Estratégias
Educacionais
Nossa pesquisa mostra claramente que a depreciação
prejudica a comunicação entre pais e filhos e a autoestima da criança.
Nos estudos de laboratório que realizamos com
famílias, vimos pais tratando os filhos de forma depreciativa, como, por
exemplo, arremedando em tom de escárnio o que eles dizem. (“Não me lembro da
história”, dizia a criança. “Não lembra?”, escarnecia o pai.)
Durante o exercício de video game, alguns pais
não deixavam passar nenhum erro dos filhos, esmagando-os com uma bateria de
críticas. Outros tomavam o jogo da mão dos filhos, mostrando que os achavam
incompetentes.
Questionados
sobre a emoção dos filhos, muitos pais revelaram que, quando seus filhos
pequenos faziam cenas de mau gênio, eles riam ou caçoavam deles.
No acompanhamento destas famílias, realizado três anos
depois, verificamos que as crianças tratadas desta forma desmerecedora e desrespeitosa
pelos pais eram as que estavam tendo mais problemas com os estudos e as
amizades.
Eram as que
apresentavam índices mais elevados de hormônios associados ao estresse. Segundo
os professores, tinham mais problemas de comportamento e, segundo as mães,
ficavam doentes com mais frequência.
Este tipo de educação negativa e desmerecedora tanto
pode ser observada no mundo real quanto em laboratório.
Pais bem-intencionados
acabam minando a autoconfiança dos filhos,podem agir exatamente com
os seus pais internalizados podem agir exatamente com
os seus pais internalizados
de tanto
corrigir seus modos, ridicularizar seus erros e intervir desnecessariamente,
impedindo que a criança execute as tarefas mais simples.
Levianamente, rotulam os filhos com epítetos que colam
na autoimagem da criança. (Bobby é “hiperativo”. Karie é “calada”. Bill é
“preguiçoso”. Suzi é um capetinha. Angie é nossa “cabecinha-de-vento”.)
Também
é comum ouvir pais brincarem com outros adultos às custas da criança. Ou vê-los
caçoar da tristeza do filho com frases do tipo “Não seja tão bebezinho”.
Obviamente, pais que estão verdadeiramente em contato
com os sentimentos dos filhos são menos propensos a tratá-los assim. No
entanto, nossos estudos mostram que até pais que identificamos como preparadores emocionais às vezes, sem querer, faziam pouco dos filhos.
Por isso, aconselho veementemente
que os pais fiquem atentos aos hábitos insi- diosos
da crítica, do sarcasmo e do menosprezo.
Cuidado para
não ridicularizarem seus filhos. Deem-lhes mais espaço à medida que procuram
adquirir novas aptidões, mesmo que isso signifique deixá-los cometer alguns
erros. Evitem rotular os defeitos. Especifiquem as ações e não um comportamento
caricatural. Digam: “Não se escreve nos móveis na casa da vovó” em vez de
“Deixe de ser mal-educado!”.
Algumas crianças podem ter menos sensibilidade, mas
nenhuma é revestida de Teflon. A criança quer se identificar com os pais e
costuma acreditar em qualquer coisa que eles digam a respeito dela.
Se os pais
desmerecem e humilham os filhos com piadas, excesso de críticas e intromissões,
perdem a confiança deles. E, sem confiança, não há intimidade, ninguém se abre e
é impossível trabalhar em conjunto para solucionar os problemas.
USE A TÉCNICA DO “ANDAIME” E DO ELOGIO PARA PREPARAR
SEU FILHO
O “andaime” é uma técnica didática que observamos ser
usada com sucesso por famílias com preparo emocional na experiência com o video
game. O comportamento dessas famílias é radicalmente diferente daquele dos
pais excessivamente críticos descritos acima.
Primeiro, as
famílias com preparo emocional falam baixo, com calma, dando aos filhos as
informações necessárias para iniciar o jogo. Depois, esperam a criança acertar
e elogiam-na especificamente (apenas especificamente) pelo que ela fez certo.
(Por exemplo,
um pai pode dizer: “Muito bem! Você apertou o botão bem na hora”. Esse tipo de
elogio dirigido é didaticamente muito mais eficaz do que generalizações do tipo
“Muito bem! Você já pegou o jeito!”.)
Então, depois
do elogio, os pais sempre dão mais alguma informação. E, finalmente, a família
recapitula o processo, com os filhos aprendendo o jogo por etapas. Chamamos
esta técnica de “andaime” porque os pais usam cada sucesso para incrementar a
confiança da criança, ajudando-a a alcançar sempre um patamar mais elevado de
competência.
Ao contrário dos pais excessivamente críticos
descritos acima, os preparadores emocionais raramente apelam para críticas ou
humilhações para ensinar os filhos. Nem tiram o jogo da mão da criança para
brincar no lugar dela.
Pais críticos e severos, não usam de empatia (não se
colocam no lugar da criança) antes de falar ou de julgar.—
—
EVITE FICAR DO LADO
DO INIMIGO
—
Ao sentir que foi
maltratada, a criança pode recorrer aos pais em busca de lealdade, compaixão e
apoio. Esta é uma boa oportunidade para os pais agirem como preparadores
emocionais, desde que não incorram no erro de “ficar do lado do inimigo”.
—
Isto naturalmente é tentador, especialmente
quando os pais pendem naturalmente para o lado das autoridades mesmas de quem os filhos provavelmente se queixam
— figuras como professores, preparadores, patrões, ou pais de outras crianças.
—
Imagine, por exemplo,
que uma menina gorda chegue em casa aborrecida porque a professora de balé fez
um comentário rude sobre sua obesidade. Se a mãe anda procurando, em vão, fazer
a filha emagrecer, pode ser que fique tentada a dar razão à professora.
—
Isso. provavelmente faria a menina sentir-se
como se o mundo inteiro estivesse contra ela. Mas e se a mãe mostrasse um pouco
de empatia e dissesse algo do tipo:
“Que chato, você deve ter ficado
constrangida e magoada”. Isso poderia aproximar a menina da mãe. E se a mãe
sempre tiver uma atitude assim compreensiva e de apoio, a filha pode acabar
permitindo que a mãe ajude.
—
O que fazer, porém,
se você for o inimigo, o alvo da ira de seu filho? Creio que a empatia
também pode funcionar em situações deste tipo, sobretudo se você se colocar
honestamente, o que lhe permite não ficar na defensiva.
Digamos, por exemplo,
que sua filha esteja com raiva de você porque você a proibiu de ver televisão
enquanto as notas dela não melhorarem. Sem mudar de ideia, você pode dizer:
“Compreendo por que você está brava. No seu lugar, eu também estaria”.
—
Honestidade e
franqueza diante do conflito podem estimular sua filha a expressar os
sentimentos dela também, sobretudo se você puder provocar o debate com
comentários do tipo:
—
“Pode ser que eu esteja errada a esse
respeito. Não sou infalível. Gostaria de ouvir o seu lado”. Embora muitos pais
achem difícil colocar-se nesta posição desarmada, se ela contribuir para que
seus filhos considerem você uma pessoa justa e disposta a ouvir, vale a pena.
—
Lembre-se de que o
objetivo das conversas não é necessariamente fazer o filho pensar como nós, mas
antes transmitir compreensão.
Se seu filho de repente afirma que “tabuada de
multiplicar é uma burrice”, ou “brinco de nariz é legal”, talvez você se sinta
tentada a fazer um sermão para mostrar que ele está errado.
—
Mas será muito mais
contundente se reagir de uma forma que propicie o diálogo. Pode começar
dizendo, mais ou menos isso: “Eu também penei para aprender a tabuada de
multiplicar”. Ou então: “Brinco de nariz não faz meu gênero, mas por que você
gosta?”.
ESQUEÇA O SEU “PROGRAMA EDUCATIVO”
Embora os momentos de emotividade sejam grandes
oportunidades de identificação, união e estímulo, às vezes são um verdadeiro
desafio para os pais que possuem o que eu chamo de “programa educativo” — isto
é, uma meta baseada em algum problema que o pai ou a mãe julga estar sendo
prejudicial à criança.
Estes programas
costumam estar associados ao desenvolvimento de qualidades tais como coragem,
parcimônia, bondade e disciplina. Podem variar conforme a criança. Os pais
podem achar um filho excessivamente seguro e outro excessivamente tímido.
Embora algumas crianças sejam consideradas preguiçosas ou indisciplinadas,
outras são sérias demais, carecendo de espontaneidade e senso de humor.
Independentemente do problema em questão,
estes programas fazem com que os pais vivam atentos ao comportamento do filho,
sempre desejando corrigi-lo. Quando surgem conflitos ligados a questões programáticas,
os pais vigilantes sentem-se na obrigação moral de deixar claro seu ponto de
vista:
“Com essa sua cabeça-de-vento, você tomou a esquecer
de dar comida para o gato e isso é uma maldade”; “Com essa sua impulsividade,
você gastou parte da sua poupança para a faculdade comprando ingresso para
concerto e isso é uma idiotice”.
Dou os parabéns aos pais que compartilham seus valores
com os filhos. Acho que essas lições são importantes para a formação da
criança. Mas os pais precisam ter em mente que, se não for executado com
sensibilidade, o programa educativo pode prejudicar o relacionamento entre pais
e filhos.
Antes de mais
nada, o programa educativo costuma impedir que os pais ouçam os filhos com
empatia. Isso pode ser contraproducente, minando a influência dos pais sobre as
decisões dos filhos. Deixe-me dar um exemplo: Jean, uma mãe sensível de um de
nossos grupos de pais, há muito anda preocupada com o “jeito triste” de Andrew.
Acha que o
garoto de nove anos é dado a “se colocar no papel ’ de vítima” e não sabe como
isso pode afetar o relacionamento dele com os outros. Por isso, numa pequena
discussão com Andrew sobre uma briga que ele teve com a irmã mais velha, o
programa de Jean era fazer Andrew sentir-se mais responsável por seu
relacionamento com a irmã.
—
O que foi, querido? — começou ela. — Você está meio
tristonho.
—
Eu só queria ter uma irmã melhor — respondeu Andrew.
—
E você é bom para ela? — perguntou Jean.....
—
Agora imagine o que
Andrew deve ter sentido diante dessa pergunta. Lá estava a mãe, parecendo
interessada no que ele sentia. Mas, na hora em que ele se abre, ela vem com uma
crítica. Certo, é uma crítica afável e bem-intencionada, mas não deixa de ser
uma crítica.
—
Agora imagine o que
Andrew sentiria se Jean tivesse dito uma coisa do tipo “Entendo por que às
vezes você pode se sentir assim”. Uma declaração como esta mostraria a Andrew
que mamãe está interessada na tristeza dele, que ela estava ali para ajudá-lo a
entender o que ele sentia pela irmã e a apresentar soluções.
—
Mas Jean pôs todo o
peso em cima de Andrew, o que só o deixou mais na defensiva e menos disposto a
assumir sua parcela de responsabilidade pela desavença.
—
O programa educativo
pode atrapalhar até em situações em que o pai sabe que a criança agiu mal, diz
Alice uma educadora de pais, aconselha os pais a só falarem sobre o que os
filhos fizeram de errado depois que os sentimentos subjacentes tiverem sido
abordados.
—
Para chegar à emoção
que gera a má conduta, é melhor evitar perguntas do tipo: “Por que você fez
isso?”.
Essa pergunta soa como acusação ou crítica. É mais provável a criança
responder na defensiva do que com alguma informação útil. Tente, então,
perguntar com interesse o que ela estava sentindo quando agiu mal.
—
Certo, não é fácil
deixar de lado o programa educativo quando a criança faz o que não deve —
especialmente quando a gente está com o sermão na ponta da língua.
Mas dar
lição de moral sem falar sobre os sentimentos subjacentes à má conduta costuma
ser inútil. É como botar uma compressa fria na testa de seu filho sem antes ter
tratado da infecção que causou a febre.
—
Deixe-me dar um
exemplo: uma mãe chega com uma hora de atraso para pegar o filho de três anos
na creche.
O menino, a quem a mãe costuma chamar de “teimoso”, começa a ficar
implicante. Recusa-se a colaborar para vestir o casaco e dirigir-se para a
saída.
—
A mãe pode brigar
porque o filho não quer obedecer, ou parar, pensar no que aconteceu antes e
tentar compreender o que o menino está sentindo. Escolhendo esta opção, ela
pode dizer o seguinte: “Hoje me atrasei demais, não foi?
—
Quase todos os seus amigos já tinham ido
embora. Você ficou preocupado?”.
A criança, com seus sentimentos de ansiedade
e tensão legitimados,
poderia sentir-se subitamente aliviada e dar
um abraço na mãe. A tensão por causa do casaco dissolver-se-ia e tudo acabaria
bem.
—
Para conseguir entrar
em contato com o filho, a mãe precisa deixar de lado seu programa de longo
prazo para tornar o menino menos “teimoso”, mais dócil. Em geral, os pais
reagem à má conduta dos filhos exatamente como não devem.
—
Ficam mais agarrados
ao programa educativo, manifestando preocupação por um problema infantil como
se aquilo revelasse uma falha de caráter gravíssima. Às vezes censuram a
criança por aquele defeito. Andrew é supersensível.
Janet é agressiva demais.
Bobby é tímido demais, Sarah é muito desmiolada, não para quieta, não consegue
aprender, parece “burra”.
—
Estes rótulos cortam a empatia. Também são
destrutivos porque a criança, infelizmente, primeiro vai acreditar nos pais
para depois tentar realizar o que eles disseram, como se aquilo fosse uma
profecia divina.
—
Em suas memórias, Father
to the Man [Pai do homem], o escritor Christopher Hallowell lembra seu pai
tentando ensiná-lo a fazer um caixote de madeira. “Se você conseguir fazer uma
caixa em esquadro”, disse o pai, “pode fazer qualquer coisa.”
—
Com muito esforço,
Hallowell conseguiu fazer uma caixa, ainda que torta. Refletindo sobre o
incidente, ele diz: “... toda vez que examinava a caixa, meu pai torcia o nariz
e dizia: ‘Você fez uma coisa fora de esquadro.’
—
Só vai conseguir ser um bom construtor se
fizer tudo em esquadro. Afinal, parou de torcer o nariz e nunca mais falou na
caixa. Durante anos, guardei minhas quinquilharias ali, sentindo uma certa afeição
por aquela peça cada vez que a abria, embora sempre pairando por ali estivesse
a imagem de meu pai com aquele olhar de censura”.
—
Para Hallowell, um
escritor de renome, este episódio triste marcou a lembrança de seu
relacionamento com o pai. Para nós, pode servir de exemplo pungente do impacto
que o criticismo dos pais pode ter sobre os filhos.
—
Como pais, nenhum de
nós quer que nossos filhos fiquem satisfeitos fazendo caixas tortas. Nem que
fiquem preguiçosos, retraídos, agressivos, burros, covardes, mentirosos.
—
Mas também não
queremos que usem estes defeitos para se definir. Como esse tipo de “rotulação”
negativa pode ser evitada?-A resposta é: evitando críticas aos defeitos da
criança. Quando corrigir a criança, focalizar o que está acontecendo com ela
naquele momento específico.
—
Em vez de dizer “Você
é descuidada e bagunceira”, diga “Têm brinquedo espalhado pelo quarto inteiro”.
Em vez de “Você lê...
muito devagar”, diga “Se você ler todo dia
meia hora antes de dormir, vai começar a ler mais rápido”. Em vez de “Não seja
tão tímida”, diga “Se você falar mais alto, o garçom vai ouvir”.
—
FAÇA MENTALMENTE UM
MAPA DA VIDA DE SEU FILHO
—
A criança nem sempre
sabe expressar as emoções. Seu filho um dia pode amanhecer agoniado, mas não
conseguir dizer o que está sentindo nem por que está daquele jeito.
—
Quando isso acontece, é bom estar bem
informado sobre as pessoas e os lugares que ele frequenta e o que acontece em
sua vida. Assim você estará mais apto a explorar o que pode estar deixando o
seu filho daquele jeito e ajudá-lo a rotular seus sentimentos. Você também
estará demonstrando que dá importância ao mundo dele e isso pode servir para aproximá-lo
de você.
—
Gosto de pensar nesta
base de conhecimento como uma espécie de ■ mapa, que os pais conscientemente se
esforçam para ter em mente. Considerando este mapa, um pai ou uma mãe pode
dizer:
—
“O mundo do meu filho é este, e as pessoas que
povoam esse mundo são estas. Sei como se chamam e como elas são. Sei o que meu
filho sente por cada uma. Esses aqui são os maiores amigos do meu filho e
aquele é o inimigo. Meu filho gosta desta professora, acha o preparador
divertido, mas aquela professora o intimida.
—
As linhas gerais da escola dele são estas. Sei
onde ele se sente melhor e sei quais são os perigos que ele sente que tem de
enfrentar aí. O horário dele é este. Ele gosta de tais e tais matérias, e tem
dificuldade em tais e tais”.
—
Elaborar um mapa como
esse do mundo emocional de seu filho dá trabalho e exige muita atenção a
detalhes. Os pais precisam dedicar algumas horas à creche, à escola e às
atividades extracurriculares de seus filhos.
—
Precisam conversar
com eles e conhecer seus amigos e professores. E, como qualquer mapa de uma
comunidade viva, este precisa ser atualizado regularmente. Porém, os pais que a
ele recorrem, nele encontram um ponto de partida para conversas proveitosas".
Postado por Dharmadhannya
Nenhum comentário:
Postar um comentário