sexta-feira, 4 de junho de 2021

Dar e Receber

 


                                          Dar e Receber

Uma estrada de DUAS MAOS

Colocar valor em seu trabalho ou aceitar

um elogio pelo seu desempenho. Fácil? Nem tanto. Pequenas demonstrações de afeto, de generosidade e de reconhecimento passam pelo exercício de dois verbos: dar e receber. Para  começar; receba este texto.

Ele é dedicado a você.

Dar e receber é uma vida de mão dupla. A afirmação parece óbvia, mas a verdade é que nos esquecemos dela a todo instante. E isso acontece nas pequenas coisas.

Sabe aquele amigo que sempre tem um ombro para as pessoas? Há quanto tempo você não liga para ele? E qual foi a última vez que disse a alguém especial o quanto gosta dele? São pequenas gentilezas que andam em baixa atualmente.

Receber também entra para o quesito das dificuldades diárias: é complicado estabelecer um preço pelo seu trabalho - para os que são autônomos - ou aceitar um elogio e um agradecimento. Afinal, por que nós, brasileiros, que nos consideramos hospitaleiros e afetuosos, temos dificuldade, aqui ou ali, com as relações de troca?

Conseguir exercitar o dar e o receber é a essência da convivência. “A reciprocidade nas relações, em que eu faço e você retribui de alguma maneira, foi um elemento que estruturou a sociedade, portanto é algo fundamental para o homem”, diz a antropóloga Livia Barbosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Nas sociedades antigas, existiam até rituais para enfatizar a importância de saber dar. Alguns deles sobreviveram em lugares como as ilhas Trobiand, na Nova Guiné. Ali, todo ano, um grupo de nativos saem de barco, sem levar mantimentos e roupas, para passar alguns dias na casa de conhecidos que moram em ilhas mais distantes.

 Eles chegam sem avisar e quem os recebe deve oferecer não só comida, cama e roupas, mas também carinho e afeto. Ao ir embora, os hóspedes ainda ganham objetos de grande valor sentimental, como braceletes e colares que pertenceram a pessoas queridas da comunidade. No ano seguinte, quem deu recebe.

“Aprender é descobrir aquilo que você já sabe.

Fazer é demonstrar que você sabe. Ensinar é lembrar aos outros que eles sabem tanto quanto você.

Vocês são todos aprendizes, fazedores, professores” Richard Bach, escritor americano


SERÁ QUE EU MEREÇO ISSO?

Receber vem do latim recipere, que originalmente tinha o sentido de “tomar algo que por direito pertence a outro". “Se eu dei, tenho que receber", diz o filósofo Jean Bartoli.

 Não há mal nisso. As relações são feitas de troca. “Você ama e quer ser amado, dá e quer receber. E simples”, diz o psicólogo social Bernardo Jablonski. Mas, se por vezes é difícil dar, receber também pode ser uma arte que nem todos dominam.

A dificuldade em ouvir algo bom a seu respeito ou ganhar uma coisa valiosa pode esconder a baixa autoestima porque a pessoa não acredita ser merecedora disso.

 Mas, atenção, a dificuldade em ser elogiado pode esconder, por vezes, um certo grau de arrogância-funciona assim para o elogiado: quem elogia não está a sua altura. Desse jogo ainda não se pode descartar o medo de ter, afinal, que retribuir.

Mas não há como negar: o exercício do receber é necessário. Olhar para dentro de si pode ser uma das maneiras de enxergar qualidades perceptíveis aos outros.

 E algo para ser feito diariamente, que começa com alguns questionamentos. Não custa se perguntar o motivo de enrubescer e ficar sem palavras quando ouve um elogio. Se alguém disse que você está bonito ou que a sua companhia é agradável, por que acreditar?

 Não custa lembrar também que, quanto mais você aceita receber, mais terá a dar. “E assim que se formam os ciclos do bem, que fazem a todos mais felizes”, diz a monja Coen, da Comunidade Zen Budista, de São Paulo.


 UMA QUESTÃO DE BIOLOGIA

Dar e receber algo em troca é também uma questão fisiológica. Um recente estudo do brasileiro Jorge Moll, pesquisador do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos, ratifica isso. Seu tra­balho demonstrou que o ato de fazer o bem ativa uma região do cérebro conhecida como sistema de recompensa.

 Isso significa que, para o organismo, doar horas de nosso tempo para uma instituição, por exemplo, provoca o mesmo efeito que receber um elogio sincero ou um carinho da pessoa amada.

 E, diante disso, esperamos sempre que o outro retribua. “Além do mais, a área cerebral envolvida na for­mação dos laços afetivos também participa desse processo.

Criam os vínculos com quem ajudamos”, diz Moll. O pesquisador conta ainda que o movimento de dar e receber é a base de um sentimento bem humano: o amor. E a sensação de felicidade vinda disso é uma natural consequência, que, aliás, garante a nossa sobrevivência.

Como dar o presente certo

                     Tente escolher algo que o seu presenteado gostaria de ganhar e não algo que tenha a ver com seus gostos. Ele não se interessa por culinária? Não dê um acessório para a cozinha, por mais bacana que seja.

                     Vale observar o momento de vida do outro. Se há uma viagem sendo programada, presenteie com algo que possa ser útil. Ele vai fazer uma trilha? A sugestão é uma bermuda de tecido de secagem rápida.

                     Se você não conhece bem o presenteado, pergunte para amigos em comum do que ela gosta. Vale saber que flores ou um vinho sempre agradam.

                     Procure avaliar o jeito de ser do outro. E alguém extrovertido ou reservado? Gosta de sair à noite ou adora praia? O presente certo tem muito a ver com o estilo de vida.

                     E, finalmente, embale com carinho e escreva um cartão com palavras delicadas. Gentileza e demonstrações de afeto são o melhor de tudo.



50 MANEIRAS DE SE DOAR UM POUQUINHO POR DIA

Alegre-se pelo sucesso dos outros.

Sorria para um estranho na rua.

Grave um CD e presenteie um amigo.

Dê uma flor. Brinque com seus filhos.

Olhe nos olhos de quem atende você

Não brigue se seu companheiro for dormir mais tarde

Agradeça o presente. Segure a porta para alguém.

Ajude alguém a carregar as compras.

Dê boas-vindas a um novo colega de trabalho.

Divida boas notícias. De um beijo.

Empreste um livro. Dê uma boa risada. Ouça a história da sua avó. Elogie o outro. Ligue para um amigo que você não vê há tempos

         Não buzine. Agradeça a empacotadora do supermercado.



Perdoe-se. Leia uma história para alguém. Plante uma árvore. Seja um ombro amigo para quem precisa. Segure a porta do elevador para os idosos

Ofereça carona. Aceite um elogio.

Diga às pessoas queridas o quanto você as ama. Aplauda um grande espetáculo.

Recicle o lixo doméstico. Diga bom-dia as pessoas ao redor.

Cuide de um bichinho abandonado.    Ajude quem está perdido a encontrar o caminho.

Dê um presente feito por você mesmo. Abra a sua casa para amigos e parentes. Faça uma canja para alguém que está doente. Dê passagem no trânsito. Brigou? Depois faça as pazes. Admita quando o outro tem razão.

Mande um e-mail para alguém especial.

Cumprimente quem executou algo bem feito. Doe seus livros e roupas antigas.  Não julgue quem pede dinheiro na rua.

Abrace um amigo. Prepare uma festa-surpresa para um amigo.

“Se queres receber, deves primeiro dar: eis o inicio da inteligência. Pensamento taoísta.

Qual o melhor presente de aniversário que você já ganhou? Fizemos essa pergunta a alguns leitores...

“Aos 15 anos, ganhei do meu pai, metido a comunista, O Capital, livro de Karl Marx. Não consegui esconder a decepção, pois o que queria era uma viagem pra Disney. Porém dentro do livro estavam as passagens da excursão e uma carta linda, falando sobre valores e prêmios. Inesquecível!” 

“Com certeza uma agenda que, em cada dia, tinha uma foto diferente minha e dos meus amigos.”

“Uma amiga não sabia o que dar e resolveu me dar o mundo. Qual não foi minha surpresa ao abrir uma singela caixinha de pedra-sabão e encontrar uma pena, representando o céu, uma concha, o mar, uma semente, a terra, e um pingente em forma de coração representando seu amor.”

“Foi de uma funcionária da prefeitura de Ituberá (BA), uma senhora querida que recebia seus proventos no Banco do Brasil, e eu na ocasião era caixa. No dia 20 de maio de 1986, ela chegou com uma sacola de chuchus, chorando e dizendo que gostaria de me dar algo maior e melhor.”


A MEDIDA DAS COISAS

Se existe um dado que caracteriza a sociedade desde a Revo­lução Industrial, é a mania de mensurar tudo. Inclui-se aí a tendência que temos de querer colocar na balança até o afeto.

O quanto o outro me dá e em qual medida eu retribuo. Essa é a questão. Lembre-se das frases 'Você não está me dando atenção suficiente’ e ‘Será que você me dá o tanto de amor que recebe?’.

 Bom, a primeira coisa a saber é que estamos numa tremenda ar­madilha. Não existe um medidor de sentimento, prazer, amor que sirva como referência do que eu recebo e dou em troca.

E um erro comum oferecer gestos de generosidade calculan­do qual será a contrapartida. “A espontaneidade revela o amor e o cuidado que você tem pelo outro.

“Não dá para forçar e en­quadrar a emoção ”, diz o psi­cólogo Bernardo Jablonski. Se a relação é desequilibrada, pelo menos diante de seu olhar va­le a pena se perguntar por que não está havendo reciprocidade - sim, porque é inegável que to­dos queremos receber amor.

Mas não é necessário medir cada ato ou colocar o outro contra a pa­rede para saber quem está sendo mais ou menos amoroso. “O ca­minho para o equilíbrio entre dar e receber está dentro de você, e é só olhando para si, com respeito e paciência, que surgirão as respostas", ensina a monja Coen.

Só é possível dar o que se tem - o amor não brota por si só. Ele precisa de um solo fértil, o que nem sempre acontece: alguns re­cebem muito cuidado e calor na infância, quando se formam a personalidade e os sentimentos, e outros, nem tanto. Ou seja, an­tes de impor medidas, perceba que só é possível entregar o que se tem.


 “Alguns de nós têm difi­culdade de amar, o que compro­mete a capacidade de se doar”, explica a psicoterapeuta Teresa Creusa de Góes Monteiro, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Sobre isso, a monja Coen complementa: “Se precisamos ser lembrados de fa­zer alguma coisa é porque esse não é um comportamento tão espontâneo".

E claro que tudo pode ser trans­formado e cultivado. E é possível, sim, mudar o panorama do desa­mor porque ninguém está con­denado a se sentir devedor para o resto da vida. A psicanálise é uma das técnicas criadas para possi­bilitar uma revisão do passado e, com base nela, criar as bases para uma nova vida. “A terapia certa­mente é um dos caminhos para aprender a dar e, assim, ter uma existência mais satisfatória”, diz a psicoterapeuta Teresa Monteiro.

Texto: Carla Aranha. 

Postado por Dharmadhannya

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário