terça-feira, 8 de março de 2016

Psicologia quântica do Afeto - 2


Psicologia quântica  do Afeto - 2 

Na filosofia, a mesma batalha se reflete na tensão entre os filósofos que argumentam que o indivíduo é tudo e o mundo a seu redor pouco importante (talvez até inexistente) e outros filósofos que procuram dizer que o indivíduo é nada, e que seu relacionamento com outras coisas e pessoas é o que importa.

A primeira é filosofia do individualismo radical que, se levada a extremos, torna- se solipsismo. A segunda encontra voz na filosofia de Parfit, no misticismo oriental e na preocupação de Marx com a "história", a sociedade e as forças sociais.


Mas até que ponto essa tensão será real? É uma tensão entre a realidade e a ilusão entre um ser real e intimidades ilusórias, ou entre um ser ilusório e intimidades reais  -  ou é uma tensão entre duas realidades, entre um ser real que existe como indivíduo e um "nós" real do qual aquele indivíduo pode fazer parte?


Se a última alternativa estiver correta, se tanto o "eu" como o "nós" são reais e importantes, por que nossos filósofos têm tanta dificuldade em vê-la?

Toda a argumentação já pesquisada, mostrou-nos que a realidade do "eu" não é um problema. Do ponto de vista mecânico-quântico, vemos o ser como algo flutuante e enevoado cujas fronteiras, tanto internas como externas, estão sempre se movendo e se modificando.

 Não obstante, isso não o faz menos real, menos substancial. O ser não é uma ilusão. Para o senso comum, um estreito relacionamento entre nós e os outros parece igualmente real, e de fato parece definir ao menos parcialmente quem e o que somos.
A maioria de nós já passou por uma experiência como a dos amantes do poema de Graves, em que a intimidade entre nós e um outro foi tão completa a ponto de aparentemente apagar qualquer distinção entre os dois.

 Esta é uma experiência comum entre mães e seus bebês, ao menos no sentido de que a mãe sente o bebê como uma extensão de si mesma, vivenciando ambos como existentes numa esfera de intimidade cujas fronteiras definem sua identidade comum.

 Os psicólogos nos dizem que o bebê sente a mesma coisa.
Diz-se que o mesmo tipo de ligação íntima existe entre o psicoterapeuta e seu paciente, que muitas vezes o terapeuta se vê sentindo sentimentos e pensando pensamentos que na verdade são de seus pacientes.

Durante o tempo de cinquenta minutos, os dois parecem partilhar em alguns momentos de uma identidade comum, parecem ser um corpo e uma mente.


 O mecanismo pelo qual isso ocorre é chamado "identificação projetiva" e é considerado um veículo de suma importância através do qual o terapeuta pode realmente conhecer em primeira mão os problemas inconscientes que seu paciente enfrenta.

 Durante algum tempo, até tornar-se consciente deles e de sua origem, ele experimenta os problemas do paciente como próprios.

Como descreve certo analista junguiano: "A identificação projetiva pode ser concebida como uma espécie de fusão que envolve a mistura e emaranhamento de sujeito e objeto, dos mundos interno e externo; envolve o desfazer de fronteiras".2



Muitos exemplos desse grau extremo de intimidade ocorrem em nossa vida diária. As experiências dos amantes de Graves e da mãe com seu bebê são desse tipo.

 O mesmo ocorre entre o professor talentoso e seu aluno, em que não só o conhecimento do professor, mas toda sua pessoa — entusiasmo, maneirismos, estilo de pensamento — "entram" no aluno e tornam-se próprios dele.
 Da mesma forma, os líderes políticos talentosos têm um jeito de perceber os desejos e aspirações não expressos de seus seguidores, e não só expressá-los como se fossem próprios, mas realmente senti-los como próprios.

Em todos esses casos, o relacionamento íntimo parece produzir duas pessoas que se sobrepõem a tal ponto que cada qual abarca o conteúdo interno da outra. Elas partilham uma identidade.
Quando a ira une duas pessoas elas vibram em sintonia e se identificam e estão presos no ódio que aprisiona.

 O mecanismo através do qual isto ocorre também parece relacionar-se muito intimamente ao sentido um pouco menos extremado da empatia normal que sentimos por todas as pessoas.

 Na empatia, sabemos que não somos a outra pessoa, mas também sabemos qual seria a sensação de ser aquela pessoa, de estar em seu lugar, tendo seus sentimentos.

A empatia é uma forma de intimidade que podemos experimentar em relação a pessoas totalmente desconhecidas, assim como com aquelas que estão muito próximas. E há outros.

Todos os dias experimentamos uma pequena e passageira intimidade com outras pessoas — quando um estranho responde ao nosso cumprimento numa rua do interior, quando

partilhamos um sorriso com o estranho sentado ao nosso lado, ao vermos uma criança envergonhar sua mãe soltando algum comentário sobre uma mulher gorda ou um velho careca —,

momentos breves nos quais mesmo a companhia de pessoas estranhas toca nosso ser de alguma forma, invade as fronteiras de nossa individualidade e, ainda que timidamente, de alguma forma deixa ali suas marcas.

 Nunca mais somos exatamente a mesma pessoa, tampouco o outro.
Muitas coisas de nossa experiência nos influenciam e nos modificam. Obviamente, a saúde e o funcionamento de nosso corpo, inclusive nosso cérebro, dependem da qualidade do alimento que ingerimos e de muitos fatores mutáveis de nosso ambiente externo.

 Da mesma forma, nosso ser, pensamentos e comportamento são continuamente influenciados pelos pensamentos e comportamentos dos outros, pelos membros de nossa família, pelos amigos e colegas.


 Somos influenciados pela cultura em geral — pelos livros que lemos, filmes a que assistimos, música que ouvimos etc. Muito da imagem que fazemos daquilo que somos depende do contexto geral de nosso ser e, em grande parte, essas influências não são um mistério. Para explicá-las não precisamos de uma nova teoria da pessoa.

Mas a intimidade parece ser diferente. A intimidade não é um relacionamento entre "mim" e "você" ou entre "mim" e "aquilo", no qual você ou a coisa (um livro, uma pedra, um computador) influenciam a mim.

Na intimidade, parece que "eu" e "você" nos influenciamos mutuamente, parece que "entramos" um no outro e modificamos um ao outro no interior, de tal forma que "eu" e "você" nos tornamos "nós".

 Esse "nós" que experimentamos não é apenas "eu e você", é uma coisa nova em si, uma nova unidade.

Esse "nós" altera tanto o "eu" quanto o "você" que o compõem, assumindo uma identidade própria com capacidade própria para relacionamentos posteriores.

O "nós" que parece surgir no relacionamento íntimo é o Eu — Você sobre o qual escreve Martin Buber em sua distinção entre nosso relacionamento com as coisas e com as pessoas.

 Com as coisas, diz ele, temos um relacionamento Eu—Isto. Isto poderá influenciar a mim, mas eu não influencio isto.

O mundo [das coisas] não participa da minha experiência [de contato com ele]. Ele permite ser experimentado, mas não toma conhecimento da questão.

 Pois ele não afeta a experiência e a experiência não o afeta.3
Mas "quando se diz você, aquele que fala (...) se coloca na relação".4 No Eu— Você, eu e você nos tornamos "nós".

Pelo fato de todos termos algum tipo de relacionamento pessoal e a maioria de nós ter tido a sorte de experimentar algum tipo de intimidade em nossas vidas, a existência de um "nós" é uma verdade vivida para nós.

Os pais  devem ficar alerta com os grupos, com  as comunidades que os adolescentes participam, o jovem está “construindo” sua identidade e a influência do grupo pode ser determinante para o seu caráter, para a sua vida, para o seu futuro.



 Mas terá ela algum fundamento factual? Existirá realmente tal coisa como a intimidade, ou será ela apenas uma ilusão a que se apega o ser em isolamento?

Ela nos parece bastante real, mas, ao procurarmos compreendê-la, expressá-la, explicá-la e fazer com que ela integre o aparato conceituai por meio do qual estruturamos nosso mundo, nós nos deparamos com um problema.

 Como dois indivíduos conseguem se encontrar de tal forma que ambos são modificados internamente por esse encontro e que o próprio encontro adquire uma identidade?

 Qual é a base física desse "encontro", desse novo "nós" do Eu—Você de Buber?
Em qualquer abordagem clássica à filosofia e à psicologia da pessoa essa questão permanece sem resposta e, portanto, fica muito difícil, quase-impossível, explicar como podem existir os relacionamentos íntimos que obviamente existem à luz do senso comum.

Na filosofia cartesiana, que tão profundamente influenciou a corrente individualista do pensamento moderno, sobre o ser e seus relacionamentos, não há relações pessoais íntimas.

Tudo no pensamento de Descartes acontece do ponto de vista da primeira pessoa do singular do cogito isolado, o "eu" que pensa e que não é nada além de seu pensar.

Qualquer relacionamento que esse cogito possa ter com qualquer coisa ou pessoa é algo indireto que ele tem pela mediação da matéria newtoniana ou da mente de Deus. "Eu" e "você" jamais se encontram.

O isolamento cartesiano foi reforçado pela física de Newton, cujo conceito de matéria, como certo número de bolas de bilhar distintas e indivisíveis, complementou, por sua vez, as mentes separadas e indivisíveis de Descartes.

 A noção de relacionamento como um conjunto de influências externas operadas entre estranhos tornou-se paradigma para todo relacionamento.

Bolas de bilhar não se "encontram", não entram uma dentro da outra alterando-se mutuamente as qualidades internas. Não têm como fazê-lo, pois cada uma é sempre e somente ela mesma, totalmente impermeável a qualquer influência externa.

Como as mentes de Descartes, elas se inter-relacionam apenas indiretamente, por meio de forças externas que fazem com que, de vez em quando, se atraiam, se rejeitem ou se choquem.


 Durante a colisão sofrem um impacto e podem experimentar uma mudança de posição ou de momentum, mas permanecem as mesmas, antes, durante e depois da colisão.

 Seu relacionamento durante a colisão, a atração ou a repulsão é o que Sartre chamaria de uma "verdade contingente".

De fato, todo o paradigma cartesiano-newtoniano de indivíduos isolados, tendo apenas relacionamentos externos, contingentes, está no fundo de todo o pensamento existencialista sobre os relacionamentos interpessoais.

Em O Ser e o Tempo, Heidegger nos diz que o Dasein (ser humano) não pode ter envolvimentos. "Quando Dasein está absorvido no mundo de seu interesse — e ao mesmo tempo em seu Ser-junto diante dos Outros — ele não é ele mesmo."5

 Da mesma forma, Sartre, que se vê como operando a revolução cartesiana até suas últimas consequências, argumenta em O Ser e o Nada que o ser de outros é um feto de nossa existência, mas não um feto essencial. É apenas o que ele chama de "necessidade factual".

O Ser-para-os-outros não é uma estrutura ontológica do Para-si-mesmo. Não podemos pensar em obter um ser-para-os-outros a partir de um ser-para-si-mesmo, como se obteria uma consequência a partir de um princípio.6

Nosso relacionamento com os outros é simplesmente algo que acontece, como as moscas que pousam em nosso nariz. O outro na verdade não nos "atinge". Se pensamos que o outro nos atinge, estamos "com uma visão errônea".

A psicanálise freudiana, amplamente influenciada por Descartes e Newton e, por sua vez, tão responsável pelo modo como muitas pessoas comuns se enxergam, tampouco fornece uma estrutura conceitual para os relacionamentos interpessoais e, na verdade, não entende que tais relacionamentos sejam de sua alçada.

 Conforme coloca o autor do Dictionary of Psychoanalysis, "isso se deve ao feto de a psicanálise ser uma psicologia do indivíduo e, portanto, discutir objetos e relacionamentos somente do ponto de vista de um sujeito".7

Segundo Freud, não são os outros que nos influenciam, mas sim nossas próprias ideias a respeito dos outros, nossas projeções.

 A influência freudiana é sempre uma transação de ida sem volta, o que Buber chamaria de um relacionamento Eu—Isto, em que o outro é um objeto, cuja representação levamos para dentro de nossa psique, onde fazemos dela o que bem entendemos.

 Não há uma dinâmica do relacionamento interpessoal, só uma dinâmica da psique individual.

Seguindo este modelo de relacionamento como representação do objeto, a aluna de Freud, Melanie Klein, interpretou a identificação projetiva na qual duas pessoas parecem entrar

uma na outra e partilhar de uma só identidade (os amantes de Graves, a mãe e seu filho, qualquer relacionamento Eu—Você) como, na verdade, um processo por meio do qual se é "ingerido" pelo outro como objeto das próprias fantasias dele:

O ego toma posse de um objeto externo por projeção — em primeiro lugar, a mãe — e o conduz a uma extensão do ser.

 O objeto se torna, em certa medida, uma representação do ego, e tais pessoas são, a meu ver, a base para a identificação por projeção ou "identificação projetiva" (...) o chupar do vampiro, o esvaziar do seio transformam-se, na fantasia infantil, num abrir caminho para o seio e depois para o corpo da mãe.8

Klein, como Freud, Sartre e Heidegger, não tem um modelo para o verdadeiro relacionamento de duas vidas, do tipo que leva à intimidade.

Nenhum deles consegue distinguir entre o modo como nos relacionamos com outras pessoas e o modo como talvez nos relacionássemos com uma máquina, pois, para eles, ambas, máquinas e pessoas, partilham da qualidade de objeto.

Todos vivem à sombra do cogito isolado de Descartes e das impenetráveis bolas de bilhar de Newton, sendo que a obra de cada um deles é, a seu modo, um desdobramento inevitável daqueles protótipos de separação.

Assim, "confissão errada", "representação do objeto" e "chupar do vampiro" são os modelos de relacionamento que nos oferecem alguns dos pensadores mais influentes deste século.

 Cada um deles ganhou espaço na cultura geral e contribuiu significativamente para o senso de alienação sentido por tantas pessoas. Não é de admirar que outros pensadores — Parfit, Capra, Zukav, Bohm — tenham procurado transcender essa alienação, negando totalmente a existência do ser isolado e isolante.

Mas o ser existe e, portanto, conforme sabemos de nossas intuições mais profundas, os relacionamentos íntimos também.

"Eu" e "nós" não são um caso de "ou/ou" mas de "ambos/e".


 Eu sou singularmente eu, algo dentro de mim mesma que só eu posso ser, e sou também meus relacionamentos com os outros, algo maior que eu mesma. 


Postado por Dharmadhanna
Psicoterapeuta Transpessoal
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