ADOLESCENTES E CRIANÇAS COM
DEPRESSÃO: DICAS E SINAIS DE ALERTA
Vamos dar mais atenção
e cuidado aos adolescentes?
Há poucos dias, uma
notícia sobre o suicídio de
três alunos do ensino médio de dois colégios tradicionais de São Paulo, num
intervalo de poucos dias entre eles, chocou a todos e chamou atenção de pais e
educadores. Se a morte é um assunto difícil, quando é provocada pelo indivíduo,
pega a todos desprevenidos. Sendo este jovem, a dificuldade de aceitá-la é
ainda maior.
O suicídio ainda é
tabu, algo difícil de ser compreendido e cercado de preconceito, pois há quem o
julgue ato de covardia. Nem as religiões absolvem quem o comete,
independentemente do motivo, ele é considerado pecado no cristianismo, no
judaísmo e no islamismo. Não há perdão para o suicida.
Os casos de suicídio
têm aumentado no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, foram 722 mortes
em 2015, na faixa etária de 15 a 19 anos. No mundo, o suicídio é a segunda
causa de mortes de jovens.
Se os motivos para uma pessoa cometer um ato tão definitivo
muitas vezes permanecem desconhecidos, sabe-se que a depressão é um fator
importante. A notícia de uma morte autoinflingida traz perguntas, e uma delas
diz respeito a como a pessoa estava se sentindo: triste, sozinha,
desesperançada? Deprimida? Por que desistiu de tudo?
E que sofrimentos um
adolescente pode ter que expliquem um ato radical?
Na realidade, a
depressão, ao contrário do que se pensa, atinge todas as idades, mas, em
indivíduos jovens, pode ser confundida com problemas de comportamento, birra ou
mau humor.
Em crianças, pode se originar de situações estressantes como
conflitos familiares (separação), abuso físico e/ou emocional, morte de pessoa
querida ou do animal de estimação, mudança de rotina (escola, casa) e bullying.
A adolescência, que é uma fase de grandes mudanças, potencializada pelo
turbilhão hormonal, envolve rebeldia, com a busca por autoafirmação e
afastamento dos pais.
A atração pelo risco e
por aventuras, por experimentar, quebrar regras e testar limites, ser legal ou
ser aceito por um grupo, pode significar muita pressão para alguns jovens. Os
mais tímidos sofrem com a dificuldade de encontrar uma turma e se encaixar
nela, e podem se tornar mais inseguros e retraídos.
Crescer nunca foi tão
difícil.
Crianças e adolescentes
às vezes têm dificuldade de expressar pensamentos ou sentimentos, por vergonha,
culpa ou angústia, decorrente da imaturidade emocional, própria da idade.
A
família e a escola devem prestar atenção aos primeiros sinais de que o
comportamento não é apenas uma fase. E procurar ajuda profissional, se
necessário. Como diz o ditado popular, prevenir é melhor que remediar.
Sinais de alerta em crianças com
idades entre 2 e 12 anos:
Manifestação de
tristeza no rosto (ausência de sorrisos) e no corpo (ombros caídos); parar de
brincar, seja sozinha ou com os coleguinhas;
sonolência constante; birras e
irritabilidade frequentes; muito choro e sensibilidade exagerada; diminuição ou
falta de apetite; dificuldade para dormir ou sono agitado com queixa de
pesadelos; dificuldade de se separar dos pais ou cuidadores; queda de
rendimento na escola;
regressão nos estágios desenvolvimento (como fazer xixi
na cama e não controlar as fezes); sentimento de inferioridade (percebidos em
comentários do tipo "Não sei fazer nada" ou "Ninguém gosta de
mim").
Dicas para lidar com estas situações:
Respeitar os
sentimentos da criança, demonstrando compreensão e empatia; incentivar a
criança a fazer as atividades que apreciava e a brincar com os coleguinhas, mas
sem pressão; elogiar e dar atenção à criança; cuidar de sua alimentação e do
seu descanso, incentivando uma rotina saudável.
Sinais de alerta em adolescentes:
Tristeza e choro
constante; problemas de memória e de concentração, queixas de cansaço;
alterações do sono; variações bruscas de humor; apatia, desinteresse ou falta
de prazer em atividades rotineiras, antes apreciadas, como praticar esportes ou
ir ao shopping;
perda ou ganho de peso (perda de apetite ou episódios de
excessos, principalmente de comidas de conforto); evitação social, condutas
antissociais e destrutivas, abuso de álcool e drogas e aparecimento de marcas
de queimaduras e cortes (sinais de autolesão).
Dicas para lidar com estas situações:
Apoiar e incentivar o
jovem a fazer atividades prazerosas que o tirem do casulo e o ajudem a
extravasar os incômodos naturais desta fase de mudanças; trocar o controle pelo
diálogo, orientar mais do que proibir; incentivar que o adolescente expresse
suas dúvidas e tristezas, sendo compreensivo e não crítico.
Por Maria Cristina Ramos Britto - Psicóloga
com especialização em terapia cognitivo-comportamental.
Depressão
DRAUZIO VARELLA Depressão é uma doença crônica, recorrente, muitas vezes com alta concentração de casos na
mesma família, que ocorre não só em adultos, mas também em crianças e
adolescentes. O que caracteriza os quadros depressivos nessas faixas
etárias é o estado de espírito persistentemente irritado, tristonho ou
atormentado que compromete as relações familiares, as amizades e a performance
escolar.
De acordo com a “American
Psychiatric Association”, um episódio de depressão é indicado pela
presença de 5 ou mais dos seguintes sintomas, quase todos os dias, por um
período de pelo menos duas semanas:
* Estado de espírito
depressivo durante a maior parte do dia;
* Interesse ou prazer
pela maioria das atividades claramente diminuídos;
* Diminuição do
apetite, perda ou ganho significativo de peso na ausência de regime
alimentar (geralmente, uma variação de pelo menos 5% do peso corpóreo);
* Insônia ou
hipersônia;
* Agitação psicomotora
ou apatia;
* Fadiga ou perda de
energia;
* Sentimento exagerado
de culpa ou de inutilidade;
* Diminuição da
capacidade de concentração e de pensar com clareza;
* Pensamentos
recorrentes de morte, ideação suicida ou qualquer tentativa de atentar
contra a própria vida.
Na ausência de
tratamento, os episódios de depressão duram em média oito meses. Durações
mais longas, no entanto, podem ocorrer em casos associados a outras
patologias psiquiátricas e em filhos de pais que também sofrem de depressão.
A doença é recorrente:
para quem já apresentou um episódio de depressão a probabilidade de ter o
segundo em dois anos é de 40%, e de 72% em 5 anos.
Em pelo menos 20% dos
pacientes com depressão instalada na infância ou adolescência, existe o
risco de surgirem distúrbios bipolares, nos quais fases de depressão se
alternam com outras de mania, caracterizadas por euforia, agitação
psicomotora, diminuição da necessidade de sono, idéias de grandeza e
comportamentos de risco.
Antes da puberdade, o
risco de apresentar depressão é o mesmo para meninos ou meninas. Mais
tarde, ele se torna duas vezes maior no sexo feminino. A prevalência da
enfermidade é alta: depressão está presente em 1% das crianças e em 5% dos
adolescentes.
Ter um dos pais com
depressão aumenta de 2 a 4 vezes o risco da criança. O quadro é mais comum
entre portadores de doenças crônicas como diabetes, epilepsia ou depois de
acontecimentos estressantes como a perda de um ente querido. Negligência
dos pais e/ou violência sofrida na primeira infância também aumentam o
risco.
É muito difícil tratar
depressão em adolescentes sem os pais estarem esclarecidos sobre a
natureza da enfermidade, seus sintomas, causas, provável evolução e as
opções medicamentosas.
Uma classe de antidepressivos conhecida como a dos
inibidores seletivos da recaptação da serotonina (fluoxetina,
paroxetina, citalopran, etc.) é considerada como de primeira linha no
tratamento em crianças e adolescentes e os estudos mostram que 60%
respondem bem a esse tipo de medicação, que apresenta menos
efeitos colaterais e menor risco de complicações por “overdose” do
que outras classes de antidepressivos.
A recomendação é
iniciar o esquema com 50% da dose e depois ajustá-la no decorrer de três
semanas de acordo com a reação da pessoa e os efeitos colaterais. Uma vez que a
resposta clínica tenha sido obtida, o tratamento deve ser mantido por seis
meses, no mínimo, para evitar recaídas.
A terapia
comportamental mostrou eficácia em ensaios clínicos e parece dar resultados
melhores do que outras formas de psicoterapia.
Por meio dela, os
especialistas procuram ensinar aos pacientes como encontrar prazer em
atividades rotineiras, melhorar as relações interpessoais, identificar e
modificar padrões cognitivos que conduzem à depressão.
Outro tipo de
psicoterapia eficaz em ensaios clínicos é conhecida como terapia
interpessoal. Nela, os pacientes aprendem a lidar com dificuldades
pessoais como a perda de relacionamentos, decepções e frustrações da vida
cotidiana. O tratamento psicoterápico deve ser mantido por seis meses, no
mínimo.
Como o abuso de drogas
psicoativas e o sucídio são consequências possíveis de quadros depressivos, os
familiares devem estar atentos e encaminhar os doentes a serviços
especializados assim que surgirem os primeiros indícios de que esses
problemas possam estar presentes.
Postado por dharmadhannya
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