FORCA DO ESPÍRITO VERSUS ESPÍRITO DA FORÇA
HUMBERTO ROHDEN
“Toda atitude negativa ou todo pensamento negativo é
uma gestante que leva no seio um embrião feito à sua imagem e semelhança, e,
cedo ou tarde, dará à luz uma nova prole de caráter negativo — perpetuando
assim a interminável cadeia de males.
O homem profano está sempre disposto a fixar os olhos
nos seus fracassos, na falta de resultados imediatos; impressiona-se sempre
com os negativos da vida, esquecendo-se dos positivos.
Os seus
pensamentos e as suas conversas giram em torno dos males que sofreu ou receia
sofrer, e fecha os olhos para os bens reais de que sua vida está repleta.
Ignora que o “mal” não consiste em alguma realidade, mas que é simplesmente a
ausência do real, que é o “bem”.
Que é treva senão ausência de luz?
Que é moléstia senão ausência de saúde?
Que é morte senão ausência de vida?
Que é pecado senão ausência de santidade?
O profano, vítima de ignorância, procura debelar os
negativos da vida, os males, atacando-os diretamente, de frente — o que é tão
absurdo como querer afugentar as trevas de uma sala espancando-as com paus ou
ferros, tentando matá-las com espadas ou lanças.
Sendo que a treva não é senão a ausência da luz, o único
meio de acabar com a escuridão é substituí-la pelo, oposto, suplantar a
ausência pela presença da luz — e lá se foram as trevas! porquanto o negativo é
incompatível com o positivo.
Da mesma forma, ninguém pode expulsar a moléstia de
outro modo que não seja pela substituição da saúde, ninguém pode expulsar a
solidão de outro modo que não seja pela
substituição do amor, como ninguém pode abolir o pecado senão pela introdução
da santidade.
Semelhante atrai semelhante — é esta a homeopatia do
espírito, é esta a lei eterna e universal que rege o macrocosmo lá fora e o
microcosmo cá dentro da mente microcósmica.
Quem vive habitualmente num clima mórbido de
negatividade — temor, ódio, rancor, ressentimento, pessimismo, tristeza,
desânimo, espírito de crítica e desclaridade prepara o terreno para novas
negatividades e derrotas em série.
O único meio de melhorar o mundo e a vida humana é
assumir e manter invariável atitude positiva — altruísmo, amor, benevolência,
alegria, confiança, espírito de caridade e conciliação, atmosfera de harmonia
e bem-querença
— porque o
positivo atual cria os positivos potenciais, e estes, quando devidamente
maturados, geram novas positividades, criando epopeias de bem- estar e
felicidade.
O Sermão da Montanha é a Carta Magna da positividade,
ou seja, do realismo do mundo espiritual. É a mais gloriosa proclamação da
força do espírito sobre o espírito da força.
O profano,
devido a sua atitude negativista, confia no espírito da força, da violência
física — e descrê da força do espírito; o iniciado, porém, sabe que toda
violência é atestado de fraqueza, e que a mansidão é força e poder.
Os filhos das
trevas, devido a seu “analfabetismo”, esperam resultados positivos de meios
negativos — paus, pedras, ferros, espadas, lanças, espingardas, canhões,
metralhadoras, navios de guerra, torpedos, bombas atômicas, etc. — ao passo que
os filhos da luz, graças à sua excelsa sabedoria, abstêm- se de toda violência
bruta, porque lhe conhecem a fraqueza, e lançam mão da invencível potência dos
fatores espirituais, sintetizados no amor.
Cristo, Francisco de Assis, Tostai, Mahatma Gandhi, e
tantos outros iniciados, eram mestres nessa Universidade Espiritual.
Não resistir ao maligno, pagar o mal com o bem, estar
disposto a antes sofrer mil injúrias do que cometer uma só, preferir morrer a
matar — tudo isto, que ao profano parece tão ineficiente e imprático, embora
perdoável a um “idealista”, é para o iniciado supremo realismo, filosofia
sumamente prática, o caminho único para a felicidade individual e a harmonia
social da humanidade.
Com efeito, não existe na literatura mundial documento
de maior realismo do que o Sermão da Montanha.
O gênio que
tais palavras proferiu, como ecos da sua própria experiência, é comparável a um
médico insigne que não se contenta com a supressão dos sintomas externos duma
moléstia, como fazem os charlatães, mas vai diretamente à raiz do mal,
diagnosticando-o com infalível certeza e aplicando-lhe remédio radical.
O homem profano, porém, vítima do seu irrealismo
crônico, chama “idealismo” (com o que ele entende um irrealismo utópico) aquilo
que é infinitamente mais realista e real que todos os seus pretensos
“realismos”.
Existe um só processo infalível para acabar de vez com
todos os nossos inimigos — é amá-los como amigos.
Adicionar um negativo
a outro negativo não é aboli-lo, mas duplicá-lo: ou, em termos comuns, fazer, mal
a quem me fez mal é criar dois males em vez de um e aumentar a soma dos males
existentes no mundo;
é fazer o mundo de hoje pior do que era o mundo de
ontem. Deixar de pagar mal por mal, não aumenta os males existentes, mas também
não os diminui, porque continua a existir o mal do meu malfeito.
Mas, pagar bem
por mal é cancelar com um positivo um negativo; quem assim
procede faz o mundo de hoje consideravelmente melhor do que o mundo de ontem.
Em última análise, o que o iniciado sabe intuitivamente
é absolutamente lógico e racional. Pode-se afirmar que o místico é o único
homem integralmente lógico e 100% racional — embora os profanos o considerem
exatamente o contrário.
Em Deus, do
eterno Logos, se abraçam em fraternal amplexo a Lógica e a Mística, a Razão e a
Revelação.
Reduzida a termos mais simples, poderíamos representar
a matemática do Sermão da Montanha do seguinte modo:
a)
(— 1) + (— 1) — — 2 (pagar mal
por mal,'
equivale a dois males)
b)
(—1) + (0) = —1 (deixar de pagar
mal por mal, equivale a um mal)
c)
(-1) + (+1) = 0 (pagar bem por
mal, equivale a zero mal)
No item “c” está a quintessência do cristianismo e a
salvação da humanidade.
J
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O homem profano procura dar cabo de seus inimigos matando-os, porque,
lá no seu primitivo analfabetismo, ignora por completo a grande lei cósmica
que ódio gera ódio, violência produz violência, negativo cria negativo,
perpetuando e aumentando assim a interminável cadeia dos males, algemando cada
vez mais o malfeitor que procura libertar-se do mal multiplicando os males.
É como a
monstruosa hidra da antiga mitologia: toda. vez que Hércules lhe decepava uma
das numerosas cabeças, nasciam duas novas em lugar da antiga.
O malfeitor, na
sua deplorável cegueira, não compreende que o mal que ele inflige aos outros é
um mal muito maior para ele mesmo, porquanto, para os que sofrem, o mal
é apenas um mal externo, mas para quem produz, o mal é um mal interno.
O objeto
do malefício é atingido apenas extrinsecamente, ao passo que o sujeito
do mal, o malfeitor, é ferido intrinsecamente.
Sofrer uma injúria não me faz pior, mas fazer injúria
me faz pior, diminui o meu valor interno, degrada a íntima essência da minha
personalidade humana.
Se os homens compreendessem esta simples verdade e
vivessem de acordo com essa compreensão, seria mudada a face da terra.
O melhor meio para perpetuar indefinidamente os nossos
inimigos é sermos-lhes inimigos — o meio mais seguro e único de acabar com eles
é sermos-lhes amigos.
Quem deita óleo no fogo para o apagar aumenta- lhe a
força; quem se abstém de lhe deitar óleo não o apaga, mas permite que continue;
mas quem lhe deita água extingue-o instantaneamente.
De uma só coisa necessita a humanidade: de homens
perfeitamente realistas, tão realistas como o autor do Sermão da Montanha.
SÓ PODE CONDUZIR QUEM É CONDUZIDO
Verdadeiro guia e condutor da humanidade só é aquele
que é guiado e conduzido por Deus, o homem que dele recebeu uma missão para a
humanidade.
Isto é, só o homem que recebeu um poder real “de
cima”, e não aquele que se arroga um poder fictício e se arvora em soberano e
ditador de seus semelhantes.
Os verdadeiros condutores do gênero humano são homens
empolgados por uma invisível e irresistível Potência, homens que emergem de
horizontes longínquos, de uma ilimitada vastidão e insondável profundidade; homens
nos quais opera a magia das forças cósmicas, ou seja, do espírito de Deus.
É possível que esses homens ignorem a força que os
conduz e impele, que não tenham noção clara do soberano que os usa como seus
instrumentos e servos — também, quem podia definir analiticamente o Grande
Anônimo de mil nomes?...
O que é certo, todavia, é que esses homens-mistério se
acham penetrados e totalmente permeiados daquele elemento sobre-humano que os
empolga e que se lhes torna cônscio de formas várias — talvez na consciência
nítida duma grande Responsabilidade, ou como a Verdade, o Dever, o Sacrifício,
a Imolação, o Devotamento a uma grande causa, ou como a arrebatadora potência
de um Amor sem limites. . .
É em torno desses homens onerados de uma grande
missão, esses homens cujo pequeno Eu humano foi totalmente absorvido pelo
grande Tu divino — é em torno desses poucos que gravitam os muitos que necessitam
de firmeza e de guia, porque esses homens sabem o caminho que muitos ignoram;
e, indiferentes
a vivas e morras, a louvores e impropérios, seguem esse caminho com a
imperturbável segurança e dinâmica tranquilidade das magnas torrentes, na sua
vasta e taciturna jornada rumo ao oceano, recebendo de ambos os lados os
pequenos e grandes afluentes que nelas se afundam. .
Esses homens divinamente guiados jamais impõem a sua
vontade individual â pessoa alguma, porque votam imenso respeito e sagrada
reverência à liberdade de todo ser humano, cientes como estão da confiança que
necessitam de seus guiados;
mas, como são
canais abertos por onde fluem as impetuosas torrentes da Divindade, é
inevitável que, querendo ou não querendo, se tornem centros de gravitação no
seio de vastos sistemas planetários que, espontaneamente, giram em torno
desses sóis do universo humano.
São esses os verdadeiros guias e condutores da
humanidade, porque humildes e dóceis servos nas mãos do Onipotente.
Só quem é por Deus conduzido pode ser um condutor de
homens.
Quem é conduzido pelo Ego individual é um “guia cego”,
e, por isto mesmo, um sedutor em vez de um condutor. ~
Um guia assim, divinamente guiado, era aquele homem de
Nazaré, em torno do qual gravitam, através dos séculos e milênios, os melhores
dentre os filhos dos homens. . .
Havia largos anos que Thomas Edison trabalhava para
crear a lâmpada elétrica de filamentos, que hoje nos parece algo tão natural e
simples.
Depois de haver
realizado, neste sentido, setecentos experimentos diversos sem nenhum
resultado satisfatório, disseram-lhe alguns dos seus colaboradores
profissionais: “Ê tempo perdido, sr. Edison! Fizemos setecentos experimentos de
todas as espécies, e não adiantamos um passo — não sabemos nada!”
— O quê? — exclamou o grande inventor — Não adiantamos
um passo? não sabemos nada? Conhecemos setecentas coisas que não dão certo — e
isto vocês chamam “nada”? Estamos mais próximos da verdade por setecentos
passos do que dois anos atrás — e isto vocês consideram tempo perdido?
Edison continuou a pesquisar com imperturbável
perseverança e os fatos provam que o grande gênio tinha razão.
O mesmo acontece no terreno espiritual.
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