Refrigerante na mamadeira - Diabete
FERNANDA
BASSETTE - O Estado de S. Paulo
A analista de
sistemas R. E. B, de 39 anos, teve de descobrir que os três filhos estavam
pré-diabéticos e levar um chacoalhão da médica para mudar radicalmente o tipo
de alimentação em casa.
"Sempre
dei refrigerante para meus filhos, desde que eles tinham um ano de idade.
Éramos todos viciados em refrigerante. Chegávamos a tomar 20 litros por mês",
diz.
R. conta que o
hábito de tomar refrigerante ou sucos industrializados sempre existiu e, apesar
de ela saber que poderia fazer mal, dava por praticidade. "Trabalhava
fora, deixava o refrigerante na mamadeira das crianças. Quando me falavam que
podia fazer mal, achava que era coisa de gente natureba."
Ela só teve
consciência do problema quando foi fazer um check-up de rotina e os exames
mostraram todos os seus indicadores alterados. A médica pediu para avaliar os
filhos: Camila de 18 anos, Hugo, de 6 anos, e Aline de 5 anos. Todos também
estavam com alterações.
A partir de
então, há pouco mais de seis meses, Roberta teve de revolucionar a dieta.
Cortou a oferta de refrigerante durante a semana: agora, as crianças só podem
tomar um copo de refrigerante e somente no almoço do fim de semana. Também
reduziu os sucos de caixinha e passou a fazer sucos naturais para os filhos.
Resultados.
Além da bebida, Roberta também fez alterações na dieta sólida, embora em menor
quantidade. "Cortamos principalmente a bolacha recheada. Cortar a bebida é
um processo de adaptação e não tem sido fácil. As crianças cresceram tomando
refrigerante, então elas têm o paladar acostumado ao açúcar. O açúcar é um
vício, e largar qualquer vício é muito difícil", relata a mãe. "Às
vezes eles fazem greve de fome."
Nesses seis
meses, Roberta diz que todos na casa perderam peso e melhoraram os indicadores
de triglicérides, colesterol e glicemia. Mas o que ela comemora mesmo é que,
após a redução no consumo de refrigerante, o filho Hugo nunca mais teve crises
de asma. "Antes, íamos ao pronto-socorro duas vezes por mês. Ele vivia com
a bombinha ao lado. Durante os seis meses da dieta, ele teve apenas uma crise.
Foi a melhor coisa que aconteceu." / F.B.
As crianças e
os adolescentes brasileiros estão trocando o consumo de água e leite por
bebidas açucaradas, como refrigerantes e sucos industrializados ou em pó - o
que têm aumentado consideravelmente os casos de obesidade infantil, além dos
riscos para o desenvolvimento de doenças antes observadas em adultos, como
diabete tipo 2 e hipertensão.
Segundo o
professor, muitas famílias substituem o refrigerante por sucos industrializados
por considerarem mais saudável, sem ter ideia de que esse tipo de produto
muitas vezes tem tanto açúcar ou mais do que uma latinha de refrigerante.
"As mães acham que o fato de ter uma fruta estampada na embalagem
significa que é saudável", diz.
Mamadeira tinha
refrigerante
É o caso da
cabeleireira M. V, de 47 anos. Ela tem dois filhos: A,, que tem 15 anos e é
"magrelo" e J., que tem 12 anos e é "cheinha". Segundo a
mãe, Júlia costuma beber refrigerante ou sucos industrializados todos os dias
nas refeições. "Ela praticamente não bebe água. Ela mata a sede com suco e
refrigerante."
Por causa do
sobrepeso da filha, M. L. levou a menina ao nutricionista, que pediu que ela
anotasse num caderno tudo o que consumia. "Quando ela viu, ficou
assustada. Readaptamos o cardápio de casa, mas é muito complicado cortar de vez
as bebidas. Trabalho fora o dia todo, não tenho como controlar tudo o que ela
come e bebe." M. L. deixa o prato do almoço da filha pronto na geladeira,
mas a menina ainda toma suco industrializado. "Suco natural é bom, mas e o
preço da fruta?"
A constatação
- que reforça a necessidade de mudanças de hábitos alimentares - está no
primeiro estudo epidemiológico brasileiro que avaliou o consumo de bebidas
entre crianças e adolescentes de 3
a 17 anos em cinco capitais: São Paulo, Rio, Porto
Alegre, Belo Horizonte e Recife. A pesquisa, desenvolvida por pesquisadores da
Faculdade de Saúde Pública da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e do
Instituto da Criança do HC, foi publicada no BMC Public Health.
O Ministério
da Saúde considera a obesidade infantil uma epidemia. Os dados mais recentes
(referentes a 2009) indicam que uma em cada três crianças brasileiras entre 5 e
9 anos está acima do peso ou obesa.
Os resultados
da pesquisa são alarmantes. Mostram que, além de o leite e a água praticamente
desaparecerem da dieta dos jovens, na média geral, as crianças e os
adolescentes consomem cerca de 21 quilos de açúcar por ano só considerando as
bebidas.
A pesquisa
indica, por exemplo, que um adolescente de 11 a 17 anos ingere cerca de 26 quilos de
açúcar por ano com as bebidas - quase 45% a mais do que ele poderia consumir no
período (18 quilos), considerando o açúcar presente em todo tipo de alimento,
não apenas nas bebidas (mais informações nesta página).
"Estamos
vivendo um fenômeno universal de aumento dos casos de sobrepeso e obesidade
infantil. No Brasil, isso vem se acentuando nos últimos 20 anos, especialmente
em decorrência da maior oferta de alimentos e das melhores condições econômicas
das famílias", diz Cláudio Leone, professor da Faculdade de Saúde Pública
da USP e um dos autores do estudo.
Para Ekaterine Karageorgiadis, advogada do
Instituto Alana e conselheira do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional (Consea), um dos fatores que explicam os resultados da pesquisa é o
aumento da oferta de produtos e o crescimento da publicidade dirigida às
crianças.
"Boa
parte dos produtos consumidos pelas crianças tem ações mercadológicas na TV ou
na internet. E a publicidade foca na parte boa, como 'rico em ferro' e 'rico em
vitaminas', e não deixa claro quanto há de açúcar. Isso faz as mães acreditarem
que esses produtos não fazem mal."
Maria Edna de
Melo, diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso), diz
que o consumo de açúcar aumentou de maneira geral. "Vemos isso no dia a
dia no consultório." Para ela, a única forma de reverter o crescimento da
obesidade é promovendo ações de educação.
"Não dá
para crucificar a mãe que dá suco ou refrigerante para seu filho. A questão da
informação e da condição social precisam ser levadas em consideração. É bem
mais caro comprar alimentos saudáveis. É preciso uma política de governo com
enfoque na educação alimentar."
Patrícia
Jaime, coordenadora de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, diz que a
pesquisa traz resultados alarmantes, que vão orientar novas políticas públicas.
"A
obesidade infantil é o tema central do programa Saúde na Escola, que é uma ação
do Ministério da Saúde, em parceria com o da Educação, desde 2008", diz.
Segundo Patrícia, a meta do ministério é reverter a curva de crescimento da
obesidade entre crianças e estagnar entre os adultos nos próximos dez anos.
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,mamadeira-tinha-refrigerante,1017893,0.htm
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