A quimica venenosa que faz mal a saúde.
"12 produtos do dia a dia que podem
desregular seus hormônios"
Enquanto o tamanho do pênis e as taxas
de fertilidade diminuem pelo mundo, os casos de obesidade, câncer e transtornos
mentais só crescem. A ciência começa a comprovar o elo entre essas mudanças e o
uso de produtos que fazem parte de nossas vidas.
Escrito por André Biernath Editado por Andressa Basilio (colaboradora)
Atualizado em 23/12/2014 em Saúde é Vital
Você pode nunca ter ouvido falar em
desreguladores endócrinos, mas com certeza já esteve diante de alguns deles. A
ciência está descobrindo que produtos do nosso cotidiano, como esmaltes,
televisão e até água encanada, escondem substâncias capazes de alterar o
funcionamento do nosso corpo.
"Disruptores endócrinos são compostos
artificiais ou naturais que interferem na ação dos nossos hormônios e nos
expõem a doenças", define Tânia Bachega, presidente da comissão que estuda
o tema na Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
Hoje, há suspeitas sobre mais de 800
misturas químicas. "Elas estão na indústria e na agricultura e entram no
corpo pela ingestão de água, de alimentos e pela respiração", diz a
química Débora Santos, da Universidade Federal de Pernambuco. Os efeitos dos
tais desreguladores podem demorar décadas para aparecer. E existem situações em
que o problema só dá as caras nas gerações futuras.
Foi o que aconteceu com o dietilestilbestrol, remédio prescrito entre os anos 1940 e 1970 para gestantes. "Anos depois, as filhas das mulheres que o utilizaram desenvolveram câncer e infertilidade", conta o toxicologista Anthony Wong, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Só após 30 anos de uso e muitas vidas
afetadas, sua venda foi proibida. Mas é provável que a ameaça não se restrinja
aos fármacos. Que o ar que respiramos e a comida que engolimos também estejam
"contaminados".
Uma pesquisa da entidade Environmental
Working Group, especializada em saúde ambiental, apontou os 12 disruptores
atuais mais perigosos. Abaixo, você descobre quais são eles:
PBDE
Composto químico que evita que os
equipamentos peguem fogo. É encontrado em eletrônicos, como celular, televisão
e videogame, móveis, carpetes, colchões e alguns travesseiros. Podem causar
distúrbios na tireoide, infertilidade feminina e problemas neurológicos em
crianças.
DIOXINA
Química presente em pesticidas como o
DDT e no branqueamento do papel. Está relacionada a problemas como
infertilidade, aborto, diabete, endometriose e déficits imunológicos.
ATRAZINA
O herbicida é usado no controle de
pragas de plantações de milho e cana-de-açúcar. Pode causar infertilidade e
câncer.
CHUMBO
O elemento químico encontrado em tintas,
cigarro e água encanada pode estar por trás de distúrbios na tireoide.
CHUMBO
O elemento químico encontrado em tintas,
cigarro e água encanada pode estar por trás de distúrbios na tireoide.
BISFENOL A
A substância é encontrada em alguns
tipos de plásticos e revestimento de enlatados. O contato com ela está
relacionado à produção de espermatozoides defeituosos, puberdade precoce,
câncer, obesidade, diabete e doenças cardiovasculares.
PERCLORATO
Encontrado em combustível de foguetes
espaciais e na composição de fogos de artifício, pode causar distúrbios na
tireoide.
ARSÊNICO
O elemento químico está presente em
pesticidas, alguns alimentos e água encanada. O excesso pode causar câncer de
pele, bexiga, pulmões e alterações sexuais.
MERCÚRIO
Presente em alguns peixes, frutos do mar
e usinas de energia movidas a carvão, o metal está relacionado à redução
do QI de crianças, problemas no ciclo menstrual e alterações
no pâncreas.
FTALATO
Esse grupo de compostos químicos pode
ser encontrado em cosméticos, como esmaltes e perfumes, na pavimentação de
ruas, cortinas de chuveiros, couro sintético e vinil. Pode causar anormalidades
genitais, interferência em hormônios como testosterona e estrogênio e
no desenvolvimento das mamas.
QUÍMICOS PERFLUORADOS
Presentes em panelas antiaderentes, roupas,
carpetes e capas de chuva podem causar distúrbios na tireoide e infertilidade.
COMPOSTOS ORGANOFOSFORADOS
Presentes em inseticidas, a química está
ligada ao déficit de testosterona e problemas na gestação, como pré-eclâmpsia e
até aborto.
DIETILENOGLICOL
Esta substância encontrada em produtos
de higiene pessoal e solventes industriais, pode estar ligada à redução na
movimentação dos espermatozoides. (1)
A química do Mal.
Nossa história começa no Lago Apopka, na
Flórida, sul dos Estados Unidos. Na década de 1980, os jacarés que habitavam
suas águas passaram a apresentar anomalias no pênis e um comportamento similar
ao das fêmeas.
Testes mais apurados revelaram que seus níveis
de testosterona haviam caído. Após uma batelada de exames, desvendou-se que o
culpado pelas transformações era o pesticida DDT, empregado na região. Só que
tal fenômeno não estava confinado àquela espécie, tampouco àquele agrotóxico e
àquele pedaço do globo.
As alterações também foram notadas em outros
animais, como as focas do Mar Báltico, e em peixes, anfíbios e aves do mundo
inteiro. E estavam ligadas a produtos químicos lançados no ambiente sem o
mínimo cuidado.
Preocupados, cientistas começaram a se
perguntar se essas substâncias não afetariam a saúde humana. Surgia, aí, o
conceito de desreguladores endócrinos.
"São compostos artificiais ou naturais
que interferem na ação dos nossos hormônios e nos expõem a doenças",
define Tânia Bachega, presidente da comissão que estuda o tema na Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
Hoje, há suspeitas sobre mais de 800
misturas químicas. "Elas estão na indústria e na agricultura e entram no
corpo pela ingestão de água, alimentos e pela respiração", diz a química
Débora Santos, da Universidade Federal de Pernambuco.
Até mesmo medicamentos mais antigos
teriam a capacidade de desgovernar os hormônios. Os efeitos dos tais desreguladores
podem demorar décadas para aparecer. E existem situações em que o problema só
dá as caras nas gerações futuras.
Foi o que aconteceu com o dietilestilbestrol,
remédio prescrito entre os anos 1940 e 1970 para gestantes. "Anos depois,
as filhas das mulheres que o utilizaram desenvolveram câncer e
infertilidade", conta o toxicologista Anthony Wong, do Hospital das
Clínicas de São Paulo.
Só após 30 anos de uso e muitas vidas
afetadas, sua venda foi proibida. Mas é provável que a ameaça não se restrinja
aos fármacos. Que o ar que respiramos e a comida que engolimos também estejam
"contaminados".
É por isso que apontamos, ao longo desta
reportagem, os 12 disruptores atuais tidos como mais perigosos, segundo
pesquisa do Environmental Working Group, entidade especializada em saúde
ambiental
O dilema da soja
Os disruptores
não estão somente nos industrializados: a soja possui isoflavona, um componente
que imita a ação do estrogênio, um dos hormônios que coordenam o ciclo de
fertilidade da mulher, inclusive, o composto é empregado como fitoterápico para
tratar os sintomas da menopausa.
Mas existe hoje
um grande debate sobre as consequências da comida rica em soja: o excesso poderia
gerar efeitos adversos, sobretudo em crianças.
A epidemia global de obesidade também teria sido inflada por esses
bagunceiros químicos invisíveis. É no que acredita uma parcela considerável de
cientistas — na visão deles, o sedentarismo e a dieta hipercalórica sozinhos
não são suficientes para justificar o boom de gente acima do peso.
"Os
desreguladores endócrinos agiriam em receptores nos adipócitos, estimulando o
acúmulo de gordura dentro deles", sintetiza o endocrinologista Renan
Montenegro Junior, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
do Ceará.
Os químicos com ação estrogênica também
afetariam componentes do sistema nervoso central e do fígado que,
indiretamente, reduziriam a secreção de leptina, o hormônio que controla nosso
apetite.
Resultado: mais fome e ganho de peso. E, como
sabemos, com os quilos extras vêm doenças como hipertensão, diabete, câncer...
Por falar em
câncer, diversos artigos acadêmicos ligam as substâncias químicas a tumores
nas mamas, na próstata e nos testículos. "Como a célula cancerosa possui
muitos receptores hormonais em sua superfície, os interferentes endócrinos
amplificariam o alcance da doença", hipotetiza o biólogo Sebastião
Taboga, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em São José do Rio Preto.
Pelo que foi descoberto até agora, os
desreguladores não seriam o ator principal, mas atuariam a fim de ampliar os
estragos causados pela enfermidade.
Para fechar a
lista de interações perigosas, a tireoide, glândula na região do pescoço, que
orquestra a velocidade do metabolismo, é afetada em cheio por retardantes de
chamas, bisfenol, ftalatos e companhia ilimitada.
"Os
disruptores de ação similar \ ao estrogênio podem propiciar uma resposta
autoimune na glândula, diminuindo a fabricação dos hormônios
tireoidianos", explica a endocrinologista Tânia Bachega.
A preocupação é maior nas gestantes: nelas,
uma tireoide lenta aumenta o risco d edesordens
neurocomportamentais, como • dislexia, retardo mental, autismo e déficit de
atenção, em seus bebês.
QUEM PODERÁ NOS
DEFENDER?
Apesar de o
cenário não ser nada animador, é importante ressaltar que o universo dos disruptores
endócrinos está lotado de incertezas.
"As evidências vêm de estudos epidemiológicos
e de experiências com animais, mas não há provas concretas, que relacionem
causa e efeito", reconhece a endocrinologista Evanthia Diamanti
Kandarakis, professora da Universidade de Atenas, na Grécia, e autora das
recomendações da Sociedade Americana de Endocrinologia.
Há, inclusive, críticas sobre a quantidade
elevada de químicos utilizados em pesquisas com cobaias, superior aos níveis
encontrados no ambiente.
Os cientistas
têm dificuldades em realizar experiências que envolvam seres humanos como
voluntários. "É impraticável expor uma pessoa a substâncias nocivas",
lembra o endocrinologista Alexandre Hohl, presidente eleito da Sbem.
O próprio
código de ética em pesquisa proíbe experiências que colocam em risco o
bem-estar de alguém. Isso sem contar que as doenças surgiriam não por um único
disruptor, mas pela ação conjunta de vários deles — e ao longo de anos.
Enquanto não
temos um veredicto, certas atitudes minimizam o contato com os químicos.
"No mercado, priorize garrafas de aço e recipientes de vidro em vez de
itens de plástico, prefira frutas e verduras frescas no lugar de comida em
conserva e não coloque no micro-ondas recipientes com bisfenol", orienta a
endocrinologista Poli Mara Spritzer, da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul.
Essas medidas simples devem ser acompanhadas
de uma ampla discussão acerca do assunto, que envolva setores da sociedade, da
política, da indústria e da academia.
O objetivo em comum é cortar relações com
os compostos que sabidamente desregulam nossa rede de hormônios. Afinal, vale
tudo para que o futuro não seja tão sombrio.
Eles destrambelham
seu corpo
Vários agentes
químicos se valem de sua semelhança com hormônios para sabotarem a comunicação
do sistema endócrino
Nós temos 13 glândulas e órgãos que produzem 50 tipos de hormônio.
Essas
substâncias transportam recados para que o organismo funcione corretamente. Ao
chegar a uma célula, seu destino
final, o hormônio se liga a um receptor na superfície dela.
Os tais desreguladores endócrinos possuem uma
estrutura química parecida com a de alguns hormônios. Com isso, enganam as
células e conseguem se encaixar perfeitamente em seus receptores.
Esses químicos
se grudam aos receptores e estragam essa espécie de fechadura. Com isso, os
hormônios de verdade não podem mais se conectara célula destinatária.
Aí, a
comunicação fica bagunçada e abre alas a diversos distúrbios (na tireoide, nos
testículos...).
1. Revista Saúde É Vital. Site Mdemulher.com
Postado por Dharmadhannya
Este texto está livre para divulgação desde que seja citada a fonte:
dharmadhannyael.blogspot.com.br
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