quarta-feira, 25 de março de 2015

Chakra - Sétimo. Coroa , Sahasrara. Buda Interior




                                                  

Chakra - Sétimo. Coroa , Sahasrara.
 Iluminação. Buda Interior. Tara Branca 
Postado por Dharmadhannyael


Essência da Sabedoria que Foi Além

A teoria do Vazio foi exposta de várias maneiras no desenvolvimento do Budismo, O seguinte Sutra do Coração, supostamente pregado por Buda (500 a.C.), é o exemplo de um enfoque não-racional ou devocional.
Assim eu ouvi. Certa vez o Abençoado residia em Rajagriha, no Pico do Abutre, com uma grande assembléia de monges e Bodhisattvas. Nessa época, o Abençoado estava totalmente absorto na concentração que analisa todos os fenômenos, chamada “Iluminação Profunda”.

Na mesma época, o Nobre Avalokiteshvara... contemplava a prática profunda da Sabedoria que foi Além, analisando os cinco agregados vazios por natureza.
Então, por inspiração de Buda, o venerável Shariputra falou a Nobre Avalokiteshvara... dizendo: “Como podem os dc boa família aprender a identificar os que querem  seguir a prática profunda d Sabedoria que foi Além?”

Assim falou, e o Nobre Avalokiteshvara... replicou ao venerável Sharipuira: “Ó Shariputra, qualquer filho ou filha de boa família que deseje seguir a prática profunda da Sabedoria que foi Além deve considerá-la deste modo: analisando os cinco agregados, vazios por natureza.


“A forma é vazia, o vazio é forma. O vazio não é outra coisa senão forma, a forma não é outra coisa senão vazio. Do mesmo modo, sensação reconhecimento, formações cármicas e consciência, tudo é vazio. Portanto, Shariputra, todos os fenômenos são vazios, sem características. Eles são não-nascidos e incessantes; não São impuros nem livres de impureza. Não diminuem nem aumentam.

“Portanto, Shariputra, no vazio não há forma, nem sensação, nem reconhecimento, nem formações cármicas, nem consciência; não há olho nem ouvido, nem nariz, nem língua, nem corpo, nem mente.

 Não há ignorância, nem destruição da ignorância. Não há nada disso ao longo do caminho: não há velhice e morte, nem destruição da velhice e da morte Assim, não há sofrimento, nem causa de sofrimento, nem cessação de sofrimento e nem caminho. Não há sabedoria, nem realização e nem não realização.

“Portanto, Shariputra, porque não há realização, todos o Bodhisattvas aderem à Sabedoria que Foi Além, e, porque não há obscuridade da mente, eles não têm medo.


Indo totalmente além da falsidade, eles vão além dos limites da tristeza. Todos os Budas que habitam nos três tempos, por confiar na Sabedoria que foi Além despertam plena e claramente para a insuperável, para a mais perfeita completa iluminação...

‘Ó Shariputra, é assim que um Bodhisattva Mahasattva deve aprender a profunda Sabedoria que foi Além.”

Então o Abençoado levantou-se da concentração e louvou o nobre Avalokitcshvara... dizendo: “Muito bom, muito bom, ó filho de boa família. É exatamente assim. A profunda Sabedoria que foi Além deve ser praticada exatamente como você falou, e Aqueles que Assim Fizerem rejubilar-se-ão.. “8

Em Tibetan Yoga and Secret Doctrines, W. Y. Evans-Wentz sugere que a Doutrina do Vazio é uma revisão dos ensinamentos hindus de Maya (a Grande Ilusão) feita pelos grandes filósofos budistas que inspiraram a forma Mahayana do Budismo.

 Ele também menciona que em geral, acredita-se que Buda ensinou esotericamente a PrajnaParamita (a Sabedoria que Foi Além) cerca de 600 anos antes para seus discípulos mais adiantados.9

Apesar disso, os ensinamentos sobre o Vazio só foram divulgados esotericamente depois do século II d.C.

Conta-se que o filósofo budista Nagarjuna recebeu esses ensinamentos num reino celeste, onde se supõe que o Buda Gautama tê-los-ia escondido, e articulou uma dialética negativa (a filosofia Madhyamika) para provar logicamente a teoria do Vazio.

Mais tarde, os iogues Mahasiddha (aproximadamente 700-1000 d.C., no apogeu do Budismo tntrico indiano) reagiram existencialmente aos métodos analíticos dos Sutras Mahayana para praticar métodos tântricos vivenciais. A lógica filosófica dqs Sutras e as técnicas vivenciais dos Tantras foram assim aglutinadas num corpo dê ensinamentos conhecido como Mabamudrá.

Em níveis avançados de meditação, a Luz Clara do Vazio gera um estado de consciência que chega aos extremos da bem-aventurança. Esse êxtase transcende qualquer outro prazer e é portanto, “grande” (maha). Uma vez experimentados a Bem-Aventurança e o Plenum do Vazio, jamais poderemos esquecê-los: essa experiência fica selada (mudrá) na nossa mente, o que explica o significado do Grande Selo ou, Mahamudrá.

O Primeiro Pachem Lama, em The Great Seal of Voidness, apresenta uma etimologia oculta para o termo tibetano que corresponde a Mahamudrá, Chaggya Chenpo.

 Chag refere-se a Vazio, Gya é libertação do samsara e Chenpo significa a grande unificação entre a compreensão do Vazio e a libertação da visão do mundo de ilusão (samsara).
 Ele também sugere outro significado para Mahamudrá. Mudrá significa pré- requisito necessário; Maha significa grande compreensão. Daí não haver técnica para a obtenção da iluminação sem uma compreensão profunda do Vazio.’°

Os métodos dos Sutras começam com uma análise filosófica do Vazio e prosseguem com técnicas de meditação para aquietar a mente. Uma vez controlada e fixada, a mente é usada na meditação para provar a compreensão filosófica do Vazio através de uma intuição penetrante na própria natureza da mente.

 Métodos tântricos enfatizam a purificação das forças psíquicas nos chakras que sustentam as funções do ego mental e sua articulação no canal central de energia ao longo da espinha. Quando a mente está purgada de suas obscuridades fenomênicas, a Luz Clara da verdadeira natureza da mente brilha espontaneamente.

Para conseguir o Grande Selo, Mahamudrá, a mente deve estar preparada. A parte mais difícil e importante do cuidado de um jardim, por exemplo, é a preparação inicial do solo. Da mesma forma, a mente deve estar pronta para receber as sementes da sabedoria proporcionados pelos ensinamentos Maharnudrá.

Se não for treinada de modo apropriado, ela pode confundir as idéias sobre o Vazio com a experiência em si, ou nutrir concepções errôneas niilistas. Para começar, vamos tentar compreender como a mente cria a “visão errada” do mundo.

Os budistas sustentam que a nossa percepção do mundo é uma alucinação coletiva desenvolvida desde o começo da história da consciência.

Essa ilusão foi criada por um processo mental chamado “rotulação”, no qual a mente racional percebe um grupo de fatores convergentes e os organiza seletivamente num objeto.

 Um nome, ou rótulo, é então atribuído ao objeto, e ele assume o status de “realidade”. A mente na verdade cria a sua própria realidade através da interpretação e do significado do fluxo constante de forças e substâncias à medida que aparecem, para assumir formas particulares em segmentos isolados de espaço e tempo. Essa realidade nada mais é do que uma coleção de imagens ou conceitos mentais.
Os budistas ilustram o modo como somos levados a essa alucinação com a metáfora de uma tenda iluminada internamente pela luz de uma centena de lamparinas. Estando fora da tenda, não percebemos se uma dessas lamparinas se apaga ou se outra é acesa. Do mesmo modo, a ilusão coletiva do mundo continua, imperceptivelmente afetada pelas mortes e renascimentos individuais.

O objetivo principal da compreensão penetrante do Budismo tântrico é minar a “visão ordinária”. Esta é uma tarefa muito tediosa e difícil. Não apenas a mente foi educada nessa visão, como tem uma propensão inata para criar esse ponto de vista ilusório.

A falta de “vida própria” é também um conceito importante para a compreensão do significado do vazio. Ter vida própria significa existir independentemente de qualquer fator condicionante.

 Mas nada no mundo fenomênico existe independentemente das partes que o compõem e do rótulo que a mente colocou na aparência do conjunto dos elementos transitórios.

 Mas a nossa visão comum da realidade está baseada por inteiro na ilusão de que as pessoas e coisas têm vida própria ou independente. Por exemplo, um carro não tem vida própria. Quando removemos todas as partes mecânicas que em conjunto o compõem, não há mais carro. “Carro” é apenas um rótulo, um conceito da mente projetado na aparência de um conjunto singular de componentes.

Toda a fortaleza da consciência do ego está construída na visão comum da realidade exterior e numa crença igualmente obtida num sentido de self independente e concreto. Nosso sentido de “eu” é uma suposição inquestionável a priori. Entretanto, trata-se de um mero rótulo

— o “eu” tem vida própria. Quando buscamos por este “eu” na meditação, não há onde encontrá-lo.

Outro aspecto importante da obtenção de uma “visão correta” é a compreensão de que as “coisas” que são rotuladas em nossos conceitos convencionais da realidade têm certas qualidades.

 Essas qualidades podem ser experimentadas em sua nudez quando removemos nossas preconcepções sobre o que constitui um objeto. Fenômenos empíricos têm uma existência objetiva relativa que não contradiz o seu vazio essencial. É de fato o vazio das coisas (a falta de vida própria) que permite ao mundo fenomênico desdobrar-se e mudar; essas qualidades multiformes seriam destruídas se seus elementos tivessem urna existência independente e permanecessem fixos em suas naturezas.

O Vazio depende, portanto, da aparência do mundo fenomênico. Na mente, a aparência (da realidade dos objetos) é inseparável da natureza vazia da consciência prístina, da mesma forma que o reflexo da Lua na água é inseparável da superfície irradiante da água.

 Além disso, não podemos medir e definir realmente o Vazio; palavras como essência ou espírito são as mais próximas a que podemos chegar, mas elas ainda implicam “alguma coisa”. É como um claro e indestrutível vazio — como um diamante cintilante — que encontramos no âmago de nós mesmos e que penetra em todas as coisas.

Quando experimentamos essa realidade, as coisas não desaparecem; elas se tornam translúcidas, como lanternas de papel encerado, iluminadas pela Luz Clara do Vazio.”

O niilismo pode ser considerado um repúdio à autenticidade das experiências e, portanto, uma negação de qualquer significado ou valor associado. As implicações negativas do niilismo conduzem à desesperança e à futilidade. Embora a teoria do Vazio sugira que a busca do significado no mundo fenomênico é principalmente uma tentativa egoísta de validar a nossa existência, ela não encoraja uma visão pessimista da existência, em vez de querer encontrai uma grande profundidade nos eventos e coisas, precisamos compreender que as Coisas são simplesmente o que são.

Há histórias que contam como alguns dos arhats (literalmente, “os vitoriosos”, isto é, discípulos avançados de Buda) morreram de ataque cardíaco quando Buda lhes comunicou os primeiros ensinamentos sobre o Vazio. Esses discípulos aparentemente tinham experimentado a fusão no espaço na meditação,  mas ainda estavam se relacionando cm o espaço como “alguma coisa”.

 Ainda estavam envolvidos numa experiência dualista de sujeito e objeto. O impacto da teoria do Vazio, que implica estar “em lugar nenhum” e experimentar “coisa nenhuma”, foi devastador para o seu sentido de realidade.
Nagarjuna aprofundou as implicações da teoria do Vazio propondo que nem sequer podemos começar a considerar a natureza da realidade. Fazer isso exigiria uma abordagem dualista um observador separado da realidade, que pode percebê-la, defini-la e nomeá-la, O conceito dc tathara (a coisa em si) tornou-se assim associado à teoria do Vazio.

 O mundo fenomênico simplesmente é. O processo pelo qual ele aparece e desaparece simplesmente é. O vazio do espaço e o vazio da qualidade radiante da consciência prístina simplesmente é.

Mesmo que concordemos que a realidade é um mistério, estamos afirmando que ela é “alguma coisa”. Trungpa mostra que a crença em qualquer filosofia ou religião, do ponto de vista dos ensinamentos - Madhyamika, de Nagarjuna, é meramente um processo de projeção de um rótulo sobre o mistério.

Além disso, continua ele, como não há ninguém para perceber a realidade e nenhum conceito resultante dessa percepção, as coisas e eventos surgem em sua essência na vastidão da consciência lúcida, essencial. 4

Num contexto mais moderno, as implicações da Teoria do Vazio são demonstradas na Teoria do Campo Unificado de Einstein. As descobertas da física contemporânea enfatizam que uma existência separada, independente, é uma impossibilidade.

 Não há limites rígidos na grande matriz de energias multidimensionais que é o universo. Quando abandonamos nossa insistência nos limites ilusórios criados pela mente racional, a energia infinita de “tudo-o-que-existe não encontra obstáculos ao se mover através do corpo-mente. Livres das construções mentais da estrutura seqüencial de tempo e espaço, consideramos massa, energia e consciência como um campo unificado.

A Luz Clara do Vazio não muda e não depende de nenhuma causa. Como um espelho, ela não é afetada por nenhuma forma que nela se reflita. No Tantra budista, a manutenção da claridade do Vazio em nossa experiência diária é simbolizada pelo peixe. No livro Masters of Mahamudra, Keith Dowman descreve como o peixe nada sem esforço, sem piscar e, aparentemente, sem nunca dormir.

 Além disso, os peixes não ficam molhados; eles estão na água mas não são da água.’5 Para os antigos iogues, o peixe era uma metáfora para o modo como podemos estar no mundo fenomênico uma vez que nos tornemos budas.

Dowman ilustra um dos últimos obstáculos do caminho na biografia do Mahasiddha Kanhapa — o meditador que compreende a Luz Clara do Vazio na meditação, mas cuja compreensão se perde ao se envolver nos dramas da existência diária.’6 A prática do Mahamudra implica a transferência da experiência do Vazio para as atividades diárias.

 A vida em si é o caminho. Cada obstáculo, cada problema ou desejo é uma oportunidade para libertar o ego apegado e para dar-se conta de que não há separação entre as aparências e o Vazio.

Por si mesma, sem esforço, a vida apresenta todas as experiências e situações que mostram quando precisamos soltar as amarras de nossos
pensamentos discursivos, de nossa aversões e desejos.

 Não importa qual seja o evento — sensação ou orientação conceitual — tudo é oportunidade para praticar o Mahamudrá. Renunciando a todos os desejos e elaborações conceituais relacionados com as ações do passado, do presente e do futuro e desenvolvendo um estado ininterrupto de equilíbrio meditativo através do fantástico sonho da vida, finalmente integramos o estado primordial do Estar Consciente da Bem-aventurança na nossa existência diária.

Pelo progresso lia compreensão do fluxo da consciência através dos chakras, obtivemos algum conhecimento de nossas predisposições instintivas, da ocorrência de sentimentos e de emoções e das tendências da nossa mente. Estamos agora num ponto em que podemos experimentai o vazio desses fenômenos — não há self inerente a esses eventos.

 Com a renúncia à ilusão da identidade do self, nossa experiência do mundo é alterada radicalmente. Deixando de ser escravizados pelo ego, assumimos um modo de agir espontâneo, não mais dirigido pelo self. A vida torna-se admiravelmente simples; há apenas uma resposta a qualquer coisa que ela coloque em nosso caminho — aceitação e compaixão incondicionais.

                                      Pesquisado por DharmaDhannya



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