Carta a sua criança interior Ferida.
Estou escrevendo para você que foi ferida na infância por seu pai, por sua mãe, que sofreu o medo da violência, do estupro, do desamparo, da
injustiça, que viveu a impotência diante do mais forte na fase de sua
vida que deveria ser alegre, leve e
feliz.
Você que "envelheceu" antes do tempo diante da
brutalidade daquele que deveria proteger e não punir.
Existe uma linda mulher dentro de você, sua Alma é plena de
beleza, amor e Luz.
A Alma é o corpo do
Esplendor do Espírito, do Buda, do Cristo Interior.
A violência física pode ter tirado das suas mãos o rolo de
lã que tece o seu próprio destino, roubou-lhe o fio das ilusões, dos sonhos que
tecem o futuro.
O que nos leva a seguir em
frente é a Esperança, a coragem, a confiança na justiça,no amparo e na proteção
da vida e de Deus.
Você que conheceu o medo que paralisa diante da morte as vítimas
da violência.
Você criança que não
compreendeu a violência do mundo e achou que era sua culpa.
Aquele que me violenta, entra na minha mente, no meu mundo interno como
parte de mim e planta a semente do medo, do fracasso, da impotência,
do ódio no cenário da mente;
o agressor entra na mente como um adversário internalizado - parte de mim - perseguidor, reativo que se alimenta das emoções
, da tristeza e do sentimento de inferioridade; e como um parasita é alimentado
pelo ódio e continua em cena no agora querendo me destruir;
Clandestinamente, ou inconscientemente planta as sementes na terra que nascem os frutos “daquilo” que mais me aterroriza..."
Em nossa estória, vivemos várias situações e vários cenários e
várias personagens. aquele que está paralisado no trauma, que viveu no tempo de violência do passado,
pode no agora, entrar em cena “vestido
com o personagem ferido, vencido, raivoso, impotente e dominado de ontem...
" Um dia, eu vejo que nasceu no meu
caminho, em minha vida em minha mente, cerca de espinhos intransponíveis, como
se fossem colocadas ali, por mim".
O medo da rejeição e do abandono persegue aqueles que foram rejeitados e abandonados na infância. Este sentimento transforma em vítimas todos aqueles que na infância ficaram sujeitos ao desamparo e à dor. Sua percepção, distorcida de si-mesmo, deriva das suas experiências infantis traumatizantes;
e assim, aprisiona a
alma no passado, produz fixações em sentimentos de inferioridade, de baixa
auto-estima, induz uma percepção irreal de si mesmo.
O opressor entra, e fica... por isso a mulher ferida pode carregar pelo resto da vida esta figura internalizada, e projeta o
seu ódio em todos os homens que poderia amar. Seus olhos podem procurar inconscientemente alguém parecido com ele para
destruir, e por infelicidade do destino, acaba escolhendo homens iguais a ele.
Muitas vezes,a mulher perde o contato com a essência feminina, e revela
um comportamento muito yang, reativo, porque não quer ser como a passiva sombra
da mãe que era invisível dentro de casa
diante da figura opressiva do pai.
Quanto mais luta contra ele, com o ódio, com a revolta mais forte
ele fica, como a “hidra de Hércules”, porque a luta acontece no campo da nossa
psique, e assim, você luta com suas energias, contra si mesmo.
A compreensão da realidade divina interna desfaz todas as ilusões
e o autoconhecimento leva a pessoa a
abandonar a falsa auto-imagem construída no passado.
“O autoconhecimento sempre leva ao reconhecimento da verdadeira
essência que reside na Alma, que revela a natureza divina que foi esquecida.
E, se o medo toma conta da nossa vida, nos afastamos do centro da
luz, e assim, muitas mulheres se tornam escravas de um Deus cruel, impiedoso em
uma religião severa e castradora.
Perdemos o contato com a Fonte generosa e doadora da vida.
Muitas mulheres que sofreram a violência do "animus",
não conseguem relacionar com o sexo oposto e preferem viver afetivamente com
outra mulher para não enfrentar a figura terrível masculina internalizada
projetada no parceiro.
A sua ferida é tão grande, que mobilizou seus instintos de
agressividade,
e você vive reagindo ao mundo com raiva, ódio, e agressividade,
como um bicho ferido; em situações de conflito você fica possuída por este
“demônio”, e agride os outros como ele.
Ele entrou na sua pele, através da força - naquele
tempo não havia defesa, nem proteção.
Ele é um ferido, você é um ferida, somos marcados pela tatuagem da
agressão,quando na infância não conseguimos estruturar o próprio "eu" no início do nosso desenvolvimento.
Mas, você precisa compreendê-lo porque se não perdoa, não liberta - "ele" dentro de
você - como você, não há liberdade.
Mas, você tem usado a emoção, seus sentimentos doloridos para
lidar com esta dor, agora é necessário usar a mente, a inteligência, a esperança, a alegria, a compreensão para a
sua liberação.
Dessa maneira, as defesas do ego passam ao largo das tensões e da
dor, mas a tensão e a dor permanecem. São registradas à nível cortical como um
desequilíbrio, uma sequência de ação abortada, esperando para ser libertada e
integrada. A energia do trauma
original permanece como uma tempestade elétrica que faz ecoar a tensão por todo o sistema
biológico.
As pessoas com vidas adultas aparentemente racionais podem estar
levando também uma vida de tempestade emocionais internas. Suas tempestades
continuam porque sua dor original não foi resolvida”.
Muitas mulheres não conseguiram amadurecer, estruturar um “eu
adulto”, e sofrem muito por isto; e não assumem responsabilidades importantes
para uma pessoa emancipada, muitas vezes são excluídas do mundo
profissional, do grupo de amigos...
Você precisa compreender que a vida colocou você neste lugar, por
algum motivo. A reencarnação é uma explicação para tamanha injustiça.
Eu penso que repetimos cenas e vivemos cenários várias vidas, com
os mesmos personagens e que atraímos à nossa atmosfera
a pestilência das nossas concepções.
Hoje vítima, amanhã algoz e assim, vamos repetindo.
Você precisa de um significado que "dê conta" deste seu
sofrimento para a sua liberação.
Quando o "eu", "dá conta" de
compreender os sintomas, quando consegue o significado consciente da sua dor,
ele se libera.
O que precisamos é acabar com o comportamento compulsivo. Agimos
compulsivamente. Podemos até ser compulsivos até a conscientização de alto
nível, adultos letrados, acadêmicos , mas... repetimos nossa compulsão e a
raiva não passa, o ódio arde no peito...
O ódio nos escraviza e é uma energia em ação que "ocupa" o lugar da alegria, da generosidade e do amor, ele precisa ser libertado, redimido.
Nós precisamos
abraçar a solidão da nossa criança de coração partido, e a sua dor não
resolvida, pela infância perdida. Temos que abraçar a nossa dor original.
Abraçar a criança que fomos e amá-la nos torna forte.
Esse é o sofrimento verdadeiro do qual fala Carl Jung.
Você precisa da autoconfiança suficiente para ser a aliada
da sua criança interior no trabalho da dor, sem culpas, sem remorso.
Há uma tendência da sociedade a criar uma imagem do Pai/Mãe
santos, divinos, puros, íntegros como santos.
Mas, pouco se fala do Pai/Mãe sem caráter, cruel, oportunista,
vigarista...
É necessário compreendê-lo com a razão, sem se colocar no lugar do algoz, da menina que foi
“má”; e por isto precisa sofrer; você não é a menina que é “má”, feia,
rancorosa, um “bicho ruim’ como o seu pai, que briga e tem ódio como um monstro que quer se
destruir e a todos.
Quando a criança agredida idealiza os pais, como sagrados e
onipotente, ela acredita que é a única
responsável pelo abuso de que é vítima.
Esta criança pensa que não merece ser feliz, que merece a punição
de Deus.
Que ela é suja, contaminada...
Esta experiência traz consequências negativas para a vítima ao
longo do seu desenvolvimento cognitivo, afetivo, comportamento e social e
principalmente para os seus relacionamentos interpessoais futuros..
Ai, você começa a ser má com consigo mesma, nega inconsciente as
boas escolhas da vida, afinal você pensa que não merece, que é má, violenta,
agressiva e você ( o eu) pode pensar, ou
determinar sua punição - a degradação.
Neste momento, você precisa gostar muito de você, só o puro e
verdadeiro amor por sua criança interior pode liberar este “falso eu”, pode
liberar a voz do “animus terrível” que lhe diz que “você não presta para nada’,
que “você é um zero à esquerda”.
Quando você abraça sua raiva, sua dor, você libera sua alma, seu
“verdadeiro eu”.
Quando você defende sua criança interior ferida ela começa a confiar em você.
Mas, este processo exige que você compreenda a existência do
seu pai, seu algoz como ser humano, como personagem da estória da sua vida.
Ele é um ferido, um transfigurado, violentado na infância por sua
mãe.
Ele repete na sua vida e perpetua a sina do oprimido e do
opressor.
Ele "enlouqueceu" de tanto sofrimento e tentou te
enlouquecer como ele.
“Isto corrobora a teoria de que uma vez estabelecido o material
central da infância, ele atua como um filtro supersensível para moldar eventos
subseqüentes.
Quando um adulto com uma criança ferida experimenta uma situação
similar a um acontecimento doloroso protótipo, a resposta original também
é detonada.
Você ( o eu) precisa perdoá-lo para se liberar, o ódio é uma
corrente que nos aprisiona ao outro por várias vida.
O perdão irá liberar a luz da bondade, da compaixão que irá
liberar os dois personagens da sua estória.
Você poderá perdoá-lo internamente, não precisa procurá-lo se
você não sentir que está preparada para isto.
Você precisa perdoar no seu mundo interno primeiro.
“Quando sentimos a conexão com nossa criança, começamos a ver
toda a nossa vida com uma perspectiva muito ampla. A criança não precisa mais se esconder atrás das defesas
do ego para sobreviver. A criança não é
um eu melhor, é um eu diferente, único com uma visão muito ampla”.
O encontro com a religiosidade luminosa, plena de compaixão, que
não julga, não condena, aceita e ama nos leva ao centro da Fonte,
E assim, libera esta alma ferida da roda da vida.
Muitas mulheres encontram sua redenção na figura feminina da
Grande Mãe, de muitos nomes que ilumina muitas religiões para que acolha sua
criança interior e cure suas feridas.
Mas, é importante a harmonia com a figura de um Deus masculino,
para integrar os opostos, para a harmonia da polaridade interna com o sexo
oposto.
A regeneração criativa é a essência da própria vida. A criatividade é a glória da alma, é o
que nos distingue de todos os seres criados.
A alegria é a porta da felicidade que nos libera.
“ Ser criativo não é apenas nossa coroa de glória. É a nossa
verdadeira imagem de Deus. Criar é ser como nosso criador no mais verdadeiro
sentido da palavra.”
É necessário libertar-se do cenário do passado, conquistar a
liberdade do aqui e do agora, com o perdão.
“O encontro com a dimensão sagrada interna, com a figura
Divina da Graça, com o aspecto sagrado
do Self acontece com a transformação do
casulo em borboleta.
O Dharma é a religação com o Espírito, com a Totalidade.
A alma iluminada com a Misericórdia da Unidade, reconhece que está
mais forte, mais iluminada a pesar de tudo e pronta para recomeçar com a Chama da Esperança e do entusiasmo acesa.
Este texto foi inspirado no livro de John Bradshaw. Volta ao Lar . como resgatar e defender
a sua criança interior.
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