Aprendendo
a meditar: Percepção Espontânea
Percepção
sem plena consciência nos mantem na superfície das coisas. E frequentemente
deixamos escapar outros níveis e somos dominados pelas emoções.
Significa
Vipassana “ver as coisas como elas
realmente são. ”
O
primeiro passo nessa visão clara surge quando fazemos uma pausa e nos tornamos
conscientes, interrompendo o fluxo dos nossos pensamentos, sentimentos e
reações habituais.
A
medida que os sons, sensações, pensamentos, imagens ou emoções surgirem em
segundo plano na sua percepção, deixe que eles permaneçam lá e se concentre
basicamente nas sensações da respiração.
A
proporção que eles forem se deslocando para o primeiro plano deixe o que
estiver predominando se tornar o foco da sua atenção um pensamento, um
sentimento, o que estiver aparecendo com mais
intensidade na sua percepção —,
abrindo o campo da sua percepção modo a incluir toda a amplitude da
experiência: a respiração, os sons, as sensações, os pensamentos, as imagens,
as emoções.
Se
você não tiver certeza de onde sua atenção deverá estar em algum momento
específico, pode retornar à respiração.
Quando
um pensamento ou experiência sensorial emergir fortemente, deixe que permaneça
na sua percepção. Fique com ele conscientemente, deixando que diminua de
intensidade e se dissolva sozinho;
leve então sua percepção de volta à
respiração ou para o que esteja mais predominante na sua percepção.
Independentemente
do que aparecer, vivencie-o na amplitude da percepção, deixando a mente
descansar sem vacilar, onde quer que ela vá...
Registro Mental
Em
algumas formas de plena consciência, os meditadores usam o “registro mental”,
fazendo um breve registro ou rótulo mental do que apareceu mais predominantemente
na percepção deles. Este método de rotular favorece a conexão da percepção com
a experiência efetiva do momento.
Por
exemplo, se estiver meditando sobre a respiração e tomar consciência de um
forte sentimento de tristeza, você deve fazer um pequeno registro na sua mente:
“tristeza”.
Esse registro pode ajudar a esclarecer o que você está vivenciando.
Ao mesmo tempo, ele evita que você seja arrastado para a realidade criada pela
tristeza.
Algumas
pessoas acham que o registro representa uma ajuda muito eficaz para a prática
e o utilizam como um método contínuo. Outras o usam ocasionalmente, quando
sentem necessidade.
O registro mental pode ser especialmente útil quando você
está consciente de fortes emoções e pensamentos, particularmente no caso dos pensamentos e sentimentos habituais, que conseguem nos atrair para a realidade
deles.
O
registro mental também pode ajudá-lo a se manter conectado ao nível
experiencial, o que permite que você fique livre da atração dos pensamentos,
enquanto vivência fortes emoções ou estados mentais reativos.
Ele
pode ajudá-lo a permanecer consciente desses estados, sentindo-os enquanto está
presente e atento, sem se identificar com eles e consequentemente ser arrastado
para a história que está por trás deles.
O
registro mental também pode ser útil quando você precisa concentrar sua mente
divagadora, confusa ou dispersa.
Por exemplo, se você está tendo dificuldade em
manter a atenção na respiração por estar sendo por demais distraído por outros
pensamentos, pode usar o registro mental “subindo, descendo” para acompanhar
as sensações da respiração enquanto seu abdômen sobe e desce a cada respiração.
Ou
então você pode usar o registro “dentro, fora” se estiver sentindo a inspiração
e a expiração através das narinas.
Se
você usar o registro, é importante que se relacione com ele como um lembrete do
que está acontecendo na sua experiência e como um esteio para a atenção, não
como uma maneira de desvencilhar a mente da
experiência, e sim como um método
para estar com a simples experiência sem adicionar outros conceitos ou se
identificar com a experiência.
O
registro deve ser como um sussurro na mente, não como um mantra ou uma palavra
a ser focalizada. Mantenha-o bem suave e leve.
Como
um auxílio à prática, ele pode ajudá-lo a reconhecer claramente, com precisão,
o que efetivamente está acontecendo.
Comendo
com Plena consciência
Grande
parte do que fazemos na vida é condicionado por hábitos inconscientes com
relação à maneira como nos relacionamos e reagimos.
Enquanto permanecermos
inconscientes de como esses hábitos estão governando nossa vida, eles
continuarão a nos controlar.
O primeiro passo para mudar esses hábitos é levar
nossa consciência para o que está efetivamente acontecendo.
Precisamos
nos voltar para as faculdades de esforço e clareza a fim de despertar desses
fortes hábitos de condicionamento, para vê-los mais claramente, livres das
maneiras habituais de percebermos as coisas.
Embora esta estratégia se aplique
aos esquemas, nesta prática levamos a plena consciência a uma atividade neutra:
comer.
Você
vai precisar de pequenos pedaços de comida para essa meditação. Algumas passas
de uva são uma boa escolha.
Segure
as passas na palma de uma das mãos. Antes de começar, repare se você tem ideias
preconcebidas a respeito de como é comer uma passa. A seguir, abandone essas
suposições.
Leve
a atenção para as passas que você tem na palma da mão, deixando que todos os
seus sentidos fiquem vivos e alertas, reparando conscientemente na forma, no
tamanho e na textura de cada passa, no jogo de luz e sombra na superfície
delas.
Agora,
com plena atenção, pegue conscientemente uma das passas com a outra mão
enquanto relaxa a mão que contém as outras passas.
Fique
totalmente consciente de todos os sentidos.
Toque, aperte e sinta uma passa com
as pontas dos dedos, conscientize-se da sensação do tato.
A seguir, lentamente,
leve a passa em direção aos lábios, observando as sensações das mudanças nos
músculos do braço à medida que ele se aproxima da boca.
Encoste
a passa na boca. Observe se há alguma salivação prematura causada pela sua
intenção de comer a passa.
Agora,
com os lábios, dentes e a língua — e reparando cuidadosamente em todos os
processos envolvidos —, coloque a passa na boca e comece a mastigá-la.
Tome
consciência da explosão de sabor, da acidez e do sabor adocicado, do aroma da
passa, da textura quando ela se parte na boca enquanto você mastiga, os
movimentos da boca e da língua à medida que a passa se desloca em direção à
garganta e vai descendo. Observe agora a ausência da passa na sua boca.
Repare
ainda se você sente o desejo de logo pegar outra passa, por outro impacto de
sabor... e assim por diante até as passas acabarem.
Quando
terminar, reflita sobre essa maneira de comer passas e compare-a com o modo
como você costuma comê-las, e ainda se sua experiência foi diferente do que
havia imaginado.
Nós,
de forma característica, acabamos de comer no “piloto automático”, perdidos em
pensamentos ou conversando, sem prestar muita atenção à experiência de comer
propriamente dita.
Se você decidir fazer algumas das suas refeições
conscientemente, talvez perceba que está reparando mais no sabor da comida e
ficando mais consciente dos sinais de saciedade do seu corpo.
Isso
frequentemente significa que você comerá menos, porém sentirá mais prazer.
Além
disso, como um modelo de levar a plena consciência a hábitos extremamente
automáticos, comer conscientemente é um exemplo de como podemos cultivar a
total atenção.
Andar consciente
Embora
possamos achar mais fácil permanecermos conscientes enquanto estamos sentados
imóveis na meditação ou executando uma atividade concentrada como comer, essa
percepção pode ser integrada ao fluxo cotidiano da nossa vida ativa.
Levar
a plena consciência ao ato de andar, como o comer consciente, nos fornece
prática em trazer à superfície as sequências de hábitos inconscientes nas
nossas atividades.
O caminhar consciente também acrescenta a lição prática de
que podemos levar essa qualidade de percepção a qualquer atividade — não temos
que ficar sentados imóveis para sermos conscientes. Podemos praticar a plena
consciência no cotidiano.
Outro
benefício do andar consciente é que ele eleva nosso nível de energia. Por essa
razão, algumas pessoas fazem uma sessão curta do caminhar consciente antes da
prática diária da meditação sentada. O andar consciente também pode ajudar a
acalmar um estado mental agitado.
A
ideia do andar consciente não é chegar a algum lugar e sim tomar consciência do
processo de andar em si. Por esse motivo, você só precisa de um curto trajeto —
mais ou menos dez passos são suficientes —
em uma sala ou ao ar livre onde você
possa andar para a frente e para trás. Ou então, se você fizer uma caminhada
mais longa, permaneça consciente da experiência de andar.
No
início, o andar consciente é feito em um ritmo lento, para ajudar a trazer para
o âmbito da percepção os componentes de dar um passo. Mas, à medida que se
familiariza mais com a prática, você pode experimentar diferentes velocidades.
De
pé, com os pés afastados por uma distância mais ou menos equivalente à largura
dos ombros, tome consciência de quaisquer sensações que possa sentir enquanto
mentalmente examina seu corpo, deixando a percepção mental se tornar sutil.
Sinta
as sensações nas pernas e nos pés: a pressão do seu peso distribuído pelas
solas dos pés, a sensação em cada perna enquanto você faz pequenos ajustes para
permanecer ereto...
Se
sua mente divagar ou você se distrair, apenas leve-a de volta para as sensações
nos pés e nas pernas.
Transfira
agora gradualmente seu peso para um dos pés. Observe as sensações do movimento,
a leveza ou o peso de cada perna...
Veja
com que precisão você consegue observar as sensações efetivas enquanto desloca
o peso para o outro pé. Simplesmente observe o que você encontrar lá, seja
resistência, pressão, tensão ou formigamento.
Erga
agora lentamente o pé e coloque-o no chão diante de você, colocando seu peso
sobre ele, sentindo as sensações que se modificam, o contato com o chão, o
movimento dos músculos à medida que a perna se move...
Quando
você chegar ao final do seu trajeto, ou precisar mudar de direção enquanto
caminha, conscientize-se primeiro de estar em pé e depois do processo de se
virar quando mudar de direção.
Permaneça
bastante circunspecto, absorto na experiência de andar e nas sensações nas
pernas e nos pés, ligado à sua experiência efetiva. Quando sua mente divagar,
retorne consciente às sensações do movimento.
Caminhe
a uma velocidade que lhe possibilite permanecer consciente. Se sua mente ficar
agitada ou divagar muito, experimente andar mais rápido durante algum tempo. A
medida que sua mente for se tornando mais concentrada, diminua o ritmo.
Você
pode experimentar diferentes ritmos para encontrar aquele em que você consegue
permanecer consciente com mais facilidade e caminhar naturalmente, com
atenção.
Este texto é resultado de uma pesquisa.
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