Pré-diabete já é doença?
Não se deixe enganar pelo nome. Além de ser o primeiro
passo para o diabete, a condição abala, sim, a saúde. Saiba o tamanho do
problema e como contorná-lo a tempo por Paula Desgualdo, com reportagem de André Biernath • design Glenda Capdeville - fotos alex
silva
Entre as pessoas
com e sem diabete, há um limbo glicêmico que preocupa cada vez mais os
profissionais. "Vivemos uma epidemia de pré-diabete com a qual precisamos
lidar", alertou o pesquisador americano Robert Vigersky, do Centro Médico
Militar Nacional Walter Reed, durante o último Congresso Brasileiro de
Endocrinologia e Metabologia, realizado em Curitiba.
Um levantamento publicado no periódico Anuais
of Internai Medicine dá uma boa prova disso. Ele mostra que o número de
casos dessa condição nos Estados Unidos duplicou desde 1988.
No Brasil,
estima-se que 8 milhões de habitantes se encontram na faixa em que os níveis de
açúcar no sangue estão acima do normal, porém abaixo do que se classifica como
diabete propriamente. Pior: pelo menos metade deles nem desconfia disso.
E mesmo os que
sabem tendem a considerar sua situação uma pré-doença. Engano perigoso. Não
faltam motivos para se cuidar e dar atenção à condição, que rende mesas e mesas
de debates entre os especialistas.
"O quadro
não só eleva a probabilidade de se desenvolver diabete tipo 2 como aumenta,
por si só, o risco de complicações cardiovasculares", ressalta o
endocrinologista Ruy Lyra, do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira
de Endocrinologia e Metabologia.
Como se fosse
pouco, ele abre brecha para transtornos como a neuropatia, que tira a sensibilidade
dos membros, e a retinopatia, um problema capaz de culminar em cegueira. Aliás,
uma revisão divulgada no periódico médico Diabetologia sugere que o
transtorno chega a incitar o surgimento de determinados tumores.
Que fique claro:
estamos falando de um mal silencioso, que não costuma produzir sintomas. Daí a
importância de fazer exames periódicos para detectá-lo. A partir do
diagnóstico precoce, fica mais fácil revertê-lo com mudanças no estilo de vida.
A ciência garante que isso é, sim, possível.
Embora uma
genética desfavorável acelere os primeiros passos do diabete tipo 2, a verdade
é que os quilos a mais são enormes vilões nessa história. "Trata-se de um
problema causado basicamente por sedentarismo e obesidade", sentencia
João Eduardo Nunes Salles, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Diabetes
(SBD).
Vamos por partes. A gordura, em especial
aquela alojada na região abdominal, provoca a chamada resistência à insulina,
que é a dificuldade de esse hormônio liberar a entrada da glicose que circula
pelo organismo nas células.
A princípio, o
pâncreas dribla tal contratempo fabricando mais insulina. Ocorre que essa
superprodução, com o avançar do tempo, cansa e danifica o órgão — no
pré-diabete, estima-se que 50% de sua função já esteja comprometida. Aí, aos
poucos os níveis de açúcar na circulação vão subindo e subindo...*
Uma vez flagrada
a taxa de glicose fora da curva, a ordem é rever o próprio estilo de vida.
Afinal, o impacto de ajustes no dia a dia
é animador: balancear a dieta e praticar atividade física regularmente reduzem
em 58% a progressão do pré-diabete para a versão plena da encrenca.
Com a metformina,
droga bastante empregada para minimizar a resistência à insulina, o número não
passa dos 38%. "Hoje, a SBD recomenda que o paciente seja tratado antes
com mudanças na rotina", reforça Salles.
Contudo, há quem
defenda a introdução de medicamentos desde o começo — sempre associada a uma
rotina equilibrada, claro. "Esse é o momento de ser agressivo para prevenir
a evolução do problema", defende o endocrinologista Carlos Eduardo Barra
Couri, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
(USP), no interior do estado. Segundo ele, o corpo tem uma espécie de memória
metabólica que o permite tirar proveito de um tratamento adequado mesmo 30 anos
depois da primeira dose.
Por outro lado, acima da sexta década de vida,
as estatísticas não registram que a metformina seja capaz de impedir a conversão
do pré para o diabete em si.
Para o endocrinologista
e diretor do Centro de Pesquisas Clínicas, em São Paulo, Freddy Eliaschewitz, o
importante é contar com a adesão do sujeito, seja qual for a conduta.
"Modificar os hábitos é uma intervenção muito eficaz, mas é também a mais
difícil de ser implementada por um período longo", pondera.
Se a missão é
adotar e manter uma rotina de dar inveja por anos a fio, vale buscar o
acompanhamento de profissionais de saúde e pedir o apoio e a compreensão de
familiares e amigos próximos.
Agora, mesmo se
o tratamento contra o pré-diabete estiver trazendo ótimos resultados, só
podemos falar em reversão — e nunca em cura. É que, apesar de a glicemia até
cair para patamares normais, qualquer descuido pode fazer com que ela volte às
alturas.
"Essa é uma doença crônica e progressiva",
frisa Balduíno Tschiedel, endocrinologista do Hospital Mãe de Deus, em Porto
Alegre, no Rio Grande do Sul. Em outras palavras, não existe ex-pré-diabético.
A solução é nunca baixar a guarda. Pelo bem do seu corpo hoje — e lá na frente.
•
Ameaça real aos
vasos
Um estudo
clássico sobre o pré-diabete, o Decode, avaliou o impacto dele na mortalidade
cardiovascular ao longo dos anos. E os achados deixam pouca margem para dúvida.
Para reverter e não complicar
Ao que ficar
atento quando se deseja vencer o pré-diabete
O que comer
Aposte em uma
dieta de baixas calorias, com carnes magras, como aves e peixes, folhas e
legumes. É fundamental não exagerar nas gorduras nem nos carboidratos, que
elevam os índices de açúcar no sangue. Pães e massas integrais contribuem para
que a insulina seja liberada aos poucos.
Como se
exercitar
Estudos
comprovam que realizar 30 minutos de atividade física cinco vezes por semana é
uma forma eficiente de combater o pré-diabete. "Combine práticas aeróbicas
com as anaeróbicas", prescreve Carlos Eduardo Barra Couri, da USP. A
associação das duas culmina em perda de barriga e ganho de músculos, reduzindo
a resistência à insulina.
Por que
emagrecer
Para ter uma
ideia de como os quilos a menos fazem mesmo diferença, após uma cirurgia
bariátrica, é comum que os pacientes saiam da condição de pré-diabético.
"Quando o procedimento é bem indicado, o
indivíduo pode deixar de ser diabético", afirma Freddy Eliaschewitz, do
Centro de Pesquisas Clínicas, em São Paulo.
Mas, claro, esse
procedimento não é prá todo mundo.
Se estiver bem
acima do peso, converse com seu médico.
De que jeito
monitorar
A glicemia em
jejum e o teste oral de tolerância à glicose são alguns dos exames que detectam
o pré-diabete — eles devem ser repetidos a cada três anos por adultos
saudáveis. Já obesos, sedentários e pessoas com histórico familiar da doença
precisam ser examinados anualmente. Em caso de resultado alterado, é
recomendável acompanhar a situação a cada dois ou três meses.
*
Quando medicar
Ainda não há
consenso sobre o assunto. A Associação Americana de Diabetes faculta o uso de
metformina para gente com menos de 60 anos acima do peso. Mas alguns clínicos
creem que é mais eficiente recorrer a remédios para contornar a resistência à
insulina logo de cara.
Ameaça real aos vasos
Um estudo clássico sobre pré-diabéticos, o Decod
avaliou o impacto dele na mortalidade
Cardiovascular ao longo dos anos. E os achados deixam pouca margem para dúvida:
Diabéticos (glicose acima de 125 mg/dl taxa de
mortalidade - 17%
Pré-diabéticos (glicose entre 100 e 125 mg/dl - 12%
Não diabéticos
(glicose abaixo de 100mg/dl – 5%
Pesquisado por dharmadhannya.
Este espaço está protegido pelos arcanjos Miguel , Rafael. Uriel, e gabriel
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