sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O que é a mente? Visão Budista





O que é a mente? Visão Budista 

Dalai Lama

Não é possível que a onisciência seja produzida sem causas, porque se o fosse todas as coisas seriam sempre oniscientes. Se as coisas fossem produzidas sem depender de outra coisa, elas poderiam existir sem res­trições - não haveria nenhuma razão pela qual tudo não fosse onisciente.

 Por conseguinte, como todas as coisas funcionais surgem apenas ocasionalmente, elas depen­dem estritamente das suas causas. A onisciência tam­bém é rara porque não ocorre em todas as ocasiões e em todos os lugares, e nem tudo pode se tomar onisciente.

Por conseguinte, ela definitivamente depende de cau­sas e condições.
A consciencia não tem nem forma nem cor, e não pode ser medida dé uma maneira física, mas ela existe em sua natureza e habilidade de examinar e sentir. O tempo, por outro lado, não tem nem forma nem consciência, e pertence à terceira categoria.


A sabedoria transcendental onisciente se refere à consciên­cia que tudo conhece. A onisciência não é uma qualidade encon­trada no solo, nas pedras, nas rochas ou nas montanhas. Ela é produzida por algo cuja função é a percepção dos objetos e, por­tanto, não pode ser produzida por nada que careça da proprie­dade da percepção.

 E claro que o estado da onisciência é a meta suprema que abrange cada perfeição e, considerando-se as três categorias dos fenômenos condicionados, ela pertence à catego­ria da consciência.

Conhecer ou compreender é a função da consciência. Por exemplo, quando dizemos: “Eu compreendo” ou “Eu entendo”, e temos uma experiência ou um sentimento a respeito de alguma coisa, a experiência é ativada pela consciência.

 Quando a cons­ciência do olho vê uma forma física, nós dizemos: “Vejo a forma física”, e quando a consciência da mente experimenta a felicida­de ou a dor, dizemos: “Estou feliz”, ou “Sinto dor”.

 Assim, quan­do dizemos: “Eu experimento”, “Eu vejo”, “Eu ouço”, e assim por diante, é a consciência que atua como o agente. E a cons­ciência que possui a função do conhecimento.
A consciência varia de acordo com o alcance do conhecimen­to do ser e da sua intensidade ou perspicácia. Um exemplo óbvio é a consciência do ser humano comparada à consciência de um animal.

A percepção humana é muito mais ampla e compreende uma variedade muito maior de objetos. A consciência dos seres humanos varia com a educação e a experiência - quanto mais educada e mais experiente a pessoa, mais ampla a sua consciên­cia.

 O conhecimento e o entendimento se desenvolvem baseados em uma consciência que possui a capacidade de perceber seus objetos. Quando as condições necessárias são satisfeitas, essa capacidade de percepção aumenta, o alcance dos objetos de conhecimento se expande e o entendimento se aprofunda.

 Desse modo, a mente pode desenvolver seu pleno potencial.
A onisciência é a consumação ou aperfeiçoamento pleno da habilidade da mente de perceber os objetos. Ela é onisciente no sentido de que é capaz de conhecer cada coisa sem ser obstruída por diferenças de tempo e espaço.

A sabedoria abrangente surge da consciência e, por definição, é produzida por causas e condi­ções. Isso implica que nem mesmo a sabedoria onisciente pode ocorrer sem suas causas. Se não fosse este o caso, e uma mente onisciente pudesse surgir sem causas, estaria subentendido que toda consciência seria onisciente.

 Esta afirmação se deve ao fato de que se as coisas são produzidas sem causas e condições, ou elas precisam existir em todas as ocasiões, ou elas têm que ser total­mente não-existentes.

A questão agora é como essa consciência pode crescer e se expandir em direção a um alcance ilimitado. A habilidade de per­ceber seus objetos é inata à consciência, mas existem coisas que impedem a mente de se abrir ao estado de completo conhecimen­to.

 A próxima questão é estudar como esses obstáculos acon­tecem. Precisamos considerar de que modo esses obstáculos po­dem ser removidos. O que impede a consciência de perceber seu objeto é a ignorância que é uma concepção errônea da verdadei­ra existência, também chamada de ignorância que se agarra a um extremo, o extremo da alienação.

Quando falamos de ignorância, estamos querendo dizer ou que a consciência carece de alguma condição favorável, ou que uma condição adversa a está impedindo de perceber seu objeto.

Entre os inúmeros tipos de ignorância, aquela que é a concepção errônea da verdadeira existência é a origem, a que detém o po­der, por assim dizer. E essa ignorância é o principal obstáculo. Precisamos chegar à conclusão por meio da análise de que essa ignorância é algo que pode ser removido e eliminado.

 As imper­feições da mente surgem basicamente por causa da ignorância e do seu potencial latente. Precisamos investigar e determinar se a ignorância pode ser separada da mente, e se a ignorância pode acabar.

Ignorância neste contexto não significa mera estupidez, mas sim a ignorância que é uma concepção errônea da verdadei­ra existência. É uma mente que inadequada ou erradamente tem uma concepção errônea do seu objeto. Por conseguinte, ao culti­var um entendimento inequívoco como antídoto, podemos elimi­nar essa ignorância.

Tanto a ignorância que é uma concepção errônea da ver­dadeira existência quanto seu antídoto dependem de causas e condições. Eles são semelhantes no sentido de que se desenvol­vem quando em contato com condições favoráveis e deixam de existir quando confrontados com fatores adversos. 

Podemos per­guntar, quais as diferenças entre os dois?
 Como a ignorância, que é uma concepção errônea da verdadeira existência, é uma mente que está errada com relação ao seu objeto, ela não pode se desenvolver ilimitadamente. Isso também acontece porque ela não possui uma sustentação válida.

 A mente está errada ou é inadequada no sentido de que a maneira pela qual ela concebe o objeto é contrária à verdadeira maneira como o objeto existe. A mente que percebe a ausência-do-eu é um antídoto ou oponente a essa condição e não está errada com relação ao seu objeto.

 Isso quer dizer que ela está correta com relação ao seu objeto, o que significa que a maneira pela qual ela percebe seu objeto está de acordo com a maneira como o objeto realmente existe. Como não se trata de uma percepção errônea, ela possui uma base váli­da de sustentação.

Foi dito anteriormente que a ignorância que é uma concep­ção errônea da verdadeira existência poderia ser eliminada. Isso se deve ao fato de a mente ignorante não ter a sustentação de ser uma cognição válida.

 Por outro lado, a mente que percebe a natureza destituída de um eu do objeto possui a sustentação de ser uma cognição válida. Essas duas mentes percebem os objetos de maneiras que estão em contradição direta uma com a outra.
 A mente que percebe a natureza destituída de eu do objeto é um poderoso antídoto contra a mente ignorante e, por conseguinte, esta última pode ser sobrepujada.

 Isso é análogo à maneira pela qual qualquer aspecto da miséria humana pode ser reduzido quando medidas apropriadas são aplicadas para combatê-lo. Faz parte da natureza das coisas o fato de seu potencial ser reduzido quando confrontado por fatores opostos.

A mente que percebe a realidade é chamada de percepção transcendental é uma qualidade positiva da mente. Ela possui a mesma sustentação de ser uma cognição válida. Faz parte da natureza da mente o fato de que quando a habituamos a uma qualidade positiva, ela pode ser ilimitadamente desenvolvida.

Ao contrário da mente, as qualidades positivas do corpo não possuem a capacidade de se expandir ilimitadamente. Essa ca­racterística se deve simplesmente ao fato de o corpo ser compos­to por elementos grosseiros, e os atributos de uma forma grossei­ra não possuem o potencial de se expandir ilimitadamente.

Quando dizemos que a mente ignorante é inadequada ou errada, estamos nos referindo à maneira pela qual ela interpreta erroneamente a realidade. As perguntas pertinentes agora são: O que é a realidade? De que maneira esta mente está errada a respeito da realidade? E de que maneira a mente percebe erronea­mente a realidade?

 A realidade ou vacuidade da verdadeira exis­tência é algo que pode ser logicamente estabelecido. Existem razões sólidas e perfeitas que comprovam a vacuidade da exis­tência inerente, e podemos persuadir com base nessas razões. Por outro lado, não existe nenhuma maneira lógica de provar a verdadeira existência.

 A verdadeira existência parece existir para a consciência ordinária e não treinada. No entanto, quando sub­metida ao escrutínio lógico, a verdadeira existência não pode ser encontrada.

 Mesmo na nossa vida do dia-a-dia, frequentemente encontramos contradições entre a maneira como certas coisas se apresentam e o modo verdadeiro de existência delas; ou seja, a maneira como as coisas realmente existem é diferente da manei­ra como elas parecem existir.

 Essa noção pode ser ilustrada de uma forma bastante simples: nas questões mundanas, falamos a respeito de uma pessoa estar desapontada ou desiludida. A desi­lusão surge em decorrência de uma discrepância entre a manei­ra como a situação parece ser e a maneira como ela realmente é.

Vamos examinar nossa situação como seres humanos. A nos­sa mente, em comparação à dos animais, é imensamente mais poderosa. Temos a capacidade de analisar se existe ou não uma realidade além do nível das aparências, enquanto os animais lidam somente com o que aparece para eles.

 Este fato é muito claro, assim como o de que pessoas diferentes possuem habilida­des mentais distintas. Quando as examinamos minuciosamente, muitas das mentes que são geralmente compreendidas como capazes de percepções válidas também estão enganadas em um sentido mais profundo.

 A maneira como os fenômenos realmen­te existem é diferente da maneira como eles aparecem para essas mentes.

 Normalmente percebemos a realidade ou o vazio como existindo de uma maneira diferente da maneira que ele realmen­te existe. Nossa percepção das coisas impermanente como cadeias de montanhas e casas não estão de acordo com o modo real de existência delas.

 Algumas dessas coisas já existem há séculos, até mesmo milhares de anos. E nossa mente as percebe exatamente dessa maneira - como duradouras e permanentes, inatingíveis pelas mudanças temporárias. A ciência também des­creve um modelo de transformação similar.

 No entanto, quando examinamos esses objetos em um nível atômico, eles se desinte­gram a cada momento; eles passam por mudanças temporárias.

 Esses objetos parecem sólidos, estáveis e duradouros, mas, em sua verdadeira natureza, eles estão em constante mudança, sem se manterem imóveis nem mesmo por um momento.

“Se as coisas fossem produzidas sem depender de outras coisas, elas não seriam passíveis de ser obs­truídas em nenhum lugar.” Isso quer dizer que se as coisas fossem produzidas sem depender de outras causas e condições, não exis­te nenhuma razão lógica pela qual elas devessem ser obstruídas em qualquer ponto.

 Como não é este o caso, é lógico que nem tudo possa ser transformado em onisciência. Por essas razões, os fenômenos funcionais podem ser produzidos em certas ocasiões e não são produzidos em outras.

 Em um certo ponto do tempo, quando acontecem condições favoráveis e as condições adversas estão ausentes, a consciência pode ser transformada em uma onisciência que possui o conhecimento de todos os fenômenos.

... Como as coisas não são produzidas em todas as ocasiões e em todos os lugares, a implicação é que elas dependem de cau­sas e condições corretas e completas.

 Dentro da estrutura da dependência nas causas e condições, aqueles que aspiram ao fru­to final da onisciência devem gerar as causas e condições. Além disso, os aspirantes devem estar altamente motivados em sua busca. Por conseguinte, é ensinado que a onisciência depende de causas e condições.


Como foi explicado no Compendium of Knowledge [Com­pêndio do conhecimento] de Asanga com referência aos efeitos gerados por suas-dáusas e condições, as condições são a condição inabalável, a condição impermanente e a condição potencial.
 O que foi dito anteriormente diz respeito à condição impermanen­te. Quando perguntamos de que modo pode a onisciência ser gerada a partir da consciência, estamos nos referindo à sua con­dição potencial. A habilidade de estar cônscio dos objetos é uma qualidade inata da consciência.

 A própria natureza da consciên­cia é que ela é clara e perceptiva. Ela surge no aspecto do objeto que ela percebe. Esse atributo da consciência não é algo recém- criado por outros fatores.
Pesquisado por Dharmadhannya

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