É preciso ficar atento aos sinais da
visão
Médicos recomendam consultas regulares após
os 40 anos e explicam as doenças que são mais comuns
Notícias - 30/11/2015 - Fonte: Portal O
Globo
Carl Knoploch
Se 80% das informações recebidas do
mundo exterior chegam a nós por meio da visão, presume-se que a saúde dos olhos
é tratada pela maioria das pessoas como uma prioridade.
Mas, de acordo com
oftalmologistas, isso nem sempre acontece: como algumas doenças oculares
avançam vagarosamente, é comum que pacientes cheguem aos consultórios com
grande comprometimento da função visual. “Cuidados com os olhos” foi o tema da
mais recente rodada de palestras da série Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar.
Apresentado pela jornalista Viviane Nogueira e coordenado pelo médico Cláudio Domênico,
membro das sociedades Americana e Europeia de Cardiologia, o evento contou com
a participação dos cirurgiões Almir Ghiaroni, mestre em oftalmologia pela
Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor pela Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), e Oswaldo Moura Brasil, titular da Academia
Nacional de Medicina, diretor e chefe do setor de retina e vítreo do Instituto
Brasileiro de Oftalmologia (Ibol).
— O diagnóstico precoce é fundamental
para o tratamento das doenças dos olhos. Consultar um oftalmologista deveria
ser como ir a um cardiologista ou dentista — afirma Domênico, acrescentando que
os cuidados com os olhos e a saúde bucal não costumam receber tanta
atenção
quanto o coração. — Infelizmente, a maioria das pessoas só procura ajuda médica
quando já está com a visão comprometida. E, muitas vezes, nem percebe o
surgimento dos primeiros sintomas.
DEPOIS DOS 60, MAIOR CUIDADO
Domênico lembra que, de acordo com a
Sociedade Brasileira de Oftalmologia, as visitas a um médico especialista em
olhos devem ser anuais após os 65 anos. E, para quem já fez 40, a recomendação
é marcar pelo menos uma consulta a cada dois anos.
— Essa regularidade é muito importante
porque ajuda a cuidar não só da vista, mas de todo o corpo. Exames de fundo do
olho, por exemplo, podem revelar alterações em artérias fininhas que indicam,
em alguns casos, hipertensão e diabetes — destaca Domênico.
O caso do engenheiro Ricardo Inchausti,
de 76 anos, é um exemplo do problema, citado por Domênico, da falta de regularidade
na marcação de consultas com oftalmologistas. Ele demorou a perceber que perdia
a visão, aos poucos, devido a uma catarata, doença que afeta o cristalino,
deixando-o opaco em relação à luz.
Quando sentia alguma dificuldade para
enxergar, sacava uns óculos para vista cansada e pronto. Mas, no início de
2014, a catarata “acelerou” e ele foi parar em uma mesa de cirurgia.
— Só assim descobri que tinha somente
50% da visão em um dos olhos. Não percebia isso. Felizmente, recuperei a
capacidade total — conta o engenheiro, que, após três meses, operou o outro. —
Não preciso mais de óculos. Meu médico me recomendou usá-los apenas em
ambientes escuros. Mas nunca mais precisei.
Inchausti lembra que ficou impressionado
ao perceber que convivia com uma “bomba-relógio”:
— Achava que bastava usar os óculos para
vista cansada. Fui protelando. Tomei um susto, mas ainda bem que tudo deu
certo. Hoje, minha visão está melhor do que quando eu tinha 60 anos.
Com base em dados de uma pesquisa
realizada por uma grande empresa de produtos ópticos, o oftalmologista Almir
Ghiaroni diz que, no mundo, cerca de 4,5 bilhões de pessoas têm algum tipo de
problema visual. Ele ressalta que aproximadamente 30 milhões apresentam
degeneração macular da retina, e este número deverá duplicar até 2030.
CATARATA: 500 MIL CASOS POR ANO
Catarata: 550 mil casos por ano
Segundo Ghiaroni, a catarata é a maior
causa de cegueira reversível no mundo. Na maioria dos casos, a doença atinge
quem tem mais de 50 anos e progride lentamente. Mas o especialista observa que,
entre jovens e diabéticos, a evolução pode ser rápida, levando a uma
significativa perda da visão em poucos meses.
A Organização Mundial de Saúde (OMS)
estima que, no Brasil, surgem 550 mil novos casos de catarata por ano.
— A OMS considera adequado um índice de
três ou quatro cirurgias de catarata a cada mil habitantes de países em
desenvolvimento. Assim, no país, deveriam ser realizadas cerca de 700 operações
anuais. Estima-se que os sistemas público e privado façam, juntos, 400 mil por
ano — informa Ghiaroni.
Quatro fatos
sobre a catarata infantil
1. Hereditariedade
Segundo a oftalmologista Andrea Zin,
pesquisadora do Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz, a catarata em crianças
pode ser hereditária, relacionada a infecções que ocorreram na gravidez ou a
doenças metabólicas, mas a grande maioria não tem causa identificada.
2. Teste
Desde 2002 o "Teste do
Olhinho" é obrigatório no estado do Rio e, desde junho de 2010, o
pagamento por todos os planos de saúde também, por decisão da Agência Nacional
de Saúde Suplementar (ANS). O exame é simples, rápido, indolor e serve para
detectar alterações que causem obstrução no eixo visual.
3. Cirurgia
Há cirurgia corretiva para o problema,
que pode acometer um ou os dois olhos. Um bebê que nasce com catarata, por
exemplo, deve ser operado até o 3º mês de vida. Se a catarata aparecer aos 2
anos de idade, também pode ser operada dentro de dois ou três meses. A idade
mínima é 30 dias de vida.
4.Cura
Ninguém nasce sabendo enxergar, falar ou
andar. Uma criança que opera a catarata passa a ter chance semelhante a das
outras crianças de aprender a enxergar. Depois de tratada a catarata não volta,
mas pode ocorrer opacificação do tecido ocular, que pode ou não precisar de
cirurgia.
GLAUCOMA AVANÇA NO MUNDO
O especialista lista as causas mais
comuns de cegueira, além da catarata: degeneração macular da retina,
retinopatia diabética e glaucoma, que provoca lesão no nervo óptico e, por
isso, é a maior causa de perda visual irreversível, segundo o Conselho
Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
No caso do glaucoma, os números da OMS
são desanimadores: a cada ano, são registrados 2,4 milhões de novos casos no
mundo. E a expectativa é que, em 2020, o número de portadores da doença chegue
a 80 milhões.
— Na fase final da doença, o paciente
perde a visão periférica e passa a enxergar como se olhasse por um tubo. As
lesões inicias não são periféricas, mas paracentrais. Por isso, o diagnóstico
precoce, com o exame do nervo óptico, é fundamental — aponta Ghiaroni,
acrescentando que a cirurgia nem sempre é necessária. — Em muitos casos, a pessoa
não fica cega. É possível controlar a doença, mas ela não tem cura.
Oswaldo Moura Brasil chama a atenção
para as doenças da retina, na parte posterior do olho, e afirma que a
degeneração macular relacionada à idade é a mais frequente. Segundo o oftalmologista,
ela se tornou, entre pessoas com mais de 50 anos, a principal causa de perda
visual irreversível.
Há dois tipos de degeneração macular: a
seca, que forma calcificações e apresenta alterações na pigmentação; e a
exsudativa, que se manifesta quando a retina tenta revascularizar a área doente
ou ocorrem hemorragias e edemas. Esta última, de acordo com Moura Brasil, é
menos comum (corresponde a 10% do total de casos) e mais grave, porém de fácil
tratamento.
— As pessoas estão vivendo mais, o que
faz os problemas oftalmológicos se tornarem frequentes — comenta Moura Brasil.
Em sua palestra, o especialista também
abordou o buraco de mácula, doença que tem levado muitos pacientes à mesa de
cirurgia e que costuma atingir mulheres com mais de 60 anos que enfrentam
problemas hormonais. Ela nada mais é do que uma bolha que se rompe no interior
do olho.
— Trata-se de um problema que pode ser
resolvido com uma cirurgia simples. O importante é não ficar com o buraco por
muito tempo — informa Moura Brasil.
A importância do ‘teste do olhinho’ e
dos óculos escuros de qualidade
Especialistas tiram dúvidas do público
que participou de evento na Lagoa
Em vigor desde 2006, a lei estadual que
estabelece a obrigatoriedade do chamado “teste do olhinho” em recém-nascidos
nos hospitais públicos do Rio de Janeiro foi bastante elogiada durante a rodada
de palestras
realizada na última quarta-feira na Casa do Saber O GLOBO, na
Lagoa. O exame, que permite o diagnóstico precoce de catarata, glaucoma,
malformação no globo ocular, cicatrizes, tumores e retinopatia, pode salvar a
visão dos bebês.
Antes de a lei começar a valer, o “teste
do olhinho” só costumava ser feito na rede pública em bebês prematuros ou
portadores de doenças diagnosticadas no parto.
O exame não é obrigatório em todo o
Brasil, mas também vem sendo feito gratuitamente em São Paulo, no Rio Grande do
Sul e em Minas Gerais, entre alguns outros estados. Em 2011, a Sociedade
Brasileira de Catarata chegou a fazer uma campanha para pedir a realização do
teste em hospitais públicos de todo o território nacional.
CONSELHOS E ESCLARECIMENTOS
Com o auditório lotado, os participantes
do evento da série Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar foram sabatinados pelo
público sobre os mais variados temas. Entre os conselhos dos profissionais,
Almir Ghiaroni destacou que “não é necessário esperar a catarata ficar madura
para operar”:
— A pessoa não precisa ficar com apenas
20% da visão, por exemplo, para fazer a cirurgia. O importante é ter um
consenso entre o paciente e o médico.
Oswaldo Moura Brasil chamou a atenção
para o uso dos óculos escuros no verão. Ele lembrou que há modelos à venda sem
proteção contra os raios UVA e UVB.
— Não há uma certeza científica em
relação ao tamanho dos danos causados por essas radiações ultravioletas. É
importante que os óculos escuros tenham boa qualidade. Quando estamos expostos
à luz, a natureza sabiamente faz a pupila ficar pequena, para entrar menos
radiação no olho.
A partir do momento em que usamos óculos
escuros, enganamos esse mecanismo de defesa e a pupila se dilata. Sem um filtro
eficiente, permitimos a entrada de mais radiação. Certamente, óculos ruins
representam um fator de risco — alertou o oftalmologista.
Moura Brasil ainda falou sobre as
retinopatias diabéticas, que se dividem em dois tipos: a não proliferativa
(cujo edema e o inchaço levam à baixa visão) e a proliferativa
(revascularização que leva ao descolamento da retina), a mais grave.
Ele informou que os tratamentos para essas
doenças dependem do grau de progressão no qual o paciente se encontra. De
qualquer forma, disse o oftalmologista, existe a possibilidade de realização de
cirurgias que vêm apresentando excelentes resultados.
Quatro fatos sobre problemas de visão
A cada cinco segundos uma pessoa fica
cega no mundo. Celebrado na segunda quinta-feira de outubro, o Dia Mundial da
Visão chama a atenção para o fato de que até 75% das cegueiras resultam de
causas previsíveis ou tratáveis, segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia..
Enxergar mal causa evasão escolar
No Brasil, 22,9% da evasão escolar estão
relacionados a algum problema de vista. Hoje, o Instituto Ver & Viver, a
Essilor e o Instituto Nissan darão atendimento oftalmológico a 3,4 mil alunos
de quatro escolas municipais do Rio, e óculos grátis.
Falta teste de olhinhos no país.
Dados do IBGE mostram que 2,2 milhões
crianças de 6 a 14 anos têm dificuldade para enxergar. Segundo o oftalmologista
do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, um problema no Brasil é o
teste do olhinho não ser obrigatório: mais da metade dos bebês não fazem o
exame.
Primeira consulta aos 2 anos
Atualmente, 4,5 bilhões de pessoas no
mundo têm algum problema de visão, segundo a Organização Mundial da Saúde. O
completo desenvolvimento do sistema visual só acontece aos 8 anos de idade, mas
90% já estão desenvolvidos aos 2 anos, idade em que deve ser feita a primeira
consulta.
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