Uma vida de castigo
Alberto Goldin – Revista O Globo.
“Tenho 27 anos e um bom emprego. Sou
bonita, inteligente, divertida, amiga, mas muito ciumenta. Fico chata, amarga e
agressiva.
Nesses anos todos, só tive três namorados. Se tivesse sido menos
ciumenta, poderia ter dado certo. É incontrolável, acho que sempre poderei ser
trocada.
Não acredito nos meus encantos e
qualidades. Sempre sou abandonada. Meu ex-namorado terminou, depois continuamos
nos encontrando apenas para sexo. Quando descobri que estava procurando outras,
briguei e falei que nunca mais queria encontrá-lo. Estou desanimada, me sinto
velha.
Tenho medo da solidão, que já me consome.
Acordo e não tenho vontade de levantar, parece que este mundo não foi feito
para mim. Ninguém nunca será capaz de me amar, jamais serei a primeira opção na
vida de ninguém. Não consigo ver um futuro, só consigo olhar para o passado e me
lamentar.
Foram duas cartas recebidas no mesmo
dia, e suas leituras, quase simultâneas, favoreceram a elaboração de uma hipótese
que pretende decifrar o sintoma de Marta.
A
primeira carta, enviada por Luís, profissional autônomo de meia-idade, relata
uma curiosa repetição. Trabalhador talentoso, alcança razoável sucesso
financeiro rapidamente, mas mal consegue seu objetivo.