A Ira e
o grito dos oprimidos.
O primeiro
passo para ser livre da raiva impotente é deixá-lo contar toda a sua história, e liberar os ocasionais rugidos. Muitas
vezes, seria bom escrever sobre a sua raiva. Falando ou escrevendo. Depois
de identificar o problema que está perturbando sua mente, e o próximo passo
deve ser o de aprender tudo o que puder sobre sua ira. A raiva é sempre
uma resposta à injustiça, que pode ser dissolvida com uma compreensão mais
profunda.
A raiva é
inimiga da Paz, não há alegria na vida daquele que vive armado para lutar, para
vencer, para destruir.
O ódio
nos separa da Unidade, nos veste com o colete da solidão, nos isola no campo de
luta e de destruição.
A ira
nos veste para a guerra diariamente, e revela nossa sombra ao mundo, para o
outro somos um monstro horrível que ele precisa se afastar para não ser destruído.
Mas,
quando você controla a ira, você controla o cavalo que carrega a sua alma (seu
corpo, seus instintos de defesa, seu medo...)
Mas engolir
a raiva e não ser assertivo, não é bom - o fogo da ira, vai para o corpo, para a
mente e envenena e pode causar doenças psicossomáticas. Dharmadhannya
A prática da
felicidade.
Para mim, ser feliz
significa sofrer menos. Se não fôssemos capazes de transformar a dor que existe
dentro de nós, a felicidade seria impossível.
Muitas pessoas
procuram a felicidade fora de si mesmas, mas a verdadeira felicidade precisa
vir de dentro de nós. Nossa cultura tem muitas receitas de felicidade, e
afirma que a atingimos quando possuímos uma grande quantidade de dinheiro,
muito poder e uma elevada posição na sociedade.
Mas, se você observar
com cuidado, verá que numerosas pessoas ricas e famosas não são felizes. Até
você já viveu esta experiência: depois de alcançar um bem material que
desejava ardentemente, experimentou alegria durante um certo tempo, mas
rapidamente voltou à insatisfação inicial, passando a desejar outra coisa.
Este é um processo interminável e frustrante.
O Buda e os monges da
época dele não possuíam nada, a não ser três mantos e uma tigela de comida, mas
eram felizes porque tinham algo extremamente precioso - a liberdade.
De acordo com os
ensinamentos do Buda, a condição básica para a felicidade é a liberdade.
Não estamos nos referindo aqui à liberdade política, e sim à liberdade que
conquistamos quando nos libertamos da raiva, do desespero, do ciúme e das
ilusões. Buda os descreve como venenos. Enquanto eles estão no nosso coração, é
impossível ser feliz.
Neste texto vou lhes
falar sobre a raiva, porque esta é uma emoção extremamente destrutiva e muito presente
na nossa civilização. Vou procurar lhes ensinar a libertar-se dela, praticando
o que chamo de exercício da Plena Consciência, independentemente de sermos
cristãos, muçulmanos, budistas, hindus ou judeus.
Vou lhes dar
instruções concretas sobre como transformar o anseio, a raiva e a confusão que
existem dentro de nós. Se seguirmos essas instruções e aprendermos a cuidar do
nosso sofrimento, alcançaremos a paz e poderemos ajudar outras pessoas a fazer
a mesma coisa.
Estamos muito
estruturados em nossos comportamentos.
Vivemos num Mundo
violento e reproduzimos, desde muito cedo, sem nos darmos conta, essa violência
nos pequenos gestos do cotidiano, na relação com nossos parceiros, filhos,
família, companheiros de trabalho, pessoas com quem cruzamos na rua.
Regamos abundantemente
a semente da raiva existente dentro de cada um de nós, e nos descuidamos das
sementes do amor, da compaixão, da doçura, da solidariedade. Solidificamos os
hábitos agressivos e recebemos agressão de volta, num processo sem fim.
Para que essa
estrutura seja desmanchada, para que as sementes positivas sejam nutridas e
para que o hábito se transforme, é necessário ouvirmos muitas vezes os novos
conceitos, as novas práticas, os novos ensinamentos.
Por isso eles serão repetidos no correr desta
reflexão, para que impregnem o seu ser, condicionem uma nova consciência,
comecem a se traduzir nas suas atitudes, e tragam, para você e para o mundo, a
paz, a felicidade e a harmonia que todos buscamos.
Mudando para melhor
Suponhamos que, numa
determinada família, pai e filho estão com raiva um do outro. Eles não
conseguem mais se comunicar e por isso sofrem muito. Nenhum dos dois quer
permanecer preso a raiva que estão sentindo, mas não sabem como dominá-la.
Quando estamos com
raiva, sofremos como se estivéssemos ardendo no fogo do inferno. Quando
sentimos um grande desespero ou ciúme, estamos no inferno. Precisamos, nesses
momentos, procurar um amigo ou uma amiga que nos ajude a transformar a raiva e
o desespero que ardem em nós.
Ouvir com compaixão
alivia o sofrimento
Quando as palavras de
uma pessoa estão cheias de raiva, é sinal de que ela está sofrendo
profundamente. Por sofrer tanto, ela fica cheia de amargura, torna-se
agressiva e está sempre pronta a se queixar e culpar os outros por seus problemas.
Por isso você acha muito desagradável escutar o que ela tem a dizer e procura
evitá-la.
Para compreender e
transformar a raiva, precisamos aprender a ouvir com compaixão e usar palavras
amorosas. Compaixão não é pena, é solidariedade, é colocar-se no lugar do
outro para compreender o que ele sente.
Existe um Bodisatva - um Grande Ser - capaz de
ouvir profundamente e com grande compaixão. Quando somos capazes de ouvir
alguém com compaixão, como este Grande Ser, conseguimos aliviar o sofrimento e
oferecer uma orientação concreta àqueles que nos procuram em busca de ajuda.
Não tenha pressa.
Fique tranquilamente
ao lado da pessoa durante o tempo que for necessário e escute o que ela tem a
dizer, deixando que ela se expresse livremente. Repito, você poderá aliviar
grande parte do sofrimento dela se mantiver viva a compaixão durante todo o
tempo em que a estiver ouvindo.
Você precisa se
concentrar bastante enquanto escuta, ouvindo com todo o seu ser: com os olhos,
os ouvidos, o corpo e a mente. Se você apenas fingir que está ouvindo e não se esforçar para prestar atenção com a totalidade
do seu ser, a outra pessoa perceberá isso e o sofrimento dela não será
aliviado.
Não é fácil manter
essa concentração, porque o nosso pensamento se evade muitas vezes. Mas se
você respirar serena e profundamente e trouxer de voltada atenção sempre que
ela se dispersar, com o desejo sincero de ajudar a pessoa a encontrar alívio,
você será capaz de sustentar a compaixão enquanto estiver ouvindo.
Ouvir com compaixão é
uma prática muito profunda. Você não ouve para julgar ou culpar ninguém.
Você só escuta porque quer que a outra pessoa
sofra menos. Ela pode ser seu pai, seu filho, sua filha, seu companheiro ou
alguém amigo. Ouvir a outra pessoa pode efetivamente ajudar a transformar a
raiva e o sofrimento dela.
Uma bomba prestes a
explodir
Conheço uma mulher que
mora na América do Norte. Ela sofria muito porque seu relacionamento com o
marido era extremamente difícil. O casal tinha uma formação acadêmica elevada,
mas o marido estava em guerra com a mulher e os filhos, não conseguindo muitas
vezes nem mesmo falar com eles.
Todos na família
procuravam evitá-lo, porque ele era como uma bomba prestes a explodir. A raiva
dele era enorme, o que o fazia sofrer bastante. Ele achava que a mulher e os
filhos o desprezavam, porque se afastavam dele. Não era desprezo o que a mulher
e os filhos sentiam, era medo. Ficar perto daquele homem era perigoso, porque
ele podia explodir a qualquer momento.
Certo dia, a esposa
pensou em se matar porque não podia mais suportar a situação. Mas, antes de
cometer suicídio, ela telefonou para uma amiga que era praticante do budismo e
contou o que estava planejando. A amiga a havia convidado várias vezes para
praticar a meditação, a fim de sofrer menos, mas ela sempre recusara o convite.
Ao tomar conhecimento
de que a amiga pretendia se mata. A mulher budista disse ao telefone: “Se você
é de fato minha amiga, quero lhe fazer um pedido. Tome um táxi e venha até a
minha casa.”
Quando a mulher
chegou, a amiga insistiu para que ela ouvisse uma fita que continha uma
palestra do Darma que ensinava como restabelecer a comunicação com os outros,
sobretudo os mais próximos.
Deixou-a sozinha na
sala e, quando voltou, uma hora e meia depois, a amiga passara por uma grande
transformação. Ela descobrira muitas coisas. Compreendera que era em parte
responsável pelo próprio sofrimento e que também tinha causado um grande
sofrimento ao marido, pois não fora capaz de ajudá-lo.
Entendeu que a raiva do marido era causada por
um grande sofrimento e que o fato de evitá-lo apenas aumentava sua dor. As
palavras da fita a fizeram entender que, para ajudar a outra pessoa, ela tinha
que ser capaz de ouvir com profunda compaixão. Deu-se conta de que não
conseguira fazer isso nos últimos cinco anos.
Desarmando a bomba
Depois de ouvir a
palestra do Darma, a mulher sentiu um intenso desejo de ir para casa, procurar
o marido e pedir-lhe que falasse de seus sentimentos, para ajudá-lo. Mas a
amiga budista lhe disse: “Não, minha amiga, você não deve fazer isso hoje,
porque, para ouvir com compaixão, é preciso treinar durante pelo menos uma ou
duas semanas.” A budista convidou então a amiga para participar de um retiro, onde ela poderia
aprender mais.
Quatrocentas e cinquenta
pessoas participaram do retiro, comendo, dormindo e praticando juntas durante
seis dias praticaram a respiração consciente, permanecendo atentas ao ar que
entrava e saía, para unir o corpo e a mente.
Praticaram o andar consciente, concentrando-se
em cada passo, e o sentar consciente, para se tornarem capazes de observar e
abraçar o sofrimento à sua volta.
Além de ouvir
palestras sobre o Darma, todas praticaram a arte de escutar umas às outras e
usar palavras amorosas. Tentaram ouvir profundamente o que a outra dizia para
compreender seu sofrimento.
A mulher entregou-se
com muita seriedade e profundidade à prática, porque para ela se tratava de uma
questão de vida ou morte.
Ao voltar para casa
depois do retiro, ela se sentia muito calma, com o coração repleto de
compaixão, querendo sinceramente ajudar o marido a desarmar a bomba que pulsava
dentro dele. Ela se movia devagar, prestando atenção em seus passos e
respirando lenta e conscientemente para permanecer calma e alimentar sua
compaixão.
O marido notou
imediatamente a mudança e surpreendeu-se quando a mulher se aproximou e se
sentou perto dele, algo que não fazia há cinco anos.
Ela ficou em silêncio
durante talvez dez minutos e depois colocou delicadamente a mão sobre a dele,
dizendo: “Querido, eu sei que você tem sofrido muito nos últimos cinco anos e
sinto muito por isso.
Sei que sou em grande
parte responsável pelo seu sofrimento. Cometi muitos erros e lhe causei muita
dor, mesmo sem desejar. Sinto de fato muitíssimo. Gostaria que você me desse a
chance de recomeçar. Quero fazer você feliz, mas não tenho sabido como, e não
quero mais continuar desse jeito.
Por isso, querido, preciso que você me ajude a
compreendê-lo melhor para poder amá-lo melhor. Por favor, me diga o que se
passa no seu coração. Eu sei que você sofre muito, mas preciso conhecer seu
sofrimento para não repetir os mesmos erros do passado.
Se você não me ajudar, não posso lazer nada.
Preciso da sua ajuda para parar de magoá-lo. Tudo o que eu quero é amar você.”
Ao ouvi-la falando dessa maneira, ele começou a chorar. Chorou como uma
criança.
Sua mulher estivera
amarga durante muito tempo. Ela gritava o tempo todo, criticando-o, e suas
palavras eram cheias de raiva e agressividade. Tudo o que eles faziam era
brigar um com o outro. Há anos ela não falava com ele daquele jeito, com tanto
amor e carinho.
Quando ela viu o
marido chorar, soube que tinha uma chance. A porta do coração do marido
começava a se abrir de novo. Ela sabia que precisava ter muito cuidado e por
isso continuou a praticar a respiração consciente.
Disse apenas: “Por favor, meu querido, abra
seu coração para mim. Quero aprender a fazer melhor as coisas, para não
continuar a cometer erros.”
Toda a formação
acadêmica dos dois não lhes ensinara a ouvir um ao outro com compaixão. Mas
aquela noite foi um marco na vida daquele homem e daquela mulher, porque ela
aprendera a ouvir com compaixão. Passaram muitas horas conversando, e este foi
o início de uma feliz reconciliação.
Ensinamento correto,
prática correta
Quando a prática é
correta e adequada, poucas horas podem ser suficientes para produzir a
transformação e a cura. A conversa daquela noite fez com que o marido se inscrevesse
também em um retiro.
Esse retiro durou seis
dias e também causou no marido uma grande transformação. Durante uma meditação
do chá, ele apresentou a mulher aos outros participantes, dizendo: “Queridos
amigos e companheiros, gostaria de apresentar a vocês um Bodisatva, um Grande
Ser.
Trata-se da minha
mulher, um grande Bodisatva. Eu a fiz sofrer muito nos últimos cinco anos. Fui
um completo idiota. Mas ela conseguiu mudar tudo. Ela salvou minha vida.” A
seguir, os dois contaram sua história e o que os levara a participar do retiro.
Descreveram também como foram capazes de se reconciliar num nível profundo e
renovar o amor que sentiam um pelo outro.
Quando um agricultor
usa um tipo de fertilizante que não surte efeito, ele precisa trocar o produto.
O mesmo acontece conosco. Se depois de vários meses nossa prática não tiver
ocasionado nenhuma transformação ou cura, temos que reconsiderar a situação.
Precisamos modificar
nossa maneira de ver as coisas e aprender mais, para descobrir a forma capaz de
transformar nossa vida e a vida das pessoas que amamos.
O importante é
descobrir e aprender a prática correta. Se você se empenhar seriamente nisso,
sabendo que sua felicidade depende desse exercício, tal como a mulher da
história que acabei de contar, você será capaz de mudar tudo.
Como tornar possível a
realidade
Vivemos numa época que
dispõe dos mais sofisticados meios de comunicação. As informações viajam rapidamente
de um lado para outro do planeta. No entanto, é exatamente neste momento que a
comunicação entre as pessoas - pai e filho, marido e mulher, mãe e filha - se
tornou extremamente difícil.
Se não conseguirmos restabelecer a
comunicação, a felicidade jamais será possível. No ensinamento budista, as
práticas de ouvir com compaixão, usar palavras amorosas e cuidar da nossa raiva
são apresentadas com muita clareza.
Se quisermos restabelecer a comunicação e
trazer a felicidade para a nossa família, para nosso espaço profissional e para
nossa comunidade, temos que colocar em prática os ensinamentos do Buda sobre
ouvir profundamente e falar com amor. Só então poderemos ajudar outras pessoas
no mundo. Thich Nhat Hanh
este texto está livre para divulgação desde que seja citada o endereço do blog.
Pesquisado por Dharmadhannya
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