A Segurança da Empatia na sua vida e na vida da criança.
Bruce está mal-humorado e sua mãe diz:
“Vá para o seu quarto, até que possa ser agradável aos outros.” Ela lhe permite
que fique irritado, mas evidentemente não o quer por perto nessas condições. Em
suma, ela deixa claro que o seu mau humor é um convite à rejeição.
As emoções negativas fortes criam tensão
interior; no entanto, muitas vezes recusamos a ajuda construtiva quando as
crianças mais necessitam dela. Dizemos que queremos a confiança de nossos
filhos, mas nossas reações, muitas vezes, os afastam. E se não podemos aceitar
os sentimentos de uma criança, também ela aprende a rejeitá-los.
Necessidade de empatia
Pense, por um momento, em você mesmo.
Quando você comunica um sentimento não quer ser desaprovado ou encontrar razões
que o façam negar o que sente. Você quer ser ouvido com compreensão. Quando
você espera ser compreendido, sente-se seguro para falar.
Imagine por um momento que está
profundamente preocupado com uma operação a que sua filha deverá se submeter
proximamente. e conta suas preocupações a uma amiga.
Se ela responde: “Ora, não se preocupe. Tenho
certeza de que tudo correrá bem”, você dificilmente se sentirá compreendido.
Essa tentativa de tranquilizá-lo não representa absolutamente nada. Muito
provavelmente, você pensará:
“Grande ajuda dizer isso. Aposto que ela
nunca teve uma filha que precisasse ser operada.”
Mas suponhamos que, em lugar disso, ela
tivesse dito com ênfase:
“Meu Deus, são dias de preocupação para você!”
Essas palavras e esse tom mostram que ela compreende como você está se sentindo
no momento. Você não expressa seus
receios para que lhe digam que são infundados;
você quer compreensão para diminuir o
peso da preocupação. Sofrer sozinho é sempre mais difícil do que saber que os
outros “estão” com você. A compreensão humana provoca conforto e segurança e
vence a distância da alienação.
O que é a empatia
Há uma palavra especial para esse tipo
de compreensão que todos desejamos. E empatia. Algumas pessoas confundem
simpatia com empatia.
Mas a primeira expressa uma atitude de Ah,
coitadinha de você!”. Embora em certas ocasiões possamos necessitar de piedade,
esta nunca pode ser tão útil quanto a verdadeira compreensão.
A empatia é ser compreendido de acordo
com nosso ponto de vista.
Significa que outra pessoa entra em
nosso mundo e mostra que compreende nossos sentimentos, refletindo de volta a
nossa mensagem. Ela deixa, temporariamente, o seu mundo para estar conosco em
todas as sutilezas de significados que uma determinada situação tem para nós.
Como Cari Rogers observou, a pessoa empática
está conosco, não para concordar ou discordar, mas para compreender sem
julgamento.
Nós nos comunicamos com os outros,
normalmente, por dois caminhos: as palavras e a expressão corporal. Em geral,
as palavras contêm os fatos, enquanto nossos músculos e tons revelam nossos
sentimentos em relação a esses fatos.
O
significado total de nossas mensagens está combinado e nossa esperança é que as
outras pessoas compreendam integralmente. Mas essa compreensão se baseia no
seguinte:
as atitudes e sentimentos são mais
importantes do que os fatos.
Quando seu filho conversa com você, só
encontrará um entendimento autêntico se você lhe refletir de volta a totalidade
do seu significado. Se, por exemplo, Ted se deixa cair na poltrona da sala de
estar e diz, num tom desanimado: “Finalmente terminei aquele trabalho da
escola”, suas palavras indicam que o projeto foi completado.
Mas seu tom e sua postura revelam como
ele se sentiu a respeito: está deprimido e desanimado.
Se o pai de Ted responde apenas às
palavras do filho, reflete de volta apenas o conteúdo ao dizer:
“Bem, você terminou o trabalho.” Ao ouvir suas
palavras repetidas como por um papagaio, Ted sente que foi ouvido num nível,
mas certamente não se sente compreendido em termos do que aquela experiência
significa para ele.
Seus sentimentos com relação ao projeto
são consideravelmente mais importantes do que o significado literal de suas
palavras. Mas a resposta do pai deixa os sentimentos de Ted intocados.
Se, porém, o pai de Ted ouvir a mensagem
total de seu filho, será sensível tanto à mensagem verbal quanto à não-verbal.
Demonstrará sua compreensão se disser: ‘Embora esteja terminado, você está
completamente desanimado”. Nesse caso, ele capta todo o conteúdo do mundo de
Ted; seu filho, por sua vez, sente o calor da compreensão humana.
Quando você é empático, não procura
mudar os sentimentos da criança. Simplesmente tenta aprender como ela sente a
parte do elefante, por assim dizer.
Você não procura ver porque ela sente dessa
maneira, apenas tenta perceber todas as nuances de seus sentimentos naquele
momento. Você consegue ver como a criança vê, sentir como a criança sente.
A empatia é o quinto ingrediente da
segurança psicológica.
Como o homem é um ser social, ele
procura superar a solidão criando a intimidade psicológica. Para isso, porém,
ele deve saber que será ouvido empaticamente.
Os seres humanos são criaturas sensíveis
e para que tenham um respeito próprio autêntico precisam que seus sentimentos
sejam aceitos e compreendidos.
Como parte do processo de socialização,
a criança aprende que nem todos os sentimentos podem ser transformados em
ações.
Mas aprender que pode revelar suas
reações íntimas, e que as pessoas importantes na sua vida compreenderão, ajuda
a criança a aceitar aquilo que realmente é — um ser humano, com todos os tipos
de emoções.
Você já pensou que pode conhecer todas
as estatísticas e todos os fatos relacionados com uma criança, e ainda assim
não a conhecer realmente — ou seja, como pessoa — enquanto não compreender o
ponto de vista dela?
Você não a conhece enquanto não
compreende a maneira que ela tem de organizar pessoalmente o que lhe acontece.
Você não pode conhecê-la enquanto não penetrar no seu mundo interior, privado.
E na arena dos sentimentos que os seres
humanos vivem, respiram e morrem psicologicamente. Quando fechamos a porta aos
sentimentos, tornamos impossível a vida, o crescimento e a essência da
individualidade. Quando fechamos a porta ao entendimento empático, acabamos com
a intimidade, a segurança e o amor.
Vejamos uma situação típica tratada
primeiro de maneira a enfraquecer a segurança e, em seguida, de maneira a
estimulá-la:
Karen, uma menina de três anos, fica com
medo do barulho supersônico de um avião e corre chorando para a mãe.
Reação típica:
Sua mãe diz: “Ora, minha filha, é apenas
um barulho supersônico feito por um avião. Você não precisa ter medo.”
Essa tentativa de tranquilizar a criança
diz, em essência: ‘Não tenha esse sentimento de medo. Não há necessidade de ter
medo do barulho dos aviões.” Evidentemente a mãe de Karen tenta acabar com o
medo por meio de uma explicação lógica.
Mas os barulhos muito fortes são
realmente assustadores para as crianças pequenas, qualquer que seja a sua
causa. A lógica acaba com a empatia. E Karen não se sente compreendida. As
explicações são mais úteis depois de ter-se lidado com os sentimentos. No
momento dos sentimentos fortes, a primeira necessidade é de compreensão. As
explicações devem ficar para depois.
Reação empática:
- A mãe de Karen abraça a filha e diz:
‘Meu Deus,foi um barulhão. E terrível!”
Nesse breve momento, a mãe de Karen
entra no mundo atemorizado da filha e mostra que a compreende. A resposta
empática diz a Karen, primeiro: “Mamãe está comigo; ela sabe como me sinto”.
Quando a criança sabe que seu medo é compreendido, ela é mais capaz de ouvir a
razão lógica para esse som.
A empatia é ouvir com o coração e não
com a cabeça. Se a resposta empática é dita em tom frio, neutro, a criança não
se sente compreendida.
Você provavelmente já relatou urna
experiência a outra pessoa, que respondeu muito naturalmente: “E, deve ter sido
difícil.” Você não se sentiu compreendido. Se, por outro lado, essa pessoa
disser:
“E, deve ter sido difícil!”, como se
realmente pensasse assim (seu tom e a expressão de seu rosto lhe mostra que ela
realmente “está” com você, então você se sente compreendido.
O
tom de voz e os músculos indicam se a outra pessoa entrou no seu mundo com
compaixão e compreensão, ou se simplesmente disse alguma coisa. Os tons dão as
chaves quanto à sinceridade do entendimento. (Voltaremos ao assunto no Capítulo
14).
Pré-requisitos para a empatia
A verdadeira empatia é o casamento das
atitudes com a habilidade. Esta última implica a capacidade de se penetrar no
mundo da outra pessoa com compreensão. O pai ou a mãe, que se sente
relativamente tranquilo no íntimo, tem
mais facilidade para entrar no mundo de seu filho do que se estivesse envolvido
em conflitos intensos.
“Eu mal consigo ouvir meus filhos”, diz
o sr. G., “porque há tanto barulho dentro de mim. Todas as vezes que falam
comigo, eu fico envolvido com minhas próprias reações íntimas.” Esse pai deve
controlar as suas emoções antes, para poder ser realmente empático com seus
filhos. Ele precisa ser capaz de soltar os seus próprios sentimentos para estar
com os filhos.
A empatia vem mais facilmente quando
somos sensíveis aos tons de voz e às inflexões, às posturas corporais, aos
gestos e às expressões faciais. Muitas pessoas não prestam atenção a esses
indícios; não estão habituadas à expressão não-verbal. Mas o psicólogo Albert
Mehrabian afirma que apenas 7% de uma mensagem é transmitida pelas palavras,
enquanto o resto é expresso pelo tom e pelos músculos.
A sensibilidade à expressão corporal é
essencial à empatia. Ela pode ser aumentada pela prática e pelo esforço. A sua
possibilidade de ser empático é afetada pela sua atitude oi seja, pelo papel
que você desempenha como pai ou mãe.
A
empatia vem mais facilmente quando esse papel é visto como o de um estimulador,
com uma grande margem de confiança na capacidade de auto- direção de seu filho.
A empatia é mais difícil quando você acredita que deve dirigir e guiar os
filhos; quando você acha que sempre sabe mais.
Com muita frequência, em lugar de tentar
compreender, nós argumentamos, ou ralhamos, ou pressionamos para que as
crianças organizem suas reações tal como nós mesmos teríamos feito se
estivéssemos no lugar delas.
Mas a questão é que nós não somos os
nossos filhos. Eles têm as suas próprias maneiras de organizar as experiências e
essa individualidade deve ser respeitada. Uma atitude que tolera as diferenças
e respeita a integridade da outra pessoa torna mais fácil a empatia.
Finalmente, a sua atitude para com as
emoções, em geral, é muito importante. Se você tem medo delas, será difícil,
talvez impossível, ser totalmente empático. A empatia implica em ouvir e
aceitar os sentimentos como realidades autênticas e não como “tolices”. Ser
sincero com os seus próprios sentimentos e recusar a julgá-los, ajudará você a
dar segurança empática aos seus filhos.
Vantagens da empatia
A empatia é uma prova vigorosa de
interesse. Quando você deixa de lado, temporariamente, o seu ponto de vista
para estar com seu filho, você demonstra um respeito fundamental por ele,
tratando-o como um indivíduo à parte, cujo ponto de vista pessoal tem
importância.
A empatia diz: “A maneira pela qual você
vê as coisas é importante para mim. Vale o meu tempo e esforço para estar com
você em seus sentimentos. Eu realmente quero compreender como você é, porque eu
me importo.”
A empatia permite que seu filho se
considere um comunicador competente. Ele aprende que pode comunicar-se com as
pessoas que lhe são importantes. E o sucesso na comunicação é importante para o
respeito próprio.
A
empatia tem importância fundamental para que as linhas de comunicação fiquem
abertas. As crianças deixam de falar quando se sentem sempre incompreendidas.
Um dos padrões encontrados nos lares de
crianças dotadas de elevada auto-estima é uma grande dose de conversa
espontânea e despreocupada.
Essas crianças se sentem seguras para
expressar sentimentos e opiniões. Embora as outras pessoas nem sempre concordem
com elas, suas opiniões pessoais são respeitadas. Nada interrompe mais uma
conversa do que o conhecimento de que as nossas opiniões não serão respeitadas
ou compreendidas.
Não há dúvida de que a empatia comunica
o amor.
Ela estimula a proximidade tema, a
intimidade e elimina a solidão. Assim como a empatia aproxima seu filho de
você, também aproxima você dele.
Quando nos colocamos no lugar de outra pessoa,
quando realmente conseguimos captar o seu ponto de vista, repentinamente
acontece algo: o comportamento dessa pessoa passa a ter sentido. E, então, é
difícil ficar com raiva ou aborrecido.
A empatia ajuda a colocar o julgamento
de lado.
O relato da sra. N. é um exemplo vivo do
papel da empatia na criação da intimidade e na libertação dos pais quanto aos
julgamentos irritados.
“Gladys estava sempre implicando com a irmã
mais nova, que tem muito mais força do que ela. Procurei ressaltar suas
qualidades e compreender, mas ela não se modificou.
Quando a estava colocando na cama, certa
noite, ela começou a queixar-se novamente da irmã e tentei ouvi-la com toda a
minha compreensão. Logo depois, ela começou a falar dos companheiros de
escola.”
“Mamãe”, disse ela, “na escola é como
aqui em casa. Todas as outras crianças são mais fortes do que eu em quase tudo
lo que era verdade] e sempre vencem.
Eu sou a última. Elas são melhores até com as
palavras. O que elas dizem às vezes me magoa tanto, que fico sufocada e não
consigo dizer nada.”
‘Enquanto ela falava, percebi como era o
seu mundo e isso partiu o meu coração. Em toda parte ela estava com crianças
que se sentiam superiores a ela. Imediatamente a sua implicância com Anne
passou a ter sentido.
Em casa, era o único lugar onde tinha uma
possibilidade de igualar a situação. Não era de espantar que fosse incansável.
Quando pude realmente compreender, não tive raiva. Senti apenas compaixão e
carinho e resolvi tomar algumas medidas para lhe dar maior espaço para
respirar.”
Incompreendida, a criança se sente posta
de lado e a intimidade desaparece. Elas concluem que “Meus pais não
compreendem. Eles não se importam— talvez eu não seja digna de que se
importem”. Ao contrário, sempre que alguém, criança ou adulto, se sente
profundamente compreendido, sente-se também amado, pois
a
compreensão é a linguagem do amor.
A segurança nunca é completa se não
houver empatia entre pais e filhos, embora o entendimento contínuo não seja
essencial.
O entendimento periódico, porém, permite
à criança dizer: “Pelo menos em algumas ocasiões meus pais compreendem o que é
ser como sou.”
Verifique a sua atitude em relação a
esta questão importante:
Através de que olhos você vê? Se você
verificar que habitualmente vê
apenas o seu ponto de vista,
provavelmente não estará dando aos seus
filhos o amor necessário.
Se pelo menos, ocasionalmente, você pode
ver o mundo de acordo com o ponto de vista deles, é mais provável que seu amor
se evidencie. Lembre-se dos cegos e do elefante. Não diga ao seu filho que você
compreende: mostre isso pela empatia, se coloque no lugar dele. Assim, você estará
provando seu amor".
Pesquisado por Dharmadhannyael
O texto está liberado para divulgação desde que seja citado a fonte:
http://dharmadhannyael.blogspot.com.br/2013/09/a-seguranca-da-empatia-na-sua-vida-e-na.html
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