O jovem que vive dentro do nosso coração.
Apenas alguns anos depois de a Criança ter-se
congelado no tempo, deparamo-nos com a crise da puberdade e, de repente, o corpo
torna-se um estranho, uma força alienígena fora do nosso controle. Com a
chegada das modificações corporais e emocionais, a criança tem um vislumbre da
idade adulta que se aproxima — e entra em pânico.
Durante algum tempo ela poderá tornar-se novamente
pegajosa e dependente, numa tentativa de fazer o relógio voltar atrás — mas
logo vem a dura percepção: crescer é inevitável! Neste ponto — em geral entre
os 12 e os 14 anos — o Adolescente interior torna-se cristalizado.
O Adolescente vê a idade adulta como algo árido
e sem graça. Ele considera os adultos insensíveis, racionais, tediosos,
práticos e vergados sob o peso das responsabilidades. Para o Adolescente, o
término da infância representa o fim da diversão, liberdade, espontaneidade,
riso e alegria. Não é de admirar que ele relute em crescer!
O Adolescente tem a fantasia de que, um dia,
sua genialidade, talento ou beleza não-reconhecidos serão descobertos. Sem
qualquer esforço de sua parte, é claro. O Adolescente interior — repleto de
Ego, e mártir — sonha em ganhar na loteria mas não se dá ao trabalho de comprar
um bilhete.
Pensa em
visitar Katmandu mas não coleciona os cadernos de viagens dos jornais. Espera
que um famoso diretor de cinema passe por sua porta e lhe ofereça o papel
principal numa superprodução, quando ele nem sequer frequentou a
escola de teatro. Ele vive num mundo de fantasia.
Assim como a criança está sempre ansiando por
amor, o Adolescente busca, em primeiro lugar, deter o controle total dos
acontecimentos e, em segundo lugar, ser perfeitamente compreendido sem ter de
se explicar, o combinado é que ele só vai crescer se a vida for tão
justa como ele quer que ela seja.
Caso contrário, não tem acordo! Muitas pessoas
vivem a vida esperando que essa garantia lhes seja dada. Neste ínterim — a
despeito das aparências — elas se recusam a se tornarem adultas.
Sheila tinha a compulsão de roubar mercadorias
em lojas. Várias vezes por semana ela se via andando pelas lojas num estado de
atordoamento, enchendo a bolsa com artigos de luxo e bijuteria, sem
preocupar-se em ocultar o crime que estava praticando.
Havia
sido presa duas vezes. Durante a terapia, ela falou com seu.eu Cleptomaníaco
(usando a técnica da “cadeira vazia” e, para sua surpresa, encontrou uma
Adolescente irada, que achava o seu comportamento plenamente justificado:
“Por que eu não deveria ter essas coisas
boas? Nunca ninguém foi bom para mim!” Mas tão logo Sheila respondeu à garota,
dizendo que ela estava criando ainda mais problemas para si mesma, uma segunda
garota foi ocupar a cadeira vazia — uma garotinha atormentada pela culpa.
· Essa
criança achava que devia ter feito alguma coisa para merecer sua
infância infeliz; ela queria ser apanhada pelos furtos para que pudesse ser
castigada por ter sido tão má. As duas garotas estavam arruinando a vida adulta
de Sheila.
Felizmente,
assim como a Criança Ferida pode dar lugar à Criança Livre, escondida atrás dos
medos e fantasias do Adolescente Adaptado, está o seu equivalente positivo, o
Adolescente Curioso: investigador, questionador, inventivo, cheio de
imaginação, entusiástico, criativo e visionário. Ao ajudar o Adolescente
interior, podemos liberar uma fonte infinita de criatividade e admiração.
·
Entrando
em contato com o Adolescente
Chegou o momento de você se
encontrar com o seu Adolescente. Imagine-se na casa em que você viveu quando
tinha de 12 a 14 anos. (Confie no seu subconsciente para saber a idade do seu
Adolescente.) Use todos os seus sentidos para se imaginar nesse lugar. Em
seguida, dê uma olhada pela casa até encontrar o seu Adolescente, inteiramente
só.
Tal como fez com a sua Criança,
apresente-se ao Adolescente — e comece a conhecê-lo. Procure conhecer suas
esperanças, temores e fantasias. Tente compreender como ele vê o mundo. Dê-lhe
o que quer que ele peça — dentro da sua realidade interior — e expresse o seu
amor, cordialidade e ternura.
Embora Sam tivesse trinta e poucos anos, suas
atitudes revelavam que, no fundo, ele era apenas um adolescente crescido.
Depois de sair de casa, aos 16 anos — “Meus pais eram insuportáveis” —, ele
vinha passando de um emprego para outro, raramente ficando mais de seis meses
no mesmo lugar.
Ele
ainda não havia escolhido uma carreira. Seus relacionamentos, da mesma forma,
haviam sido breves e superficiais, e ele tinha horror à ideia de se
comprometer. Tão logo surgia algum problema, ele arrumava as malas e ia embora.
Para Sam, tudo era preto ou branco, bom ou
ruim, certo ou errado, brilhante ou idiota. Não havia espaço para o debate,
lugar para a complexidade, nenhuma possibilidade de ele mesmo estar errado.
Como um adolescente, ele estava sempre jogando
para a plateia, sempre tentando impressionar. Tudo era feito por exibição ou
para tentar chocar, e não por um desejo genuíno. Por baixo das aparências,
porém, Sam era solitário, infeliz e assustado. Seu Adolescente estava
controlando a sua vida.
Logo que sentia o cheiro da responsabilidade no
ar, o temeroso Adolescente corria para o lado oposto. Ele vivia culpando os
outros pelas próprias dificuldades — especialmente os pais e outras figuras
investidas de autoridade. Enquanto o nosso Adolescente estiver brincando de “Se
você não tivesse...” (um de seus jogos favoritos), permaneceremos presos ao
nosso passado.
Josie, abandonada pela mãe aos sete anos de
idade, gritou para mim: “Nunca vou perdoá-la — nunca, jamais!” Ao se aferrar à
sua raiva e ressentimento, porém, ela estava se condenando a recriar o passado
e sabotando sua vida em cada oportunidade, para “provar” o quanto a mãe a
havia prejudicado.
Sugeri que Josie pudesse escrever a história da
vida da mãe — do ponto de vista de um amigo solidário e amistoso — até o
momento em que a mãe resolveu abandonar o marido e os filhos. Josie sentiu-se
incapaz de fazer isso durante vários meses, mas acabou atacando a tarefa.
Derramando-se
em lágrimas, ela escreveu que, aos 16 anos, sua mãe havia embarcado num
casamento sem amor para escapar de uma infância infeliz e, então, sentiu-se
aprisionada e sufocada pelas exigências de três crianças e de um marido que não
lhe dava apoio.
Sua mãe não havia tido nenhuma chance de
crescer. Pela primeira vez, Josie começou a perceber o quanto sua mãe deveria
estar infeliz para abandonar a família — e o perdão, finalmente, tornou-se uma
possibilidade.
Ao perdoar aqueles que nos magoaram no passado,
libertamos a nós mesmos. Se estivermos preocupados com as injustiças
“cometidas contra nós”, atrairemos mais dessas mesmas experiências. Não
precisamos amar aqueles que nos ofenderam mas, pelo nosso próprio bem,
precisamos perdoá-los.
Segundo A
Course in Miracles, “O perdão é a chave para a felicidade”.5 Ao
perdoarmos os outros — com o coração e não com a mente — nós nos libertamos do
passado. “Quanto mais você odeia alguma coisa, mais você fica preso a ela”; diz
Orin, “e quanto mais você a ama, mais livre dela você está.
Portanto, ao amar o seu passado, você se
liberta dele.” Tudo o que nos impede de fazê-lo consiste na nossa hipocrisia, auto
piedade, na nossa necessidade de “nos castigar” e de evitar a responsabilidade,
e no nosso apego ao passado.
Afinal de contas, nós escolhemos os
nossos pais; assim, culpá-los pelo modo como fomos tratados é como escolher uma
tigela de maçãs e, depois, queixarmo-nos de que o que realmente
queríamos era um prato de morangos.
Quaisquer que sejam os desafios e pressões que
tenhamos enfrentado em nossa infância, nós escolhemos cuidadosamente os nossos
pais na esperança de que pudéssemos aprender e crescer com a experiência — e
eles concordaram em “fazer o jogo” conosco e permitiram que fôssemos os seus
professores.
Desde
que assumamos a responsabilidade pelas nossas escolhas e reconheçamos as lições
que esperávamos aprender, não há nada a perdoar. Nunca estamos à mercê da nossa
infância. Ela nos influencia, mas não nos controla. Não somos fantoches
indefesos. Do passado somente aceitamos aqueles problemas que nos convêm.
Um de meus clientes, que ansiava por conseguir
chorar, disse-me que seus pais haviam-no criado acreditando que, para um homem,
era vergonhoso chorar — em público ou em particular — e deixou implícito que
se considerava uma vítima indefesa dessa crença.
Da forma mais delicada possível, eu lhe disse
que, quando pequeno, alguém provavelmente lhe contara que a lua era feita de
queijo mas que, num determinado momento, ele havia reconsiderado essa crença.
Se uma
criança de 6 anos tem a capacidade de mudar suas crenças, então o mesmo
acontece com um homem de 40! As nossas crenças, conforme diz Seth, são como os
blocos de armar com que as crianças brincam. Elas são mantidas nos lugares
apenas pelo nosso medo, pelas nossas dívidas e missões ocultas.
Volte os olhos para a infância
Anote os piores aspectos da sua infância. Quais
foram as circunstâncias, situações, acontecimentos ou atitudes e
características paternas ou maternas que você mais gostaria de ter mudado? De
que você mais se ressentia em sua infância? E em relação a seus pais?
Observe agora a sua lista e pense no que você ganhou
com essas dificuldades. Fazendo um exame retrospectivo, que lições você
aprendeu? Que poderes e qualidades emocionais adquiriu?
Que decisões acertadas você tomou em consequência
dessas experiências? Por que você teria escolhido os seus pais? O que você
aprendeu com eles?
Que mensagens a sua família lhe transmitiu a
respeito da vida adulta? Algumas das seguintes lhe parecem familiares?
•
Trabalhe duro e jogue duro.
•
Os anos de escola são os melhores de nossa
vida.
•
Não nos envergonhe.
•
Sempre dê prioridade aos outros.
•
Não se pode educar uma criança sem algumas
surras na hora certa.
•
Seja bom.
•
Um trabalho que vale a pena ser feito deve ser
bem-feito.
•
O que os vizinhos vão pensar?
•
Não ouça o mal, não fale nada de mal, não veja
o mal.
•
•
Quando a jornada fica difícil, os fortes seguem
em frente.
•
Encontre um bom homem ou uma boa mulher para
cuidar de você.
•
Sorria sempre.
•
•
A única pessoa em quem você pode confiar é você
mesmo.
•
A vida é dura para pessoas como nós/você.
•
Arranje um emprego estável e com uma boa
aposentadoria.
Pense nas mensagens — diretas ou tácitas — que,
quando criança, você recebeu a respeito da vida de adulto. Como essas
mensagens influenciaram a sua vida? Você precisa reavaliar algumas dessas
crenças e atitudes?
O Jovem_em Adulto
Imagine-se num prado, no verão, sentado em meio
à grama alta e às flores silvestres, contemplando um lago azul-esverdeado que
cintila ao sol. Reserve alguns minutos para encontrar você mesmo nesse lindo
lugar.
Depois, afaste-se do lago e procure um poço que
leva às profundezas da terra. Haverá uma escada ou corda para que você possa
descer por ele. Desça pelo poço, tocando as paredes moles e que se esboroam nas
mãos, sentindo o cheiro da terra, ouvindo os ecos de seus passos enquanto você
penetra cada vez mais fundo no subsolo.
Por fim, o poço abre-se numa caverna árida e
mal iluminada. Entre na caverna e olhe ao redor. No meio há uma cadeira de
razoável tamanho — e lá, totalmente sozinho, encontra-se sentado o seu Jovem
Adulto.
Aproxime-se de seu Jovem Adulto ê peça-lhe para
falar-lhe sobre si mesmo. Reuna a maior quantidade possível de informações
sobre suas crenças, atitudes, valores e fantasias, para que você possa reconhecê-lo
quando ele se manifestar em sua realidade adulta. Em seguida, peça que ele se
junte a você na luz, e façam o caminho de volta.
Ao emergirem do poço, a paisagem de verão
enche-os de luz e beleza. Caminhem para o lago e mergulhem na água fresca e
cintilante. Veja o seu Jovem Adulto ficar radiante de luz. Então, suavemente,
volte para o quarto.
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