(por Cristine Gentil, editora de Cidades, da Revista do Correio e blogueira Mais Bichos)
Quando eu viajo o apetite dele muda. Sente saudades. Começa a sentir quando vê a mala no chão do quarto, mesmo ainda vazia. Sim, cachorro sente o que vai sentir. Então, ele deixa o queixo, pesado de tanta bochecha, cair em cima do meu pé, franze o senho em sinal de sofrimento, dá um longo suspiro e volta os olhos para cima vencendo com esforço as pálpebras caídas. Aí ele abala meu coração. Sem dó nem piedade. É uma faca cortante, admito que também sofro. Menos com a minha saudade e mais com a dele, é verdade.
Logo percebo que a chantagem não é privilégio dos humanos e sei que ele sobreviverá à minha ausência – se até os filhos conseguem… Quando eu voltar, ele vai me olhar meio magoado, mas logo vai sacudir aquele rabinho curto e gordo. Em instantes, estará tão alegre que vai correr na minha frente e se jogar de barriga pra cima à espera de carinho.