"Compreendendo o que é o ego com uma visão do sagrado'.
Primeira Parte.
Sei que o meu Eu superior está sempre
prestes a alçar-me além do mundo que
experimento com meus sentidos.
O ego, essa ideia de si mesmo, é muito
parecido com o exemplo do espelho, sem
as adaptações. Seu ego quer que você procure o interior no exterior. A
ilusão externa é a maior preocupação do ego. Por sua vez, a modalidade do seu
Eu superior é refletir a sua realidade interior, não a ilusão exterior.
Há
muitas outras interpretações da palavra "ego': Algumas veem nela a parte
inconsciente de nós, primariamente envolvida com o ódio, a maldade e a
destruição.
O
ego também foi descrito como algo que está sempre conosco, controlando nosso
dia-a-dia, embora pouco possamos fazer para alterá-lo. Outros definem o ego como
o aspecto exclusivamente físico da nossa personalidade ou realidade em oposição
à parte espiritual ou superior que definimos como alma.
Nenhuma
dessas é a minha acepção de ego. Vejo o ego apenas como a ideia que cada um de
nós tem de si próprio. Isto é, o ego é só uma ilusão, embora muito influente.
SETE
CARACTERÍSTICAS PRIMÁRIAS DO EGO
Libertar-se
das ilusões do ego será mais fácil quando você reconhecer as características
dele.
1.
O ego é o seu falso Eu. Seu verdadeiro
Eu é eterno. É a força de Deus dentro de você que lhe fornece
a energia para andar por aí usando as roupas que chama de corpo - um espaço
sereno, vazio, cercado pela forma. Acreditar que você é
só o Eu físico, o corpo que contém a energia, é uma falsa crença.
Você
não precisa repudiar o ego ao reconhecê-lo como falso eu. O que você está
reconhecendo mesmo é o ego como ideia do Eu que não condiz à sua identidade
verdadeira e sagrada.
Estamos
mais acostumados a pensar que somos um corpo com uma alma, do que a compreender
que somos uma alma com um corpo. Olhar para você à maneira do ego - com a
ênfase em você como ser físico - é uma forma de amnésia, que se cura quando
você reconhece quem realmente é.
Tagore
ressalta a falsidade do ego nesta passagem notável:
“Aquele
que eu cerco com meu nome chora neste calabouço.
Eu
estou sempre ocupado construindo este muro em volta; e conforme o muro se ergue
para o céu dia após dia perco de vista o meu ser verdadeiro à sua sombra
escura. Eu me orgulho deste grande muro, e o embaço com pó e areia para que nem
um buraco sequer reste nesse nome; e em que pese todo cuidado que tomo, perco
de vista o meu ser verdadeiro.
Devemos
evitar construir muros que nos isolam do
mundo com palavras negativas, o poder
das palavras negativas e pessimista , reforça o poder ilusório do ego - que
acredita no que diz, e onipotentemente
cria sua verdade, e tece seu destino.
O
muro é o ego que construímos. Ele nos aprisiona num calabouço de frustração.
Note que Tagore usa o termo "ser verdadeiro" para referir-se àquele
que o ego afasta da sua consciência. O ego é o oposto desse ser verdadeiro. É, o
falso ser - não passa de uma ideia do ser verdadeiro.
Essa
ideia tem estado sempre conosco desde que começamos a pensar. Ela nos envia
falsas imagens sobre a nossa verdadeira essência. Quando escutamos o que ela
diz sem a presença amorosa da testemunha, ingressamos na escuridão.
Fazemos conjeturas quanto ao que nos fará
felizes e acabamos frustrados. Empenhamo-nos em ressaltar a nossa presunção
enquanto ansiamos uma experiência de vida mais profunda e mais rica.
Caímos repetidamente no vazio, absortos em nós
próprios, sem saber que precisamos apenas abandonar a falsa ideia a respeito de
quem somos.
2.O
ego ensina a separação. O ego quer convencer você
a acreditar na ilusão da separação. A cada experiência dolorosa de sentir-se só,
isolado ou separado, o ego aperta seu cerco. Esta falsa crença é constantemente
alimentada pela nossa cultura exterior.
Quando começamos a nos
preocupar com a Unidade, com o outro e quando começamos a
trabalhar para o bem de todos – nosso verdadeiro eu, começa a assumir o leme da
nossa vida. Então começamos a girar na roda do dharma.
Somos Um-a só
consciência.
Certos
da separação entre nós, enxergamos a vida como um exercício de competição. A
competição acrescenta a sensação de separação e fomenta a ansiedade em relação
ao nosso lugar no mundo.
Ser
o melhor, ter o poder de comandar, julgar e de ter o poder decisão sobre a vida
dos outros, faz com que o ego sinta que é um vencedor. A mídia “educa” várias gerações valores, conceitos e ideias
que reforça a competição, e egocentrismo narcísico.
Incapazes de nos vermos ligados à inteligência
invisível, à força de Deus, nossa ansiedade cresce e nosso senso de solidão nos
leva a procurar o contato exterior.
Substituir
a ligação interior pela exterior é justamente o que você tenta fazer com a
necessidade de provar que é melhor que outros. A sua necessidade de parecer
melhor, alcançar mais, acumular mais, julgar os outros e achar defeitos são
todos sintomas da crença errônea segundo a qual você estaria desligado e
separado.
A ideia
da separação começa muito cedo na vida. Sem alguém para moldar uma rica vida
interior, crescemos experimentando a dor da solidão, as ofensas e a crítica dos
semelhantes, o que aguça os sentimentos de estarmos à parte em vez de ser uma
parte do nosso verdadeiro eu.
O
desenvolvimento do ego é reforçado pela crença central na nossa separação. Convencemo-nos de
que a vida física é só o que existe; passamos muito tempo acreditando que somos
melhores que outros; a nossa filosofia de relacionamento interpessoal
é tirar primeiro o maior proveito do outro.
A falta de propósito e de
sentido na vida contrapõe a
crença em que a pessoa nasce, cresce, sofre e morre. Desde
que essa ilusão do ego é só o que há na vida, torna-se
importante lutar pelo que a gente quer e
derrotar outras pessoas.
Os
sentimentos de separação são tão profundos quando prevalece essa atitude do
ego, que convencer alguém do contrário é uma tarefa desgastante. Contudo, você
sabe por dentro se o que acaba de ler descreve sua personalidade.
E pode fazer a escolha de não mais permitir
que seu ego teime em dizer que você é separado da sua condição sagrada.
Ao
descartar as crenças do seu ego, você está a caminho de virar uma dessas
pessoas descritas por Jean Houston, que conseguiram apreender suas identidades
espirituais e cumprir suas buscas sagradas.
Numa entrevista gravada da Rádio Nova
Dimensão, em Houston, diz sobre essas pessoas: "Todas elas tinham muito
pouco narcisismo, muito pouco egoísmo. Na verdade, elas preocupavam-se muito
pouco consigo mesmas. Simplesmente não perdiam tempo ·cuidando
da própria aparência.
Eram
apaixonadas pela vida. Achavam-se em estado de constante engajamento com todos
os campos da vida, ao passo que a maioria das pessoas são sacos encapsulados de
pele, carregando por aí seus pequenos egos." A fim de atingir essa
postura, você deve destruir a ilusão da separação.
A
sua ideia de si mesmo, que é o que seu ego é, se manifestará diversas vezes
enquanto você tenta destruir a ilusão. E quando compreender que não está
separado, quando a ideia sobre si mesmo
tiver sido despedaçada, irá experimentar um novo tipo de serenidade.
Você
não precisará mais competir ou ser melhor do que ninguém, não terá mais que
humilhar para ser “coroado”.
Não
mais necessitará acumular, auferir ou procurar honras externas. Terá deixado
para trás uma ideia que cultivara a maior parte da sua vida. Em vez de
enxergar-se como distinto de Deus e de todas as demais pessoas, você passará a
sentir que sua vida está ligada, não separada.
O
aspecto eterno de seu Eu saberá que é livre para influenciar a sua vida. Você
experimentará a vinculação com seu Eu e com avida toda, de maneira tal que nem
sequer poderia começar a entender
a
ilusão do ego.
2.O
ego convence você de ser especial. O ego não consegue perceber que a
presença amorosa vê todas as pessoas como divinas e dignas de amor.
"Ninguém é especial", é uma ideia que o ego não aceita sem mais nem
menos. Em nível cultural, nós tendemos a concordar com o ego que há pessoas
especiais e situações especiais.
A
atitude de sentir-se especial contribui para os nossos problemas sociais e
econômicos endividando nosso país e mantendo sistemas assistenciais que zombam
da significação da vida.
Considerar
que alguém é especial implica que alguns são mais valiosos que outros, como se
Deus tivesse favoritos. Quando oferecemos essa crença ao nosso Eu superior,
logo vemos que ela é absurda. Ainda assim, permitimos que nossos egos criem
categorias especiais e pretendemos que outras pessoas as reverenciem.
Você
pode acreditar que não é especial e por ter sorte, mas é escolhido por não ter
a graça de Deus, o ego precisa sentir que Deus não o abençoa, que Deus é
injusto para que ele possa lamentar e ser especial em sua infelicidade.
O
suposto caráter especial nega a perfeita igualdade da criação. Também nega a
totalidade do amor de Deus. Seu ego pode insistir em que Deus ama você mais do
que a outra pessoa, ou que Deus não existe, que não
te ama, não oferece a você o Poder, negando a totalidade do amor incondicional,
que é Deus e é você.
A insistência de seu ego também sujeita você
ao medo de não ser especial. Esse medo de não ser especial o impede então de
conhecer a paz de Deus, a harmonia da unidade que conduz à tranquilidade de seu
Eu superior.
A crença em ser especial do ego é empecilho para
você sentir de maneira autêntica a sua condição sagrada, criando uma
experiência de medo interior.
A autoestima, que é um dom oferecido por Deus
porque você é um ser
espiritual passando por uma experiência humana, fica na dependência de
acreditar que você é especial ou virtuoso aos olhos de Deus.
Quem
você é não é especial. É eterno, invisível, beatífico e sagrado.
A sua autoestima não é algo que você precisa merecer. Uma
pessoa auto realizada nunca pensa em autoestima porque não duvida de seu valor.
Ela sabe que fazer isso seria como duvidar do valor de Deus.
Ela
não espera ser valorizada pelo outro, pelo grupo, ela espera servir e
compartilhar a luz para o bem de todos.
O
apego à ideia de ser especial cria enormes bloqueios ao despertar da verdadeira
identidade. Esses bloqueios fazem despertar o medo e o ressentimento que
impedem a sua consciência de sentir o amor incondicional.
Descobrir
o Eu sagrado implica deixar de lado todo apego ao suposto caráter especial ou à
identificação com o ego. Estes são meros símbolos do que você chegou a
interpretar como sucesso, que foi estimulado a acumular, acreditando que assim
aumentaria sua felicidade.
Mas
você sabe que a felicidade não está no estilo de vida de mais-é-melhor. Sabe
que algo exterior a si mesmo não pode lhe dar paz interior. Sabe que isso é inversão
de pensamento. Procure inverter essas idéias. Olhe para a trilha interior, onde
você se vê ligado a Deus e à vida toda.
4.
O ego está sempre pronto para ficar ofendido. Quando você se sente ofendido,
é porque está à mercê de seu ego. Estabelecer por meio de regras externas como
você deve ser tratado é uma forma de garantir um estado terminal em que se é
ofendido.
É assim que o ego age.
Uma
das minhas histórias favoritas refere-se a Carlos Castaneda e a seu mestre
espiritual, o nagual dom Juan Matus. Após ter sido perseguido por um
jaguar nas montanhas durante vários dias, na absoluta certeza de que o tal
jaguar ia esquartejá-lo e devorá-lo como uma presa, Castaneda conseguiu enfim
escapar da fera medonha.
Por
três dias ele vivera com o medo horrível de ser despedaçado e devorado pelo
jaguar. Quando seu mestre lhe pergunta a respeito dessa experiência, Castaneda
responde, em O poder do silêncio*:
“O
que lembrava em estado normal de consciência era que o leão da montanha, uma
vez que eu não podia aceitar a idéia de um jaguar, nos
caçou montanha acima, e que dom Juan perguntou se eu me sentira ofendido pelo ataque
do animal.
Assegurei
que era absurdo me ofender com isso, e ele
retrucou que eu deveria me sentir da
mesma maneira a respeito dos ataques de meus semelhantes. Eu devia proteger-me,
ou sair do caminho, mas sem sentir-me moralmente ofendido.
Tudo
o que ofende você de alguma maneira tange a sua autoafirmação.
O
que o ofende não ofende o você real- ofende a ideia de quem você é. No mundo do
você eterno, nada dá errado jamais, portanto não há motivo para sentir-se
ofendido.
Já
no mundo de seu ego, você é imediatamente arrancado do lugar beatífico da
consciência superior e atirado num mundo em que você determina como os outros
devem pensar, sentir e comportar-se. Quando eles não são do jeito que você acha
que deviam ser, fica ofendido.
Quando
tiver reprimido seu ego o bastante, você será capaz de fazê-lo diante dos
ataques dos outros da mesma maneira que Castaneda foi ensinado a enfrentar o
jaguar. Obviamente não tem sentido nenhum ficar "ofendido" pelo
ataque do jaguar, porque o animal só está fazendo o que os jaguares fazem.
Quer
você goste quer não, os seus companheiros humanos são, de certa forma, como o
jaguar. Eles estão fazendo o que se espera que façam. Se você
puder admitir isso sem ficar ofendido, terá colocado a ideia
de seu ego a respeito de quem você é no ponto adequado em relação à presença
amorosa em seu interior.
Então pode sentir-se motivado
a fazer do mundo um lugar melhor, sem precisar sentir-se ofendido primeiro. Tendo
domado seu ego, você não será mais ofendido pelos demais seres
humanos. Livre das ilusões do ego, vê seus congêneres humanos como são, e não
como você pensa que deviam ser. O caminho da sua busca sagrada fica mais claro. "
Pesquisado por dharmadhannya
Interessante!
ResponderExcluirAugusto, eu também gostei muito do texto , muito e muitas vezes me um Jaguar, o texto me levou a compreender meu ego. Muito grata dharmadhannya
ResponderExcluirEu adorei, estou tendo problemas serios com meu ego desiquilibrado, muito bom as duas partes...
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