Coração Saudável
Médico
ensina medidas simples para ter um coração saudável e se proteger da
arteriosclerose, a ...
RIO - A
Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que até 2040 o índice de doenças
cardiovasculares no Brasil deve aumentar em 250%. Hoje, 300 mil brasileiros
morrem anualmente por causa desses problemas. E de 14% a 25% dos infartos
ocorrem sem sinal de dor. Além disso, 30% dos brasileiros são hipertensos, e,
de cada cem, apenas de 25 a 30 têm a doença controlada.
Com o estresse, o excesso de informações e a
vida sedentária, o coração fica ainda mais sobrecarregado. Uma hora começa a
falhar. O médico Cláudio Domênico, doutor em
cardiologia pela UFRJ e membro do Colégio Europeu e Americano de Cardiologia,
diz que medidas simples ajudam a proteger não só o coração, mas os demais
órgãos.
Ele
lançou o guia "Detalhes" - que distribui a seus pacientes e amigos -
com dicas de bem-estar. Nesta entrevista, ele ensina como melhorar a qualidade
de vida.
ESTILO DE
VIDA: "Um coração saudável mantém os outros órgãos saudáveis. Se o
coração vai mal e bombeia sangue em quantidade insuficiente, o cérebro, os rins
e o pâncreas sofrem.
Daí a
importância de prevenir e tratar a arteriosclerose, doença que pode começar
precocemente e piorar, dependendo de estilo de vida e hábitos alimentares. Hoje
há maior consumo de fast-foods, de produtos com mais corantes, antibióticos e
hormônios.
E, com os avanços tecnológicos, a vida
tornou-se confortável demais; antes as pessoas se mexiam mais. O ideal é
associar exercícios aeróbicos, como corrida, caminhada e natação, ao
alongamento e à musculação (com orientação de profissional de educação física),
que retarda a perda progressiva de massa muscular.
Exames são importantes, mas é fundamental que
motivemos nossos pacientes a mudarem seu comportamento em benefício de sua
saúde".
HORA DO
CHECK-UP: "Pessoas sem sintomas e histórico de doença cardiovascular
podem iniciar o check-up clínico-cardiológico a partir dos 35 anos. A avaliação
inclui exame de sangue completo, teste de esforço, eletrocardiograma, consulta
oftalmológica, ginecológica ou urológica.
Se a
pessoa quer praticar atividade física mais intensa, o médico deve incluir o
teste de esforço e o ecocardiograma. É uma medida para tentar prevenir a morte
súbita, cuja principal causa é a hipertrofia anormal do coração, que pode
causar arritmias malignas. Apenas o exame clínico pode ser insuficiente para
detectar essa alteração.
Já o teste de esforço mostra, entre outras
coisas, o comportamento da pressão em repouso e no exercício, o condicionamento
físico, os sintomas e as arritmias na prática da atividade física. Por exemplo,
a queda de pressão num esforço pode indicar entupimento grave de artérias
coronárias".
OUTROS
EXAMES: "Em pacientes com mais de dois fatores de risco
cardiovascular, como diabetes, colesterol alto, hipertensão, histórico de
doença coronária precoce e medida de cintura do quadril acima do normal (até
0,9 para homens e 0,85 para mulheres; a gordura no abdômen é a mais nociva)
recomenda-se a tomografia de tórax com escore de cálcio coronário e o ultrassom
das carótidas.
A angiorressonância do crânio é indicada para
pessoas com histórico de aneurismas no cérebro. Os exames revela que o médico
William Osler já dizia: 'O homem é tão velho quanto suas artérias'. Isto é, o
que se observa é que a idade vascular nem sempre corresponde à sua idade
cronológica".
GORDURAS
NO SANGUE: "Ter a fração de bom colesterol, o HDL, baixa é tão
perigoso quanto ter o LDL, a gordura má, alto. E os medicamentos que existem
para aumentar o HDL são pouco eficazes e têm efeitos adversos.
Portanto, é melhor tentar elevar o HDL
praticando atividade física regularmente e se alimentando de forma saudável,
com orientação de nutricionista, até para evitar as dietas da moda. O ideal é
que o HDL represente pelo menos 25% do colesterol total.
Com relação aos triglicerídeos, esta gordura
tem relação com o aumento do açúcar - a glicose - no sangue. Os triglicerídeos
podem ser reduzidos com o uso drogas do tipo fibratos, porém elas não devem ser
associadas rotineiramente a estatinas (receitadas para baixar colesterol),
porque essa combinação afeta os rins. Então devemos tratar primeiro a alteração
mais grave."
NOVOS
MARCADORES: "Um marcador muito estudado é a proteína C-reativa (a
PCR). Quando está alta, indica inflamação em algum órgão. Esse é o problema de
usá-la, porque não é específica para o coração.
Pode estar alterada numa infecção por vírus ou
num infarto. Mas estudos mostraram que pacientes sem diagnóstico de doença
coronária e que apresentavam PCR acima de 2 se beneficiavam de estatinas. Então
é preciso avaliar melhor esse marcador".
HIPERTENSÃO
E CÂNCER: "Quem tem pressão alta deve ser avaliado individualmente.
Nesta semana saíram estudos relacionando o uso de drogas bloqueadoras dos
receptores da angiotensina ou BRA (um dos mais receitados) a risco moderado de
câncer.
Porém, são necessárias novas pesquisas. Para
cada caso há um tratamento, dependendo da avaliação médica. Geralmente, o uso
isolado de um único fármaco só funciona em casos leves. Não há receita de
bolo".
CLÍNICO
OU CIRÚRGICO: "De maneira geral, quem precisa de implante de três ou
mais stents é candidato à cirurgia de revascularização do miocárdio. Por outro
lado, pacientes tratados com angioplastia tendem a se descuidar com o tempo,
voltam a se alimentar mal, a levar vida sedentária e suas artérias vão se
obstruindo. Já os operados aderem melhor ao tratamento. Talvez porque se
lembrem dos dias no CTI, no pós-operatório".
Médico
Cláudio Domênico,
As
doenças cardiovasculares, como infarto, AVC e síndrome do coração partido, são
um grande desafio para a saúde feminina e mais da metade das mortes de mulheres
são causadas por problemas no sistema cardiovascular. A cardiologista e
coordenadora do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Cardiopatia, Gravidez e
Aconselhamento Reprodutivo do Hospital das Clínicas da USP, Walkiria Ávila,
fala sobre as causas desse problema e como evitá-lo em entrevista ao Jornal da
USP no Ar 1ª Edição.
Dra. Walkiria constata que, mesmo havendo uma diminuição dessas doenças nas mulheres, elas continuam sendo a principal causa de morte e afetam menos os homens.
“A mulher, de forma geral, acha que infarto é
coisa de homem. Em 850 mulheres que nós perguntamos ‘Do que você acha que vai
morrer?’, 60% achavam que iriam morrer de câncer de mama e somente 18% achavam
que seria por doença do coração. E é exatamente o contrário”, revela.
Segundo a
cardiologista, somente 14% das mortes de mulheres têm como causa o câncer de
mama. Isso se deve aos programas para prevenção à doença, os quais são mais
escassos no que diz respeito às doenças cardiovasculares.
Sintomas
diferentes
A
cardiologista também alerta para as diferenças nos sintomas sentidos por homens
e mulheres, fator que pode retardar a procura por profissionais da saúde e
prognósticos:
“Na mulher, os sintomas de infarto são
minimizados. No homem, [pode haver] uma dor no peito, na mulher pode não
[haver]. A mulher pode ter uma dor na mandíbula, dor nos braços e até uma dor
nas costas. E isso passa como se fosse uma dor na lombar”.
Dra. Walkiria
também alerta para a falta de conhecimento das mulheres sobre sua saúde. Ela
informa que hipertensão, tabagismo, obesidade e depressão contribuem para
acelerar essas condições e que dietas e atividades físicas são os pilares
preventivos das doenças do coração e até cânceres. A cardiologista ainda fala
sobre gravidez e questões hormonais:
“Isso já começa na puberdade. O uso dos
anticoncepcionais, quando não são formulados ou receitados de formas adequadas.
A gravidez é um teste à saúde da mulher e nós temos a pré-eclâmpsia, que é a
hipertensão da gestação e é a principal causa de morte obstétrica”.
“A menopausa, que perde o estrógeno, o
protetor cardiovascular, e as doenças começam a se somar”, completa.
A médica incentiva a realização de exames precocemente para o tratamento adequado das doenças cardiovasculares. “Isso aqui é um programa de saúde pública, inclusive trazendo o alerta a essas mulheres à prevenção, e a gente tem uma visão e uma esperança de que futuramente essas doenças tendam a diminuir no sexo feminino também”, afirma
Walkiria Ávila
Postado
por Dharmadhannya
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