PRISIONEIROS DO
PRESENTE
Distúrbio de Déficit
de Atenção Brando
Embora um caso
exacerbado de DDA certamente prejudique sua vítima, um caso brando tem suas
vantagens. Sem dúvida, uma delas é a capacidade de abandonar velhos hábitos e
começar novos, a exemplo do que fizeram os imigrantes.
Hoje os amplos
contornos do distúrbio de déficit de atenção são conhecidos: acredita-se que o
DDA seja uma falha no sistema de atenção que cria dificuldades para a criança
ou para o adulto prestar atenção quando obrigados.
“Quando obrigado” é a expressão crítica aí,
porque a criança DDA pode ser hiperconcentrada às vezes, num assunto, ou
atividade (vídeo game, por exemplo), do qual não consegue desligar-se.
Como o DDA muda de um extremo de atenção ao outro, de pouquíssima a
demasiada atenção, alguns profissionais não gostam do rótulo “déficit de
atenção”, que consideram, com razão, uma designação incorreta, O problema é
mais uma inconsistência de atenção do que um déficit absoluto.
Menos conhecido do
público é o fato de crianças DDA se classificarem em dois campos distintos: as
com DDAH (distúrbio de déficit de atenção e hiperatividade) e as com DDA sem o
H.
As crianças DDAH são os clássicos garotinhos
incontroláveis (claro que também existem as garotinhas incontroláveis):
crianças que não conseguem ficar paradas, dão respostas sem pensar na sala de
aula e se exibem para as outras crianças, metem-se em brigas no playground,
tiram C e D em tudo, quando seus pais e professores sabem que eles são capazes
de tirar A e B.
Ou seja, crianças que não “funcionam à altura
de sua capacidade”. Ao longo dos anos, seus boletins escolares servem de
manuais de diagnóstico da síndrome:
“Michael poderia
fazer melhor se tentasse”; “Michael tem dificuldade para ficar sentado em sua
carteira”; “Michael conversa na aula”; e assim por diante, anos a fio. Esta é a
criança de hiperatividade clássica que não escapa à observação de ninguém. Pais
e professores se queixam de que essas crianças sobem pelas paredes, o que é
verdade.
Mas as pessoas deixam
de ver os problemas de atenção que importunam igualmente outro tipo de criança,
a com DDA (sem o H). São as que sonham acordadas, as crianças que não podem se
sentar perto de uma janela.
Desligam-se em silêncio e não ferem os nervos
de seus professores, escapando assim ao exame minucioso que chove sobre o
garotinho ruidoso da carteira ao lado.
Mas essas crianças
podem ser igualmente prejudicadas em termos de sua capacidade de progredir na
escola e fora dela. Muitas vezes são meninas em quem não se diagnosticou o
distúrbio. Os meninos DDA excedem em número as meninas por cinco a um, mas essa
proporção é só para crianças diagnosticadas; decerto as meninas escapam aos
diagnósticos.
Prova disso o fato de elas também
serem mal diagnosticadas quanto à dislexia, que muitas vezes é acompanhada do
DDA. E alguns teóricos do DDA acreditam que, devido a diferenças cerebrais
entre meninos e meninas
o distúrbio só se revela na puberdade.
A menina tranquila que fica abruptamente
indisciplinada na adolescência — com distúrbios de alimentação, promiscuidade
ou uma rejeição repentina aos estudos — pode de fato estar manifestando o DDA
só naquele momento. Neste caso, a criança com certeza terá passado sem
diagnóstico pela escola primária.
Julgou-se por muito
tempo que DDA era um distúrbio da infância, um problema que a criança acabava
superando em algum momento na adolescência.
Mas recentemente essa opinião mudou. Sabe-se
que 40 a
60% de crianças não deixam seus problemas para trás; apenas a agitação delas é
menos visível. Suas mentes permanecem frenéticas e seus corpos calmos.
Para entendermos a
sombra mental do DDA, é útil examinarmos o distúrbio em sua forma desenvolvida
ou manifesta. Num caso flagrante de DDA adulto, a pessoa sofre um trio de
sintomas:
Impulsividade. O
consagrado conceito de “controle de impulso” talvez seja a característica mais
importante que distingue a criança que será amada da que será rejeitada. A
criança DDA simplesmente não pode controlar seus impulsos como as demais.
Corre para o meio da rua, deixa escapar
respostas sem erguer a mão, bate no colega ao lado. Quando um impulso para
fazer ou dizer alguma coisa passa por sua cabeça, ela age ou fala
imediatamente, sem reflexão. Para a criança DDA, a vida é uma questão de
disparar primeiro, perguntar depois.
O adulto com pouco
controle de impulso pode ter aprendido a olhar antes de atravessar, mas
continua a sofrer de vazamento verbal. Se passa por sua cabeça dizer ao chefe
que ele é um atabalhoado, ele o faz; se as palavras “não suporto olhar pra sua
cara” afloram em sua cabeça numa discussão com a mulher, elas saem.
Ações precipitadas,
impensadas, saltam tão rápido quanto suas palavras impulsivas: o adulto DDA
entra e sai aos pulos de empregos, relacionamentos, projetos e compromissos. E,
claro, no pior dos casos, a síndrome desenvolvida o torna violento.
Para ele, o mecanismo de reflexão, filtragem e
censura, que todos precisam ter para funcionar no mundo, é defeituoso.
Tendência distração.
Mais uma vez, trata-se do menino ou menina que não pode sentar-se perto de uma
janela. As crianças DDA tendem profundamente à distração; é muito difícil para
elas manterem-se “ocupadas” pois tudo as distrai e as desliga.
O adulto DDA sofre
desse problema de maneira igualmente furiosa; às vezes lhe é impossível
terminar de fazer qualquer coisa num ambiente de trabalho normal, com os
telefones tocando e colegas tagarelando.
Uma pessoa com tendência à dispersão tem de
transpor obstáculos extraordinários para criar um ambiente que lhe permita
concentrar-se: uma professora com doutorado em História descobriu que era
obrigada a escrever todos seus textos tarde da noite, quando toda a cidade
dormia. Mesmo então, o ruído da geladeira a distraía de forma intolerável.
Paul, empresário de
construção de 35 anos e diagnosticado com déficit de atenção quando adulto,
descreve os processos mentais dispersivos do DDA da seguinte maneira:
É como estar na seção
de TV de uma loja de departamentos, cercado de aparelhos de televisão de 36 polegadas , todos
transmitindo programas diferentes, todos ligados com o volume alto demais.
Depois imagine que um
aparelho transmite a tentativa de assassinato do presidente, não sabendo ao
certo se ele viverá ou não, enquanto outro passa uma comédia chata.
A sensação descontrolada é que sua mente vai
de um lado para o outro entre as duas telas, embora você tente se concentrar no
acontecimento importante. Sua mente se fixa igualmente na coisa sem
importância. Não consigo me concentrar no que é importante.
Isso acontece o tempo
todo com pessoas como Paul. Podem estar no meio de uma discussão de vida e
morte com a amante ou a esposa e de repente descobrir-se pensando que precisam
lavar o carro.
Não admira que esses lapsos de interesse frequentes
não me piorem as coisas com o cônjuge.
A dispersão grave do
adulto com déficit de atenção provavelmente é responsável por duas outras
características da síndrome:
- sua dificuldade de
organizar-se e a tendência a esquecer o que estava fazendo, pensando ou dizendo
minutos antes.
O clássico adulto DDA às vezes vive num
redemoinho de providências e obrigações esquecidas, desviando-se de uma
atividade, pessoa ou pensamento para outro, incapaz de concentrar-se por tempo
suficiente para canalizar seus esforços.
Hiperatividade física
ou mental. Todos reconhecem a hiperatividade física: é o adulto que balança ou
sacode a perna, rabisca constantemente ou rói as unhas. É o cérebro chiando,
ruidoso: a pessoa que interrompe o tempo todo; que muda de assunto numa
conversa antes de o outro estar pronto para acompanhá-lo; que não dorme à noite
porque seu cérebro fica agitado.
Por fim, urna faceta
do DDA não muito compreendida é que algumas vítimas, mas não todas, revelam
deficiências em aptidões sociais.
As crianças DDA podem
ter problemas em fazer e conservar amigos, muitas vezes por interpretarem
incorretamente as outras crianças, ou por não as entenderem de modo algum.
Um garotinho DDA
empenhado numa luta de brincadeira não percebe as dicas de que seu amigo já
está cheio, e não para na hora certa. Logo o amigo fica furioso e a briga passa
a ser de verdade. O relacionamento corre perigo.
A causa desse
problema de interpretação de deixas sociais não está clara, embora muitos
suponham tratar-se apenas de mais uma consequência do cérebro confuso: homens
(e mulheres) DDA às vezes não lêem a linguagem do corpo porque não conseguem se
sintonizar o tempo suficiente para observar plenamente tal linguagem.
Como a infância do adulto DDA transcorreu num
redemoinho de atividades, ele não teve tempo de aprender a interpretar os
outros.
Contudo, também é
possível que as deficiências sociais da pessoa DDA sejam primárias e não
secundárias, que um problema de “inteligência social” seja parte da síndrome.
Essa é a linha de
raciocínio do psicologia cognitiva, que argumenta que não há uma inteligência
geral, mas muitas inteligências separadas. A inteligência social, a capacidade
de ler e compreender a si mesmo e os que o cercam, é um dos tipos de
inteligência entre, no mínimo, seis.
Uma pessoa pode ser
relativamente “inferior” em inteligência social mas brilhante em outra
inteligência como a subjacente à matemática ou música.
Como as deficiências
de base biológica nas aptidões sociais podem estar envolvidas na depressão — e
decerto envolvidas nas formas sutis de autismo —, é possível que algumas formas
de distúrbio de déficit de atenção também envolvam diferenças na capacidade do
cérebro para processar o mundo social.
AS FORMAS BRANDAS
No caso manifesto do
adulto DDA, esses sintomas essenciais às vezes fragmentam a vida. Da mesma
forma que suas personalidades infantis, os adultos com DDA grave não vivem à
altura de seu potencial.
Quando o DDA é grave, a espera pode ser eterna
e sua vítima é abandonada ao desnorteamento. A clássica história de um DDA
desenvolvido é aquela pessoa que, apesar da inteligência não consegue
estruturar sua vida, se torna cada vez mais desmoralizada, ansiosa e deprimida
com o passar dos anos.
Mas a pessoa com DDA
brando pode parecer muito diferente. Ela não é só o gêmeo ligeiramente menos
caótico do irmão com o distúrbio grave. A pessoa com DDA brando pode não se
parecer em nada com o indivíduo de 40 anos que ainda não se encontrou na vida.
A hiperatividade tem, de fato, suas vantagens:
grande energia, entusiasmo e a capacidade de hiperfoco são qualidades que levam
às alturas em alguns campos.
Médicos de
prontos-socorros comerciantes de commodities de alto risco, magnatas da
indústria cinematográfica: todos esses “tipos” exibem sintomas de leve
hiperatividade e muitos podem ter formas sutis do distúrbio.
Quando um emprego exige que os empregados
saltem de uma situação de alta intensidade para outra à velocidade da luz, um
pouquinho de hiperatividade pode ser positiva.
O prazer de correr riscos pode acionar o
sucesso de empresários capitalistas ou qualquer pessoa numa carreira que exija
o amor por empreitadas de alto risco. (Nos séculos passados, estas pessoas
teriam sido aventureiros militares ou exploradores.)
Deste modo, a pessoa
com DDA brando pode ser um sucesso brilhante na vida — ao menos na vida
profissional — ao obter uma boa parceria entre sua atividade e os processos
inquietos de sua mente.
Ainda assim, sem
dúvida sofrerá com problemas de desorganização, como o alto executivo de vendas
que jamais termina seu relatório ou o financista que não consegue preencher o
próprio imposto de renda.
Mas, para a pessoa levemente DDA, essas
limitações não são mutiladoras.
Além de terem, por
definição, problemas mais brandos, esses adultos também desfrutam de outra
vantagem sobre sua contraparte com DDA grave: a capacidade de perceber e
avaliar seus problemas.
Um distúrbio como o
DDA influencia tanto pensamentos quanto emoções; ele atinge os processos
cognitivos básicos. No caso do adulto com DDA tentando entender-se com seu
distúrbio, a desorganização que aflige seu pensamento faz com que ele veja no
espelho um ser humano fragmentado em termos globais.
Isso é o “ruído” no
espelho, o ruído interferindo com seu senso de coerência interna. O adulto
levemente hiperativo, em contraposição, desfruta da boa sorte de ser capaz de
examinar-se e ver algo muito mais preciso e real: um trabalhador árduo,
digamos, que não cumpre prazos finais, e precisa concentrar suas energias na
compensação dessa falha.
Em outras palavras, o adulto levemente DDA
consegue formar uma imagem de si mesmo coerente e integrada, consistindo em
forças e fraquezas.
Mas no indivíduo gravemente DDA, pensamentos e
percepções podem ser tão confusos que é difícil para ele organizar qualquer
coisa, inclusive o próprio senso de si mesmo.
Portanto, o adulto
levemente DDA é o desorganizado que pode comprar um livro sobre como organizar
a vida — e depois usá-lo para seguir em frente e organizar sua vida.
É capaz de compensar suas falhas por meios que
escapam ao gravemente DDA. Tendo melhor controle sobre o “sistema de atenção”,
consegue analisar seus pontos fracos e suas estratégias de aperfeiçoamento
pessoal o tempo suficiente para fazer sua vida melhorar.
Assim, o executivo
levemente DDA pode deliberadamente cultivar uma verdadeira obsessão por sua
agenda, conferindo-a e reconferindo-a o dia inteiro.
Apesar da grande dificuldade de lembrar-se de
tudo o que tem de fazer, a brandura de seu déficit de atenção lhe permite “lembrar-se
de lembrar”; a eficácia de sua memória é suficiente para lhe permitir recorrer
aos auxiliares de memória sem os quais estaria perdido....
Sou uma versão
incomum de pessoa hiperativa, considerando-se que fiz toneladas e mais
toneladas de psicanálise.
E na psicanálise
havia o conceito de ego observador, do terapeuta e cliente trabalharem juntos
para desenvolver o ego. Comecei a fazer análise aos 19 anos e terminei aos 29,
e desenvolvi esse ego. Portanto, acho que para mim a análise foi de certo modo
um tratamento para DDA, ainda que não fosse essa a intenção.
Acho que muitas pessoas com DDA não são tão
cônscias de si mesmas quanto passei a ser graças à psicanálise; eu tivera esse
intenso treinamento de observar a mim mesma.
Sem aqueles 10 anos
eu pareceria muito diferente hoje; sem eles eu teria sido muito mais caótica,
muito menos consciente e menos observadora, muito mais comandada por alterações
de humor.
Mas, ao mesmo tempo,
a análise era ruim porque a introspecção me tornava mais deprimida. Eu tendia a
fixar minha atenção no lado sombrio da vida, o que também é chamado de
depressão.
No meu caso, acredito que a obsessão com o
lado sombrio seja na verdade uma coisa cognitiva. É parte de meus problemas
mais profundos com foco. Assim, para mim, a auto-observação era uma espada de
dois gumes.
Hoje, com o
diagnóstico, a medicação e a análise, conquistei uma inteligência emocional.
Não a tinha antes. Pela primeira vez, tenho o senso de contexto.
Se estou no campo e
uma sensação de tristeza toma conta de mim, não digo “Sou uma pessoa terrível”
e começo a ruminar sobre tudo de ruim que me aconteceu. Agora posso dizer
apenas:
“É um dia cinzento”,
e sei que preciso de mais estímulo para me animar.
Debby também refletiu
sobre a natureza de um caso brando de DDA, oposto ao caso grave que descarrilou
a vida do ex-marido dela.
Acho que a maioria
das pessoas com DDA desenvolvido não consegue tomar uma decisão. A vida decide
por elas, e são tão impelidas ao estímulo que a criança-problema, ou o marido
difícil, se transforma nesse estímulo abarcando tudo. Não podem se livrar
disso. Com o DDA brando, pode-se decidir se algo, ou alguém, vai ser o centro
dos acontecimentos.
Acho, também, que há
algo em relação à forma. As pessoas com DDA que conheço não organizam a forma —
no próprio trabalho e no cotidiano. Não sabem evitar que o estímulo negativo se
apodere delas completamente.
E a confiança em que
se podem estruturar seu dia, seus ânimos, sua vida, suas palavras numa página,
é tudo que querem.
O QUE QUEREM AS
MULHERES?
Um dos temas que logo
surgem ao se pensar sobre as formas mais leves de DDA é a questão feminina.
Mais cedo ou mais tarde, quando se conversa com mulheres diagnosticadas com o
distúrbio, experimenta-se um choque de reconhecimento: os problemas que
descrevem, originados por seus déficits de atenção, parecem familiares.
A mulher que só se
apaixona por homens casados, a que é brilhante em seu emprego mas infeliz no
amor, a “dona-de-casa louca”: todos esses tipos culturais podem ser casos
brandos de distúrbio de déficit de atenção não diagnosticado e não suspeitado.
Para começar com os
efeitos do distúrbio no namoro, a vida amorosa da mulher levemente DDA (e,
decerto, da que tem DDA desenvolvido) é crivada de dificuldades; não há maneira
de contornar isso, embora ela possa desfrutar de uma vantagem sobre sua
contraparte masculina.
Como o cérebro esquerdo é mais consistente nas
garotinhas, elas são mais capazes de compensar o distúrbio básico de DDA,
sobretudo os déficits na inteligência social. (O fenômeno de mulheres com
versões mais brandas de distúrbios bastante sérios em homens ocorre também com
outros males, a síndrome de X sendo um exemplo notável.)
Por isso, para a
mulher levemente DDA, se problema pode não ser o de alienar pessoas que quer
atrair: apesar de seu distúrbio, ela pode ter aprendido, quando criança, a
fazer, e conservar amigos.
Provavelmente ela não
é uma desadaptada social, e seus níveis de energia e entusiasmo dão-lhe uma
atração de alta voltagem. Mas às vezes ela tem problemas mais sutis para
decidir de quem se aproximar e quem evitar.
Ela pode escolher o homem errado e fazê-lo
repetidas vezes, em parte porque não absorve todas as informações que teria que
aprender com os relacionamentos que outras mulheres vêem desde o início.
Ou, numa outra
variante da constelação DDA, ela pode absorver demasiadas informações. Com suas
dificuldades de filtrar, sente-se incapaz de analisar meticulosamente o
essencial, capacidade que as mulheres DDA não têm.
Quando há um monte de
dados sobre um novo namoro em perspectiva, parte dos dados será boa, parte será
ruim. Afundada na semiótica do namoro, a mulher DDA acaba não sendo capaz de
distinguir o time de casa dos visitantes.
Mas, além de
quaisquer problemas que enfrente em termos de inteligência social, ela às vezes
seleciona em favor de complicações ao
escolher o parceiro.
Aqui a tremenda necessidade de estímulo da
mulher DDA pode colher um redemoinho. Talvez o motivo mais importante pelo qual
uma mulher brandamente hiperativa escolha homens que não são bons para ela é o
fato de eles lhe despertarem o interesse que o rapaz simpático mas “chato” (e
este é o termo que ela emprega) não desperta.
Algumas mulheres se
conhecem; dirão que precisam de um homem com “pique”. Dependendo da mulher,
“pique” pode significar um astro do rock, um executivo do mundo dos espetáculos
ou um poeta sorumbático.
Qualquer que seja a forma, essas mulheres
sabem com muita precisão o que não querem: uma presença calma e estável que as
deixe entediadas.
Ajudadas e instigadas
pela volumosa indústria editorial de auto-ajuda, essas mulheres acreditam que
suas preferências “ruins” advêm de infâncias ruins, do fato de serem ambiciosas
e criativas demais para “adaptar-se” ao bom moço, ou precisam de “emoções
fortes” ou de serem as mulheres inteligentes que fazem escolhas tolas.
Mas não desconfiam que suas opções românticas
podem advir de uma origem biológica, um defeito no seu aparelho de atenção
cerebral.
Uma das pacientes de
John, com uma carreira bem-sucedida e que passara 20 anos se apaixonando por
homens errados, finalmente procurou ajuda quando se viu em perigo de afastar o
único homem bom que fora afinal capaz de amar.
Contou a John sobre sua mais recente noite
infeliz com esse homem, o tipo de noite que lhe acontecia mais do que com a
maioria das mulheres.
Após uma semana muito
estressante no trabalho, seu amante lhe preparara uma refeição maravilhosa:
vinho, boa comida, luz de velas; tudo isso a ser seguido de uma massagem.
Era uma produção de fantasia, o tipo de noite
com a qual a maioria das mulheres pode apenas sonhar. Era o sonho dela também e
horrorizou-se ao ver-se sutil, embora obstinadamente, sabotando o clima.
Não conseguia relaxar, soltar-se; não
conseguia sentir-se bem em relação ao amor óbvio desse homem por ela. Logo
começou a espicaçá-lo, desafiando pequenas coisas que ele dizia, retrucando
meio agressiva a observações benignas que ele fazia, não respondendo a outras.
E continuou assim até provocar uma briga. A noite foi arruinada.
Ela procurou John em
busca de ajuda. Apesar da dificuldade de relaxar numa relação amorosa positiva,
ela não queria retornar aos amores turbulentos de sua vida até então; queria
estabilizar-se no amor, enfim.
Se destruísse essa relação, sabia que isso
poderia significar uma regressão rápida e certa aos homens que não telefonavam,
aos solteirões convictos, aos recém-divorciados. Sabia que era ela quem atiçava
o fogo nos problemas que ameaçavam seu relacionamento atual.
O diagnóstico de DDA
chegou-lhe como uma revelação, embora sem dúvida não desconhecesse seus
sintomas ela sempre se achara estimulante, no sentido comum do termo.
Mas não fizera a
associação entre seu modo de ser e a paixão por homens que não lhe serviam. O
que iria aprender é que para ela, como para muitas mulheres levemente DDA,
homens “ruins” são muito estimulantes em todos os aspectos, inclusive o da
bioquímica cerebral.
Ela era uma mulher que se automedicara não com
cocaína ou anfetamina, mas com a droga de maus relacionamentos. Por iso é que
pessoas com DDA casam-se com outras DDA, como fizera Debby: escolhem um ao
outro pelo alto estímulo que a pessoa com DDA seguramente proporciona.
A vida mudou
radicalmente assim que ela recebeu o diagnóstico e iniciou o tratamento. Agora,
pela primeira vez, podia ficar sentada, quieta; tolerava um dia calmo na
presença de um amor benevolente. Podia fazer mais que apenas tolerar um
relacionamento calmo com um homem bom.
A diferença era tão gritante que passou a
chamar a medicação que lhe fora receitada de “poção do amor”. Sem isso não
poderia amar um homem que valia a pena ser amado."
Este texto é resultado de uma pesquisa , é uma compilação ...
Catherine Johnson
O texto está livre para divulgação, desde que seja citada a fonte:
Pesquisado por dharmadhannya
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