sexta-feira, 11 de setembro de 2015

“A mente, tomada pela raiva- O Reino dos Infernos







“A mente, tomada pela raiva- O Reino dos Infernos

O padrão emocional do ódio e da raiva muitas vezes nasce da impotência e do abuso que a criança sofre na infância.

Reagimos sempre da mesma maneira quando sentimos que estamos ameaçados, e com medo de sermos destruídos. A impotência gera a nossa sombra raivosa e vingativa, cega, desequilibrada emocionalmente que vai crescendo quando a alimentamos.

O sentimento de raiva, de ódio, vingança e frustração pode ser uma herança que carregamos de vidas passadas e que aquece nossas emoções em situações de perigo, ameaças e de injustiça. Dharmadhannya.

“O Reino dos Infernos: quando a mente, tomada pela raiva, não encontra saída”.

Vale a pena ressaltar que o Reino dos Infernos não se refere ao inferno descrito pela tradição judaico-cristã, mas sim a um padrão mental gerado pelo karma negativo acumulado através de ações baseadas no ódio e na violência.

A natureza da hostilidade
Quem já não recebeu um golpe de hostilidade quando menos esperava? Basta um gesto brusco, uma palavra desagradável ou um silêncio cortante para sermos atingidos pela dor daquele que declara abertamente estar “de mal” com o mundo e, quem sabe, especificamente com a gente!

A hostilidade é uma energia baseada na agressividade, e tem como intuito declarar guerra: chamar o inimigo para o confronto, disputar um lugar ou uma posição. Baseada no ódio e na irritação com alguém, sua mensagem é clara: desejo prejudicar você!

Assim como diz o ditado popular, “Quando um não quer, dois não brigam cabe a cada um saber a hora certa de recuar No entanto, isso não quer dizer que devemos fugir ou desdenhar um aviso de agressão. Como agir diante da hostilidade?


De acordo com a filosofia budista, não cabe a nós julgar a atitude alheia, mas sim cuidar da nossa. Neste sentido, em vez de reagir, podemos sempre escolher como agir.

No entanto, para manter a calma e a clareza diante da hostilidade, é preciso ter um profundo conhecimento de si mesmo, baseado na certeza de que vale mais a pena o autocontrole do que se submeter à provocação alheia. O controle interior uma virtude das pessoas que se dedicam ao autoconhecimento.

Podemos ver esta atitude naqueles que são compassivos e gentis por natureza. É admirável observar como os mestres budistas sabem a hora certa de agir ou de recuar, pois uma vez que reconhecem o que passa com o outro, conhecem também suas reações

No entanto, eles não são submissos aos abusos e declaram assertivamente os limites das situações.


Neste mundo competitivo, muitas vezes a ganância é usada como força-motriz para vencer. Aqueles que não se contentam com o que conquistam por meio de seu próprio esforço usam a hostilidade como uma arma potente, capaz de paralisar os mais suscetíveis às influências externas.

Por isso, precisamos estar atentos àqueles que avançam por nossa porta adentro sem pedir licença — os chamados “cara de pau”, que acham que têm o direito a tudo a todo o momento. Eles sabem que agindo de modo naturalmente hostil têm mais chance de conseguir o que querem.

De fato, este tipo de comportamento desperta medo, raiva e ressentimento: sentimentos que congelam as emoções e impedem uma reação efetiva.

A hostilidade alheia nos intimida na medida em que não sabemos lidar com nossa própria agressividade. De modo geral, a palavra está associada a uma idéia negativa.

No entanto, enquanto força genuína do ser humano para agir e seguir adiante, a agressividade não precisa necessariamente estar contaminada pela raiva. Neste sentido, em vez de surgir como força negativa, ela gera a coragem necessária para enfrentarmos os obstáculos.

Neste sentido, a agressividade é uma autodefesa, isto é, um mecanismo biológico fundamental de adaptação. Ela nos ajuda a lidar com as ameaças de nosso território, tanto físicas quanto emocionais.
É interessante lembrar que a raiva é o primeiro sentimento que nos diferencia dos outros. Enquanto bebês, é por meio dela que gradualmente rompemos a relação simbiótica com nossa mãe e construirmos nossa individualidade.

De modo semelhante, será a dor de uma decepção que nos ajudará a abandonar o passado e nos arriscarmos num futuro incerto. Neste sentido, podemos reconhecer que há uma força criativa subjacente ao impulso da agressividade.

É ela, e não a raiva em si, que nos impele a seguir em frente. Esta força surge da consciência do mal que algo nos faz, e não do simples fato de nos sentirmos raivosos. É como se, para largarmos uma etapa já vencida, precisássemos escutar um basta em nosso interior, alertando-nos com firmeza: “Chega, abandone esta situação, siga em direção à outra!”

A agressividade torna-se uma força-motriz negativa quando está contaminada pelo desejo infantil de que poderíamos escapar das leis da responsabilidade pessoal, isto é, quando acreditamos na ilusão de que alguém pode nos satisfazer em todos os sentidos.

A idéia de não-merecimento, de sermos vítimas de situações injustas, aumenta nossa raiva interior e nos torna hostis. Querendo ou não, teremos de lidar com os limites alheios para não cultivar uma constante frustração que gera apenas mais hostilidade.

Por isso, a hostilidade é uma emoção anterior à ação agressiva; nela mora um secreto desejo de vingança: “Se você não fizer tudo que eu espero de você, irá se arrepender, pois vou me vingar”.

Uma vez que não conseguimos expressar a raiva, ela ficará reprimida em nosso interior, pulsando uma mensagem de indignação: “Isso não poderia ter acontecido comigo”.

Lama Chagdug Rinpoche dizia que críticas são como flechas que atiram em nossa direção, mas na realidade não nos atingem: elas caem no chão. Somos nós que as pegamos e continuamos a nos apunhalar enquanto formos tomados pela indignação:

“Ele não poderia ter dito isso, feito aquilo”, ou seja, o modo como reagimos às críticas e o tempo que dedicamos a elas é sempre uma questão nossa, e não daqueles que nos criticaram agressivamente.

Se somos tomados pela indignação, perdemos o autocontrole. Desta forma, nossa própria segurança torna-se ameaçada, pois sentimos que podemos explodir a qualquer momento. A hostilidade, uma vez recalcada, cresce interiormente como uma bomba-relógio, intensificando o medo e a insegurança.

Quando somos tomados por tal agonia passamos a temer a nós mesmos, pois tememos nossa própria agressividade: desconhecemos o que ela pode fazer conosco. Quando chegamos a esse ponto nos perguntamos: “O que acontecerá se eu perder o controle?”

A questão é que, quando crianças, aprendemos a recalcar a nossa raiva: tínhamos medo de que, ao expressá-la, iríamos danificar a nossa imagem diante daqueles que representavam uma fonte de segurança para nós, ou de que poderíamos ser castigados por eles ou perder o seu afeto.

O medo de magoar aqueles que cuidaram de nós gerou o sentimento de culpa inconsciente que nos faz sentir responsáveis pelos sentimentos alheios. Por isso, muitas vezes, quando adultos, não demonstramos sentimentos negativos para evitar a ameaça representada pela decepção alheia:

“Se eu não te agrado, é melhor você buscar outra pessoa”. Assim, preferimos suportar o desconforto interno a correr o risco de decepcionar aqueles que amamos. Diante deles, buscamos preservar a imagem de que estamos plenamente satisfeitos, afinal, eles são o máximo, e sendo assim, sempre nos satisfazem!

Mas, quanto mais negarmos nossa raiva, mais ansiedade iremos sentir sem compreender a sua razão aparente.

É o quantum de raiva internalizada que cada um traz consigo, como parte integrante de sua personalidade, que o faz sentir-se mais ou menos desconfortável.

Desta forma, a sensação de inadequação e culpa voltará a surgir todas as vezes que tentarmos expressar a nossa raiva para aquele que amamos. E é essa sensação que nos impedirá de amar verdadeiramente, pois quando sentimos algo ruim em nosso interior, deixamos de nos considerar merecedores de amor.
Por fim, enquanto nos sentirmos prejudicados por alguém ou uma situação, manteremos uma ferida aberta que nos tornará cada vez mais amargos.

Até mesmo aqueles que se proíbem de sentir raiva acabam por descobrir que ela está inevitavelmente em seu interior e se tornou uma força destrutiva, Por isso, o melhor é lidar com nossa hostilidade interna.

Seja por meio da psicoterapia ou pela ajuda de amigos íntimos, precisamos começar a ensaiar nossa capacidade de expressar a raiva de forma não destrutiva, mas de maneira assertiva.

O primeiro passo para apaziguar a hostilidade interior é a auto compaixão. Devemos aprender a ver a raiva em nosso interior simplesmente como um sinal de que estamos desequilibrados — ou seja, ultrapassamos nossos limites ou não soubemos nos defender, mas não somos ruins por isso.

Podemos nos dar uma nova chance comunicando o que estamos sentindo. Quando a intenção é o entendimento, encontramos uma forma de nos expressar que não magoa ou destrói o outro. Ainda assim, será necessário que o outro também esteja amadurecido para fazer o mesmo.

Em vez de nos acusarmos ou de redirecionarmos nossa raiva para os outros, podemos parar para observar o que estamos sentindo, dar tempo para o processo de autocura. Desta forma, iremos aprender que nossa agressividade não é uma arma destrutiva, mas sim um alerta de que é preciso dar mais atenção ao que se passa em nosso interior.

Hoje no sítio, quando pensei em escrever sobre mais um Reino, escutei minha voz interior me perguntar: “que experiência será que vai me inspirar a escrever sobre o Reino dos Infernos?”

Eram 10 horas da manhã. O dia estava lindo. Fui ajudar o Pete a podar umas roseiras. Tudo parecia calmo até que o silêncio foi bruscamente rompido pela música vinda do sítio vizinho, cujos proprietários se dedicam a atordoantes atividades de ouvir musicas em alto volume.

Há dois anos, na crença de que o mal se consome por si mesmo, preferimos deixar que eles próprios criassem os obstáculos que os levariam embora.

No entanto, cada vez que a música toca naquela altura ensurdecedora, temos a sensação de que vamos enlouquecer — tal como o sofrimento no Reino dos Infernos, somos tomados por raiva e indignação, e não conseguimos ter paz interior para vislumbrar a saída para o problema.

Horas depois, exaustos e conscientes da nossa impotência imediata, optamos por “abandonar o barco”: voltamos para São Paulo.

Como agir diante de tais situações? Afinal, de nada adianta reclamar, quando não existem ouvidos disponíveis para escutar... Achamos melhor não agir e seguir um ditado tibetano que diz: “Só enfrente um inimigo quando você estiver mais forte que ele. Até lá, continue se fortalecendo”.

No carro, me senti menos irritada quando pensei: “Hoje passei o dia fugindo da raiva. Ela é mais penetrante do que a minha tolerância. Estávamos certos em correr dela”. Assim, renunciamos à situação por reconhecer o mal que ela nos faz.

Aliás, certa vez, perguntei a Lama Gangchen Rinpoche: “Como lidar com uma pessoa agressiva?” Ele respondeu: “Quando alguém for agressivo com você, continue normal... dentro de você tudo deve continuar normal”. Mas, este é um conselho que dificilmente conseguimos colocar em prática quando somos tomados pelo padrão emocional do Reino dos Infernos

Vale a pena ressaltar que o Reino dos Infernos não se refere ao inferno descrito pela tradição judaico-cristã, mas sim a um padrão mental gerado pelo karma negativo acumulado através de ações baseadas no ódio e na violência.

O Reino dos Infernos, também chamado narak, é o estado mental que surge quando somos expostos a torturas mentais extremas: forças que pressionam nossa psique, levando a estados intensos de raiva e medo. Este é o Reino mais inferior da Roda da Vida; por isso, quando entramos nele, não vemos mais luz: não encontramos qualquer possibilidade de saída.



O Reino dos Infernos Quentes: quando o ódio e a raiva nos consomem

Não precisamos de muitos exemplos para perceber que este Reino tem estado fortemente presente em nosso planeta Terra. No entanto, a intenção deste texto não é lembrar os terrores que nos ameaçam, mas sim demonstrar a importância de não cultivarmos estados semelhantes dentro de nós!

Francesca Freemantle comenta1: “Todos os venenos emocionais são viciadores; quando estamos sob o seu domínio, parecem absolutamente necessários para nos manter em movimento, e fornecem uma razão difícil de se livrar, porque nos faz sentir fortemente que estamos com a razão. [...] Existe uma lógica distorcida associada com a agressividade, a qual sempre se justifica e põe a culpa nos outros”.

“Tornamo-nos tão convencidos de que o nosso sofrimento depende da situação externa que sentimos que não podemos mudar a própria atitude. Os outros erraram; portanto, não devemos ceder a eles e desistir de nossa raiva; ou os outros nos machucaram tanto que nunca podemos deixar de odiá-los e sermos felizes novamente”.

Transferir a culpa de nosso mal-estar para outra pessoa como forma de justificar a nossa raiva faz com que fiquemos ainda mais presos a ela! Agindo assim, o poder de decisão sobre o encaminhamento do conflito fica nas mãos do opositor! Isso aumenta a sensação de impotência e nos faz acreditar que a única coisa a fazer é nos defender, reagindo com agressividade.

Nestes momentos, é importante ter em mente que externar nossa raiva não irá verdadeiramente nos relaxar; ao contrário, pode, inclusive, gerar novos conflitos. Uma explosão emocional aparentemente proporciona um alívio imediato, mas não é capaz de eliminar a nossa raiva, pois sua origem continua em nosso interior.

Se pararmos para analisar a natureza das situações que nos agridem, iremos perceber a existência de um padrão emocional que carregamos em nosso interior desde muito antes daquela situação surgir.

Por exemplo, o caso da música alta de meu vizinho me fez refletir sobre o quanto minha raiva cresce nas circunstâncias em que sinto que não estou sendo absolutamente considerada.

Podemos querer destruir aqueles que nos causam dor, mas precisamos perceber que nem sempre os ataques são pessoais. A falta de consideração do vizinho não é especificamente contra mim, trata-se apenas de uma situação contingencial com uma força maior do que a minha!

É como me alertou a astróloga Márcia Mattos: “Não cutuque a ferida narcísica do outro, senão você vai provocar hostilidade. Por isso, nestas horas é melhor abaixar para onda passar”.

Ser humilde, no sentido de não confrontar. pois é preciso desconfigurar a situação ameaçadora. Reduzindo os sinais de ameaça que enviamos, conseguimos gradualmente desarmar o oponente, neutralizá-lo”.

Não adianta confrontar o inimigo fingindo-se de “boazinha”: é preciso realmente sair da posição desafiadora. Neste sentido, aliás, deixamos de ser impotentes no momento em que reconhecemos nossos próprios limites, pois a partir daí o que fizermos será resultado da nossa escolha.

Nunca me esqueço das palavras de Lama Zopa Rinpoche: “Você pode ter criado o karma para estar perdido na floresta amazônica sendo picado por inúmeros insetos, mas, mesmo assim, isto não quer dizer que você não possa reagir e sair de lá”.

A reflexão sobre o padrão mental do Reino dos Infernos nos leva a reconhecer que quanto mais forte for nossa projeção sobre aquele que nos agride, mais poder estamos lhe concedendo, a tal ponto que nossa situação interior torna-se completamente dependente da condição exterior.

Por isso, quando achamos que não temos saída, estamos perdendo força diante do agressor. Mas, se recuperarmos as rédeas de nossa raiva, poderemos recuperar a clareza de como agir diante de tais circunstâncias. Tarefa nada fácil, porém possível. Os mestres estão aí para nos inspirar.

Ter paciência não significa engolir sapos.

A vida moderna nos lança no centro de um grande paradoxo: quanto mais produzimos no mundo externo, menos criamos no mundo interno,

O uso cada vez mais abrangente da tecnologia no nosso cotidiano exige de nós cada vez mais paciência! Podemos estar “ganhando tempo”. tornando o mundo mais veloz, mas estamos perdendo a habilidade de lidar com nosso tempo interno: nos tornamos cada vez mais impacientes.

Intuitivamente, podemos saber que algo não vai bem, mas como temos uma urgência interna, estimulada pela aceleração dos acontecimentos, de nos livrar das situações, não temos mais tempo para sentir, compreender e transformar nossas emoções.

Queremos que nosso mundo interno, nossas emoções, sentimentos e percepções, fluam com a mesma velocidade máxima da internet.

Como não toleramos esperar o tempo natural do amadurecimento de nossas emoções, sofremos a dor da impaciência: semelhante a uma queimadura interna — ardemos de ansiedade!

Todos nós, com a inocente esperança de vivermos melhor, assumimos mais compromissos do que podemos administrar e depois nos surpreendemos com o volume de problemas sérios e inesperados que temos de enfrentar.

Quando as coisas não funcionam de acordo com as nossas expectativas, ternos cada vez menos paciência, nos tornamos mais rígidos e cansados. Por ignorância, insistimos num esforço insensato.

De um modo geral, compreendemos erroneamente a virtude da paciência. Frequentemente confundimos ter paciência com engolir sapos. Em certas situações adversas, não é raro cairmos na armadilha de pensar que estamos sendo pacientes, quando, na verdade, estamos apenas nos sobrecarregando.

Ser paciente não significa sobrecarregar-se de sofrimento interno, nem estar vulnerável ou ser permissivo com relação às condições externas. Ter paciência não é ser uma vítima passiva da desorganização alheia. Assim corno não ajuda em nada termos paciência em uma situação em que estamos sendo explorados.

Enquanto usarmos negativamente o autocontrole como uma forma de reprimir nossos sentimentos, no lugar de conhecê-los, estaremos correndo o risco de tolerar o que não é para ser tolerado!

Segundo a Psicologia do Budismo Tibetano, paciência é a força interior para não nos deixarmos levar pela negatividade, ou seja, de conseguirmos manter a mente limpa, livre da contaminação da raiva.

Ter paciência é saber sustentar a clareza emocional mesmo quando
o outro já a perdeu e por isso insiste em nos provocar!

No entanto, não é suficiente ter uma intenção clara: é preciso desenvolver a força interior para sustentá-la. Não basta compreender racionalmente o que é ter paciência: é preciso cultivá-la interiormente.

Devemos admitir que o tempo necessário para amadurecer uma compreensão emocional é muito maior do que o que necessitamos para a compreensão racional". Resumo de um texto de   Bel Cesar

Pesquisado por Dharmadhannya
Psicoterapeuta  Transpessoal

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