas perdas
- assim como a estratégia de trazer um bode fedido (metafórico ou não) para a
sala ajuda a colocar nossos problemas em perspectiva:
o infortúnio alheio nos lembra que nossa sorte
poderia ter sido pior. Desde que ela seja curtida em silêncio, a Schadenfreude
até que não faz mal a ninguém.
O problema é que essa relativização também
acontece no outro sentido e afeta nossa capacidade de curtir a própria sorte.
Se você
ganha, pouco deveria importar se os outros também ganharam ou não; o que você
fez deu certo. No entanto, descobrir que alguém ganhou ainda mais do que você diminui
seu prazer.
É daí
que nasce a inveja: da relativização do seu sucesso, mesmo quando ele deveria
ser perfeitamente satisfatório.
Seu
prazer de conseguir comprar um carro bacana deixa de ser tão bom quando você
descobre que o vizinho comprou um carro melhor ainda pelo mesmo valor. A inveja
é a cobiça do sucesso alheio à custa do próprio desmerecimento.
A neurociência conseguiu localizar as bases da
inveja justamente no sistema de recompensa, o conjunto de estruturas do
cérebro que sinaliza quando nossas ações são bem-sucedidas e nos premia com uma
sensação física e mental de prazer.
A Schadenfreude
ocorre quando o cérebro registra o lado bom de uma situação que deveria ter
sido apenas ruim, e gera ativação do sistema de recompensa - e com isso, prazer
- quando o sofrimento alheio indica que você foi mal, mas poderia ter sido
pior.
O mesmo acontece na inveja: a ativação do seu
sistema de recompensa, e portanto, sua sensação de prazer, é reduzida quando
seu cérebro entende que seu sucesso poderia ter sido maior - como prova o alvo
da sua inveja.
Como a Schadenfreude, a inveja tem lá
sua utilidade, ao lembrar que você poderia se sair ainda melhor. A pena é o
custo da inveja, que estraga o que poderia ser um prazer perfeitamente bom.
Mas
existe saída: é possível usar estratégias cognitivas para sufocar a inveja,
colocar-se no lugar dos outros e vivenciar com eles o sucesso ainda maior que o
seu.
Ainda
bem que essa capacidade, a empatia, nosso cérebro também tem.
SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autora do livro Fique de
bem com seu cérebro (Sextante, 2007), dentre outros.
Pesquisas
Recentes descobertas reforçam as descrições
iniciais de Aristóteles. Segundo Takahashi, o prazer com o sofrimento alheio
também tem lugar no cérebro: o Shadenfreude se estabelece no estriado
ventral, exatamente onde se processa a sensação de prazer.
Em seu
experimento, o cientista induziu os voluntários a imaginarem um cenário que envolvia
outros três personagens, do mesmo sexo, da mesma idade e profissão dos
participantes.
Dois deles seriam, hipoteticamente,
mais-capazes e inteligentes. Dessa comparação nasce a inveja, especialmente
quando as pessoas são muito parecidas.
Ou seja:
é mais comum uma mulher se incomodar com outra, da mesma faixa etária e
profissão, do que com alguém com características totalmente diferentes. A
inveja decorre, portanto, de uma comparação na qual o invejoso “perdeu" a
disputa e, com isso, sentiu-se inferiorizado.
Em uma pesquisa de 2009, o psicólogo social
Niels van de Ven e seus colegas da Universidade de Tilburg, na Holanda,
compararam o modo como holandeses, americanos e espanhóis expressam sentimentos
intensos de inveja no respectivo idioma (em holandês, alemão, polonês e tailan-
dês existem duas palavras; em inglês e espanhol apenas uma).
Independentemente da língua, o estudo revelou
dois tipos de inveja: a maliciosa, caracterizada por pensamentos sombrios e
desejo de prejudicar; e a benigna, com hostilidade menos evidente, embora
também carregue alguns aspectos desagradáveis. Em relação a esta, porém, os
voluntários relataram mais sentimentos positivos como admiração.
Também
demonstraram maior propensão a acreditar que a pessoa invejada merecia a sorte
que tinha, enquanto eles mesmos deveriam se esforçar para alcançar seus
objetivos.
Cada nuance da inveja afeta o comportamento
humano de uma maneira. Em um experimento de acompanhamento, os pesquisadores
instruíram alguns estudantes de língua holandesa a recordar uma situação em que
sentiram admiração, inveja benigna ou maliciosa, enquanto os demais participantes
do estudo permaneceram isolados.
Em
seguida, todos foram reunidos novamente para resolver um problema. Aqueles que
haviam relatado momentos em que sentiram inveja benigna foram mais
persistentes e bem-sucedidos na hora de solucionar o enigma do que seus pares
dos demais grupos.
Os
pesquisadores concluíram que o filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard estava
certo quando supôs que “admiração é feliz auto entrega; inveja é infeliz
autoafirmação”.
Tomando como base o desenvolvimento da espécie
humana, os cientistas apontam outros potenciais benefícios da inveja. Os
psicólogos evolucionistas David M. Buss, da Universidade do Texas em Austin, e Sarah
E. Hill, da Universidade Cristã do Texas, sugerem que o ato de nos compararmos
repetidamente com nossos vizinhos pode ter ajudado a avaliar melhor nosso
desempenho na competição por recursos.
Além
disso, o sentimento de inferioridade e a frustração inflamados pelo desejo de
ter o que outro tem costuma disparar um alerta de que estamos em desvantagem.
Impelidos por essa motivação, muitos poderiam
se empenhar em compensar deficiências e superar a si mesmos.
O problema das explicações evolutivas é que são
difíceis detestar. Por isso, Sarah e seus colegas examinaram uma hipótese
relacionada: desejar o que é do outro pode ajudar a melhorar nosso desempenho
nos dias atuais.
Os
pesquisadores pediram a alguns alunos que relembrassem situações em que
sentiram inveja. Em seguida, em uma atividade aparentemente não relacionada, os
participantes do experimento leram entrevistas fictícias sobre as metas de
carreira de alunos da mesma idade.
Aqueles que haviam refletido sobre momentos em
que desejaram ter pertences alheios passaram mais tempo atentos às informações
e se lembraram de mais detalhes em um teste de memória, em comparação com
colegas que faziam parte de um grupo controle.
Os cientistas concluíram que a inveja realmente
parece aguçar nossa atenção em relação ao meio social, aumentando o interesse em
potenciais concorrentes.
AS UVAS ESTÃO VERDES...
Será que estamos simplesmente à mercê de nossos
impulsos ou eles podem ser dominados voluntariamente?
Em outro experimento, dissemos aos
participantes que haviam sido escolhidos aleatoriamente para beber um suco de
repolho ou uma saborosa bebida à base de sorvete de frutas
(o que
eles não sabiam era que só tomariam a bebida à base de verdura e que
pesquisadores disfarçados de voluntários receberiam o preparado mais saboroso).
Dividimos os voluntários (verdadeiros) em três
grupos: o primeiro era formado por aqueles que tomaram o suco de repolho
sozinhos; no segundo estavam os que beberam acompanhados de voluntários que
ganharam a outra bebida; no terceiro, os que estavam sob carga cognitiva (pesada
e leve). Medimos a impulsividade de todos eles.
Em seguida, os participantes visualizaram na
tela de um computador imagens das duas bebidas e de outros objetos aleatórios.
Na sequência, receberam um aparelho para
indicar, o mais rapidamente possível, onde a figura aparecia. Trazer o
dispositivo para si aumentava a imagem; empurrar, a diminuía.
Aqueles que tiveram o autocontrole comprometido
pela tarefa difícil foram mais ágeis para puxar o mecanismo nos momentos em que
a bebida de sorvete aparecia - mas, curiosamente, isso só acontecia quando
nossos “cúmplices”, que haviam ganho o alimento saboroso, se aproximavam.
No entanto, observamos uma resposta exatamente
oposta dos participantes que não sofrer a interferência na capacidade de
controlar as emoções.
Quando
nossos colegas chegavam perto, eles rapidamente afastavam a batida de sorvete.
Expressavam menor interesse por essa bebida que pelo suco de repolho ou pelos
objetos aleatórios. Talvez para mitigar emoções negativas, rejeitavam o objeto
invejado.
Assim
como a lenda da raposa e as uvas, de Esopo, os participantes podem ter
inicialmente cobiçado, mas, em seguida, menosprezado o delicioso deleite fora
do alcance.
Sentir inveja dói. O invejoso sente-se ferido,
excluído de um direito que, segundo acredita, é (ou deveria ser) seu - e seu
cérebro registra essa experiência como um sofrimento físico.
Uma das formas saudáveis de lidar com a inveja
é nos concentrarmos nos aspectos que controlamos de uma situação.
Por
exemplo, se o sucesso de um conhecido desperta demasiadamente sua atenção,
procure focar em suas próprias metas. Se não encontrar motivação suficiente,
tente buscar sentimentos de gratidão pelas coisas boas que tem em sua própria
vida.
Olhar
para o que temos (e não para o que nos falta) pode nos ajudar a valorizar
oportunidades.
Obviamente não se trata de fazer apologia da
inveja num mundo cada um de nós talvez tivesse equilíbrio emocional suficiente
para ter consciência das próprias limitações e potenciais - e, como diz a música,
desfrutar “da dor e da delícia” de ser quem somos.
Mas não
é assim, sabemos. Porém, a saída para o desconforto que a inveja causa requer
um tanto de coragem: desenvolver a capacidade de alegrar-se, verdadeiramente,
pelos dotes ou conquistas alheios.
A grande vantagem disso é, ao mesmo tempo,
agregara possibilidade de tomarmos o outro como exemplo, sem deixar de lado
nossos próprios pontos fortes.
E, ao
contrário do que pode parecer à primeira vista, não se trata de engrandecer
ainda mais o invejado, mas sim de usufruir de alegrias, realizações, e aprender
com elas, sem permitir que o sucesso alheio se torne motivo de tormento.
OS AUTORES
JAN CRUSIUS e THOMAS MUSSWEILER são psicólogos
sociais da Universidade de Colônia, na Alemanha. Crusius estuda as
consequências de nos compararmos com os outros em relação a pensamentos,
emoções e comportamentos. Mussweiler investiga cognição social e processos de comparação
social.
Para saber mais:
Appraisal patterns of envy and related
emotions. Niels van den Ven, Marcei Zeelen- berg e Rik Pieters em Moti- vation
and Emotion, vol. 36, n° 2, págs. 195-204, junho de 2012.
When people want what others have: the
impulsive side of envious desire. Jan
Crusius eThomas Musswei- ler em Emotion, vol.
12, n? 1, págs. 142-153, fevereiro de 2012.
Why envy outperforms admiration. Niels van den
Ven, Marcei Zeelenberg e Rik Pieters em PersonaliPj and Social Psychology Bu!-
letin, vol. 37, ne 6, págs. 784-795, junho de 2011.
Comprehending envy. Richard H. Smith e Sung Hee
Kim em Psychologicai Bulletin, vol. 133, np 1, págs. 46-64, janeiro de 2007.
Inveja e gratidão e outros trabalhos (1946-1963). Klein. Imago, 1991.
Postado Por Dharmadhannyael
este texto está livre para divulgação desde que seja citada a fonte:
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