A LUXÚRIA
ENEATIPO VIII: A LUXÚRIA
De acordo com o
eneagrama, há nove tipos de personalidade ou egos preponderantes Veja abaixo o
resumo dos 9 tipos:
O dicionário espanhol diz que: “luxúria é um vício que
consiste no uso ilícito ou apetite desordenado de prazeres carnais, ou excesso
em certas coisas”.
Uma sexualidade intensa sujeita a um mínimo de restrições
não é somente o que dá ao tipo EVIII do Eneagrama um caráter excessivo.
Utilizarei, portanto, a palavra “luxúria” para denotar
uma paixão pelo excesso, uma paixão que procura a intensidade, não apenas
através do sexo, mas por meio de todo tipo de estimulação: atividade, ansiedade,
temperos, alta velocidade, o prazer da música tocada alto, e assim por diante.
O aspecto
indolente da pessoa sensual pode ser compreendido não apenas como um sentimento
de não só estar suficientemente vivo através da estimulação excessiva, mas
também como um evitar concomitante da interioridade.
Podemos dizer
que a ganância por uma vivacidade cada vez maior, característica da
personalidade sensual, é apenas uma tentativa de compensar uma ausência oculta
de vivacidade.
A Estrutura dos Traços
A Luxúria
Assim como a raiva pode ser considerada a mais oculta
das paixões, a luxúria é provavelmente a mais visível, sendo aparentemente uma
exceção à regra geral de que sempre que existe uma paixão, existe também um
tabu ou uma pressão contra ela na psique.
Digo
“aparentemente” porque embora o tipo sensual seja apaixonadamente a favor da
sua luxúria e da luxúria de um modo geral como um modo de vida, a própria
paixão com que ele abraça esse ponto de vista trai uma qualidade defensiva —
como se ele precisasse provar a si mesmo e ao resto do mundo que o que todo
mundo considera mau não é realmente assim.
Alguns dos
traços específicos que transmitem a luxúria, como a “intensidade”, o “prazer”,
o “amor pela comida”, o “prazer do contato”, etc. estão intimamente ligados ao
estrato constitucional da personalidade.
Uma disposição
sensório-motora (a base somatotônica da luxúria) pode ser considerada o solo
natural no qual a luxúria propriamente dita é sustentada. Outros traços, como o
hedonismo, a propensão para o tédio quando não é suficientemente estimulado, o
anseio de excitação, a impaciência e a impulsividade estão no domínio da
luxúria propriamente dita.
Podemos considerar que, a luxúria é mais do que o
hedonismo. Existe luxúria não apenas no prazer, mas prazer em assegurar a satisfação
dos impulsos, prazer no que é proibido e, particularmente, prazer em lutar
pelo prazer.
Além do prazer propriamente dito, acrescenta-se aqui ainda uma certa dor
que se transformou em prazer: ou a dor daqueles que são “atormentados” para a
satisfação do indivíduo ou a dor gerada pelo esforço de transpor os obstáculos
a caminho da satisfação.
É isso que
torna a luxúria uma paixão de intensidade e não apenas de prazer. A intensidade
extra, a excitação adicional, o “tempero” não procedem da satisfação dos
instintos, e sim da luta e de um triunfo implícito.
A Punitividade
Outro grupo de traços intimamente ligados à luxúria é
o que poderia ser chamado de punitivo, sádico, explorador, hostil.
Entre esses traços podemos encontrar a “indelicadeza”,
o “sarcasmo”, a “ironia”. De todos os tipos de caráter, este é o mais irado e
o que é menos intimidado pela raiva. Ele costuma tipicamente ainda intimidar,
humilhar e frustrar as outras pessoas.
É à característica irada e punitiva do tipo VIII do
eneagrama que Ichazo se refere ao chamar a fixação do indivíduo sensual de
“vingança”.
A palavra,
contudo, tem o inconveniente de estar associada ao tipo mais abertamente
vingativo dos tipos de caráter, o tipo IV do eneagrama, cuja hostilidade
algumas vezes se manifesta através de explícitas vendettas.
Sob esse
aspecto manifesto, o tipo VIII não é notavelmente vingativo; pelo contrário, o
caráter revida zangado na hora e rapidamente vence sua irritação.
A vingança que
costuma estar mais presente no tipo VIII do eneagrama é (sem contar sua reação
imediata de “reagir à altura”) em longo prazo, na qual o indivíduo faz justiça
com as próprias mãos em resposta à dor, humilhação e impotência que sentiu na
infância.
É como se ele
quisesse trocar de posição com o mundo e, depois de ter sofrido frustração ou
humilhação para dar prazer aos outros, tivesse decidido que agora é sua vez de
ter prazer, mesmo que isso envolva a dor de outras pessoas. Ou especialmente
por isso — pois é aí, também, que pode estar a vingança.
O fenômeno sádico de apreciar a frustração ou humilhação
dos outros pode ser considerado uma transformação do fato de ter que conviver
com a própria (como um subproduto do triunfo vingativo), assim como a excitação
da ansiedade, dos gostos intensos e das experiências fortes representa uma
transformação da dor no processo do indivíduo de ficar calejado na vida.
A característica antissocial do tipo VIII do
eneagrama, como a própria rebeldia (na qual ela está embutida), pode ser
considerada uma reação da raiva e, portanto, uma manifestação de punitividade
vingativa. O mesmo pode ser dito a respeito da dominância, da insensibilidade e
do cinismo, ao lado de seus derivados.
A punitividade pode ser considerada como a fixação no
caráter sádico ou explorador — e podemos reconhecer o mérito de Horney e Fromm
por estarem adiante de seu tempo ao enfatizar essas últimas características.
A Rebeldia
Embora a luxúria em si encerre um elemento de rebeldia
em sua firme oposição à inibição do prazer, a rebeldia se destaca como um traço
à parte, mais proeminente no tipo VIII do eneagrama do que em qualquer outro
caráter.
Embora o tipo
VII seja informal, a ênfase da sua rebeldia é intelectual. Ele é uma pessoa com
“idéias avançadas”, talvez com uma perspectiva revolucionária, ao passo que o
tipo VIII é o protótipo do ativista revolucionário.
Além das
ideologias específicas, contudo, existe no caráter não apenas uma forte
oposição á autoridade, mas também um desprezo pelos valores impostos pela
educação tradicional.
É em virtude
dessa grosseira invalidação da autoridade que a “maldade” automaticamente se
toma a maneira de ser. A origem dessa rebeldia generalizada contra a autoridade
usualmente pode ser buscada numa rebeldia diante do pai, que é o portador da
autoridade na família.
Os tipos de
caráter vingativo frequentemente aprendem a não esperar nada de bom de seus
pais e, implicitamente, passam a considerar o poder paterno como ilegítimo.
A Dominância
Estreitamente relacionada com a hostilidade
característica do tipo do eneagrama está a dominância. Pode-se dizer que a
hostilidade está a serviço da dominância, e que a dominância, por sua vez, é a
expressão da hostilidade.
No entanto, a
dominância também tem a função de proteger o indivíduo numa posição de
vulnerabilidade e dependência. Relacionados com a dominância estão a
“arrogância”, a “busca do poder”, a “necessidade de triunfar”, “rebaixar os
outros”, a “competitividade”, “agir de uma maneira superior", e assim por
diante.
Também relacionados com esses traços de superioridade
e dominância estão os traços correspondentes de desprezo e desdém pelos outros.
É fácil ver como a dominância e a agressividade estão a serviço da luxúria;
particularmente num mundo que espera o comedimento individual, somente o poder
e a habilidade de lutar pelos próprios desejos podem permitir que o indivíduo
se entregue à sua paixão de expressar o impulso.
A dominância e
a hostilidade se colocam a serviço da vingança, como se o indivíduo tivesse
cedo na vida decidido que não vale a pena ser fraco, acomodado ou sedutor, e
tenha se orientado para ao poder numa tentativa de fazer justiça com as
próprias mãos.
A Insensibilidade
Também estreitamente relacionados com as características
hostis do tipo VIII do eneagrama estão os traços da agressividade, que se
manifestam através das descrições de “confrontação”, “intimidação”,
“crueldade”, “desumanidade”.
Essas características são claramente consequência de
um estilo de vida agressivo, incompatível com o medo, a fraqueza, o
sentimentalismo ou a piedade.
Relacionado com
essa qualidade não sentimental, realista, direta, brusca e grosseira existe um
desprezo correspondente pelas qualidades opostas da fraqueza, da sensibilidade
e, particularmente, do medo.
Podemos dizer que um caso específico do enrijecimento
da psique é a característica exagerada de correr riscos, através da qual o
indivíduo nega seus próprios temores e se entrega ao sentimento de poder
gerado por sua conquista interior.
Correr riscos,
por sua vez, alimenta a luxúria, pois o indivíduo do tipo VIII aprendeu a
encarar a ansiedade como uma fonte de excitação, e em vez de sofrer, ele
aprendeu — através de um fenômeno masoquista implícito — a revolver-se em sua
absoluta intensidade.
Assim como seu paladar aprendeu a interpretar as
sensações dolorosas de um tempero picante como prazer, a ansiedade — e/ou,
melhor, o processo de se enrijecer contra ela — tomou-se, mais do que um
prazer, um vício psicológico, algo sem o que a vida parece insípida e
enfadonha.
Trapaça e Cinismo
Os dois traços seguintes podem ser considerados intimamente
relacionados. A atitude cínica diante da vida da personalidade exploradora é
enfatizada pelos traços de Fromm do ceticismo, da tendência de considerar a
virtude como sendo sempre hipócrita, da desconfiança das intenções dos outros,
e assim por diante.
Nesses traços, como na agressividade, vemos a
expressão de um modo e uma visão de vida “com garras e dentes vermelhos”.15
Com relação à trapaça e à astúcia, é preciso que se
diga que o tipo VIII do eneagrama é mais claramente enganador do que o tipo
VII, e é facilmente visto como um trapaceiro, o típico “vendedor de carros
usados” que sabe como negociar agressivamente.
O Exibicionismo (Narcisismo)
As pessoas do tipo VIII são divertidas, espirituosas e
frequentemente atraentes, mas não são vaidosas no sentido de se preocuparem com
a aparência. Sua sedução, fanfarronice e declarações arrogantes são
conscientemente manipuladoras; elas visam obter influência e uma posição
superior na hierarquia do poder e da dominância.
Essas
características também representam uma compensação para a sua tendência exploradora
e sua insensibilidade, uma maneira de comprar os outros ou se fazerem
aceitáveis apesar dos traços de irresponsabilidade, violência, intrometimento,
e assim por diante.
A Autonomia
Como observou Horney, não poderíamos esperar outra
coisa além da autoconfiança de alguém que se aproxima das outras pessoas como
se elas fossem concorrentes em potencial ou alvos de exploração.
Ao lado da
autonomia característica do tipo VIII do eneagrama existe a idealização
da autonomia, uma rejeição correspondente da dependência e dos empenhos orais
passivos.
A rejeição desses traços passivos é tão impressionante
que Reich postulou que o caráter fálico-narcisista constitui precisamente uma
defesa contra eles.16
Além dos conceitos da luxúria e do hedonismo, da rebeldia,
da punitividade, da dominância, bem como da busca do poder, da agressividade,
de correr riscos, do narcisismo e da astúcia, existe no tipo VIII do eneagrama
a predominância da ação sobre o intelecto e o sentimento, pois este é o mais
sensório-motor dos tipos de caráter.
A orientação
característica do tipo VIII do eneagrama para um consistente e concreto “aqui e
agora” — a esfera dos sentidos e da sensação física em particular — é um
agarrar sensual no presente e uma impaciência agitada com relação à memória,
às abstrações, às previsões, bem como uma dessensibilização diante da sutileza
da experiência estética e espiritual.
Concentrar-se
no presente não é simplesmente uma manifestação de saúde mental como poderia
ser em outras disposições de caráter, e sim a consequência de não considerar
real nada que não seja tangível e não ofereça um estímulo imediato aos
sentidos.
4. Mecanismos de Defesa *
Quando consideramos qual o mecanismo que pode ser mais
característico do caráter sensual-vingativo, o que primeiro
Oposta à inveja no eneagrama, pode-se dizer que a
luxúria constitui o polo superior de um eixo sadomasoquista. As duas
personalidades, VIII e IV, são de algumas maneiras opostas (como sugerem esses
termos), embora também sejam similares em alguns aspectos, como na sede de
intensidade.
nos chama a atenção é como essa disposição de
personalidade gravita na direção oposta à repressão da vida instintiva que
Freud enfatizou na neurose em geral.
Com efeito,
enquanto a inibição da sexualidade é aparente na maioria dos tipos de caráter
(a não ser no tipo II do eneagrama e até certo ponto no VII) e a inibição da
agressão é ainda mais generalizada, é a não-inibição dessas qualidades que
caracteriza a impulsividade sensual.
No entanto, em
sua interpretação do caráter fálico-narcisista, Reich expressou a opinião de
que essa orientação diante da vida deve ser compreendida como possuindo uma
natureza defeituosa: uma defesa contra a dependência e a passividade.
Diremos que o tipo VIII excessivamente “masculino”
procura, através de uma afirmação e agressão excessivas, evitar a posição da
impotência “feminina” — impotência essa que envolveria a submissão a restrições
da sociedade e a resignação diante dos seus próprios impulsos.
Além disso, a fim de compensar os sentimentos de
culpa, vergonha e inutilidade evocados pela desconsideração que ele sente pelos
outros, o indivíduo se envolve num processo de negação da culpa e na repressão
(no sentido mais amplo do termo) do superego e não do id.
Essa postura
rebelde contra as inibições, numa atitude de solidariedade com o pobre, diabo
intrapsíquico, não parece ter recebido um nome específico na psicanálise,
embora possa ser considerada semelhante à negação, na medida em que existe uma
rejeição da autoridade interiorizada e seus valores.
Como Freud
utilizava a expressão “negação” (verleugnung) principalmente em conexão
à rejeição da realidade externa, prefiro trazê-la apenas metaforicamente para
esta discussão, e simplesmente salientar a necessidade de um termo mais
específico para denotar a repressão que não é do lado instintivo do conflito, e
sim do contra instintivo.
Uma expressão
como “contra repressão” ou “contra- identificação” poderia servir ao propósito
— especialmente a última, visto que os traços rebeldes são interpretáveis como
identificações inversas aos comportamentos e atitudes espera dos pela sociedade
e pelos pais.
A oposição do
tipo VIII ao tipo IV no eneagrama sugere, contudo, que “contra introjeção” pode
ser ainda mais específico, pois, ao contrário do tipo IV, que, com excessiva
regularidade traz objetos nocivos para sua psique como corpos estranhos, o tipo
VIII do eneagrama é o oposto daquele que está disposto a engolir e está mais do
que pronto para cuspir fora o que não está de acordo com seus desejos.
Igualmente característica da forma de reprimir do tipo
VIII do eneagrama é a capacidade especialmente desenvolvida para manter a dor
fora da consciência — uma condição na qual a pessoa pode não ter consciência de
uma febre alta ou uma infecção no ouvido médio, por exemplo.
A luxúria é demarcada no eneagrama ao lado do vértice superior do triângulo interno, o que indica uma afinidade com a indolência, com uma disposição sensório-motora e a predominância do obscurecimento cognitivo ou “ignorância” sobre a “aversão” e o “anseio” (nos cantos esquerdo e direito, respectivamente).
No nível
psicológico, a insensibilidade com relação ao desconforto psicológico dos
indivíduos sádicos, de mentalidade dura, envolve uma relativa insensibilidade
com relação à vergonha e explica uma aparente ausência de culpa.
Creio que isso também explica a típica atração que as
pessoas sensuais sentem pela ansiedade (e pelo risco), que não é evitada, e sim
“sadicamente” transformada num estímulo, uma fonte de excitação (um ato de
sadismo contra o eu).
Podemos chamar
de dessensibilização essa elevação característica do limiar da dor, que pode
ser compreendida como a base tanto do endurecimento, como desistir de esperar
o amor da parte das outras pessoas, quanto de uma revolta contra os padrões
sociais.
Além disso,
assim como o caráter masoquista é de algumas maneiras sádico, existe um aspecto
masoquista no caráter da luxúria; e enquanto o caráter sádico é ativo, a
disposição masoquista é emocional: o primeiro se expande sem culpa em direção à
satisfação da sua necessidade; a última anseia e se sente culpada com relação à
sua carência.
Assim como o caráter centrado na inveja é o mais
sensível do eneagrama, o tipo VIII do eneagrama é o mais insensível.
Podemos imaginar a paixão pela intensidade do tipo
VIII do eneagrama como uma tentativa de buscar através da ação a intensidade
que o tipo IV do eneagrama alcança através da sensibilidade emocional, que aqui
é encoberta não apenas pela indolência fundamental que esse tipo compartilha
com a tríade superior do eneagrama, como também por uma dessensibilização a
serviço da autossuficiência contra dependente.
A síndrome caracterológica da luxúria está relacionada
com a da gula no sentido de que ambas se caracterizam pela impulsividade e pelo hedonismo.
No caso da gula, contudo, a impulsividade e o
hedonismo existem num contexto caracterológico fraco, suave e com espírito
delicado, enquanto na luxúria o contexto é o de um caráter forte e de
inclinação firme.1
O distúrbio da personalidade antissocial descrito no
DSM III pode ser considerado um extremo patológico e um caso especial do tipo
VIII do eneagrama. A síndrome mais ampla pode ser melhor evocada através do
rótulo de Reich do caráter “fálico narcisista”2 ou da descrição de
Horney da personalidade vingativa.
A palavra
“sádico” parece particularmente apropriada, tendo em vista sua posição oposta
ao caráter masoquista do tipo IV do eneagrama. Claudio Naranjo.
Postado por Dharmadhannya
Agradeço se você ao compartilhar citar a Fonte.
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