A simbologia Divina - Alquimia, gnósticos, psicologia.
Meditar sobre a divindade ou sobre o
universo Divino - Deus Pai/Mãe que tem muitos nomes, muitas faces em todos os tempos , em todos os povos as religiões,
é ao mesmo tempo a mais recente e a mais antiga de todas as tradições da
contemplação. A realidade
psicológica ou existencial é importante para a saúde da alma. Deus - o Self está na alma, no Espírito e não no exterior, assim é prejudicial para a saúde psíquica negá-lo.
Raisa Cavalcanti diz que “O Self, na
concepção junguiana, é o princípio numinoso, transcendente e imutável, presente
em todas as coisas. Os cabalistas falam de Tav, a marca de Shekinah, ou da
presença divina no mundo.
Os alquimistas chamaram de Signatura Rerum, a assinatura do eterno
nas coisas. O Self é o Eu superior, ou o Eu maior, a centelha divina no homem
de que falam OS sistemas místicos. Nesse sentido, a visão de Jung se aproxima
do budismo, da cabala, dos gnósticos e, também, da visão de alguns físicos
quânticos.
Na sua busca do conhecimento e
contribuição de outras fontes e tradições, Jung encontrou no gnosticismo e no
trabalho dos alquimistas um paralelo simbólico com o processo de individuação e
considerou que tanto nos gnósticos quanto na alquimia medieval estavam contidas
as raízes espirituais do Ocidente.
Ele se dedicou profundamente ao estudo do
gnosticismo durante doze anos e chegou à conclusão de que havia um liame entre
a gnose, a alquimia e a psicologia analítica; por isso, o gnosticismo poderia
servir como ponte para uma revalorização da tradição cristã.
No seu livro Sonhos, memórias e
reflexões,Jung diz: “Vi logo que a psicologia analítica concordava singularmente
com a alquimia. As experiências dos alquimistas eram minhas experiências, e o
mundo deles era, num certo sentido, o meu.
Para mim, isso foi naturalmente uma
descoberta ideal, uma vez que percebi a conexão histórica da psicologia do
inconsciente. Esta teria agora uma base histórica. A possibilidade de
comparação com a alquimia, da mesma forma que a sua continuidade espiritual,
remontando até a gnose, conferia-lhe substância.
Estudando os velhos textos, percebi que tudo
encontrava o seu lugar: o mundo das imagens, o material empírico que
colecionara na minha prática, assim como as conclusões que disso havia tirado”.
Para Jung, o gnosticismo, era a
expressão mitológica de uma experiência interior que tinha como finalidade a
busca da plenitude do Ser.
Os gnósticos se autodenominavam como
aqueles que possuíam a gnose ou o conhecimento. E que este não era racional,
mas o conhecimento direto, pessoal e absoluto das verdades da existência. O conhecimento
intuitivo que emerge do coração, a “Gnosis Kardia”.
Os gnósticos transformavam as suas
experiências místicas em mito. C. Kerényi, o grande mitólogo, no livro que
escreveu com Jung, Ensaios sobre uma ciência da mitologia, também afirma que os
gnósticos eram místicos que se especializariam na mitologização da experiência
mística.
Jung viu nos símbolos da mitologia gnóstica
paralelos psicológicos e arquetípicos com a alquimia e que estavam presentes na
psique humana. E descobriu semelhanças incríveis entre as imagens arquetípicas
dos gnósticos e dos alquimistas e as suas próprias imagens oníricas.
O
mesmo processo de transformação, descrito pelos gnósticos como a viagem da alma
através das regiões eônicas, era descrito pelos alquimistas como a transformação
da matéria-prima negra no ouro reluzente do opus alquímico.
Jung interessou-se pelas descobertas dos
documentos de Nag Hammadi, embora ele já conhecesse alguns códices gnósticos
antes dessa descoberta. Ele reconheceu nas diversas manifestações da mitologia
gnóstica as mesmas imagens arquetípicas do processo de....
individuação, que estão presentes na
psique humana, em todas as épocas e lugares.
Os evangelhos da Biblioteca de Nag
Hammadi falam dos ensinamentos secretos de Cristo revelados aos seus discípulos
depois de sua ressurreição e que foram anotados e escondidos por eles.
A concepção de Jung sobre a separação do
ego do Self e sua jornada de volta para casa, ou seja, a busca da totalidade,
que chamou de processo de individuação, tem similaridade e relação com o mito
gnóstico “A canção da pérola”. Esse mito descreve um estado de totalidade
original que é rompido pela necessidade da alma de seguir um caminho de
realização própria. Nessa jornada individual a alma corre o risco de perder-se.
Mas, no final, ela reconquista a totalidade perdida num outro nível. Muitos dos
elementos desse mito falam simbolicamente da separação do ego do Self, da
realização no mundo e, depois, do processo de reencontro com o Self.
Os textos gnósticos falam frequentemente
da junção de opostos, a finalidade do processo de individuação. A experiência
da Câmara Nupcial se refere simbolicamente ao casamento espiritual. Vários
textos afirmam que a Câmara Nupcial existe para refazer a unidade primordial.
Como diz o Evangelho de Felipe. “Também o
feminino é reunido ao seu consorte na Câmara Nupcial. E aqueles que foram
reunidos na Câmara Nupcial jamais serão separados novamente.”11
E o Cristo gnóstico, a esse respeito,
diz: “... Quando fizerdes de dois um, e quando fizerdes o interior como o
exterior e o exterior como o interior e o acima como o abaixo, e quando
transformades o masculino e o feminino em uma única unidade, para que o macho
não seja só macho e a fêmea não seja só fêmea, quando criardes olhos no lugar
de um olho, e uma mão no lugar de uma mão e um pé no lugar de um pé, e também
uma imagem no lugar de uma imagem, então certamente entrareis no reino”.12
Os gnósticos viam no padrão criativo da
conjunção de opostos a possibilidade de libertação do homem do conflito da
dualidade e a criação de uma consciência nova e superior.
Jung dizia que, como os
gnósticos,poderíamos buscar o sentido de Deus como uma presença interior direta
e transformadora. Gnose quer dizer conhecimento; mais precisamente,
autoconhecimento, conhecimento intuitivo, baseado na visão interior, na
contemplação e na meditação.
Os gnósticos acreditavam que, por meio desse
conhecimento, o homem podia descobrir o espírito divino preso em seu interior.
Um dos propósitos do gnosticismo era a libertação da centelha divina presa na
matéria.
Para os gnósticos, o autoconhecimento e
o conhecimento de Deus eram a mesma coisa. E, para obter esse conhecimento, era
necessário abandonar o falso mundo criado pela mente. Jung reafirmou o mesmo,
em linguagem psicológica, ao declarar que, para reconhecer o Self, o ego
deveria libertar-se de sua falsa visão e objetivos, de sua própria alienação do
Self.
No início de sua carreira (1916)Jung
produziu um tratado poético chamado Os sete sermões aos mortos, o qual nunca assinou
e que foi mais tarde considerado inteiramente de cunho gnóstico. Esse trabalho
foi distribuído entre um pequeno círculo íntimo de amigos de Jung.
Muitos junguianos consideram esse
trabalho como a fonte e a origem da obra de Jung. Nele aparece uma das
primeiras afirmações de Jung sobre a individuação.
Jung viu na alquimia a herança da
tradição gnóstica do conhecimento e percebeu que os gnósticos e os alquimistas
compartilhavam da mesma busca. O processo de transformação, simbolizado pelo
gnosticismo como a viagem da alma pelas regiões eônicas, era descrito por
Paracelso como a transformação da “matéria-prima negra” em ouro alquímico.
Para Jung, o gnóstico, o alquimista no
seu laboratório e o analisando na sua sessão passam por experiências psíquicas
semelhantes, na busca da totalidade, do opus alquímico, da pedra filosofal.
O paciente no seu trabalho de
transformação psíquica busca, como os gnósticos e os alquimistas, libertar o
Deus preso na matéria, busca propiciar a emergência do Self, preso na matéria
egóica.
Quando o ego abandona a sua onipotência (a
maldição dos arcontes, segundo os gnósticos) e reconhece o Self, o seu ouro
interior começa a brilhar.
Na cabala, o Tzélem corresponde à centelha, à imagem divina presente em todos os
homens. O pleroma dos gnósticos é a plenitude eterna e infinita, da qual nos
originamos e para onde retornaremos.
O
físico Niels Bohr tomou emprestado de Immanuel Kant a idéia do ego
transcendente como o “pano de fundo da consciência” e que mantém uma relação complementar
com esta, e os dois estão sempre presentes e entrelaçados. O Self é o arquétipo
do homem eterno, o Anthropos, o Homo Totus, o homem divino dos
gnósticos.
Jung considerava o conceito do Self de difícil apreensão. Para tomar
mais acessível o seu entendimento, procurou fazer aproximações com outras
tradições do conhecimento. No seu livro Aion, ele descreve o Self como a imagem
de Deus projetada nas profundezas da alma, a imagem da totalidade gravada no
inconsciente.
Na alquimia, ele demonstrou que o Self está representado na “Opus
Alquímica”, o trabalho final dos alquimistas. Em Psicologia e Alquimia, ele
reafirmou que os símbolos quaternários da mandala mostravam “o deus dentro da
psique”.
No taoísmo, ele mostrou o Self representado
como a Flor de Ouro. No hinduísmo, como a Semente Dourada. Jung afirmou que o
símbolo do Self e o símbolo da imagem de Deus no homem, são na verdade a mesma
coisa.
Ele mostrou, com grande profundidade,
como essa imagem está presente na psique humana e aparece representada nas mais
diversas tradições. Para Jung, as antigas tradições sagradas são repositórios
dos segredos da alma, e este inigualável conhecimento manifesta-se em grandes
imagens simbólicas.
Nos seus escritos, Jung via Cristo como
um símbolo do Self, que reconcilia os pares de opostos, divino/humano,
espírito/corpo. Ele sempre atribuiu um grande valor psicológico e espiritual ao
símbolo de Cristo como a expressão unificadora e curadora do Self.
E
reconheceu no Cristo o maior e o último representante simbólico d arquétipo do
Self. E viu na redenção a expressão religiosa de individuação.
Jung concebe o Self como a quintessência
dos arquétipos, o princípio organizador e diretor interior, a representação da
divindade interior que guia todo o desenvolvimento do ego, pois contém sementes
do destino do individuo.
Segundo
Jung, o Self é: “o potencial para a integração da personalidade inteira”. O
Self individual a centelha do Self universal ou Deus. E corresponde à verdadeira
individualidade, da qual a individualidade do ego seria um reflexo.
O
Self é a totalidade numinosa da psique, o verdadeiro centro da psique, e o
regente da função transcendente e espiritual do homem.
Para Jung, a religiosidade do homem não
era, como explicava Freud, uma expressão de sentimento de desamparo infantil ou
sublimação de outros sentimentos sexuais, mas a função inerente natureza
humana, mobilizada pelo Self e que podia estar consciente ou reprimida.
O
impulso espiritual era a expressão da psique humana e do seu anseio pelo encontro
com a Fonte do Ser. A potencialidade espiritual humana contém um impulso
inerente para a plenitude e expressa por meio de símbolos.
Esses símbolos se originam no Self e
aparecem, principalmente em sonhos, visões e estados alterados de consciência,
mostrando um caminho de desenvolvimento espiritual ou psicológico. Jung via
necessidade do autoconhecimento como espiritual.
O
desejo de autoconhecimento era tanto psicológico quanto espiritual. Para Jung o
desenvolvimento da espiritualidade tinha grande importância n processo
evolutivo e na autotransformação. Ele viu na busca de autoconhecimento um
significado espiritual implícito e, mais tarde perseguiu esse propósito de
forma clara e determinada.
O Universo como entidade maternal é uma
noção comum a muitos caminhos espirituais relacionados à Deusa. Os católicos
rezam para Maria, os egípcios para Ísis e os nativos norte-americanos para a
Grande Mãe, mas todos a vêem como uma forca infinitamente criativa e protetora,
que ama Sua criação.
Muito antes das tribos patriarcais de
Abraão, mulheres e homens sentiam a presença da Deusa como parte de sua vida
guiando-os e protegendo-os como uma mãe protege seus filhos.
Hoje, as pessoas a estão redescobrindo.
Nos Estados Unidos houve uma explosão de interesse pela Deusa, que resultou em
retiros, workshops e serviços de adoração em quase todas as cidades, durante
todo o ano. Há dezenas de livros sobre a redescoberta da Deusa, além de
documentários em vídeo que exploram suas raízes.
Jung mostrou que o desenvolvimento
espiritual e o desenvolvimento psicológico são a mesma coisa e fazem parte do
mesmo processo. E que um não pode prescindir do outro pois, do contrário,
pode-se cair em alienação e fuga.
Não existe desenvolvimento espiritual
sem o correspondente desenvolvimento psicológico. E os dois caminhos levam ao
desenvolvimento do sentido ético na vida.
Jung estudou profundamente os sistemas
místicos tanto do Oriente quanto do Ocidente, e descobriu que todos eles
descrevem o caminho do autoconhecimento como o que leva do material ao
espiritual.
O
processo psicológico conduz ao espiritual, é a sua via de acesso, e os dois
caminhos estão interligados. Sem esta condição, o que se tem é um processo
espiritual estereotipado, alienado e dissociado da vida. Autoconhecimento e
espiritualidade caminham juntos.
Jung sempre concebeu o seu trabalho
científico como uma expressão de seu desenvolvimento interior. O seu
comprometimento com os conteúdos do inconsciente, do Self, o levava, frequentemente,
a provocar transformações na sua vida e na sua obra.
Ele foi além das concepções terapêuticas de
sua época, e deslocou a preocupação excessiva com a psicopatologia e com os
sintomas para a busca da realização do aspecto espiritual.
Os sintomas e a doença eram importantes
na medida em que constituíam entraves para o desenvolvimento e para a
realização da vida criativa e espiritual. Por isso, Jung pôde compreender a
doença como um caminho, como um fator mobilizador para o autodesenvolvimento.
Para Jung, o papel dos símbolos arquetípicos
religiosos era dar significação à vida do homem e ligá-lo à realidade
transcendente do Self, da qual faz parte.
Ele defendeu a importância das
experiências transcendentais ou espirituais para a saúde mental, pois a falta
de consciência espiritual aliena o homem do Self e do significado e propósito
maior da vida. A crença num processo evolutivo que também é espiritual torna o
homem mais responsável pelo seu próprio desenvolvimento.
Jung via o chamado “mal do século”, a
depressão, a infelicidade, o embotamento, a automatização e a alienação da
natureza e da vida, como a perda do significado espiritual que ligava o homem a
uma realidade maior e transcendente.
Ele afirmou que o materialismo e o
racionalismo contribuíram para a negação do lado transcendente da psique e a
alienação de suas raízes mais profundas.
Por isso, Jung incluiu na sua meta
terapêutica o resgate do sentido espiritual perdido, pois só assim seria
possível a busca do sentimento de plenitude, de totalidade e de pertencer a uma
realidade transcendente que só a ligação com o Self pode dar, a experiência do
processo de individuação.
A plena realização e evolução do ser
humano, segundo Jung, estaria em alcançar o sentimento de totalidade pela
consciência de ser parte da realidade maior do Self e como indivíduo, ser um
veículo para a expressão das inúmeras possibilidades de sua manifestação.
A
identificação com o Self cura a ferida da castração, da incompletude e da falta
e os sentimentos de baixa auto-estima. E retira do ego toda a ilusão de buscar,
neuroticamente, a compensação para os sentimentos de inferioridade.
Jung descreveu o desenvolvimento humano
como uma jornada que começa com a saída do estado de totalidade indiferenciada,
de fusão com o Self. No início, o ego vive num estado de identidade com a
psique arquetípica, com o Self.
Mas, para obter a consciência pessoal, o ego
deve deixar essa matriz primordial e iniciar a sua jornada como herói para,
depois, retornar para casa. Sem essa separação, não pode haver individualidade,
e sem individualidade, não pode haver individuação.
Nesse processo, o ego se diferencia do
Self e nasce como entidade autônoma. É estabelecida a discriminação entre o eu
e o não-eu, o que pode ser traduzido, psicologicamente, como a saída da unidade
regressiva mãe-criança, a saída desse estado de construção do sentimento de
individualidade e independência. Com a separação do ego do Self, a consciência
tende a se consolidar numa estrutura temporal, que se sente limitada e
separada.
O homem, após trilhar o caminho de
construção da individualidade, da consciência pessoal, deve iniciar o seu
percurso em direção à busca da totalidade, ao reconhecimento da sua
inter-relação com todas as coisas e à sua identificação com a realidade do Self.
Essa busca da totalidade, da união e
identidade com a realidade transcendente do Self e do exercício criativo da
individualidade a serviço do Self, Jung chamou de processo de individuação, a
doutrina central de sua psicologia.
O processo de individuação é o tornar-se
inteiro e uno que leva à experiência do divino e do sagrado na dimensão
simbólica da vida. Na individuação vivencia-se a reconciliação dos opostos —
ego e Self, masculino e feminino, anima e animus, introversão e extroversão,
matéria e espírito.
A
união dos opostos no interior da psique que Jung chamou de “casamento sagrado”
— leva a uma mudança radical. O Principium
Individuationis, inerente à natureza humana, impele o homem a buscar a
evolução, a totalidade e a ligação com Deus.
A finalidade da individuação para Jung é
a androginia psíquica, a união do masculino com o feminino, a integração na
unidade primordial, anterior à criação da consciência da individualidade.
Por meio do processo de individuação, que
envolve a busca contínua do autoconhecimento, do conhecimento da vida e da
realidade divina, da junção de opostos, o homem pode fazer o seu caminho
consciente de volta para casa, para a totalidade.
Porque a pessoa que se tornou unida, que
se tomou una, é capaz de entender a verdadeira origem do seu ser e assim pode
voltar para casa, O processo de autoconhecimento sempre restabelece o eixo que
liga o ego ao Self.
Essa busca da unidade é não-regressiva,
ela só pode ser alcançada depois da construção da individualidade, do
autoconhecimento. Nessa busca da unidade e totalidade não é abolida a noção de
individualidade e de autonomia.
O processo de individuação exige que o
indivíduo substitua os valores coletivos por valores individuais e que mantenha
a liberdade, independência e autonomia. É um tipo de liberdade que não é a
liberdade ilusória do ego, mas a do Self.
Na individuação, o sentimento de unidade
é criado em outro nível mais profundo, onde é encontrado o sentido e a ligação
entre todas
as coisas e da auto-realização
consciente, que envolve a integra
f ção dos opostos, o casamento interior.
Este processo, quando real,
traz um grande sentimento de bem-estar,
de relacionamento pleno
consigo mesmo, com os outros, com a
natureza. E leva à superação
dos sentimentos de alienação e
isolamento e à experiência da unida
de com tudo o que existe, o conhecimento
unificado.
2O processo de individuação exige a
renúncia aos objetivos do ego, o sacrifício de seus valores e de seus apegos, a
fim de que possa emergir a verdadeira natureza que é divina. Quando o homem
perde o ego, encontra o Self. Jung viu o processo de individuação como a
realização do aspecto divino no homem.
Segundo ele, por meio do conhecimento de Deus,
da realidade divina dentro de si mesmo e da totalidade de todas as coisas, o
homem poderia renunciar às necessidades defensivas de segurança, preservação e
sobrevivência do ego, como prestigio, poder, status ou a necessidade de se
sentir produtivo, ativo e aproveitador da vida.
Quando o individuo supera esses sentimentos
pode realmente sentir-se vivo e participante da vida. Dessa forma, pode exercer
a sua ação criativa, atualizando o seu potencial no mundo e se colocando como
um veículo para a realização do Self.
O processo de individuação se refere a
essa busca ascendente da unidade transcendente, do centro real, o Self, que é a
finalidade comum a todas as religiões e aos sistemas metafísicos do Oriente, no
taoísmo, no budismo, no hinduísmo, no
tantrismo etc.
Jung viu no sistema da Yoga Kundalini um
símbolo do processo de individuação, um caminhar progressivo do mais instintivo
para o mais espiritual, do mais terreno para o mais celeste. E interpretou o sistema
dos chakras, os centros psíquicos de energia, como a representação simbólica
corporal dos vários degraus, estágios ou níveis de consciência que o homem pode
alcançar.
A
meta seria o sétimo chakra, o lugar da união de Shiva e Shakti. No tantra
budista, o sistema dos chakras é comparado a um templo sagrado com seus vários
pavimentos.
Segundo Jung, o processo de individuação
envolve a realização da individualidade de cada um, que deve ser posta a
serviço do Self, e não a serviço dos desejos narcísicos e auto-afirmativos do
ego pois, nesse processo, o ego abdica de seu poder e do desejo de apropriação
dos potenciais do Self, porque sente que esses também lhe pertencem. A
personalidade individual pode se sentir co-criadora com o Self;
Na sua prática clinica, Jung reconhecia
a singularidade de cada um e respeitava a direção interior individual na busca
da totalidade. Ele acreditava que o Self possuía a sabedoria para conduzir cada
individuo à sua verdadeira natureza, bastando apenas saber ouvir a sua voz
interior.
A individuação se refere à plena
realização do potencial inato de cada um, que é divino, e que é sentido e
colocado, de forma consciente, a serviço da realização do Self e a serviço da
evolução da humanidade como um todo. O processo de individuação leva sempre
para além do ego, até o Self, do pessoal ao transpessoal, do profano ao
sagrado. No cristianismo, essa totalidade é simbolizada pela Arca da Aliança,
que representa a aliança do homem com Deus.
Para Jung a individuação é o tomar-se o
que se é em potencial, na real essência de cada um, mas mantendo a consciência
de um objetivo maior: a realização do Self.
A individualidade são os incontáveis
meios pelos quais o Self, Deus, se manifesta e se atualiza. Realizar os
potenciais da individualidade é realizar o desejo do Self de manifestação na
experiência humana. Realizar os potenciais do Self é permitir que o espírito se
expresse no mundo das formas temporais e culturais". Raissa Cavalcantti . O Retorno do Sagrado.
Este texto está livre para divulgação desde que seja citada a Fonte:
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