segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Meditação - A Mais alta Vontade de Deus




A Mais  alta Vontade de Deus 

 “Quando uma pessoa dirige sua mente para alguma coisa, sua essência retorna para ela (...) Conforme a força de sua concentração, ela poderá então transmitir poder mediante seu desejo (...)

 “Quando não houver outro pensamento ou desejo misturado com sua concentração, ela pode tornar-se tão poderosa, que poderá transmitir uma influencia do Infinito (En Sof)”. O texto nos diz que enfocar a vontade com poder suficiente para elevar um objeto de desejo ao infinito, torna-se um canal pelo qual uma influência recíproca do infinito pode ser transmitida, e com poder de atender a esse desejo.

O passo seguinte, e o mais importante, desse processo espiritual distingue verdadeiramente a prática do mestre:

Um indivíduo ascende assim com o poder de sua concentração de uma coisa para a próxima, até atingir o infinito (En Sof).

Ele precisa, então, dirigir sua concentração da maneira apropriada para aperfeiçoá-la, e assim a Mais Alta Vontade poderá envolver a dele, e não apenas que sua vontade possa ser envolvida na Mais Alta Vontade (...)

A Mais Alta Vontade e a menor estarão assim unificadas. O indivíduo identifica a si mesmo com a sua ligação à Unidade. O influxo divino pode então ser transmitido com o objetivo de aperfeiçoá-lo.
O desejo mais baixo não é perfeito quando o indivíduo busca suas próprias necessidades. Preferencialmente, ele precisa avizinhar-se enquanto está envolvido na vontade e desejo de obter a revelação oculta no Mistério velado.

Quando alguém se aproxima dessa maneira, da Mais Alta Vontade faz-se presente junto a ele. Isso aumenta seu poder e motiva sua vontade até que tenha conseguido qualquer coisa que seja.

Esta vontade inclui até mesmo coisas que esse alguém deseja para si mesmo, nas quais a Mais Alta Vontade não tem qualquer participação.

Enquanto a maior parte dos ensinamentos espirituais é dirigida somente para a consecução da união divina na qual o indivíduo será envolvido na Mais Alta Vontade, a prática que é ensinada aqui retém e então dirige a vontade do mestre para “que a Mais Alta Vontade envolva-se na sua”.

Em vez de dissolver sua vontade no êxtase do infinito, o aspirante ao mestrado espiritual é ensinado a aperfeiçoar sua vontade ligando-se a essa unificação com a vontade mais alta, não como uma consumação final, mas “para obter a revelação do que está oculto no Mistério velado”.

Como o trabalho conclui a seguir: “Esse é um dos caminhos da profecia. Alguém que se acostuma a ele será merecedor de atingir o nível profético”. O mestre é alguém cujas palavras e obras “revelam a identificação” de um indivíduo com o poder divino, e seu propósito é aperfeiçoar-se como um instrumento da revelação divina.

 Tal instrumento “pode conseguir qualquer coisa”, mas apenas enquanto não usar seu poder de concentração “para suas próprias necessidades”.


Ainda, se sua vontade é convenientemente dirigida para a revelação da Mais Alta Vontade trabalhando por meio de todas as suas palavras e obras, seus desejos pessoais purificados também serão atendidos e seus atos, reconhecidos.

 O mestre é alguém que pode realizar milagres pelo poder de sua concentração. Abulafia também fala do “mistério da verdadeira disciplina, pela qual as leis da natureza podem ser alteradas”.

Para Abulafia  o mistério dessa verdadeira disciplina envolve três coisas: um processo de harmonização que pode iniciar o influxo divino, seguido por um processo empregando palavras e símbolos visuais — influxo, símbolos e palavras.

Define esses três elementos da meditação do mestre e relaciona-os à descrição talmúdica da prática espiritual dos antigos hassidim na Mishna, Berakhot 5, 1:

O indivíduo precisa estar “vestido” no espírito (Ruach), expressando sua concentração com palavras e realizando um ato simbólico.
De  acordo como ele faz isso, o fluxo  será transmitido de potencial para potencial, de cansa para causa, até que o resultado esteja realizado conforme seu desejo.

Era dessa maneira que os antigos [santos] demoravam uma hora antes de rezar. Durante esse período, eles dissipavam todos os pensamentos, fixando-se nos caminhos de sua concentração e no poder de seu direcionamento.

Depois, eles passavam uma hora em prece, expressando verbalmente sua concentração em palavras. Finalmente, ficava,,!, uma hora depois (te suas preces, contemplando como o poder de sua concentração verbalmente expressa poderia trazer um  efeito visível”.

A sentença com a qual essa referência começa define os três elementos essenciais da meditação de transformação. Para mudar o curso de eventos ou “alterar as leis da natureza”, o mestre precisa sentir-se envolvido pelo espírito e focar esse espírito com palavras, enquanto “realiza um ato simbólico”.

 O significado dessa última frase parece sugerir o uso da imaginação para simbolizar os resultados desejados visualmente.

Dependendo do poder que ele for capaz de focar seu espírito por meio de palavras e símbolos visuais, “o influxo será transmitido de potencial para potencial, de causa para causa, até que o resultado esteja realizado conforme seu desejo”.
 Disso parece claro que o Mestre Ruach pode alterar os efeitos da causalidade despertando certas potencialidades que de outra forma ficariam dormentes mesmo que disponíveis no reino das possibilidades.

 Seu poder envolve uma maestria da quinta dimensão da Providência, uma dimensão que influencia a aparente imprevisibilidade de eventos que tragam um resultado desejado, consistente com a justiça e que podem ser trabalhados por meio das possibilidades improváveis nos limites máximos da curva da probabilidade.

No primeiro parágrafo do texto referenciado, os três elementos parecem ser simultâneos. Com um espírito apropriadamente harmonizado, o mestre visualiza um resultado desejado e decreta sua manifestação com palavras como “Deixe estar...”

 Mas a referência às três horas de prática meditativa dos antigos hassidim, aludindo em parte ao Talmude, em relação aos três elementos do processo em três estágios, parece acrescentar um degrau.

 Aqui a visualização não acompanha as afirmações verbais, mas aparece em resposta a uma prece verbalizada, como uma resposta simbólica a uma questão e guiando para ações futuras.

 Como o Sha’ar haKavanah começa com instruções de visualização da luz, concluímos que ele também entende que o primeiro estágio do processo. pelo qual os hassidim ficavam uma hora fixando os caminhos de sua concentração envolvia o enfoque da imaginação em um propósito específico.

 Parece, então, que há duas visualizações separadas. A primeira, a visualização de um problema independentemente se é interno ou externo, que impede a perfeição espiritual, uma remessa verbal desse problema ao infinito;

 e uma segunda revisualização da solução transmitida que precisa ser interpretada para adquirir potência, como afirmado anteriormente por Abulafia.

 Ele tinha apresentado também sua visualização inicial de Deus e seus anjos como uma ajuda para a recepção da mensagem divina, que poderia chegar por meio do que “o coração imagina”, isto é como uma segunda visualização.

Os mestres da meditação kabbalística, cujos trabalhos examinamos, transmitem o mesmo entendimento essencial de meditação como uma disciplina adequada não exclusivamente para a purificação espiritual com o propósito da eterna união com Deus, mas com o propósito de canalizar a energia divina para o reino humano como uma maneira de aperfeiçoá-lo.

 Ela não é adequada para a dissolução da personalidade, mas à aquisição da personalidade transformada do mestre espiritual que nas palavras do Sha ‘ar ha-Kavanali, “pode conseguir qualquer coisa”.

Nesses textos clássicos sobre meditação kabbalística que estivemos examinando, a alma do meditador é sempre representada subindo, em algum estágio no processo, ao nível do infinito.

 Apesar de Abulafia não distinguir entre os níveis Ruach e Neshamah e incluir todos os níveis de meditação no Olam ha-Bah, é ainda verdade que algumas experiências e poderes descritos por ele e por outros vão para além do nível do quinto mundo do Olam ha-Tikun, aquele do verdadeiro Olam ha-Bah.

Mais tarde, entenderemos completamente que o poder final de Ruach só pode ser utilizado por um mestre Neshamah, e, provavelmente, só um mestre dessa categoria poderá despertar os miraculosos efeitos de todo o sistema Ruach.

 No entanto, pareceria que os efeitos miraculosos de tal mestre seriam executados mais por mecanismos do quinto mundo do que do sexto.

 Como o Messias precisa se unir a uma comunidade pronta para liberar seus mais altos poderes, assim também precisa o mestre Neshamah, que deve trazer um novo processo histórico, vestindo a Mais Alta Vontade e revisualizando os efeitos desejados com sua imaginação Ruach.

 Porém, o mecanismo da consciência Ruach não demanda desenvolvimento espiritual muito alto e é suficiente para expressar ao menos as manifestações mais baixas da vontade do Mestre Ruach.

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