A meditação
pode ser um recurso poderoso para transformar o velho barco a remo do cérebro numa
lancha, de corrida. A prática faz crescer o tecido cerebral, melhora o humor e
nos deixa mais resilientes.
"A
meditação envolve a metacognição, ou seja, pensar em pensar, prestar atenção à
atenção, que usa o córtex
pré-frontal"
diz Hanson. "Ela envolve o cérebro inteiro e acessa experiências
sensoriais e emocionais, desejos, impulsos e substratos antigos e profundos da
consciência. Parece que a meditação envolve tanto as partes mais modernas
quanto as mais antigas do cérebro."
Em um estudo,
os participantes que meditaram 40 minutos por dia apresentaram massa cinzenta
mais espessa nas áreas responsáveis pela atenção, pela tomada de decisões e
pela memória de trabalho, quando comparados a quem não meditava. Outro estudo verificou que oito semanas de
meditação da atenção plena aumentavam a densidade da massa cinzenta em várias
regiões, inclusive no hipocampo (envolvido no aprendizado e na memória), e
reduzia a densidade da massa cinzenta na amígdala (que desempenha seu papel no
estresse).
"Sentar-se, concentrar-se na respiração e
relaxar todos os dias constrói mesmo estruturas cerebrais?',' pergunta Hanson.
"Isso é genial!"
Pense na sua
última avaliação de desempenho. “O chefe começa dizendo 19 coisas positivas','
diz Hanson "Mas se houver uma única crítica no final, é dela que você vai
se lembrar. O que fica é a vigésima, negativa."
Essa reação
exagerada - chamada; nos círculos da psicologia, viés de negatividade
- ajudou a manter vivos os
ancestrais
precisavam obter as “recompensas” como comida e parceiros, e evitar os “castigos”
como os predadores" explica Hanson. "Quem não consegue a recompensa
hoje tem outra oportunidade amanhã.
Mas quem não consegue evitar um predador, pronto! Fim
de jogo. Nosso cérebro se programou para se hiperconcentrar nas más
notícias." Ele continua: "O cérebro é como velcro na hora de grudar
nas más experiências e como teflon na hora de não grudar nas boas."
Práticas
simples ajudam a contrabalançar esse viés. "A negatividade logo se torna
uma estrutura neural" explica ele. "E codificar as experiências
positivas pode levar mais tempo. Sentir intencionalmente e por mais tempo as experiências
positivas ajuda a fixá-las, o que pode nos tomar mais felizes e
resilientes." Saboreie o elogio que recebeu. Fique plenamente atento aos
momentos felizes; observe os detalhes para que se tornem mais fáceis de
lembrar. Seja grato e feliz com o que a vida lhe deu. Aquele que participa e
ajuda a humanidade é feliz...
O CÉREBRO PROCRASTINADOR
Quando adiamos um projeto urgente, evitamos
emoções negativas causadas pela tarefa
desagradável porque queremos nos sentir bem agora. Entretanto, na verdade só
estamos deixando o problema para nosso eu futuro. Portanto em termos neurológicos
lógicos a pergunta é: por que tratamos assim nosso Eu Futuro?" indaga ;
Timothy A. Pychyl, professor adjunto de psicologia da Universidade Carleton, em
Ottawa, no Canadá.
Um estudo usou ressonâncias magnéticas
funcionais para ver quais partes do cérebro se ativavam quando os participantes
pensavam no eu presente, no eu futuro e num desconhecido, e verificou que o
cérebro pensa no eu futuro mais ou menos como pensa num desconhecido.
A
procrastinação também é a luta entre dois sistemas cerebrais diferentes. O
sistema límbico, responsável pelas emoções básicas, é uma parte antiga do
cérebro (na segunda bola de sorvete). Também é um sistema automático e muito
rápido que reage de forma não consciente. Quer se sentir bem agora. Depois há
o córtex pré-frontal, mais novo (na terceira bola), com a função executiva que
envolve planejamento e controle de impulsos.
É um processo mais lento, que temo! de ativar
conscientemente.
O cérebro
sonhador
é perfeito
para resolver
os problemas
da vida
cotidiana.
Quando
pensamos em preencher a declaração de rendimentos, o sistema límbico se ativa
primeiro, com a meta urgente de se sentir bem agora cumprida, evitando- -se a
tarefa desagradável.
O córtex pré-frontal, mais responsável, vem se
arrastando atrás, e temos de envolvê-lo pensando nos benefícios de entregar a declaração no prazo.
O CÉREBRO APAIXONADO
As pessoas de
mais sorte se identificam não só com o amor romântico que Ann Druyan sentiu ao
se apaixonar por Carl Sagan como também com o vínculo de longa duração que
uniu o casal até a morte de Sagan 19 anos depois.
Esses dois
tipos distintos de amor surgem em regiões diferentes do cérebro, diz Helen
Fisher, do Centro de Estudos Evolucionários Humanos da Universidade Rutgers.
"O amor
romântico se origina no tegmento mesencefálico, a parte mais antiga do cérebro,
perto de centros que controlam a sede e a fome" explica ela. "O amor
romântico é um impulso básico que concentra nossa energia na conquista de um
parceiro para acasalar."
No entanto,
uma região cerebral importante ligada ao apego é o globo pálido, mais moderno e
elevado (na terceira bola). "A atração romântica intensa é uma
reação mais primitiva do que o sentimento de apego, que é mais recente’,' diz
Helen. Esse circuito está ligado ao amor para a vida inteira.
"Quem
ama a longo prazo mostra atividade no córtex pré-frontal ventromedial, ligado à
'ilusão positiva ou capacidade de deixar de lado os contras e se concentrar nos
prós", explica ela. Quem mantém relações amorosas prolongadas diz coisas
como: "Não gosto quando ele larga as meias por aí, mas adoro seu senso de
humor." Essa mentalidade alimenta sentimentos amorosos muito depois da
lua de mel.
Quando alguém
nos dá uma fechada no trânsito, achamos que o motorista é um imbecil - em vez
de pensar que talvez esteja correndo para o hospital -, e isso nos deixa
furiosos.
Nosso cérebro
foi construído para reagir com exagero à percepção de ameaças. "A mesma
máquina neuronal que protegeu nossos ancestrais de ataques de leões se arma
quando deparamos com tensões comuns, como o trânsito”, explica Rick Hanson.
O corpo libera cortisol, hormônio que dispara
o alarme do cérebro e estimula a carga emocional da amígdala, além de danificar
neurônios do hipocampo, que encolhe a parte calmante do cérebro que nos faz
reavaliar as situações.
Para
controlar essa reação de estresse, podemos usar as regiões mais novas do
cérebro, como o córtex pré-frontal, para regular as antigas. Quando se sentir
com raiva ao volante, forçar a concentração - pensando, digamos: "só vou
me atrasar 15 minutos” - pode amenizar a reação emocional.
O CÉREBRO SONHADOR
O
participante de um estudo de sonhos estava em um dilema. Não conseguia se
decidir entre dois programas de pós-graduação perto de sua casa em
Massachusetts e dois mais distantes.
Então sonhou que estava num avião que
sobrevoava um mapa. O piloto disse que o motor estava com problemas e que
precisavam pousar em um lugar seguro. O estudante sugeriu Massachusetts, mas o
piloto disse que lá era “muito perigoso”.
O estudante acordou achando que a melhor opção
era um programa longe de casa.
Com esses
estudos sobre sonhos, Deirdre Barrett, professora clínica adjunta de Psicologia
da Universidade Harvard, vem explorando o funcionamento complexo do circuito
do sono do cérebro.
Depois que
adormecemos, explica ela, o cérebro se aquieta, mas em 90 minutos ele se
reativa com o sono de movimento rápido dos olhos (REM, na sigla em inglês) e
fica tão ativo quanto se es
tivéssemos
acordados. No entanto, essa atividade vem de uma distribuiçãodiferente das
regiões cerebrais.
Enquanto o
córtex visual primário, que recebe os sinais luminosos dos olhos, fica menos
ativo quando dormimos do que quando estamos acordados, o córtex visual
secundário, envolvido quando imaginamos alguma coisa, se ativa bastante no sono
REM.
O córtex motor se liga e dispara ordens de movimento,
contrariadas por outra área que paralisa os músculos durante o sono. Também de
forma notável, o "censor" do córtex pré-frontal, que garante que nos
comportemos de forma convencional, fica menos ativo quando dormimos.
Além de
adequada às características simbólicas dos sonhos - ambientes visualmente
ricos onde realizamos ações extraordinárias e os fatos têm um desenrolar
esquisito essa nova distribuição da atividade também transforma os sonhos em
terreno fértil para resolver os problemas da vida cotidiana.
O aumento da atividade do córtex visual
secundário permite que a mente sonhadora visualize novas soluções.
A redução da atividade do córtex pré-frontal
ajuda a resolver impasses.
Para
maximizar a solução de problemas nos sonhos, Deirdre sugere que, na hora de
dormir, você formule sua preocupação de forma sucinta escrevendo-a ou
repetindo-a mentalmente. Depois, crie uma imagem mental que represente o
problema e diga a si mesmo que quer sonhar com uma solução. Mantenha papel e caneta
junto à cama e escreva o sonho assim que acordar. "Os sonhos ficam na
memória de curto prazo, e escrevê-los os transfere para a memória de longo
prazo” diz ela.
O CÉREBRO QUE
OUVE MUSICA
Imagine que
você está na fila do café e uma música que gosta, comece a tocar no rádio. A
cascata de atividade mental resultante para processar a música "toca todos
os aspectos mais avançados da cognição humana" diz Robert Zatorre, professor
de Neurociência do Instituto e Hospital Neurológico de Montreal, na
Universidade McGill.
Em primeiro
lugar, o som atinge o ouvido e ativa uma série de estruturas, desde a cóclea
(onde as vibrações se transformam em impulsos elétricos) até o córtex cerebral.
Quando
reconhecemos a música - seu nome ou onde a ouvimos pela última vez o córtex
auditivo se liga às regiões responsáveis pela recuperação de lembranças.
Então, se começarmos a marcar o ritmo com o
pé, ativamos o córtex motor de um modo muito específico, porque movemos o pé no
mesmo andamento da canção.
Finalmente,
se musica nos deixa alegres, a música ligou o sistema de recompensa do cérebro,
um circuito antigo e poderoso disparado por atividades essenciais para a
sobrevivência, como comer e fazer sexo.
Por que algo
que não parece essencial
como a
música, envolve esse sistema promotor da vida? Os cientistas ainda tentam
descobrir, mas o que acontece no cérebro quando ouvimos uma música que
adoramos pode dar uma boa ideia.
"A música aumenta a conversa entre as
estruturas cerebrais dos antigos centros de recompensa que controlam o prazer
e as áreas mais novas do córtex que cuidam da previsão e da expectativa"
diz Zatorre.
Ele constatou
em um estudo que o cérebro liberava dopamina, substância química ligada ao
prazer e à recompensa, com a expectativa da parte favorita da canção. Portanto,
pode ser que a música alimente o desejo inato do cérebro de perceber padrões
e resolver problemas.
Dois dias
antes, Sagan e Ann tinham percebido que estavam apaixonados - uma sensação
avassaladora que inundava a mente de Ann durante o exame. Assim, hoje, 18 anos
depois da morte de Sagan, aquela preciosa canção de um cérebro apaixonado
(parecem bombinhas explodindo) ainda flutua pela vastidão do espaço.
A fim de
resumir a essência da raça humana para um público interestelar, Sagan e sua
equipe escolheram revelar um pouco do funcionamento interno do cérebro.
Para muitos cientistas, a resposta à pergunta
do que nos torna humanos reside nos mistérios do cérebro. "No nível
físico, há apenas alguns átomos se agitando por lá” diz Christof Koch, Ph.D. e
diretor científico do Instituto Allen de Ciência Cerebral, em Seattle.
"Mas aí acontece um salto mágico e essa atividade se transforma em
sentimentos de raiva ou na lembrança do primeiro beijo."
Avanços da
tecnologia, como os exames de ressonância magnética funcional, nos permitem
ver como trabalham as regiões do cérebro e onde se originam determinadas
emoções.
Os especialistas
esperam que essa iniciativa promova a luta contra o autismo, a doença de
Alzheimer e a depressão. A pesquisa também pode lançar luz sobre como nos
apaixonamos ou tomamos decisões difíceis, explica o Dr. Thomas R. Insel,
diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos.
Diz ele: "Entender o cérebro é a suprema
viagem para descobrir quem somos."
DE NOSSA MENTE MARAVILHOSA
Esse órgão sofisticado vem evoluindo há milhões de anos por um processo semelhante a pôr bolas de sorvete numa casquinha, explica o Dr. David J. Linden, neurocientista da Universidade Johns Hopkins.
"As partes mais baixas, como o cerebelo e o hipotálamo, que cuidam de comportamentos voltados para a sobrevivência, como a fome e o impulso sexual, não evoluíram muito, e as de um lagarto não são muito diferentes das nossas’,’ diz ele para descrever a primeira bola de sorvete evolucionário. "Os centros mais altos, envolvidos no processamento emocional, como o hipocampo e a amígdala, são bem mais complexos nos camundongos do que nos lagartos", diz ele sobre a segunda bola.
"No topo, temos os seres humanos, com um córtex complexo e gigantesco',' diz Linden sobre a bola de cima. Esse é o lar dos pensamentos e da linguagem.
A interação entre as regiões mais antigas e mais novas do cérebro faz de nós o que somos hoje.
Eis outra maneira de ver o modo aleatório pelo qual nosso cérebro evoluiu. "Digamos que alguém lhe pedisse para construir uma lancha de corrida mas lhe desse um barco a remo, e dissesse que você só poderia adicionar coisas para transformá-lo na lancha" diz Linden.
"Foi assim a evolução do cérebro. Só se pode alterar sutilmente o que já existe, sem mudar o projeto básico." A interação entre as regiões mais antigas e mais novas do cérebro faz de nós o que somos hoje.
"Pessoas e camundongos conseguem sentir prazer ao comer e fazer filhos, algo de que ambos precisam para sobreviver e transmitir seus genes. Mas só o ser humano consegue ter prazer com o jejum ou a abstinência de sexo, que não trazem vantagens evolutivas.
O milagre do pensamento humano é que nosso antigo circuito do prazer pode ser ativado por partes mais altas e complicadas do cérebro" explica Linden. "0 fato de obtermos prazer de coisas totalmente arbitrárias é que enriquece nossa vida."
A evolução humana é um processo muito lento, mas podemos afetar diretamente nossa "evolução" pessoal durante a vida.
"Há um ditado que diz: neurônios que disparam juntos continuam juntos" diz o neuropsicólogo e escritor Rick Hanson. Padrões repetidos de pensamentos e sentimentos de fato alteram nossa estrutura cerebral.
Eis como nosso cérebro funciona durante sete situações comuns. Podemos usar essas idéias para exercitar a musculatura mental.
Revista Seleções
Por Kinberly
Nenhum comentário:
Postar um comentário