domingo, 26 de novembro de 2017

Quem é o Espírito Santo?






A Pessoa do Espírito Santo
: mistério de amor e irrupção do novo

Quem é o Espírito Santo? O motor da libertação integral

O Espírito Santo é aquele que supera a relação Eu-Tu (Pai-Filho) e introduz o Nós.

Por isso o Espírito Santo é por excelência a união entre as Pessoas divinas; é a Pessoa que revela para nós mais claramente a inter-relação eterna e essencial entre os divinos Três.

 Na história, o Espírito se mos­tra como uma força vulcânica, como um vendaval que toma as pessoas e as leva a fazer obras grandiosas.

Por fim o Espírito é a força criadora de diferenças e de comunhão entre as diferenças. E Ele que suscita entre as pessoas os mais diversos dons e nas co­munidades os mais diferentes serviços e ministérios, como se ensina nas epístolas aos romanos (12) e aos coríntios (12).

Mas esta diversidade não decai em desigualdades e discriminações. Todos bebemos do mesmo Espírito (ICor 12,13). Os dons não são dados para a autopromoção, mas para o bem da comunidade (ICor 12,7).

O Espírito foi derramado sobre todos. Ele habita os co­rações das pessoas, dando-lhes entusiasmo, coragem e de­terminação. Ele consola os aflitos, mantém viva a utopia nas mentes humanas e no imaginário social, utopia de uma humanidade totalmente redimida, e dá força para
 antecipá-la, mesmo por revoluções dentro da história.


Ele é uma Pessoa divina junto com o Filho e o Pai, emergindo simulta­neamente com Eles e estando essencialmente unidos a Eles pelo amor, pela comunhão e pela mesma vida divina.

Biblicamente o Espírito é como um tufão e um vendaval. É
 uma força transformadora como o amor que é mais forte do que a morte.
O Espírito não é, como para a nossa cultura, algo etéreo e indefinível. Que dinamismo não deve conter a espiritualidade se aceitarmos o Espírito como energia vital e sempre inovadora?!

 Assim ocorre com os líderes carismáticos como os Juízes, com os profetas, com o servo sofredor que luta pelo restabelecimento do direito e da justiça, com os reis, investidos de po­der para proteger o povo, com o Messias, portador de todos os dons do Espírito. Cabe ressaltar algumas características do Espírito.

Ele é a força do novo e da renovação de todas as coisas: cria ordem na criação, faz surgir o novo Adão no seio de Maria, impulsiona Jesus para a evangelização, ressuscita o crucificado dos mortos, antecipa a humanidade nova na Igreja e nos traz, no final, o novo céu e a nova terra.

O Espírito é o atualizador da memória de Jesus, o Liber­tador. Nunca deixa que as palavras de Jesus permaneçam
mortas, mas que sempre sejam relidas, ganhem novas signi­ficações e implementem novas práticas.

O Espírito é o princípio libertador das opressões de nossa situação de pecado, chamada pela Bíblia de carne. Carne expressa o projeto da pessoa voltada sobre si mes­ma, esquecida dos outros e de Deus.

 Espírito sempre é ge­rador de liberdade (cf. 1 Cor 3,17), de entrega aos demais e de amor. O Espírito é o pai dos pobres, incutindo-lhes es­perança para sacudir as opressões que suportam, fazen­do-os sonhar sempre com um mundo reconciliado e justo e lutar para realizá-lo.

Missão do Espírito Santo: unificar e criar o novo
A ação do Espírito Santo na história é reflexo de sua ação no seio da Trindade. Aqui Ele é princípio de diversida­de e de união entre os distintos (Pai e Filho).

 Por isso é amor e comunhão por excelência, embora cada Pessoa divi­na seja comunhão e amor. Sempre que na história nos en­contramos com os dinamismos de amorização, de congraçamento, de convivência das diversidades, aí discernimos a presença inefável da ação do Espírito Santo.



 O Espírito está ligado à ação transformadora e inovadora. Sua ação pene­tra os atos humanos fazendo com que eles sejam realizado­res do desígnio da Trindade. Especialmente os agentes históricos, os líderes carismáticos, os criadores de novos hori­zontes, os desbravadores de novos caminhos são expressões da força do Espírito Santo.

 Mas particularmente os pobres quando resistem contra as opressões, quando se organizam para buscar a vida, o pão e a liberdade, quando no meio das lutas conservam a fé e a ternura para com os outros, são os grandes sacramentos históricos da presença atuante do Es­pírito Santo.

O Espírito Santo está ligado ao novo e ao alternativo. Sempre temos a ver com leis, hábitos e instituições. Estas instâncias nos dão segurança e nos garantem uma direção. Mas o espírito humano está sempre aberto para cima e para frente, e é insaciável.

 De tempos em tempos surgem as crises de identidade; as estrelas de nosso céu se escondem. As so­ciedades sentem a necessidade de novos caminhos. Acon­tecem revoluções que deixam para trás veneráveis institui­ções e caminhos batidos.

Abrem-se sendas novas. Cria-se uma nova ordem. O Espírito Santo está sempre presente nestes processos, geralmente dolorosos, de mudança estru­tural. E Ele que inaugura o novo céu e a nova terra.

 Poderíamos figurativamente dizer que o Espírito Santo é a imagi­nação criativa de Deus. Especialmente na Igreja atua o Es­pírito, pois ela é o sacramento do Espírito de Jesus.

 Ao lado de sua estrutura legítima de poder existe o carisma que vem do Espírito. O Espírito Santo atualiza a mensagem de Jesus, não deixa que na comunidade impere o autoritarismo, nem que nas celebrações vigore o ritualismo, nem que na refle­xão cristã se caia na aborrecida repetição das fórmulas.

Nos sacramentos, particularmente na Eucaristia, se mostra a eficácia salvadora do Espírito. Ele vem como graça que diviniza nossa vida e, por sua atuação, as palavras de Cristo que instituíram o sacramento eucarístico ganham eficácia e nos trazem a santa humanidade de Cristo em nosso meio, sob a forma de pão e de vinho.

 

Que seria da sociedade e das Igrejas se não surgissem os inovadores, as pessoas criativas, que têm ideias novas, inven­tam novos ritmos, descobrem novos caminhos para a educa­ção, culinária, agricultura, a política e a religião? E por essas dobras do tecido social que se manifesta o Espírito Santo cria­dor e doador de vida.


 A relação única entre o Espírito Santo e Maria

O Espírito Santo juntamente com o Filho foi enviado à Terra, para santificar todas as criaturas e reconduzi-las ao seio da Trindade.

Quem acolheu a vinda do Espírito Santo? A quem Ele veio pessoalmente e em total entrega?

A refle­xão teológica não precisou até hoje de forma clara este pon­to. Sabemos, sim, que o Espírito está na vida de todos os po­bres e de todos os justos da história, que mais densamente está na comunidade dos fiéis, que atua particularmente nos sacramentos e dá uma assistência infalível ao papa, quando este fala para toda a Igreja, para expressar a fé desta mesma Igreja de forma conscientemente vinculante para todos os fiéis.

Mas não poderíamos concretizar melhor a presença pessoal do Espírito no tempo, como o fazemos e o sabemos com referência ao Filho? O Filho foi acolhido pela santa humanidade de Jesus;

é a essência do mistério da encarna­ção, a união inseparável e inconfundível entre a realidade humana e a realidade divina em Jesus de Nazaré, Filho de Deus e nosso irmão carnal. Não poderíamos procurar uma semelhança com referência ao Espírito Santo?

 Efetivamente, cabe à reflexão respeitosa dos cristãos elaborar uma hi­pótese (theologúmenon) que não ofenda as demais verdades da fé e que avance no conhecimento e no amor da Santíssi­ma Trindade.


Não se trata de nenhuma doutrina oficial que possa ser ensinada nas aulas de catequese. Trata-se de um esforço, marcado pela unção e pelo respeito, de ver mais profundamente os mistérios de Deus que sempre nos desafi­am e nos convidam a uma penetração maior. Vamos expor semelhante hipótese teológica.

Há um texto de São Lucas que nos parece iluminador; com referência a Maria, diz: “O Espírito Santo virá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra e é por isso que o Santo gerado será chamado Filho de Deus” (1,35).

Aqui se diz que o Espírito há de vir sobre Maria, como de fato veio. “Cobrir com sua sombra” é a expressão bíblica para dizer que o Espírito arma sua tenda em Maria, quer dizer, terá aí uma presença palpável (cf. Ex 40,34435).

Com razão o Concilio Vaticano II chama Maria de “sacrário do Espírito Santo” (LG 53). A presença do Espírito em Maria faz dela mãe; transforma sua maternidade de huma­na em maternidade divina.

Por isso, o que nasce dela “é Fi­lho de Deus”. O concilio diz: “Maria é como que plasmada pelo Espírito Santo e formada nova criatura” (LG 56). Di­zer que é “como que plasmada pelo Espírito Santo” impli­ca reconhecer uma relação única com a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.



Realiza-se então a máxima dignificação da mulher, à semelhança do varão com Jesus. Varão e mulher são imagem e semelhança de Deus, da Santíssima Trindade (Gn 1,27).

Ambos participam da divindade, cada qual a seu modo próprio, mas real e verdadeiramente. Nós, irmãos e irmãs de Jesus e de Maria, participaremos em união com eles e no modo próprio a cada um de nós.

Leonardo Boff 
Livro a  Santíssima Trindade é a melhor comunidade.
Editora Vozes.

Postado por Dharmadhannya

Nenhum comentário:

Postar um comentário