Compreendendo o Louco do Taro e a Cabala.
TRINTA E DOIS
CAMINHOS DE SABEDORIA: O Décimo Primeiro Caminho é a Inteligência Cintilante,
assim chamado por ser a cortina colocada próximo à ordem das coisas, a qual é
uma distinção que lhe foi conferida para que pudesse apresentar-se diante da
Causa das Causas.
O Caminho d’O BOBO
liga Kether, a Origem de Tudo, a Chokmah, a primeira atividade no sentido da
manifestação. Aleph é atribuída a este Caminho, a letra-símbolo da unidade
absoluta, segundo o Zohar.
Na condição de
palavra, Aleph significa boi, o que tem sido interpretado de diversas maneiras.
Gareth Knight, por exemplo, sugeriu que a atribuição do mais terreno dos
animais a esse elevado nível da Árvore significa que “o objetivo do Espírito
tem suas raízes na Terra”.
Paul Case, na
essência, concordou, embora sua abordagem seja mais ampla. Ele considerou o boi
um símbolo da força motriz na agricultura, e equiparou agricultura a
civilização.
Assim, ele descreveu o boi como a força vital,
a energia criativa e “a ação do poder em todas as formas de adaptação humana e
modificação das condições naturais”. Crowley, por outro lado, concentrou-se na
forma da letra, que alguns diziam representar uma relha de arado: “portanto”,
diz ele, “o significado é basicamente fálico".
Os cínicos poderiam
sugerir que Crowley via falos onde quer que olhasse a despeito do elevado espírito
filosófico da sua argumentação Não obstante a verdade é que somente através da
sexualidade podemos chegar a ter o mais ligeiro vislumbre do mecanismo de
funcionamento do Universo.
O BOBO exige uma
interpretação fluida e multifacetada. Esta é, sem dúvida, a carta mais difícil
e profunda de todo o baralho do Tarô. Emanado a partir de Keer, ele chega aos
limites da origem do Cosmos, o Ain Soph, a Luz Ilimitada que não é.
Assim, reconhecemos que tudo quanto pode ser
dito a respeito de Kether também pode ser dito sobre o efeito subjetivo de seus
princípios no décimo primeiro Caminho. -
O décimo primeiro
Caminho é a Inteligência Ígnea ou Cintilante.
Ela está em contato com uma Luz Ilimitada que,
para nós, é escuridão, aquela Ígnea Escuridão que é ao mesmo tempo o Primum Mobile, a possibilidade de
movimento ou de vibração, e a Primeira Percepção ou Vontade da Unidade com
capacidade potencial para a atividade.
Aqui, mais uma vez, retornamos àquela idéia
circular de que a Energia Criativa Fundamental do Universo atua sobre si mesma
para emanar o Cosmos.
A maneira mais concreta de descrever isto é
dizer que do nada surge o potencial para o pensamento. Em seguida surge o
pensamento e tem início a mente, o recipiente que contém o pensamento. O BOBO é
o potencial inicial desse pensamento que transcende a razão.
Quase o mundo já
experimentou a sensação de haver entrado em contato com uma realidade especial
durante o sono, uma lição que, durante a fase de vigília, na melhor das
hipóteses, parece absurda.
Poderíamos nos lembrar de umas poucas palavras
que, traduzidas da condição de sono para a de vigília, parecem ser
absolutamente destituídas de sentido.
De fato, qualquer idéia que entre em conflito
com a nossa realidade desperta em geral é descartada. Essas idéias podem ser
perigosas ou destruidoras para as nossas percepções a respeito de nós mesmos
e do nosso ambiente
e, por isso, nós as pomos de lado. Por outro lado, grande parte dos aspectos
práticos da Grande Missão envolve a assimilação de conceitos que contrariam
nossas idéias mundanas a respeito do que é e do que não é “real”.
Deixemos bem claro
que O BOBO, O MAGO e A GRANDE SACERDOTISA (os Caminhos que entram em contato
com Kether) devem ser abordados com certa dose de jovial fantasia.
À medida que vamos
percebendo que a experiência de Kether significa a total aniquilação do Eu
Superior, (união, integração com a Unidade, com a Luz Maior) tal como o
concebemos;
vemos a ironia de nossas tentativas de
compreender esses refinados princípios a partir de uma perspectiva terrena.
Conforme observou Dion Fortune, somos crianças
pequenas tentando soletrar Deus. Todavia, quando reconhecemos a impossibilidade
de abordar diretamente os níveis mais elevados do Universo, somos conduzidos
forçosamente ao princípio fundamental dos mistérios.
Assim como em cima, assim também embaixo.
Encaramos o que está “embaixo” como um reflexo do que está “em cima”.
Cada carta é, na
verdade, quádrupla. E embora O BOBO seja geralmente discutido em termos do
Espírito Supremo de Atziluth, ele também aparece em Briah, em Yetzirah e em
Assiah.
Assim, em alguma parte de nossa existência
mais básica e compreensível encontraremos um correlato da atividade superior de
O BOBO. O processo é uma espécie de trabalho de detetive espiritual. Procuramos
fundo em Malkuth e encontramos Kether!
Esta é a essência do
que Teilhard de Chardin, o grande místico católico moderno, estava descrevendo.
O Espírito Divino é tudo que conhecemos: vivemos dentro dele, nós o respiramos,
ele é nós mesmos.
Todas as coisas são uma expressão da energia
simbolizada pelo BOBO, que é o início de tudo, da mesma forma como Aleph é o
começo do alfabeto.
A Aleph, a primeira
das letras maternais, é atribuído o Ar, neste sentido significando
Vida-Respiração. Embora a maioria das pessoas acredite que o Oriente dê maior
importância à função da respiração do que o Ocidente, isso só acontece na
religião exotérica.
Nas técnicas esotéricas ocidentais, tal como
no Oriente, a respiração é tudo, tanto na prática como filosoficamente. Em
termos da Árvore da Vida e do Tarô, isto poderia ser expresso de outra maneira.
Dissemos que O MAGO está relacionado com as
“palavras”, significando isto os padrões vibratórios subjacentes à
manifestação. E o poder da respiração, porém, que expele o som. O BOBO ativa O MAGO.
Crowley indica outra
maneira pela qual a atribuição do Ar poderia ser considerada. Ele descreve o
nada que é o Ar como um vácuo, conceito fascinante quando relacionado com o
número do Tarô de O BOBO, zero.
O zero é o vazio de um nada fértil; ele é o
Ovo Universal do Espírito, o Ovo de Akasha. Matematicamente, zero é a soma de +
1 (masculino) e — 1 (feminino).
Assim, o ovo do Cosmos é um ovo fertilizado de
sexualidade indefinida. Não é masculino nem feminino, mas sim o potencial para
ambos. O BOBO é a energia andrógina que se diferencia na dramatis personae das outras 21 cartas.
Infelizmente, a
correta posição d’O BOBO tem sido objeto de controvérsias. Em alguns trabalhos,
ele tem sido absurdamente colocado ao lado da última carta, ou seja, como a
carta de Shin, letra do Fogo Maternal.
Entretanto, esta
colocação parece ter sido uma tentativa deliberada de ocultar dos profanos o
verdadeiro mistério d’O BOBO.
Hoje, a sequência dos
Arcanos Maiores descrita nos Manuscritos Cifrados da Aurora Dourada é
geralmente aceita, tal como fizeram os autores dos três baralhos modernos
apresentados aqui. O BOBO pertence ao décimo primeiro Caminho, o Caminho de
Aleph, e a nenhum outro lugar.
Tem sido sugerido que
a chave para o funcionamento e a ordem do Cosmos está contida na interação
entre Aleph e Lamed. O Zohar, que descreve Aleph como a unidade absoluta, nos
proporciona um material igualmente interessante sobre Lamed.
Esta letra é
considerada fundamental para a palavra (Melekh), que significa Rei.
Isto sugere que Tiphareth é a força diretora
principal do Microprosopus, a “Fisionomia Menor”.
Este é o Rei que está acima da existência, tal
como a conhecemos, e cujas interações de energia são simbolizadas pelas letras
Mem, Lamed, Caph e pelas cartas correspondentes do Tarô, O ENFORCADO ( ), A JUSTIÇA
( ) e A RODA DA FORTUNA ( D).
O ENFORCADO e A RODA
DA FORTUNA são os extremos Estabilizadores Ativadores e Estabilizadores
Formativos (ver Figura 29) da Árvore da Vida, entre a Personalidade e o Eu
Superior. Eles são opostos exatos.
O ENFORCADO é a água
da consciência Universal, ao passo que A RODA DA FORTUNA, Caph-Júpiter,
significa o próprio princípio da manifestação. Assim, pode-se dizer que Lamed
realiza o perfeito equilíbrio entre o princípio criativo inferior e a
consciência sobre a qual ele atua. Além do mais, sabemos que Lamed significa
aguilhão, a haste pontiaguda que espicaça o boi, ou seja Aleph.
Paul Case oferece
outra explicação. Ele afirma que a palavra ( ) “representa o primeiro jorro de
influência espiritual ( R ), efetuando um contínuo equilíbrio das forças em
ação ( ) e resultando numa expressão
positiva do pensamento criativo ( ) da Mente Universal”.281
Isto tudo é realmente
muito complexo e a pessoa pode facilmente ficar atolada, sem fazer nenhum
progresso, ou ser efetivamente iludida pela manipulação excessivamente
cuidadosa de letras e números.
Não há dúvida, porém,
que os sábios que produziram documentos cabalísticos como o Pentateuco e o
Zohar esperavam que passássemos por este processo.
Assim, temos de assumir
o risco de incorrer num raciocínio que nos leva a um beco sem saída a fim de
tentarmos compreender sutis significados contidos nos textos. Seria ultrapassar
os limites dizer que nas letras está
implícito tudo o que existe acima e abaixo, considerando Aleph a Unidade e
Lamed a energia central equilibradora entre a Unidade e aquilo que ela projeta?
De qualquer forma,
esse tipo de idéia, quando aplicado às imagens do Tarô, pode nos proporcionar
conhecimentos especiais.
Quando conhecemos as implicações cabalísticas
da letra Aleph e as aplicamos à imagem d’O BOBO, a correspondência entre
imagens e idéias deflagra alguma coisa inconsciente dentro de nós.
Este pode ser de
forma especial o caso d’O BOBO da Aurora Dourada, uma das contribuições mais
incomuns da Ordem para a arte do Tarô.
Pretende-se que a Criança seja Harpócrates,
que em egípcio (Heru-p-khart) significa ser literalmente “Hórus, a Criança”? Heru também se escreve como Hru, conhecido como o “Grande Anjo do
Tarô”.
Não existem muitos
deuses que incorporam tantos conceitos diferentes quanto Harpócrates: Ele é a
Criança Deus; ele é o Deus do Silêncio; ele é o Deus do começo e o Deus do Sol
ao nascer.
Ele é também o filho de Ísis e de Osíris,
embora não seja nessa condição que ele é representado neste Caminho. Ele é o
filho de Ísis e de Osíris que está para nascer.
Ele é
todo potencial!
Ele é a expressão do próprio significado do
Nome Divino de Kether, ..... (Eheieh), que é Eu serei. Assim, na carta da
Aurora Dourada a criança está prestes a colher a rosa. Na carta de Waite, o Bobo
está prestes a caminhar através de um precipício.
Waite descreve essa
figura como estando parada, embora ela indique o ato de caminhar. Em virtude da
importância de Hórus-Harpócrates para uma compreensão d’O BOBO na tradição da
Aurora Dourada, devemos considerar rapidamente as origens do seu culto.
A Criança Hórus desenvolveu-se a partir de um
Deus anterior, também conhecido como Hórus. Esse Hórus primitivo (na verdade,
um grupo de formas divinas, tal como o próprio Hórus Criança), foi um dos
primeiros deuses a serem adorados em todo o Egito.
Ele era representado por uma cabeça de falcão,
sugerindo que sua natureza estava relacionada com as grandes alturas do Céu? A
idéia que iria colocar Hórus no conforto do décimo primeiro Caminho.
Contudo, na época das últimas dinastias, os
atributos dos Deuses Hórus primitivos foram assumidos pela Criança, que
representava o início de todas as seqüências, incluindo o início do dia com o
nascer do Sol. Assim, Hórus estava relacionado com Rá, e poderia encaixar-se
mais facilmente em Tiphareth.
Uma vez mais, como na
discussão sobre (......) estamos nos deslocando entre o décimo primeiro Caminho
e a sexta Sephira.
As correlações são tão profundas quanto
obscuras.
Outra coisa
interessante a respeito de Hórus é que ele era tradicionalmente representado
como uma criança com um anel de cabelo do lado e um dedo colocado na boca, num
gesto infantil.
Esse gesto foi
equivocadamente interpretado pelos gregos como um “sinal
de silêncio” e, quando o Deus recebeu o nome grego de Harpócrates, o
silêncio era um de seus atributos básicos?
Como quer que esses atributos tenham se
originado, seja de forma deliberada ou por “acidente”, o simbolismo é
notavelmente apropriado.
O que poderia ser
mais perfeito do que O BOBO, representando o silêncio, vindo antes d’O MAGO,
que foi descrito como o primeiro som? Aqui a pessoa precisa acreditar que os
sistemas de símbolos podem evoluir em conformidade com os arquétipos
verdadeiramente universais.
O BOBO é de fato um
arquétipo, assim como o animal que o acompanha em todas as versões da carta. O
baralho de Marselha mostra um cachorro marrom fazendo um buraco na perna da
calça do dono;
Waite representou um cãozinho branco na mesma
atitude básica do cachorro da carta de Marselha, porém seguindo alegremente seu
dono; a versão de Crowley, com o tigre “acariciando” O Bobo, é a mais curiosa.
Por fim, a carta da Aurora Dourada mostra um
lobo preso a uma correia que está nas mãos de uma pequena criança, que pensamos
ser Harpócrates.
Todas essas cartas
fazem uma afirmação simbólica a respeito da relação entre a natureza animal e
os processos espirituais superiores. Também foi sugerido que o pequeno cão
seria o intelecto, o fiel companheiro do homem. As cartas da Aurora Dourada e
de Crowley, porém, nos oferecem uma explicação mais complicada.
O lobo na carta da
Aurora Dourada transmite talvez a afirmação simbólica mais explícita, pois
desde os tempos mais antigos ele tem sido considerado um destruidor.
No contexto do décimo
primeiro Caminho, ele é como o lobo Fenris, que devorou Odim, o Pai dos Deuses,
que Manly Palmer Hall descreve como “aqueles irracionais poderes da natureza
que derrotaram a criação primitiva”.
A inferência é que o
desejo do Criador no sentido da auto-expressão mantém sob controle essa
contra-energia que, caso contrário, destruiria a criação.
Todavia, mais cedo ou mais tarde, o lobo
precisa ser devolvido à liberdade da natureza, destruindo a criação e fazendo-a
retomar ao estado do qual ela originalmente emergiu, i.e., o Ain Soph Aur.
A criança e o lobo
são o equilíbrio entre criador e destruidor e constituem a primeira afirmação
no Tarô do princípio de que todas as coisas contêm seus opostos, a verdadeira chave
para os estudos esotéricos.
O princípio é especialmente importante em
relação a O BOBO, a carta na qual Waite diz que “Muitos símbolos dos Mistérios Estabelecidos
são resumidos.”
Como a discussão de
Waite a respeito do simbolismo da sua própria carta era muito crítica, coube a
Paul Case explicar as complexidades simbólicas do baralho Rider. Ele explica as
Rodas do Espírito no manto do Bobo, o bastão como símbolo da vontade, a sacola
com um olho de Hórus, a rosa significando liberdade a partir das formas
inferiores de desejo e o cinto com doze ornamentos que sugerem o Zodíaco.9
Por outro lado, é
possível que Case, em seu entusiasmo, tenha descrito mais coisas do que Waite
pretendia.
É no mínimo uma sorte
que Crowley, sendo um prolífico escritor, tenha explicado seu próprio baralho
com muitos detalhes. A discussão da sua versão de O BOBO é complexa e extensa,
baseando-se numa variedade de lendas. Resumindo, são elas:
1. O Homem Verde — a própria personificação
da primavera.
2. O “Grande Bobo” dos Celtas — o louco
inspirado que também é um sábio.
3. O “Pescador Rico”: Percivale — Crowley
considera a lenda de Parsifal “a versão ocidental da tradição do Bobo”.
Parsifal representa a insensatez da juventude e a inocência que, através da
pureza, consegue chegar ao Santo Graal.
4. O Crocodilo — No antigo Egito, o
crocodilo simbolizava a energia criativa, pela razão um tanto paradoxal de que,
segundo se acreditava, ele não tinha meios de perpetuar sua própria espécie.
5. Harpócrates
6. Zeus Arrhenothelus — uma confusão
deliberada de masculino e feminino, o Divino Hermafrodita.
7. Dionysus Zagreus. Bacchus Diphues —
Zagreus era uma divindade dotada de chifres que foi destruída pelos Titãs. Sua
morte simbolizava a iniciação. Bacchus Diphues (que significa natureza dúplice)
era um deus bissexual que enlouqueceu em virtude de uma intoxicação e, portanto,
estava relacionado com a ideia de êxtase.
8. Bahomet — segundo
Crowley, esta é uma forma de Mithras, o Deus matador de touros, adorado pelos
Cavaleiros Templários como uma divindade com cabeça de asno. Ele posteriormente
associa Bahomet a Set, a Saturno e a Satã.
Crowley incluiu
alguma referência a todas essas idéias na sua carta, tornando-a uma das mais
complicadas do seu baralho.
Os chifres e a figura masculina são inspirados
por Dionysus Zagreus; sua roupa verde é aquela do Homem Verde da Primavera; as
uvas aos seus pés são uma referência ao êxtase de Bacchus; o Crocodilo a seus
pés está nadando “no Nilo”.
Outros símbolos incluídos aqui são o pombo de
Vênus e o abutre de Maat, ambos referindo-se à Divindade. Todas essas imagens
são ligadas pela tríplice forma oval criada pelo Caduceu em Movimento e
simbolizando o Ain Soph Aur.
Por fim, devemos
chamar atenção para o fato de que, embora Crowley tenha dado destaque a
Harpócrates neste Caminho, ele representa esse Deus de forma mais explícita no
vigésimo Caminho, O JULGAMENTO (que ele chama de O Aeon). Pode-se inferir,
portanto, que Shin-Fogo é a expressão mais plena daquilo que começou com
Aleph-Ar e, depois, com Mem-Água". Robert wang
Pesquisado por Dharmadhannyael
o texto está livre para divulgação desde que seja citada a fonte:
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