segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Amigos da Boa Idade se organizam


Gostei muito do texto, veja na sua cidade como os grupos da Boa idade estão se organizando. dharmadhannya

Grupos de idosos se organizam em busca de programação para se divertir e se movimentar
Pesquisa da Fiocruz conclui que manter o espírito jovem contribui para viver melhor

POR CAROLINA CALLEGARI / RODRIGO BERTHONE

Idosas curtem o day use no Americas Barra Hotel - Fernando Lemos / Agência O Globo

RIO - Não é por acaso que há quem chame a terceira idade de “melhor idade”. O amadurecimento pode trazer autoconfiança, autoestima e uma vontade extra de buscar o novo. Na região, grupos estreitam os laços de amizade, fortalecendo uns e formando outros, por meio de encontros que promovem uma vida mais ativa e feliz.

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Pode até parecer clichê. Mas manter o espírito jovem contribui para viver melhor. E isso é reforçado quando se está em boa companhia. É o que uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem constatado, num estudo iniciado há dois anos sobre envelhecimento e o modo como ele é encarado. O desdobramento deu origem ao grupo Envelhecendo em Comunidade, no Facebook, desmistificando pontos como a rejeição à tecnologia e o isolamento social por parte dos idosos. A comunidade on-line tem mais de 56 mil membros.

— O grupo oferece um novo nível de sociabilidade, a possibilidade de se ter amigos e trocar experiências — conta o pesquisador e professor de pós-dourado da Fiocruz Nilton Dahlis dos Santos. — Hoje vemos que muita gente aos 50 anos se considera velha. Essa é a fase em que começam a se isolar, embora biologicamente estejam em plena forma.

No Rio, os participantes decidiram sair do virtual para o real. A moradora de Jacarepaguá Luci Gomes é quem coordena o Grupo Rio — Envelhecendo em Comunidade, que tem aproximadamente 300 integrantes, e assumiu a tarefa de organizar os eventos. O primeiro foi em fevereiro, na Confeitaria Colombo, no Centro. Um dos cuidados foi a escolha de um local público e movimentado para deixar o grupo à vontade. A partir daí, eles não pararam mais. Com média de 25 pessoas, as reuniões passaram por São Cristóvão, Conservatória, Petrópolis, Ilha de Paquetá, Ilha da Gigoia, Parque Lage e Downtown, para receber O GLOBO-Barra.

— Tem quem trabalhe aos sábados e aos domingos não possa ir, para ficar com a família. Mas participa de um evento, depois de outro. Todos têm os mesmo objetivos: amizade, interação, troca — conta Luci.

Foi na internet que as vizinhas Rita Alonso, de 59 anos, e Vera Lúcia da Silva, de 61 anos, se conheceram. Descobriram que moram a uma esquina de distância. A nova amizade tem rendido uma agenda cheia para a dupla, disposta a passear por conta própria e aberta a receber quem quiser se juntar a elas.

— Eu moro sozinha, sou viúva e meu filho é adulto. Vi no grupo uma forma de ter amizades e companhia. Pela internet descobri que a Vera mora próximo. Agora, estamos sempre saindo — diz Rita.

Vera Lúcia compartilha a programação:

— Todas as quartas e sextas nós passeamos. Vamos a museus, bibliotecas, igrejas. Tem coisa que não é muito divulgada. Vamos procurando.

As mulheres dominam os eventos, marcados em diferentes áreas do Rio para contemplar cariocas de todos os bairros. Os homens sempre estão acompanhando uma das participantes, e são filhos, maridos ou netos, em geral. As atividades ainda se estendem a ações sociais e ao projeto de literatura “De livro não me livro”, que promove a troca de obras. A brincadeira é escolher um título e deixar uma mensagem para quem for pegá-lo.
Um brinde! Integrantes do Grupo +50 no day use do Américas Barra Hotel - Fernando Lemos / Fotos de Fernando Lemos

— As pessoas estão se sentindo sozinhas. As famílias hoje são menores. Às vezes, você quer fazer algo, mas falta companhia; não é todo mundo que gosta de viajar como fizemos, por exemplo — observa Claudia Landim, de 57 anos, que, segundo o grupo, fez sucesso no passeio.

A programação segue movimentada, e, a, quem interessar possa, os próximos encontros serão divulgados na página do Facebook.

O Grupo +50, um dos mais antigos na região, foi criado há cerca de 20 anos pela produtora de eventos Lenora Cavaliere. O projeto tem como foco promover encontros regulares, para não se restringir a bailes e eventos pontuais em condomínios, por exemplo. A iniciativa é para motivar a socialização e evitar a solidão, comum na terceira idade inativa.

Atualmente, são cerca de 1.100 integrantes, a grande maioria de mulheres, pois homens só entram no grupo com indicação. As participantes são de classe média alta ou alta e têm entre 50 e 90 anos. Entre os programas habituais estão o day use, a cada 15 dias, no Américas Barra Hotel e Eventos; festas temáticas; palestras gratuitas na OAB-Barra, concertos na Capela Magdalena, em Ilha de Guaratiba; e viagens.

— É preciso ter sensibilidade em relação à solidão, sem ver o idoso como um pobre coitado. Organizo sempre passeios com cultura e lazer e tento dar algum glamour a eles — conta Lenora. — No day use, das 8h às 18h, temos direito a hidromassagem, piscina, massagem e carteado, e as participantes pagam somente a consumação.
Mundo real. O grupo Envelhecimento em Comunidade teve início no Facebook e organiza encontros e passeios em diferentes áreas do Rio - Fernando Lemos / fotos de fernando lemos

O grupo tem proporcionado encontros de vizinhos de condomínio que não se conheciam e até reencontros. Foi o caso de Maria Villas Boas e Lucia Maria Vasconcelos, ambas de 59 anos, que se conheceram aos 30, quando os filhos estudaram na mesma escola. Só foram se rever no dia em que O GLOBO-Barra acompanhou o programa no Américas Barra.

— Foi uma surpresa — conta Lucia, com os olhos marejados. — Quando nos conhecemos, passávamos por momentos difíceis. Hoje, estamos bem, festejando, em nosso melhor momento.

Homens também têm vez

Quando o fim de semana se aproxima, a procura por informações sobre a condição do mar, do vento e das ondas na Praia da Macumba se intensifica entre seis amigos unidos pelo surfe. O grupo em questão é formado por homens, com idades entre 59 e 63 anos, que utilizam a internet — inexistente em meados da década de 1960, quando o primeiro deles começou a pegar onda no local — para pesquisar dados sobre o clima dos próximos dias. Com o passar dos anos, o grupo foi crescendo, bem como a amizade entre seus integrantes, que permanecem unidos na busca das melhores ondas.

A reunião ocorre nos fins de semana, sempre regada a risadas, descontração e brincadeiras (nada muito diferente da época em que eram jovens de 20 e poucos anos). Para eles, com a chegada da maturidade, os momentos se tornaram ainda mais intensos.

— Hoje a gente tem muito mais prazer do que naquela época. É fantástico ver o sorriso de satisfação no rosto de cada um depois de pegar uma onda maneira — diz o arquiteto Carlos Berger, de 61 anos, com sotaque típico de carioca praieiro. — Agora eu tenho instinto de sobrevivência, algo que não temos aos 18 anos e que nos faz entrar em qualquer onda. Entro no mar para me divertir, sem necessidade daquela adrenalina alucinada. O mar, para mim, é um parque de diversões.
Na onda. O empresário Miguel Calmon: “Melhor programa da vida” - fotos de fabio rossi

Ninguém precisa ligar para marcar o encontro. Se as condições do mar estão propícias à prática do esporte, basta pegar a prancha de longboard e se dirigir ao Quiosque do Rico, point do grupo. Todos estarão por lá.

— Quando estamos dentro d’água, juntos, parece que voltamos a ter 18 anos. Aqui eu encontro amizade, camaradagem. O melhor programa da minha vida é acordar cedo e vir pegar onda. Se desse, passaríamos dez dias juntos, direto, fazendo isso. O surfe é a fonte da juventude. Causa a síndrome do Peter Pan. Minha cabeça não seria a mesma sem ele — garante o empresário Miguel Calmon, de 60 anos, que é pai de Chloé Calmon, campeã mundial de longboard da World Surf League.

Apesar de o grupo ter se formado devido à paixão pelo surfe, a amizade — que entre alguns ultrapassa os 30 anos — não se restringe às águas.

— Não é aquele negócio de que você só fala com a pessoa porque está aqui na Praia da Macumba. Nosso relacionamento envolve também nossas famílias. É uma amizade verdadeira. Só não vale rabeirar a onda do amigo — brinca Marcelino Santos, de 61 anos, citando a gíria que no dialeto da praia significa entrar na frente da onda de outro surfista.
Turma do surfe. Amigos na casa dos 60 se reúnem na Macumba - fotos de fabio rossi

Um dos pioneiros na arte de clicar as ondas no Brasil, o fotógrafo Fernando “Fedoca” Lima registrou como poucos o que aconteceu nas praias cariocas entre as décadas de 1960 e 1980. Integrante do grupo, ele recorre às pranchas quando precisa de estímulo.

— Quando a bateria está descarregando, você compra uma prancha nova. É igual a namorada nova. O cara quer ficar o dia todo em cima dela — diz Fedoca, arrancando gargalhadas dos amigos.

Exercício para o corpo e a alma

Que as areias da praia do Recreio têm um trecho reservado para aulas de vôlei de praia, na altura do Posto 11, não é novidade. O que nem todo mundo sabe é que uma turma muito bem disposta, na casa dos 60 anos, se reúne religiosamente naquele trecho, bem cedinho pela manhã ou à noite, para praticar o esporte.

A professora aposentada Lúcia Dias da Silva, de 69 anos, uma das integrantes da turma, conhece todo mundo. Diariamente, das 7h às 8h30m, ela joga com amigos que, assim como ela, não deixam a bola cair (a menos que seja do lado do adversário). De acordo com Lúcia, a atividade à beira-mar é sagrada e só traz benefícios. Se for praticada ao lado de amigos, então, melhor ainda.

— Pratico esportes desde criança, e posso dizer que fica muito mais interessante quando se faz isso entre amigos. Não tem essa de ligar pra marcar. É certo nos encontrarmos aqui — afirma Lúcia, que prefere misturar pessoas de todas as idades durante as partidas. — Jogamos de igual para igual. É bom ter esse contato com os mais novos também. Nós nos atualizamos dessa forma. É uma troca. Não podemos ficar para trás.
Dispostos. O vôlei na Praia do Recreio é o que une Marcos Secioso, Maria Santi (centro) e Lúcia Dias da Silva - Fabio Rossi

Assim como Lúcia, o empresário Marcos Secioso aluno da escola de vôlei SEL (Saúde, Esporte & Lazer), que funciona na Praia do Recreio. Aos 64 anos, a rotina dele é intensa: além de cuidar de uma empresa de manutenção elétrica, frequenta uma academia de ginástica pelo menos quatro dias da semana. Joga vôlei com a mesma frequência, e também aos sábados e domingos. Para ele, a praia se tornou um lugar para se exercitar e confraternizar.

— Não consigo me ver sem participar dessa atividade. Principalmente pela integração e pelas amizades que se formam. Minha turma é muito unida. Fazemos churrasco, campeonatos. Isso aqui é a nossa praia — define Secioso.

Além do vôlei, Maria Santi Carmo, de 65 anos, faz questão de participar do treino funcional na praia. Como se não fosse o bastante, também reserva uma hora do dia para correr na areia (ela acumula mais de 30 medalhas de participação em maratonas). Segundo Maria, que é advogada, o ritmo intenso de atividades ao lado dos amigos é o segredo para uma vida saudável na terceira idade:

— Se um dia não venho, o que é muito raro, já que vamos até com chuva, eu me sinto mal. Custo a dormir, tenho dores nas pernas, não encontro posição. Percebo que esta atividade em grupo é fundamental para a minha saúde. O corpo a pede.

Atualmente, Maria está em busca de companhia para começar a fazer trilhas.

— As minhas amigas mais novas nem se dispõem. Sempre furam — lamenta ela, que planeja encarar as trilhas do Morro do Telégrafo, em Guaratiba; e a da Pedra Bonita, em São Conrado.

Haja disposição!

Postado por Dharmadhannya

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