Há
evidências de que existe algo no nível mental além de nossas mentes comuns,
individuais, e isso pode ser percebido no processo criativo. Jung chamou-o de
“inconsciente coletivo”, mas preferimos o termo “metamente”
Esse termo indica que está além de e sob - a
origem da mente comum. O inconsciente coletivo não transmite a idéia de origem,
que é da maior importância (Blakemore, 1977).
A
televisão se presta a uma analogia de todo o sistema e processo. O aparelho é o
receptor, o hardware, e, por si mesmo, não pode nos fornecer informações
sobre o programa que estamos olhando, os comerciais, a programação de
determinado canal, o diretor etc. Tudo isso é exterior à operação da televisão.
Sem o aparelho físico não poderíamos ter a
recepção de qualquer programa, mas sem todas as estações e suas transmissões, o
aparelho apresentaria apenas estática.
Tanto o aparelho quanto o processo de
transmissão precisam de energia eletromagnética para funcionar. Nesta analogia,
o aparelho representa o cérebro físico, os programas e os comerciais
representam a atividade da mente, e a energia eletromagnética simboliza aquilo
que permite que o cérebro e a mente operem.
Avançando um pouco mais nesta analogia, a
energia eletromagnética representa o “material” subjacente, a “metamente”, necessário
à atividade de nossa mente.
As
tradições orientais veem a mente de um modo totalmente diferente do ocidental.
De
acordo com Swami Muktananda (1976) “A mente é o corpo do Eut e
também “a mente nada é senão um pulsar de consciência”.
Swami
Muktananda um foi um psicólogo bem como o líder de uma linhagem espiritual. Em
sua tradição psicólogos, os são sábios, homens e mulheres de rara sabedoria,
chamados Siddhas, Mestres Auto Realizados. São seres que não apenas alcançaram
altos estado de evolução humana, mas que também são capazes de impulsionar
outros na mesma direção.
Yoga significa
união, e a meta do Yoga é alcançar a união com a consciência mais
elevada. O Cristianismo expressa uma idéia similar no termo “união mística”
enquanto que o Budismo chama-o de Nirvana.
Embora
existam muitos caminhos diferentes para essa união, os filósofos indianos têm
uma concepção comum, qual seja, a de que Deus já está em nós, em forma
de nós mesmos (Muktananda, 1978). Todos nós, sem exceção, somos feitos do mesmo
material, e esse material é energia, energia consciente.
Alguns
chamam-no de inteligência Suprema, outros, de Inteligência Criativa e outros,
ainda, chamam-no de Deus.
Nas
Filosofias do Oriente, afirma-se que somos todos essa Consciência Cósmica,
mesmo que a princípio não nos relacionemos conosco mesmos dessa maneira.
Identificamo-nos com os limites de nossos corpos (Yukteswar, 1984).
Compreendemos a nós mesmos como separados e diferentes de todos e de tudo, como
“egos encapsulados por pele”.
Limitamos
a nós mesmos porque nos consideramos limitados. Na visão oriental, praticamos yoga
não para alcançar Deus, mas para purificar e controlar a mente, a fim de
experienciar o Deus que já está dentro de nós.
Praticamos
yoga no intuito de realinhar nossa compreensão de nós mesmos, de modo
que possamos conhecer nossa deidade, nossa própria divindade.
Mais
de 1500 anos atrás, Patanjali, um grande sábio indiano, escreveu uma série de
aforismos para expor o Yoga a seus contemporâneos (Prabhavananda e
Isherwood, 1953).
Nenhum
trabalho antes ou depois dele obteve tanto sucesso no esclarecimento do que é yoga,
suas metas, métodos, poderes e a natureza da libertação que propicia.
Segundo
Patanjali a mente é constituída de três elementos: a) manas; b) buddhi;
c) ahamkara.
Manas é a
faculdade registradora que recebe impressões reunidas pelos sentidos e
provenientes do mundo exterior. Buddhi é a faculdade discernidora que
classifica essas impressões e a elas reage.
Ahamkara é o sentido
de ego que reivindica essas impressões como suas e armazena-as na condição de
conhecimento individual (Prabhavananda e Isherwood, 1953).
Patanjali
não queria dizer que a mente é dividida em três diferentes seções. Ele se
referia a três diferentes funções mentais. Swami Muktananda esclarece esse
ponto quando fala do “movimento da mente” (Muktananda, 1981):
Quando a mente está repleta de pensamentos é chamada 'manas'.
Quando toma decisões, é chamada ‘buddhi o intelecto.
Quando assume o sentimento da existência do eu é chamada ‘ahamkara’, o ego.
O propósito do
Yoga, segundo Patanjali, é realizar o aquietamento das modificações da
mente ou ondas de pensamento. Todo o sistema de Patanjali trata do tema do
aquietamento das ondas de pensamento da mente (Hariharananda, 1983).
Patanjali
forneceu uma metáfora clássica para esse conceito. Nossa mente é como um lago.
Quando existem ondulações, pensamentos, não podemos ver nossa imagem com
clareza, pois ela está distorcida.
O
que vemos na superfície da água não se parece conosco. Se nunca nos tivéssemos visto
em um espelho, mas apenas na superfície de um lago agitado, não poderíamos
imaginar como realmente somos.
Quando
a água está serena, sem ondulações, podemos nos ver sem interferências. O
mesmo é verdadeiro para a mente. Suas aflições, os pensamentos que vêm e vão
constantemente, impedem-nos de saber quem somos realmente.
Identificamo-nos
com nossos pensamentos e sentimentos e entendemos a nós mesmos nesses termos.
Pensamentos e sentimentos negativos e limitantes nos fazem acreditar que somos
limitados.
Nossa
verdadeira imagem pode refletir-se apenas em uma mente calma e livre de pensamentos,
que nos permita vivenciar nossa verdadeira natureza, nosso próprio Eu.
Esvaziar
a mente de pensamentos não significa que a tomamos inerte e obtusa. Não
significa que nos tomamos passivos, insensatos ou estúpidos, ou que perdemos
nossa personalidade - da mesma forma como um lago tranquilo, sem ondulações,
não perde sua identidade e qualidade enquanto lago.
Não
perdemos nossa mente se a limpamos da tagarelice interior desnecessária, que
ocorre o tempo todo. Ao contrário, tornamo-la forte. Enquanto nos identificarmos
com nossos pensamentos, nossa mente será muito fraca, pois estará dispersa em
muitas direções diferentes.
Uma
mente fraca nos faz perseguir, sem controle, os prazeres dos sentidos, contra
nosso interesse e, em casos extremos, nos prende a alimentos, álcool, tabaco ou
drogas.
Mas,
se focalizamos nossa mente em uma direção, podemos realizar muito porque a
mente terá, então, um enorme poder. Os raios do Sol focalizados em um ponto
através de uma lente podem iniciar um fogo. Uma mente livre de suas
modificações é clara e pode nos permitir viver aquilo que está oculto: a
“metamente”, a origem da mente.
A
ênfase dos psicólogos orientais, dos sábios e dos instrutores de Yoga, tem
sido totalmente diferente. Eles possuíam uma clara compreensão da mente e de
suas limitações.
Formularam
seu entendimento a partir de experiências concretas. A Psicologia oriental é
científica, mas não no mesmo sentido da Ciência ocidental. O aparelho, o campo
de estudo e o laboratório estão dentro de nós.
Os
mestres orientais de Yoga estavam preocupados com a “metamente” porque
sabiam por experiência direta que é ali que se encontra o segredo do mistério
da mente.
Friedrich
von Schiller, filósofo alemão, expressou-o acertadamente em seu poema “As
frases de Confúncio” (Heisenberg, 1971): “Apenas a mente plena é clara, e a
verdade mora nas profundezas.”
Aqui,
a “profundeza” é a “metamente”, que está além da superfície do percebimento
comum. A “mente plena”, longe de ser preenchida com a tagarelice interior,
inútil e comum, revela um vasto reservatório subjacente de percepção, mas
apenas quando as ondas-pensamento aquietam-se.
No
âmago das “profundezas”, na “metamente”, reside o Eu. Aqui o vazio se
transforma em infinito. A verdadeira origem da mente é infinita, está além do
espaço e do tempo e não possui atributos. Os filósofos/sábios indianos
denominam-no Ãtmam que,
no Ocidente, é traduzido por “Eu”.
A
tradução é um tanto infeliz, porque imediatamente evoca em nossa mente o eu
pessoal, limitado, o ego. Ao contrário do eu, o Eu jamais pode ser estudado
como um objeto.
Pensamos
em nossos egos, sentimentos e pensamentos, como objetos de percepção, mas, falando
de modo verdadeiro, nunca podemos definir o Eu; podemos apenas vivenciá-lo.
O
Eu é o Sujeito original, a fonte da mente objetivada, o âmago da “metamente”,
puramente subjetivo e com luz própria. A mente não possui quaisquer dessas
características.
Segundo
a Filosofia do Shaivismo do Cachemira, nos 36 passos do desenvolvimento do
Cosmo, a mente origina-se do nível egóico.
Nesse
nível todos os atributos ilimitados de Paramashiva foram restringidos através dos
poderes veladores de Maya, ilusão.
Paramashiva, tomando-se o ser humano individual, através de uma série de
contrações e limitações auto impostas, é confinado.
Sua
existência eterna toma-se finita, e o tempo entra em cena. O ser humano
individual é sujeito ao nascimento e à morte.
Esse
onisciente Paramashiva toma-se
um ser humano com conhecimento muito limitado e superficial, que vem
primariamente da informação e dos dados obtidos através dos sentidos. A
compreensão é pouco profunda.
O
onipotente Paramashiva é
confinado a um espectro restrito de atividades: há apenas aquilo que os seres
humanos podem fazer. E, por fim, o onipresente Paramashiva fica preso ao tempo e ao espaço.
Nenhum
ser humano comum pode estar presente, fisicamente, em dois lugares ao mesmo
tempo. Entretanto, os santos de todas as grandes tradições, após terem
transcendido sua consciência humana, exibiram os atributos ilimitados de Paramashiva.
Existem
numerosos registros, em todas as tradições do Oriente e do Ocidente, de santos
que foram vistos em diferentes lugares ao mesmo tempo.
Existem
também registros de sábios que podiam materializar objetos, voar e fazer coisas
consideradas “milagrosas” para o ser humano comum.
No
Ocidente, uma determinada função da mente comum tem sido glorificada e
considerada a base de todo o conhecimento e ciência: seu aspecto lógico,
analítico, matemático. Esse sedutor poder do pensamento analítico, associado a
seus imensos sucessos científicos, é, não obstante, limitado.
No
Oriente, esse aspecto mental é reconhecido como o funcionamento limitado de buddhi, o intelecto. Não pode constituir a
resposta para todas as nossas perguntas, porque a maior parte do tempo não
estamos na disposição mental analítica e lógica.
A verdade é que todos somos inclinados a lisonjear-nos a despeito de nossa
experiência cotidiana contrária
- de que gastamos nosso tempo tendo
pensamentos lógicos, consecutivos. Na verdade, a maioria de nós não faz
isso.
O pensamento consecutivo sobre qualquer problema uma proporção muito pequena de nossas horas
de vigília. É mais comum encontrarmo-nos em um estado de “devaneio” - uma névoa mental de impressões
sensoriais desconexas, lembranças irrelevantes, fragmentos sem sentido
de frases de livros e jornais, pequenos assaltos de medo e ressentimentos, sensações físicas de desconforto,
excitação ou comodidade (Prabhavananda e Isherwood, 1953).
Como
podemos parar a incessante tagarelice interior e tornar a mente forte?
Patanjali dá a resposta: prática e desapego.
Aqui
Patanjali refere se a práticas espirituais. Existem muitas práticas espirituais
diferentes para escolher com base no temperamento de cada um.
Patanjali
considera o melhor exercício para a mente o desenvolvimento de uma constante
percepção de nossa identidade com a Verdade, a constante recordação de que Eu
sou Aquilo, Eu sou Consciência Pura.
À
medida que se pratica o percebimento da unidade, cessam pouco a pouco as
modificações e agitações da mente.
Entretanto,
Patanjali reconhece que nem todos possuem a mente forte o suficiente para
manter esse constante percebimento. Por essa razão, ele fornece uma variedade
de técnicas de modo que o aspirante possa escolher aquelas mais adequadas para
si.
Dentre
todas as práticas, uma muito útil é a repetição de montras Escrituras
mencionam: “Mantra é Deus” (Singh, 1980a). A repetição de um mantra
torna as pessoas conscientes de tratar-se de uma verdade. Se se nos chamam de
estúpidos, ficamos zangados porque nos identificamos com a palavra.
Se
nos chamarmos de “Deus”, no devido tempo, identificar-nos-emos com Deus. Se o
fizermos por um longo período, a mente fundir-se-á no mantra e tomar-se-á una com o Eu.
Um
dos aforismos nos Shiva Sutras, o famoso tratado do Shaivismo do
Cachemira, diz: “A mente é mantra” (Singh, 1979a). A mente neste caso deveria
ser compreendida como aquela que está voltada para o interior.
Ela,
então, torna-se o pulsar ou pulsação da Consciência pura (spanda). Nesse
sentido a mente nada é senão mantra - o puro poder libertador de Deus.
Como
vimos anteriormente, não deveríamos
pensar no mantra como um som. Em seu sentido puro, é a própria luz da
Consciência que ilumina tudo o que a Consciência reflete e que toma forma.
Segundo
essa visão a mente pode ser treinada. Através da prática específica, regular,
consistente e persistente, podemos orientar nossa mente em qualquer direção que
desejarmos. Isso conduz ao controle mental.
No Ocidente pensamos na mente como algo quase
incontrolável e fora de nós. Quando temos pensamentos negativos sobre outra pessoa,
sentimos que os mesmos foram estimulados pela mente e que não somos
responsáveis por tais pensamento. Isso é absurdo.
Nossos pensamentos são criados em nossas
mentes e são só nossos. Temos plena e completa responsabilidade por eles.
Vivemos com uma atitude absurda a esse respeito, porque não compreendemos a
natureza da mente.
No
Oriente, os pensamentos são considerados reflexos de um estado mental. É da
natureza da mente criar, constantemente, pensamentos, da mesma, forma que é da
natureza do oceano criar onda. Não existem ondas boas ou más.
Não existem pensamentos bons ou maus. Existem
apenas os que nos aproximam do centro da “metamente” e os que nos
afastam dele. Pensamentos de amor e amizade nos fazem sentir bem, pois nos
trazem mais próximos à essência da “metamente”, que é o amor puro,
inegoísta. Também Cristo ensinou o amor inegoísta.
O
Yoga oriental não é uma cultura de pensamento positivo. Todo o Universo
está baseado na dualidade. A vida está repleta de situações agradáveis e
desagradáveis, alegrias e tristezas, triunfos e tragédias. É assim que esse Cosmo
foi criado: está baseado na dualidade. A moeda sempre tem duas faces.
Não
se pode ter uma sem a outra. Esse é outro caso de complementaridade. O Yoga
não tem como meta remover as situações ou pensamentos desagradáveis. Almeja auxiliar
a remover a moeda da dualidade como um todo.
Isso significa que podemos enfrentar tanto situações
agradáveis quanto as desagradáveis sem sermos esmagados por qualquer uma delas.
Significa que quando a mente é forte, nem as calamidades nem a boa sorte pode
causar tumulto no coração ou caos na mente.
Uma mente clara e calma é pré-requisito para
uma decisão apropriada, não importando o que nos cerca. Esse é o estado
almejado por Patanjali e pelo Yoga. Um grande Instrutor disse, certa
vez, que apenas em águas rasas pode um peixe provocar grandes ondas. Apenas em
uma mente fraca pode qualquer situação produzir tumulto.
Patanjali
considerava importantes as práticas espirituais, como a meditação, o cântico, a
prece, a ida à igreja ou ao templo e o trabalho altruísta, mas considerava
importante também a prática do desapego. As práticas espirituais sem a prática
do desapego podem ser extremamente áridas, frustrantes e perigosas.
O desapego é o exercício do discernimento.
Significa escolher conscientemente entre o que nos aproxima do Eu interior e o
que não nos aproxima. Patanjali considerava que a prática do desapego possui um
elo indispensável com as práticas espirituais. Segundo ele, ambas são
necessárias para serenar as modificações da mente.
Tentar
serenar a mente de um modo forçado e rígido seria como tentar manter calmo um
cavalo selvagem. O cavalo reagirá violentamente, e ninguém conseguirá
dominá-lo.
Da mesma forma, se tentarmos ser sempre
“bons”, sem
qualquer
“maus” pensamento, tomar-nos-emos como juízes para os outro nós
mesmos.
'Ninguém
pode evitar “maus”
pensamentos, porque é da natureza da
mente produzir pensamentos. Tentar fazê-lo causará resistência, assim como o
cavalo selvagem resiste a ser mantido calmo.
Durante
a prática espiritual, o fracasso está fadado a ocorrer, sobretudo no início. Se
estivermos apegados aos resultados imediatos de nossas praticas, então não poderemos tolerar esse tipo de
fracasso.
Patanjali não ensina as pessoas a se tomarem
indivíduos puritanos, juízes, áridos,
infelizes. Seu sistema é a prática do yoga almejam tomar-nos livres da
tortura da mente.
Desapego
é liberdade dos liames do desejo, seja por alimento, por ganho material ou
envolvendo ambições, como a obtenção de fama,
de superioridade espiritual ou de ser sempre “bom”.
Libertar-se do apego não é uma tarefa fácil. É
realizada gradualmente e constitui um lento processo. Patanjali ensina que é ao
não nos identificarmos com os pensamentos e com as emoções que nos tornamos livres das aflições
de uma mente impura.
Nada há de errado com a mente em si, mas ela
está contaminada por compreensões equivocadas e desejos. Através da mente, identificamo-nos
com as limitações do corpo físico e nos consideramos limitados (Prabhavananda e
Isherwood, d)
Na
tradição oriental não existem pecadores; não há julgamento, porque não há
qualquer pecado, exceto a ignorância. Se praticarmos o desapego e serenarmos a
mente, então, a verdade revelar-se-á a partir do nosso interior.
A escuridão da ignorância desaparecerá.
Desapego não significa que nos tornamos indiferentes ou egoístas, que nossas
vidas se tornam insensíveis e enfadonha uma vez que o fogo do desejo tenha sido
extinguido.
Significa exatamente oposto, que nos tornamos
mais livres cada vez que um desejo desnecessário é vencido. Significa que somos
capazes de amar pelo amor em si e não por razões egoístas. Alguém ama outra
pessoa não devido à beleza, inteligência, dinheiro, prestígio social etc., mas
pelo que a outra pessoa é.
Aqueles que se encontram no nível de
consciência de Cristo podem amar os supostos indivíduos “feios" “pobres”,
“sujos”, “criminosos” como eles são. Esse é o nível de consciência para o qual
essas práticas nos
conduzem: o Cristo interior.
É apenas quando
estamos livres de todos os desejos orientados pelo ego, desnecessários e mesquinhos,
que alcançamos as definitivas alturas: a Divindade interior.
A
mente é um instrumento nesse processo, que não pode sequer ser iniciado fora da
esfera da mente. Na Filosofia do Shaivismo, Chiti, o aspecto criativo
feminino de Deus, descendo do plano da Consciência pura, torna-se a mente ao
contrair-se de acordo com o objeto percebido (Singh, 1980a).
Mas,
o Shaivismo e Patanjali sustentam que a mente é Consciência pura, indiferenciada,
que se contraiu para assumir a forma do objeto percebido.
Os filósofos psicólogos ocidentais não foram
capazes de captar a natureza da mente em sua integridade.
As
Filosofias indianas e o Yoga caracterizam-se pela orientação prática,
bem como pela abordagem filosófica da vida. Não são meras criações do pensamento.
As práticas espirituais e a prática do desapego são as chaves para o Yoga de
Patanjali.
A maior parte dos aforismos restantes são
instruções e técnicas sobre como atingir o estado de equanimidade ou o estado
de desapego. O Mahabarata, o Bhagavad Gita, o Shaivismo do Cachemira, a
Vedanta e Patanjali, todos ensinam como poderemos nos tomar contínua e permanentemente
felizes, não importando o que aconteça em nosso redor (Bahadur, 1979).
A
maioria dos eruditos da tradição indiana aceitam Patanjali como autoridade em Yoga
e também como um grande santo. Diz-se que ele codificou antigos ensinamentos e
apresentou-os na forma de Yoga Sutras após ter alcançando o domínio
sobre sua própria mente. Esses sutras não são religião, mas genuína psicologia.
Apenas aqueles que a exploraram e transcenderam podem explicar o que é mente é
e compreender como ela funciona. Patanjali expõe não apenas esses fatos mas
também como a mente nos perturba, como podemos controlá-la e o estado daqueles
que realizaram tais práticas (Hariharananda, 1981).
No
Ocidente, tendemos a acreditar que o cérebro é o centro da mente. Os sábios
orientais acreditam que a mente está centrada no coração, e que, na meditação,
aquela área toma-se serena.
Swami Muktananda, em uma de suas palestras
sobre a mente, disse que quando as pessoas recebem choques terríveis, isso
provoca problemas cardíacos, e não explosões cerebrais! Seja qual for o tumulto
criado pelos pensamentos, ele será vivenciado no coração (Muktananda, 1980).
Ramakrishna,
outro Mestre indiano contemporâneo, submeteu-se a uma operação de câncer sem
anestesia. Durante a operação continuou ensinando e discutindo com seus
estudantes que estavam presentes na sala de cirurgia. Os doutores
perguntaram-lhe como era capaz de fazer aquilo.
Respondeu
que tinha retirado sua mente da parte do corpo que estava sendo submetida à
cirurgia e não experimentava dor. O coração é a principal localização da mente,
mas o restante do corpo não está dela desprovido.
A mesma visão é sustentada pelos budistas. Seu
entendimento acerca da natureza da mente é muito similar (Gyatsí 1984):
... a natureza convencional da mente é de límpida luz e, assim, as corrupções
não residem na própria natureza da mente; elas são adventícias, temporárias e
podem ser removidas. Fundamentalmente, a natureza da mente é seu vazio de
existência inerente. Se emoções aflitivas, como o ódio, estivessem na própria
natureza da mente, então, por exemplo, desde seu início, ela teria de ser
sempre odiosa, uma vez que essa seria sua natureza.
Entretanto, esse, obviamente, não
é o caso; sentimos ódio apenas sob certas circunstâncias, e quando tais
circunstâncias não estão presentes, ele não é gerado.
Isso indica que a natureza do
ódio e a da mente são diferentes, mesmo que, em um sentido mais profundo, ambos
sejam consciência, possuindo, assim, uma natureza de luminosidade e de
conhecimento.
As
semelhanças entre o Budismo e o Hinduísmo, com relação à natureza da mente, são
espantosas. Mesmo que existam muitos caminhos e tradições, há apenas uma
Verdade.
Quando
a mente volta-se para o interior, toma-se sintonizada com o Eu e reflete
o poder infinito deste.
A mente é fundamental nessa busca pela
Verdade. A Verdade não está na mente, mas, mediante o uso de um mantra
ou da contemplação criativa, a mente cria e se transforma em elo para unir-nos
àqueles níveis da Realidade em que se encontra a Verdade.
Quando
a mente volta-se para o exterior, toma a forma do objeto percebido. Enquanto
ela estiver centrada no mundo exterior, ela se tomará muitas coisas diferentes,
algumas das quais conflitantes. Toma-se inquieta. Contentamento duradouro não
existe.
Há uma estória sobre um monge que nada
possuía, nem mesmo uma manta para cobrir-se. Certo dia ele pensou que seria bom
ter uma manta. Mais tarde, alguém lhe deu uma, mas os ratos vieram e nela
fizeram buracos. Então o monge pensou que seria bom ter um gato para espantar
os ratos.
Alguém
deu-lhe um. Mais tarde, ele pensou que seria bom ter uma vaca para dar leite ao
gato, que estava afugentando os ratos. Antes de poder se aperceber, ele havia
esquecido sua busca pela Verdade.
Quando
a mente está centrada no interior, toma-se capaz de alcançar outros níveis de
percebimento. Voltar-se para o interior significa voltar a atenção do mundo
exterior para o mundo interior.
Um som específico, uma imagem, ou um
sentimento podem levar a mente e o percebimento do aspirante ao fim do caminho,
à destinação final, à experiência de nossa Natureza Real.
O voltar-se para o interior sempre foi usado
na jornada espiritual nas grandes tradições religiosas.
Sumário
No
Ocidente, estamos cônscios do sistema cérebro/mente, mas não sabemos realmente
como o cérebro de fato opera e não compreendemos a mente em sua integralidade.
Existem diferentes teorias sobre o cérebro, entre as quais a
mais
recente é a teoria holográfica.
Essa teoria defende a descentralização da mente,
porém pesquisas adicionais fazem-se necessárias antes de podermos concluir que
o cérebro funciona como um holograma. A natureza da mente parece ser um
mistério para os psicólogos, psiquiatras e “desenvolvimentalistas humanos” que
tratam dessa área.
Embora a mente seja caracterizada como “não-
corpo”, podemos abordar suas funções, complexidades e artifícios.
Diferentes
escolas de Psicologia explicam a mente de diferentes maneiras. O modelo de
Sigmund Freud contém três seções: a mente inconsciente, a mente consciente ou o
ego, e o superego. Carl Jung acrescentou o conceito de inconsciente coletivo
embora algumas escolas não o aceitem.
No estágio em que nos encontramos não sabemos
realmente como o cérebro opera, e não sabemos o que é a mente ou como funciona.
As várias teorias, na maioria das vezes, deixam-nos com mais perguntas que
respostas. -
No
Oriente, os sábios ensinam acerca da mente com uma convicção espantosa para nossos
padrões. Não existem teorias sobre o cérebro, que é tratado como uma parte do
corpo físico.
A natureza da mente é explicada de um modo
muito direto através da compreensão obtida pela experiência pessoal.
Santos,
sábios e videntes, em todas as eras, tiveram a experiência de suas mentes como pura
energia criativa. Deus, que voluntariamente assumiu limitações e tomou-se a energia
contraída da mente.
A
mente constitui nosso pior inimigo e melhor amigo ao mesmo tempo. Pior inimigo
no sentido de que, uma vez centrada no mundo físico exterior, tortura-nos ao
dar, constantemente, origem a numerosos pensamentos e desejos.
Faz-nos felizes ou desgraçados; quando nos
identificamos com suas aflições, estamos como em uma montanha russa, sem
qualquer controle do que virá a seguir.
Além do mais, a mente projeta seu estado
interior para o mundo exterior e nos faz percebê-lo como algo independente
daquele.
É
nosso melhor amigo, porque quando focalizada no interior permite-nos
vivenciar o que está sob ela e além dela mesma, a “metamente”, nossa verdadeira
natureza, nosso Eu. Quando as modificações da mente são serenadas, a
“metamente” se revela, e a luz da Consciência pura, que é o verdadeiro Eu; brilha
através dela.
Os psicólogos orientais fornecem um sistema gradual para serenar
as alterações da mente.
Na
maioria das tradições, a focalização da atenção em nosso mundo de percepções
interiores é uma maneira de experienciar outros níveis de percebimento.
Dharmadhannya
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