O que é a mente? Visão Budista
Dalai
Lama
Não é
possível que a onisciência seja produzida sem causas, porque se o fosse todas
as coisas seriam sempre oniscientes. Se as coisas fossem produzidas sem
depender de outra coisa, elas poderiam existir sem restrições - não haveria
nenhuma razão pela qual tudo não fosse onisciente.
Por conseguinte, como todas as coisas
funcionais surgem apenas ocasionalmente, elas dependem estritamente das suas
causas. A onisciência também é rara porque não ocorre em todas as ocasiões e
em todos os lugares, e nem tudo pode se tomar onisciente.
Por
conseguinte, ela definitivamente depende de causas e condições.
A consciencia não tem nem forma nem cor, e não pode
ser medida dé uma maneira física, mas ela existe em sua natureza e habilidade
de examinar e sentir. O tempo, por outro lado, não tem nem forma nem
consciência, e pertence à terceira categoria.
A sabedoria transcendental onisciente se refere à
consciência que tudo conhece. A onisciência não é uma qualidade encontrada no
solo, nas pedras, nas rochas ou nas montanhas. Ela é produzida por algo cuja função
é a percepção dos objetos e, portanto, não pode ser produzida por nada que
careça da propriedade da percepção.
E claro que o
estado da onisciência é a meta suprema que abrange cada perfeição e,
considerando-se as três categorias dos fenômenos condicionados, ela pertence à
categoria da consciência.
Conhecer ou compreender é a função da consciência. Por
exemplo, quando dizemos: “Eu compreendo” ou “Eu entendo”, e temos uma
experiência ou um sentimento a respeito de alguma coisa, a experiência é
ativada pela consciência.
Quando a consciência
do olho vê uma forma física, nós dizemos: “Vejo a forma física”, e quando a
consciência da mente experimenta a felicidade ou a dor, dizemos: “Estou
feliz”, ou “Sinto dor”.
Assim, quando
dizemos: “Eu experimento”, “Eu vejo”, “Eu ouço”, e assim por diante, é a
consciência que atua como o agente. E a consciência que possui a função do
conhecimento.
A consciência varia de acordo com o alcance do
conhecimento do ser e da sua intensidade ou perspicácia. Um exemplo óbvio é a
consciência do ser humano comparada à consciência de um animal.
A percepção humana é muito mais ampla e compreende uma
variedade muito maior de objetos. A consciência dos seres humanos varia com a
educação e a experiência - quanto mais educada e mais experiente a pessoa, mais
ampla a sua consciência.
O conhecimento
e o entendimento se desenvolvem baseados em uma consciência que possui a
capacidade de perceber seus objetos. Quando as condições necessárias são
satisfeitas, essa capacidade de percepção aumenta, o alcance dos objetos de
conhecimento se expande e o entendimento se aprofunda.
Desse modo, a mente pode
desenvolver seu pleno potencial.
A onisciência é a consumação ou aperfeiçoamento pleno
da habilidade da mente de perceber os objetos. Ela é onisciente no sentido de
que é capaz de conhecer cada coisa sem ser obstruída por diferenças de tempo e
espaço.
A sabedoria abrangente surge da consciência e, por
definição, é produzida por causas e condições. Isso implica que nem mesmo a
sabedoria onisciente pode ocorrer sem suas causas. Se não fosse este o caso, e
uma mente onisciente pudesse surgir sem causas, estaria subentendido que toda
consciência seria onisciente.
Esta afirmação se deve ao fato de que se as
coisas são produzidas sem causas e condições, ou elas precisam existir em todas
as ocasiões, ou elas têm que ser totalmente não-existentes.
A questão agora é como essa consciência pode crescer e
se expandir em direção a um alcance ilimitado. A habilidade de perceber seus
objetos é inata à consciência, mas existem coisas que impedem a mente de se
abrir ao estado de completo conhecimento.
A próxima
questão é estudar como esses obstáculos acontecem. Precisamos considerar de
que modo esses obstáculos podem ser removidos. O que impede a consciência de
perceber seu objeto é a ignorância que é uma concepção errônea da verdadeira
existência, também chamada de ignorância que se agarra a um extremo, o extremo
da alienação.
Quando falamos de ignorância, estamos querendo dizer
ou que a consciência carece de alguma condição favorável, ou que uma condição
adversa a está impedindo de perceber seu objeto.
Entre os inúmeros tipos de ignorância, aquela que é a
concepção errônea da verdadeira existência é a origem, a que detém o poder,
por assim dizer. E essa ignorância é o principal obstáculo. Precisamos chegar à
conclusão por meio da análise de que essa ignorância é algo que pode ser
removido e eliminado.
As imperfeições
da mente surgem basicamente por causa da ignorância e do seu potencial latente.
Precisamos investigar e determinar se a ignorância pode ser separada da mente,
e se a ignorância pode acabar.
Ignorância neste contexto não significa mera
estupidez, mas sim a ignorância que é uma concepção errônea da verdadeira
existência. É uma mente que inadequada ou erradamente tem uma concepção errônea
do seu objeto. Por conseguinte, ao cultivar um entendimento inequívoco como
antídoto, podemos eliminar essa ignorância.
Tanto a ignorância que é uma concepção errônea da verdadeira
existência quanto seu antídoto dependem de causas e condições. Eles são
semelhantes no sentido de que se desenvolvem quando em contato com condições
favoráveis e deixam de existir quando confrontados com fatores adversos.
Podemos perguntar, quais as diferenças entre os dois?
Como a
ignorância, que é uma concepção errônea da verdadeira existência, é uma mente
que está errada com relação ao seu objeto, ela não pode se desenvolver
ilimitadamente. Isso também acontece porque ela não possui uma sustentação
válida.
A mente está
errada ou é inadequada no sentido de que a maneira pela qual ela concebe o
objeto é contrária à verdadeira maneira como o objeto existe. A mente que
percebe a ausência-do-eu é um antídoto ou oponente a essa condição e não está
errada com relação ao seu objeto.
Isso quer dizer
que ela está correta com relação ao seu objeto, o que significa que a maneira
pela qual ela percebe seu objeto está de acordo com a maneira como o objeto realmente
existe. Como não se trata de uma percepção errônea, ela possui uma base válida
de sustentação.
Foi dito anteriormente que a ignorância que é uma
concepção errônea da verdadeira existência poderia ser eliminada. Isso se deve
ao fato de a mente ignorante não ter a sustentação de ser uma cognição válida.
Por outro lado,
a mente que percebe a natureza destituída de um eu do objeto possui a
sustentação de ser uma cognição válida. Essas duas mentes percebem os objetos
de maneiras que estão em contradição direta uma com a outra.
A mente que
percebe a natureza destituída de eu do objeto é um poderoso antídoto contra a
mente ignorante e, por conseguinte, esta última pode ser sobrepujada.
Isso é análogo
à maneira pela qual qualquer aspecto da miséria humana pode ser reduzido quando
medidas apropriadas são aplicadas para combatê-lo. Faz parte da natureza das
coisas o fato de seu potencial ser reduzido quando confrontado por fatores
opostos.
A mente que percebe a realidade é chamada de percepção
transcendental é uma qualidade positiva da mente. Ela possui a mesma
sustentação de ser uma cognição válida. Faz parte da natureza da mente o fato
de que quando a habituamos a uma qualidade positiva, ela pode ser
ilimitadamente desenvolvida.
Ao contrário da mente, as qualidades positivas do
corpo não possuem a capacidade de se expandir ilimitadamente. Essa característica
se deve simplesmente ao fato de o corpo ser composto por elementos grosseiros,
e os atributos de uma forma grosseira não possuem o potencial de se expandir
ilimitadamente.
Quando dizemos que a mente ignorante é inadequada ou
errada, estamos nos referindo à maneira pela qual ela interpreta erroneamente a
realidade. As perguntas pertinentes agora são: O que é a realidade? De que
maneira esta mente está errada a respeito da realidade? E de que maneira a
mente percebe erroneamente a realidade?
A realidade ou
vacuidade da verdadeira existência é algo que pode ser logicamente estabelecido.
Existem razões sólidas e perfeitas que comprovam a vacuidade da existência
inerente, e podemos persuadir com base nessas razões. Por outro lado, não
existe nenhuma maneira lógica de provar a verdadeira existência.
A verdadeira
existência parece existir para a consciência ordinária e não treinada. No
entanto, quando submetida ao escrutínio lógico, a verdadeira existência não
pode ser encontrada.
Mesmo na nossa
vida do dia-a-dia, frequentemente encontramos contradições entre a maneira como
certas coisas se apresentam e o modo verdadeiro de existência delas; ou seja, a
maneira como as coisas realmente existem é diferente da maneira como elas
parecem existir.
Essa noção pode
ser ilustrada de uma forma bastante simples: nas questões mundanas, falamos a
respeito de uma pessoa estar desapontada ou desiludida. A desilusão surge em
decorrência de uma discrepância entre a maneira como a situação parece ser e a
maneira como ela realmente é.
Vamos examinar nossa situação como seres humanos. A
nossa mente, em comparação à dos animais, é imensamente mais poderosa. Temos a
capacidade de analisar se existe ou não uma realidade além do nível das
aparências, enquanto os animais lidam somente com o que aparece para eles.
Este fato é
muito claro, assim como o de que pessoas diferentes possuem habilidades
mentais distintas. Quando as examinamos minuciosamente, muitas das mentes que
são geralmente compreendidas como capazes de percepções válidas também estão
enganadas em um sentido mais profundo.
A maneira como
os fenômenos realmente existem é diferente da maneira como eles aparecem para
essas mentes.
Normalmente percebemos a realidade ou o vazio como existindo de
uma maneira diferente da maneira que ele realmente existe. Nossa percepção das
coisas impermanente como cadeias de montanhas e casas não estão de acordo com o
modo real de existência delas.
Algumas dessas
coisas já existem há séculos, até mesmo milhares de anos. E nossa mente as
percebe exatamente dessa maneira - como duradouras e permanentes, inatingíveis
pelas mudanças temporárias. A ciência também descreve um modelo de
transformação similar.
No entanto,
quando examinamos esses objetos em um nível atômico, eles se desintegram a
cada momento; eles passam por mudanças temporárias.
Esses objetos parecem
sólidos, estáveis e duradouros, mas, em sua verdadeira natureza, eles estão em
constante mudança, sem se manterem imóveis nem mesmo por um momento.
“Se as coisas fossem produzidas sem depender de outras
coisas, elas não seriam passíveis de ser obstruídas em nenhum lugar.” Isso
quer dizer que se as coisas fossem produzidas sem depender de outras causas e
condições, não existe nenhuma razão lógica pela qual elas devessem ser
obstruídas em qualquer ponto.
Como não é este
o caso, é lógico que nem tudo possa ser transformado em onisciência. Por essas
razões, os fenômenos funcionais podem ser produzidos em certas ocasiões e não
são produzidos em outras.
Em um certo ponto do tempo, quando acontecem
condições favoráveis e as condições adversas estão ausentes, a consciência pode
ser transformada em uma onisciência que possui o conhecimento de todos os
fenômenos.
... Como as coisas não são produzidas em todas as
ocasiões e em todos os lugares, a implicação é que elas dependem de causas e
condições corretas e completas.
Dentro da estrutura da dependência nas causas e
condições, aqueles que aspiram ao fruto final da onisciência devem gerar as
causas e condições. Além disso, os aspirantes devem estar altamente motivados
em sua busca. Por conseguinte, é ensinado que a onisciência depende de causas e
condições.
Como foi explicado no Compendium of Knowledge
[Compêndio do conhecimento] de Asanga com referência aos efeitos gerados por
suas-dáusas e condições, as condições são a condição inabalável, a condição
impermanente e a condição potencial.
O que foi dito anteriormente diz respeito
à condição impermanente. Quando perguntamos de que modo pode a onisciência ser
gerada a partir da consciência, estamos nos referindo à sua condição
potencial. A habilidade de estar cônscio dos objetos é uma qualidade inata da
consciência.
A própria natureza da consciência é que ela é clara e perceptiva.
Ela surge no aspecto do objeto que ela percebe. Esse atributo da consciência
não é algo recém- criado por outros fatores.
Pesquisado por Dharmadhannya
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Os Elohim lutam em meu lugar
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