quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Coração Saudável

 


Coração Saudável

Médico ensina medidas simples para ter um coração saudável e se proteger da arteriosclerose, a ...

RIO - A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que até 2040 o índice de doenças cardiovasculares no Brasil deve aumentar em 250%. Hoje, 300 mil brasileiros morrem anualmente por causa desses problemas. E de 14% a 25% dos infartos ocorrem sem sinal de dor. Além disso, 30% dos brasileiros são hipertensos, e, de cada cem, apenas de 25 a 30 têm a doença controlada.

 Com o estresse, o excesso de informações e a vida sedentária, o coração fica ainda mais sobrecarregado. Uma hora começa a falhar. O médico Cláudio Domênico, doutor em cardiologia pela UFRJ e membro do Colégio Europeu e Americano de Cardiologia, diz que medidas simples ajudam a proteger não só o coração, mas os demais órgãos.

Ele lançou o guia "Detalhes" - que distribui a seus pacientes e amigos - com dicas de bem-estar. Nesta entrevista, ele ensina como melhorar a qualidade de vida. 

ESTILO DE VIDA: "Um coração saudável mantém os outros órgãos saudáveis. Se o coração vai mal e bombeia sangue em quantidade insuficiente, o cérebro, os rins e o pâncreas sofrem.

Daí a importância de prevenir e tratar a arteriosclerose, doença que pode começar precocemente e piorar, dependendo de estilo de vida e hábitos alimentares. Hoje há maior consumo de fast-foods, de produtos com mais corantes, antibióticos e hormônios.

 E, com os avanços tecnológicos, a vida tornou-se confortável demais; antes as pessoas se mexiam mais. O ideal é associar exercícios aeróbicos, como corrida, caminhada e natação, ao alongamento e à musculação (com orientação de profissional de educação física), que retarda a perda progressiva de massa muscular.

 Exames são importantes, mas é fundamental que motivemos nossos pacientes a mudarem seu comportamento em benefício de sua saúde".

HORA DO CHECK-UP: "Pessoas sem sintomas e histórico de doença cardiovascular podem iniciar o check-up clínico-cardiológico a partir dos 35 anos. A avaliação inclui exame de sangue completo, teste de esforço, eletrocardiograma, consulta oftalmológica, ginecológica ou urológica.

Se a pessoa quer praticar atividade física mais intensa, o médico deve incluir o teste de esforço e o ecocardiograma. É uma medida para tentar prevenir a morte súbita, cuja principal causa é a hipertrofia anormal do coração, que pode causar arritmias malignas. Apenas o exame clínico pode ser insuficiente para detectar essa alteração.

 Já o teste de esforço mostra, entre outras coisas, o comportamento da pressão em repouso e no exercício, o condicionamento físico, os sintomas e as arritmias na prática da atividade física. Por exemplo, a queda de pressão num esforço pode indicar entupimento grave de artérias coronárias".

OUTROS EXAMES: "Em pacientes com mais de dois fatores de risco cardiovascular, como diabetes, colesterol alto, hipertensão, histórico de doença coronária precoce e medida de cintura do quadril acima do normal (até 0,9 para homens e 0,85 para mulheres; a gordura no abdômen é a mais nociva) recomenda-se a tomografia de tórax com escore de cálcio coronário e o ultrassom das carótidas.

 A angiorressonância do crânio é indicada para pessoas com histórico de aneurismas no cérebro. Os exames revela que o médico William Osler já dizia: 'O homem é tão velho quanto suas artérias'. Isto é, o que se observa é que a idade vascular nem sempre corresponde à sua idade cronológica".

GORDURAS NO SANGUE: "Ter a fração de bom colesterol, o HDL, baixa é tão perigoso quanto ter o LDL, a gordura má, alto. E os medicamentos que existem para aumentar o HDL são pouco eficazes e têm efeitos adversos.

 Portanto, é melhor tentar elevar o HDL praticando atividade física regularmente e se alimentando de forma saudável, com orientação de nutricionista, até para evitar as dietas da moda. O ideal é que o HDL represente pelo menos 25% do colesterol total.

 Com relação aos triglicerídeos, esta gordura tem relação com o aumento do açúcar - a glicose - no sangue. Os triglicerídeos podem ser reduzidos com o uso drogas do tipo fibratos, porém elas não devem ser associadas rotineiramente a estatinas (receitadas para baixar colesterol), porque essa combinação afeta os rins. Então devemos tratar primeiro a alteração mais grave."

NOVOS MARCADORES: "Um marcador muito estudado é a proteína C-reativa (a PCR). Quando está alta, indica inflamação em algum órgão. Esse é o problema de usá-la, porque não é específica para o coração.

 Pode estar alterada numa infecção por vírus ou num infarto. Mas estudos mostraram que pacientes sem diagnóstico de doença coronária e que apresentavam PCR acima de 2 se beneficiavam de estatinas. Então é preciso avaliar melhor esse marcador".

HIPERTENSÃO E CÂNCER: "Quem tem pressão alta deve ser avaliado individualmente. Nesta semana saíram estudos relacionando o uso de drogas bloqueadoras dos receptores da angiotensina ou BRA (um dos mais receitados) a risco moderado de câncer.

 Porém, são necessárias novas pesquisas. Para cada caso há um tratamento, dependendo da avaliação médica. Geralmente, o uso isolado de um único fármaco só funciona em casos leves. Não há receita de bolo".

CLÍNICO OU CIRÚRGICO: "De maneira geral, quem precisa de implante de três ou mais stents é candidato à cirurgia de revascularização do miocárdio. Por outro lado, pacientes tratados com angioplastia tendem a se descuidar com o tempo, voltam a se alimentar mal, a levar vida sedentária e suas artérias vão se obstruindo. Já os operados aderem melhor ao tratamento. Talvez porque se lembrem dos dias no CTI, no pós-operatório".

Médico Cláudio Domênico,

As doenças cardiovasculares, como infarto, AVC e síndrome do coração partido, são um grande desafio para a saúde feminina e mais da metade das mortes de mulheres são causadas por problemas no sistema cardiovascular. A cardiologista e coordenadora do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Cardiopatia, Gravidez e Aconselhamento Reprodutivo do Hospital das Clínicas da USP, Walkiria Ávila, fala sobre as causas desse problema e como evitá-lo em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição.

 Dra. Walkiria constata que, mesmo havendo uma diminuição dessas doenças nas mulheres, elas continuam sendo a principal causa de morte e afetam menos os homens.

 “A mulher, de forma geral, acha que infarto é coisa de homem. Em 850 mulheres que nós perguntamos ‘Do que você acha que vai morrer?’, 60% achavam que iriam morrer de câncer de mama e somente 18% achavam que seria por doença do coração. E é exatamente o contrário”, revela.

Segundo a cardiologista, somente 14% das mortes de mulheres têm como causa o câncer de mama. Isso se deve aos programas para prevenção à doença, os quais são mais escassos no que diz respeito às doenças cardiovasculares.

Sintomas diferentes

A cardiologista também alerta para as diferenças nos sintomas sentidos por homens e mulheres, fator que pode retardar a procura por profissionais da saúde e prognósticos:

 “Na mulher, os sintomas de infarto são minimizados. No homem, [pode haver] uma dor no peito, na mulher pode não [haver]. A mulher pode ter uma dor na mandíbula, dor nos braços e até uma dor nas costas. E isso passa como se fosse uma dor na lombar”.

Dra. Walkiria também alerta para a falta de conhecimento das mulheres sobre sua saúde. Ela informa que hipertensão, tabagismo, obesidade e depressão contribuem para acelerar essas condições e que dietas e atividades físicas são os pilares preventivos das doenças do coração e até cânceres. A cardiologista ainda fala sobre gravidez e questões hormonais:

 “Isso já começa na puberdade. O uso dos anticoncepcionais, quando não são formulados ou receitados de formas adequadas. A gravidez é um teste à saúde da mulher e nós temos a pré-eclâmpsia, que é a hipertensão da gestação e é a principal causa de morte obstétrica”.

 “A menopausa, que perde o estrógeno, o protetor cardiovascular, e as doenças começam a se somar”, completa. 

A médica incentiva a realização de exames precocemente para o tratamento adequado das doenças cardiovasculares. “Isso aqui é um programa de saúde pública, inclusive trazendo o alerta a essas mulheres à prevenção, e a gente tem uma visão e uma esperança de que futuramente essas doenças tendam a diminuir no sexo feminino também”, afirma

Walkiria Ávila

Postado por Dharmadhannya


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