sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Pré-diabete já é doença?




Pré-diabete já é doença?

Não se deixe enganar pelo nome. Além de ser o primeiro passo para o diabete, a condição abala, sim, a saúde. Saiba o tamanho do problema e como contorná-lo a tempo por Paula Desgualdo, com reportagem de André Biernath • design Glenda Capdeville - fotos alex silva



Entre as pessoas com e sem diabete, há um limbo glicêmico que preo­cupa cada vez mais os profissionais. "Vivemos uma epidemia de pré-diabete com a qual precisamos lidar", alertou o pesquisador americano Robert Vigersky, do Centro Médico Militar Nacional Walter Reed, durante o último Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia, realizado em Curitiba.

 Um levantamento publicado no periódico Anuais of Internai Medicine dá uma boa prova disso. Ele mostra que o nú­mero de casos dessa condição nos Estados Unidos duplicou desde 1988.

No Brasil, estima-se que 8 milhões de habitantes se encontram na faixa em que os níveis de açúcar no sangue estão acima do normal, porém abaixo do que se classi­fica como diabete propriamente. Pior: pelo menos metade deles nem desconfia disso.

E mesmo os que sabem tendem a considerar sua situação uma pré-doença. Engano peri­goso. Não faltam motivos para se cuidar e dar atenção à condição, que rende mesas e mesas de debates entre os especialistas.

"O quadro não só eleva a probabilidade de se de­senvolver diabete tipo 2 como aumenta, por si só, o risco de complicações cardiovasculares", ressalta o endocrinologista Ruy Lyra, do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Como se fosse pouco, ele abre brecha para transtornos como a neuropatia, que tira a sensibilidade dos membros, e a retinopatia, um problema capaz de culminar em cegueira. Aliás, uma revisão divulgada no periódico médico Diabetologia sugere que o transtorno chega a incitar o surgimento de determinados tumores.


Que fique claro: estamos falando de um mal silencioso, que não costuma produzir sintomas. Daí a importância de fazer exa­mes periódicos para detectá-lo. A partir do diagnóstico precoce, fica mais fácil revertê-lo com mudanças no estilo de vida. A ciência garante que isso é, sim, possível.

Embora uma genética desfavorável acele­re os primeiros passos do diabete tipo 2, a verdade é que os quilos a mais são enormes vilões nessa história. "Trata-se de um pro­blema causado basicamente por sedentarismo e obesidade", sentencia João Eduardo Nunes Salles, endocrinologista da Socie­dade Brasileira de Diabetes (SBD).

 Vamos por partes. A gordura, em especial aquela alojada na região abdominal, provoca a chamada resistência à insulina, que é a di­ficuldade de esse hormônio liberar a entra­da da glicose que circula pelo organismo nas células.

A princípio, o pâncreas dribla tal contratempo fabricando mais insuli­na. Ocorre que essa superprodução, com o avançar do tempo, cansa e danifica o ór­gão — no pré-diabete, estima-se que 50% de sua função já esteja comprometida. Aí, aos poucos os níveis de açúcar na circula­ção vão subindo e subindo...*

Uma vez flagrada a taxa de glicose fora da curva, a ordem é rever o próprio estilo de vida. Afinal, o impacto de ajustes no dia a  dia é animador: balancear a dieta e praticar atividade física regularmente reduzem em 58% a progressão do pré-diabete para a versão plena da encrenca.

Com a metformina, droga bastante empregada para minimizar a resistência à insulina, o número não passa dos 38%. "Hoje, a SBD recomenda que o paciente seja tratado antes com mudanças na rotina", reforça Salles.

Contudo, há quem defenda a introdução de medicamentos desde o começo — sempre associada a uma rotina equilibrada, claro. "Esse é o momento de ser agressivo para prevenir a evolução do problema", defende o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), no interior do estado. Segundo ele, o corpo tem uma espécie de memória metabólica que o permite tirar proveito de um tratamento adequado mesmo 30 anos depois da primeira dose.

 Por outro lado, acima da sexta década de vida, as estatísticas não registram que a metformina seja capaz de impedir a conversão do pré para o diabete em si.

Para o endocrinologista e diretor do Centro de Pesquisas Clínicas, em São Paulo, Freddy Eliaschewitz, o importante é contar com a adesão do sujeito, seja qual for a conduta. "Modificar os hábitos é uma intervenção muito eficaz, mas é também a mais difícil de ser implementada por um período longo", pondera.

Se a missão é adotar e manter uma rotina de dar inveja por anos a fio, vale buscar o acompanhamento de profissionais de saúde e pedir o apoio e a compreensão de familiares e amigos próximos.

Agora, mesmo se o tratamento contra o pré-diabete estiver trazendo ótimos resultados, só podemos falar em reversão — e nunca em cura. É que, apesar de a glicemia até cair para patamares normais, qualquer descuido pode fazer com que ela volte às alturas.

 "Essa é uma doença crônica e progressiva", frisa Balduíno Tschiedel, endocrinologista do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Em outras palavras, não existe ex-pré-diabético. A solução é nunca baixar a guarda. Pelo bem do seu corpo hoje — e lá na frente. •

Ameaça real aos vasos
Um estudo clássico sobre o pré-diabete, o Decode, avaliou o impacto dele na mortalidade cardiovascular ao longo dos anos. E os achados deixam pouca margem para dúvida.

  Para reverter e não complicar
Ao que ficar atento quando se deseja vencer o pré-diabete

O que comer
Aposte em uma dieta de baixas calorias, com carnes magras, como aves e peixes, folhas e legumes. É fundamental não exagerar nas gorduras nem nos carboidratos, que elevam os índices de açúcar no sangue. Pães e massas integrais contribuem para que a insulina seja liberada aos poucos.

Como se exercitar
Estudos comprovam que realizar 30 minutos de atividade física cinco vezes por semana é uma forma eficiente de combater o pré-diabete. "Combine práticas aeróbicas com as anaeróbicas", prescreve Carlos Eduardo Barra Couri, da USP. A associação das duas culmina em perda de barriga e ganho de músculos, reduzindo a resistência à insulina.

Por que emagrecer
Para ter uma ideia de como os quilos a menos fazem mesmo diferença, após uma cirurgia bariátrica, é comum que os pacientes saiam da condição de pré-diabético.
 "Quando o procedimento é bem indicado, o indivíduo pode deixar de ser diabético", afirma Freddy Eliaschewitz, do Centro de Pesquisas Clínicas, em São Paulo.
Mas, claro, esse procedimento não é prá todo mundo.
Se estiver bem acima do peso, converse com seu médico.

De que jeito monitorar
A glicemia em jejum e o teste oral de tolerância à glicose são alguns dos exames que detectam o pré-diabete — eles devem ser repetidos a cada três anos por adultos saudáveis. Já obesos, sedentários e pessoas com histórico familiar da doença precisam ser examinados anualmente. Em caso de resultado alterado, é recomendável acompanhar a situação a cada dois ou três meses.
*
Quando medicar
Ainda não há consenso sobre o assunto. A Associação Americana de Diabetes faculta o uso de metformina para gente com menos de 60 anos acima do peso. Mas alguns clínicos creem que é mais eficiente recorrer a remédios para contornar a resistência à insulina logo de cara.
Ameaça real aos vasos
Um estudo clássico sobre pré-diabéticos, o Decod avaliou o impacto dele na mortalidade
Cardiovascular ao longo dos anos. E  os achados deixam pouca margem para dúvida:

Diabéticos (glicose acima de 125 mg/dl taxa de mortalidade -  17%
Pré-diabéticos (glicose entre 100 e 125 mg/dl  -                            12%
Não diabéticos (glicose abaixo de 100mg/dl –                                 5%    


 Pesquisado por dharmadhannya.

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