domingo, 28 de julho de 2019

Endometriose



Endometriose - sintomas causas e tratamentos 
 Ginecologista e obstetra Rosa Maria Neme

Fortes cólicas menstruais, fluxo irregular e intenso, dores durante a relação sexual e infertilidade são os principais sintomas de uma doença cujo o tempo médio para ser diagnosticada pode chegar a 10 anos. 
A endometriose, como é chamada, atinge cerca de 175 milhões de mulheres ao redor do mundo, o que corresponde a 10 ou 15% das que estão em idade reprodutiva.
Para a ginecologista e obstetra Rosa Maria Neme, diretora do primeiro centro de endometriose do Brasil, a informação é a chave para agilizar o diagnóstico e diminuir o sofrimento das pacientes que, só no Brasil, chegam a somar 8 milhões. 
“A doença é comum, mas poucas pessoas, inclusive da classe médica, conhecem e sabem identificá-la e tratá-la corretamente”, afirma Neme.
Pensando nisso, a especialista publicou em dezembro de 2018 o livro Endometriose: Tudo O Que Você Precisa Saber Sobre Essa Doença Misteriosa (Oficina de Conteúdo, 144 páginas, R$ 59,90), que reúne em uma linguagem acessível as principais descobertas e informações sobre a doença. Saiba mais:
O que é a endometriose?

A endometriose é caracterizada pela presença de células do endométrio (tecido vascularizado que reveste o interior do útero e é expelido durante a menstruação) em outras parte do corpo, como atrás do útero, nos ovários, no intestino ou até mesmo na bexiga. 

Casos raros em que a doença foi diagnosticada em órgãos mais afastados como os pulmões e o cérebro também já foram documentados. Os motivos por trás dessa viagem pelo corpo ainda estão sendo estudados pelos especialistas.
Mesmo estando fora do útero, o tecido endometrial mantém o seu comportamento: acompanhando as variações hormonais, “torna-se mais espesso durante o ciclo menstrual e sofre sangramento ao final dele”, escreve Neme.
 O sangramento não ocorre em todos os locais onde o endométrio se instala, mas, de qualquer forma, essas alterações podem provocar inflamações nos órgãos a longo prazo.
Sintomas

OUÇA SEU CORPO: CÓLICAS MENSTRUAIS OU NO MEIO DO CICLO MENSTRUAL PODEM INDICAR QUE ALGO NÃO VAI BEM. (FOTO: RAWPIXEL.COM/PEXELS)


Cada paciente experiencia a doença de uma forma diferente, mas alguns sintomas costumam ser mais comuns como a cólica durante a menstruação (que não é um sintoma decisivo, mas pode indicar que algo não vai bem), 


sangramentos anormais (fluxo intenso e irregular é comum em 10 a 15% das pacientes), cólicas no meio do ciclo menstrual e dispareunia (dor durante ou depois da relação sexual).

Entre 30 e 40% das portadoras de endometriose também podem apresentar dificuldade para engravidar — sendo que a doença está associada a cerca de 40 a 50% dos casos de infertilidade entre as mulheres.

Além disso, pesquisas indicam que mulheres com endometriose estão mais propensas a desenvolver doenças autoimunes, como hipotiroidismo, asma, fibromialgia, lúpus, entre outras.

CIENTISTAS AINDA ESTUDAM AS CAUSAS DA ENDOMETRIOSE

Segundo os cientistas, as causas da doença são diversas e podem estar relacionadas à genética e ao sistema imunológico. 
“Se a sua mãe ou a sua irmã foram diagnosticadas positivamente, seu risco é entre sete e dez vezes maior do que alguém que não é portador”, escreve Neme.
Algumas das causas genéticas estão ligadas aos altos níveis de aromatase (enzima que produz estrógeno, principal hormônio feminino) ou às mutações que fazem com que as células do endométrio não morram, mas se proliferem ou aglutinem em outros locais do corpo.
E é aí que entra o fator do sistema imunológico. A produção desregulada de algum tipo de célula imunológica pode comprometer o nosso sistema de defesa e permitir que células do endométrio se espalhem pelo corpo, desenvolvendo a endometriose.
Diagnóstico

DIAGNÓSTICO DA ENDOMETRIOSE PODE SER FEITO EM CINCO ETAPAS (FOTO: EVG/PEXELS)

Segundo Neme, a difiuldade em diagnosticar a doença se deve, em parte, ao descuido na avaliação dos sintomas por parte dos médicos.
 “Muitas vezes, o profissional não dá a devida atenção às reclamações da paciente e considera a dor menstrual e a dispareunia (dor durante o sexo) normais, quando, na verdade, são alguns dos principais sintomas da endometriose”, afirma a especialista.
Apesar de raro, há também casos em que a doença é assintomática e só é identificada quando a paciente encontra dificuldades ao tentar engravidar. 
“Exames superficiais e falta de especialistas são outros fatores que prejudicam o reconhecimento da endometriose”, acrescenta.
 “Além de tudo, essa falta de informação causa ainda mais ansiedade nas pacientes.”
De acordo com o livro recém-lançado, o diagnóstico adequado da doença pode ser feito em cinco etapas, começando pelo exame físico, que deve ser seguido por exames laboratoriais e de imagem. 
Após essas três avaliações, é feito o diagnóstico cirúrgico. Isso quer dizer que, através de uma laparoscopia, parte do tecido da endometriose será retirada como biópsia.
 Por fim, o médico poderá classificar o grau da doença de acordo com o sistema da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva.
Tratamentos
PÍLULAS ANTICONCEPCIONAIS E OUTRAS DROGAS PODEM FAZER PARTE DO TRATAMENTO DA ENDOMETRIOSE. (FOTO: JESHOOTS.COM/PEXELS)

“Para cada mulher há uma solução que a leva ao alívio da dor, à maternidade e a alcançar uma vida normal”, escreve Neme no início do livro. 
Sendo assim, cada paciente deve ser encaminhada a um tratamento diferente, que pode variar do hormonal ao cirúrgico.
Os principais métodos hormonais visam reduzir a excessiva quantidade de estrógeno no corpo — que é uma das principais causas da doença.
 Para isso, o tratamento pode “imitar uma gravidez”, ou seja, aumentar os níveis do hormônio contrário à ação do estrógeno, a progesterona (como acontece em uma gestação).
Outra abordagem é “imitar a menopausa”, em que a menstruação é temporariamente induzida a parar. Isso, entre outras reações, faz com que os ovários parem de produzir o estrógeno.
Em último caso, procedimentos cirúrgicos também são recomendados. 
Os mais comuns são a laparoscopia, responsável não só por comprovar a existência do foco de endometriose, mas também por eliminá-la;
 a cirurgia robótica, mais avançada e usada para retirar focos de difícil acesso; e a cirurgia radical, quando é necessário fazer a retirada de órgãos reprodutivos comprometidos pela doença.
Leia mais sobre a doença no livro Endometriose: Tudo O Que Você Precisa Saber Sobre Essa Doença Misteriosa (Oficina de Conteúdo, 144 páginas, R$ 59,90).
*Com edição de Thiago Tanji
https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2019

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