Atualmente, a insuficiência/deficiência de vitamina D tem sido considerada um problema de saúde pública no mundo todo, em razão de suas implicações no desenvolvimento de diversas doenças, entre elas, o diabetes melito tipo 2 (DMT2), a obesidade e a hipertensão arterial.
A deficiência de vitamina D pode predispor à intolerância à glicose, a alterações na secreção de insulina e, assim, ao desenvolvimento do DMT2. Esse possível mecanismo ocorre em razão da presença do receptor de vitamina D em diversas células e tecidos, incluindo células-β do pâncreas, no adipócito e no tecido muscular.
Descritores: Vitamina D; diabetes melito; obesidade; hipertensão
VITAMINA D, NOVOS HORIZONTES
Na maioria dos indivíduos, a síntese cutânea é a principal fonte de vitamina D, sendo o restante obtido pela alimentação e pelo uso de suplementos (2). Após a síntese cutânea, a vitamina D entra na circulação e é transportada para o fígado, unida à proteína ligante da vitamina D (DBP).
Os efeitos biológicos da forma ativa da vitamina D são mediados pelo VDR, presente nos principais sítios de ação da vitamina D, como rim, glândulas paratireoides, intestino e osso. No núcleo das células-alvo, a 1,25(OH)2D3 se associa ao VDR.
Os níveis séricos tidos como adequados ou não ainda são muito discutidos na literatura. Hollis (8) considera que o nível ótimo de vitamina D seria aquele necessário para manter o PTH em níveis adequados, visto que a deficiência de vitamina D leva à diminuição do cálcio sérico, o qual, em consequência, estimula as glândulas paratireoides a liberar o PTH, a fim de elevar a reabsorção renal e óssea do cálcio (8).
Revisando estudos sobre os pontos de corte da vitamina D, Grant e Holick, em 2005 (12), propuseram que a concentração abaixo de 50 nmol/L seja considerada como deficiência de vitamina D; as concentrações entre 50 e 80 nmol/L seriam indicadoras de insuficiência. Os valores de 25(OH)D normalmente são expressos em nmol/L ou ng/mL (1 ng/mL corresponde a 2,496 nmol/L). Os pontos de corte estão ilustrados na tabela 1
Atualmente, a insuficiência/deficiência de vitamina D tem sido considerada um problema de saúde pública no mundo todo, em razão de suas implicações no desenvolvimento de diversas doenças (3). Em 2008, a publicação referente ao 22nd Marabou Symposium: the changing faces of vitamin D relatou insuficiência de vitamina D em 1 bilhão de indivíduos ao redor do mundo (4).
Apesar da suposta maior exposição solar em nosso meio, concentrações insuficientes de 25(OH)D sérica são também reportadas.
O marcante número de publicações que identificam uma inadequação na concentração sérica de vitamina D em todo o mundo tem despertado o interesse de pesquisadores, que frequentemente identificam a relação dessa vitamina não somente com a osteoporose, mas também com o desenvolvimento de doenças endocrinometabólicas (5,6,17). Este artigo revisou as evidências sobre a participação da vitamina D nessas doenças, assim como elucidou os prováveis mecanismos de ação.
DIABETES MELITO
É bem conhecida a relação do cálcio sérico e do PTH com o desenvolvimento do diabetes melito tipo 2 (DMT2) (18); entretanto, atualmente, estudos em humanos sugerem que a 25(OH)D pode atuar como potente agente modificador do risco para o aparecimento dessa doença (19,20).
O desenvolvimento de DMT2 envolve alterações na função das células-β do pâncreas e resistência periférica à ação da insulina. A 25(OH)D pode atuar nesses mecanismos em virtude da presença (VDR) nas células-β e de proteínas ligadoras de cálcio dependente de vitamina D (DBP) no tecido pancreático (24).
O efeito indireto é mediado pelo fluxo de cálcio intra e extracelular nas células-β. Zemel (17) demonstrou que o aumento na 1,25(OH)2D3 e no PTH induz maior influxo de cálcio para o interior das células. Como a secreção de insulina é um processo cálcio-dependente mediado pela 1,25(OH)2D3 e pelo PTH, o aumento nas concentrações destes, devido à insuficiência de 25(OH)D, pode reduzir a capacidade secretora dessas células (25,27). Adicionalmente, a deficiência de 25(OH)D parece dificultar a capacidade das células-β na conversão da pró-insulina à insulina (28,29).
Com relação à ação da 25(OH)D na resistência à insulina, os efeitos podem também ser diretos (via estímulo da vitamina D para expressão do receptor da insulina, aumentando, assim, a resposta insulínica ao estímulo da glicose) ou indiretos (via concentração de cálcio intracelular) (30).
Evidências em estudos in vivo e em humanos
Ismail e Namala (27) demonstraram em ratos Wistar que uma dieta deficiente em vitamina D prejudica a tolerância à glicose, causando a alteração da sensibilidade à insulina.
Utilizando dados de estudo de suplementação com 700UI de vitamina D3 e 500 mg de cálcio, durante três anos, em mulheres com mais de 65 anos, Pittas e cols. (41) demonstraram redução na glicemia de jejum semelhante à observada no estudo de prevenção de diabetes do Diabetes Prevention Program (DPP) por meio de mudanças do estilo de vida e também pelo uso da metformina (42). Esses dados estão ilustrados na figura 1.
Apesar da semelhança na concentração da glicemia de jejum, ainda são necessários estudos futuros que comparem o efeito da adequação do status da vitamina D somado às mudanças no estilo de vida na prevenção do DMT2.
Em resumo, os resultados dos estudos sobre os efeitos da vitamina D no diabetes melito evidenciam que a deficiência de 25(OH)D altera a síntese e a secreção de insulina, tanto em modelos animais como em humanos.
OBESIDADE
Reduzidas concentrações de 25(OH)D são frequentemente observadas em indivíduos obesos (43-47). Especula-se que a insuficiência de vitamina D não seja apenas consequência da menor exposição solar em obesos, mas também um dos fatores que desencadeia o acúmulo de gordura corporal.
Evidências sugerem que uma das causas da deficiência de 25(OH)D em indivíduos obesos e com DMT2 possa estar ligada ao depósito de vitamina D nos adipócitos, diminuindo a sua biodisponibilidade e acionando o hipotálamo para desenvolver uma cascata de reações que resulta no aumento da sensação de fome e na diminuição do gasto energético (48).
Evidências em estudos epidemiológicos
Correlação negativa entre gordura corporal total com concentração sérica de 25(OH)D foi demonstrada em estudos de base populacional. Tal correlação permaneceu significante, mesmo após o ajuste para idade, estação do ano, ingestão de vitamina D e raça (43,44).
Snidjer e cols. (44), no Longitudinal Aging Study Amsterdam (LASA), observaram que a soma das dobras cutâneas e o percentual de gordura corporal estiveram fortemente associados à baixa concentração de 25(OH)D e à maior concentração de PTH.
HIPERTENSÃO
Dados do Intersalt Study, importante trabalho sobre fatores de risco e controle de hipertensão com mais de 10.000 indivíduos de diversos países, mostram pressão arterial sistólica e diastólica positivamente associada à distância do equador, elucidando que a exposição solar e, supostamente, a menor concentração de 25(OH)D estariam relacionadas à pressão arterial (53).
Adicionalmente, em estudo realizado por Krause e cols. (54) com pacientes hipertensos submetidos à radiação ultravioleta três vezes por semana, durante três meses, foi demonstrado aumento de 180% nos níveis séricos de 25(OH)D e redução de 6 mmHg na pressão arterial sistólica e diastólica.
A hipertensão ocorre principalmente pela ativação inadequada do sistema renina-angiotensina. São vários os estudos que apontam níveis séricos de 1,25(OH2)D3 inversamente associados à pressão arterial ou à atividade da renina plasmática em normotensos e hipertensos (55-57).
Estudos experimentais demonstraram que a 1,25(OH2)D3 inibe a expressão da renina no aparelho justaglomerular (60) e bloqueia a proliferação de célula vascular muscular lisa (VSMC) (61).
Evidências em estudos epidemiológicos
Analisando a população com mais de 20 anos que participou do NHANES III, Scragg e cols. (64) encontraram pressão arterial sistólica e diastólica (3,0 e 1,6 mmHg, respectivamente) menor no maior quintil (25(OH)D > 85,7 nmol/L), em comparação ao menor quintil de vitamina D (25(OH)D < 40 nmol/L). Adicionalmente, Martins e cols. (65) encontraram em adultos americanos prevalência de hipertensão 30% maior no menor quartil, quando comparada ao maior quartil de vitamina D.
Recentemente, a associação entre os níveis séricos de 25(OH)D e o risco de doença coronariana nos indivíduos que participaram do Health Professionals Follow-up Study (HPFS) foi avaliada.
Evidências em estudos de suplementação
Em estudo duplo-cego placebo-controlado, foi observada a redução na pressão arterial de 39 indivíduos hipertensos com a suplementação de vitamina D (72). Essa redução também foi ressaltada em mulheres idosas suplementadas com cálcio e vitamina D (73).
Em outro ensaio clínico, foi observado que administração de 1,25(OH2)D3 reduziu a pressão arterial, além da atividade da renina plasmática e dos níveis de angiotensina II (74).
No entanto, ainda é preciso avaliar os efeitos da suplementação de 25(OH)D em estudos de base populacional e também em subgrupos específicos na prevenção da hipertensão arterial, além de analisar o status da vitamina D necessário em diferentes populações para garantir o benefício máximo desta na pressão arterial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Evidências recentes demonstram que a insuficiência da vitamina D pode estar relacionada ao diabetes melito, à obesidade e à hipertensão. Entretanto, estudos prospectivos e de intervenção em humanos que comprovem a efetividade da adequação do status da vitamina D, tanto na prevenção como no tratamento dessas doenças, ainda são escassos. Mais ainda, a compreensão dos mecanismos exatos pelos quais a 25(OH)D ou a forma ativa 1,25(OH)2D3 promovem melhor funcionamento das células-β, do sistema renina-angiotensina e da regulação da quantidade de gordura corporal são também incompletos.
Contudo, considerando que a insuficiência de vitamina D é comumente observada e que há importantes lacunas no conhecimento sobre a ação dessa vitamina em relação à prevenção e ao tratamento de doenças endocrinometabólicas, a investigação da adequação do status da vitamina D nessas situações deve ser objeto de futuras pesquisas.
Declaração: os autores declaram não haver conflitos de interesse científico neste estudo.
Mais de 80 por cento dos 200 COVID-19 em um hospital na Espanha têm deficiência de vitamina D,
de acordo com um novo estudo publicado no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism da Endocrine Society .
A vitamina D é um hormônio produzido
pelos rins que controla a concentração de cálcio no sangue e afeta o sistema
imunológico.
A deficiência de vitamina D tem sido
associada a uma variedade de problemas de saúde, embora a pesquisa ainda esteja
em andamento sobre porque o hormônio afeta outros sistemas do
corpo. Muitos estudos apontam para o efeito benéfico da vitamina D no
sistema imunológico, principalmente no que diz respeito à proteção contra
infecções.
"Uma abordagem é identificar e
tratar a deficiência de vitamina D, especialmente em indivíduos de alto risco,
como idosos, pacientes com comorbidades e residentes de asilos, que são a
principal população-alvo do COVID-19", disse o coautor do estudo José L.
Hernández, Ph.D., da Universidade de Cantabria em Santander, Espanha.
"O tratamento com vitamina
D deve ser recomendado em pacientes com COVID-19 com baixos níveis de vitamina
D circulando no sangue, uma vez que esta abordagem pode ter efeitos benéficos
tanto no sistema musculoesquelético quanto no sistema imunológico."
Os pesquisadores descobriram que 80
por cento de 216 pacientes com COVID-19 no Hospital Universitario Marqués de
Valdecilla tinham deficiência de vitamina D, e os homens tinham níveis mais
baixos de vitamina D do que as mulheres. Pacientes com COVID-19 com níveis
mais baixos de vitamina D também apresentaram níveis séricos elevados de
marcadores inflamatórios, como ferritina e dímero-D.
A vitamina D já é bem conhecida por
seus benefícios na construção de ossos saudáveis. Um novo estudo apóia a
ideia de que também pode reduzir o risco de câncer, bem como a mortalidade por
câncer de mama, especialmente em mulheres com índice de massa corporal mais
baixo. Os resultados do estudo são publicados online hoje na Menopause ,
o jornal da The North American Menopause Society (NAMS).
Fatores de risco reprodutivos, como
início precoce da puberdade, menopausa tardia, idade avançada na primeira
gravidez, nunca ter engravidado, obesidade e histórico familiar, todos
mostraram estar associados ao desenvolvimento de câncer de mama. O papel
da concentração de vitamina D no desenvolvimento do câncer de mama, no entanto,
continua a ser debatido.
Este estudo envolvendo mais de 600
mulheres brasileiras sugere que a vitamina D pode reduzir o risco de câncer ao
inibir a proliferação celular. Os resultados do estudo aparecem no artigo
"Baixa concentração sérica de vitamina D pré-tratamento no diagnóstico de
câncer de mama em mulheres na pós-menopausa."
Os pesquisadores envolvidos no estudo
concluíram que as mulheres na pós-menopausa tinham um risco maior de
deficiência de vitamina D no momento do diagnóstico de câncer de mama,
associado a taxas mais altas de obesidade, do que mulheres da mesma faixa
etária sem câncer.
"Embora a literatura
publicada seja inconsistente sobre os benefícios dos níveis de vitamina D e
câncer de mama, este estudo e outros sugerem que níveis mais elevados de
vitamina D no corpo estão associados a um risco reduzido de câncer de mama",
disse a Dra. JoAnn Pinkerton, diretora executiva da NAMS . "A
vitamina D pode desempenhar um papel no controle das células do câncer de mama
ou impedindo-as de crescer. A vitamina D vem da exposição direta à luz solar,
de suplementos de vitamina D3 ou de alimentos ricos em vitamina D."
Xxxxxxxxxxxx
em cada duas pessoas com 65
anos ou mais tem níveis subótimos de vitamina D no sangue. Além
disso, como relatam os autores do estudo na revista Nutrients ,
um em cada quatro adultos mais velhos tem níveis de vitamina B12 abaixo do
ideal.
No geral, os cientistas examinaram
amostras de sangue de 1.079 adultos mais velhos, com idades entre 65 e 93 anos,
do estudo KORA. Sua análise se concentrou nos níveis de quatro
micronutrientes: vitamina D, folato, vitamina B12 e ferro.
“Os resultados são muito claros”,
explica a primeira autora Romy Conzade. “Cinquenta e dois por cento dos
idosos examinados tinham níveis de vitamina D abaixo de 50 nmol / L e,
portanto, tinham um status de vitamina D abaixo do ideal”. Os cientistas
também observaram escassez de alguns dos outros
micronutrientes. Notavelmente, vinte e sete por cento dos adultos mais
velhos tinham níveis de vitamina B12 abaixo do limite. Além disso, em onze
por cento dos adultos mais velhos, os níveis de ferro estavam muito baixos e
quase nove por cento não tinham folato suficiente no sangue.
Os resultados críticos da última
Pesquisa Nacional de Nutrição da Alemanha (NVS II), que revelou uma ingestão
insuficiente de micronutrientes dos alimentos. uma questão altamente relevante,
especialmente à luz do crescente envelhecimento da população. "
Os suplementos dietéticos são o
caminho a seguir?
A maioria dos idosos com níveis de
vitaminas abaixo do ideal tinha em comum o fato de serem muito idosos,
fisicamente inativos ou frágeis. Atenção especial deve ser dada, portanto,
a esses grupos com maior risco de deficiência de micronutrientes, explicam os
pesquisadores.
"Nosso estudo também mostra que
a ingestão regular de suplementos contendo vitaminas acompanha a melhora dos
níveis das respectivas vitaminas", diz Barbara Thorand. "No
entanto, os suplementos contendo vitaminas não são um remédio universal e,
particularmente, os idosos devem estar atentos para manter uma dieta saudável e
nutritiva."
Nesse contexto, os autores afirmam
que seu próximo objetivo é continuar investigando as vias metabólicas que ligam
a ingestão de suplementos, o estado de micronutrientes e os estados de doença.
Fonte da história:
Materiais fornecidos por Helmholtz Zentrum
München - Centro Alemão de Pesquisa em Saúde Ambiental .
Postado por Dharmadhannya
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