quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O jovem que vive dentro do nosso coração.




O jovem que vive dentro  do nosso coração.

Apenas alguns anos depois de a Criança ter-se congelado no tempo, deparamo-nos com a crise da puberdade e, de repente, o corpo torna-se um estranho, uma força alienígena fora do nosso controle. Com a chegada das modificações corporais e emocionais, a criança tem um vislumbre da idade adulta que se aproxima — e entra em pânico.

Durante algum tempo ela poderá tornar-se novamente pegajosa e dependente, numa tentativa de fazer o relógio voltar atrás — mas logo vem a dura percepção: crescer é inevitável! Neste ponto — em geral entre os 12 e os 14 anos — o Ado­lescente interior torna-se cristalizado.

O Adolescente vê a idade adulta como algo árido e sem graça. Ele considera os adultos insensíveis, racionais, tediosos, práticos e vergados sob o peso das responsabilidades. Para o Adolescente, o término da infância representa o fim da diversão, liberdade, espontaneidade, riso e alegria. Não é de admirar que ele relute em crescer!

O Adolescente tem a fantasia de que, um dia, sua genialidade, talento ou beleza não-reconhecidos serão descobertos. Sem qualquer esforço de sua parte, é claro. O Adolescente interior — repleto de Ego, e mártir — sonha em ganhar na loteria mas não se dá ao trabalho de comprar um bilhete.

 Pensa em visitar Katmandu mas não coleciona os cadernos de viagens dos jornais. Espera que um famoso diretor de cinema passe por sua porta e lhe ofereça o papel principal numa superprodução, quando ele nem sequer frequentou  a escola de teatro. Ele vive num mundo de fantasia.

Assim como a criança está sempre ansiando por amor, o Adolescente busca, em primeiro lugar, deter o controle total dos acontecimentos e, em segundo lugar, ser perfeitamente compreendido sem ter de se explicar, o combinado é que ele vai crescer se a vida for tão justa como ele quer que ela seja.




Caso contrário, não tem acordo! Muitas pessoas vivem a vida esperando que essa garantia lhes seja dada. Neste ínterim — a despeito das aparências — elas se recusam a se tornarem adultas.

Sheila tinha a compulsão de roubar mercadorias em lojas. Várias vezes por semana ela se via andando pelas lojas num estado de atordoamento, enchendo a bolsa com artigos de luxo e bijuteria, sem preocupar-se em ocultar o crime que estava praticando.

 Havia sido presa duas vezes. Durante a terapia, ela falou com seu.eu Cleptomaníaco (usando a técnica da “cadeira vazia” e, para sua surpresa, encontrou uma Adolescente irada, que achava o seu comportamento plenamente justificado:

“Por que eu não deveria ter essas coisas boas? Nunca ninguém foi bom para mim!” Mas tão logo Sheila respondeu à garota, dizendo que ela estava criando ainda mais problemas para si mesma, uma segunda garota foi ocupar a cadeira vazia — uma garotinha atormentada pela culpa.

·       Essa criança achava que devia ter feito alguma coisa para merecer sua infância infeliz; ela queria ser apanhada pelos furtos para que pudesse ser castigada por ter sido tão má. As duas garotas estavam arruinando a vida adulta de Sheila.

Felizmente, assim como a Criança Ferida pode dar lugar à Criança Livre, escondida atrás dos medos e fantasias do Adolescente Adaptado, está o seu equivalente positivo, o Adolescente Curioso: investigador, questionador, inventivo, cheio de imaginação, entusiástico, criativo e visionário. Ao ajudar o Adolescente interior, podemos liberar uma fonte infinita de criatividade e admiração.

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 Entrando em contato com o  Adolescente
Chegou o momento de você se encontrar com o seu Adolescente. Imagine-se na casa em que você viveu quando tinha de 12 a 14 anos. (Confie no seu subconsciente para saber a idade do seu Adolescente.) Use todos os seus sentidos para se imaginar nesse lugar. Em seguida, dê uma olhada pela casa até encontrar o seu Adolescente, inteiramente só.

Tal como fez com a sua Criança, apresente-se ao Adolescente — e comece a conhecê-lo. Procure conhecer suas esperanças, temores e fantasias. Tente compreender como ele vê o mundo. Dê-lhe o que quer que ele peça — dentro da sua realidade interior — e expresse o seu amor, cordialidade e ternura.

Embora Sam tivesse trinta e poucos anos, suas atitudes revelavam que, no fundo, ele era apenas um adolescente crescido. Depois de sair de casa, aos 16 anos — “Meus pais eram insuportáveis” —, ele vinha passando de um emprego para outro, raramente ficando mais de seis meses no mesmo lugar.

 Ele ainda não havia escolhido uma carreira. Seus relacionamentos, da mesma forma, haviam sido breves e superficiais, e ele tinha horror à ideia de se comprometer. Tão logo surgia algum problema, ele arrumava as malas e ia embora.
                                              
Para Sam, tudo era preto ou branco, bom ou ruim, certo ou errado, brilhante ou idiota. Não havia espaço para o debate, lugar para a comple­xidade, nenhuma possibilidade de ele mesmo estar errado.

Como um ado­lescente, ele estava sempre jogando para a plateia, sempre tentando im­pressionar. Tudo era feito por exibição ou para tentar chocar, e não por um desejo genuíno. Por baixo das aparências, porém, Sam era solitário, infeliz e assustado. Seu Adolescente estava controlando a sua vida.


Logo que sentia o cheiro da responsabilidade no ar, o temeroso Ado­lescente corria para o lado oposto. Ele vivia culpando os outros pelas pró­prias dificuldades — especialmente os pais e outras figuras investidas de autoridade. Enquanto o nosso Adolescente estiver brincando de “Se você não tivesse...” (um de seus jogos favoritos), permaneceremos presos ao nosso passado.

Josie, abandonada pela mãe aos sete anos de idade, gritou para mim: “Nunca vou perdoá-la — nunca, jamais!” Ao se aferrar à sua raiva e res­sentimento, porém, ela estava se condenando a recriar o passado e sabo­tando sua vida em cada oportunidade, para “provar” o quanto a mãe a havia prejudicado.

Sugeri que Josie pudesse escrever a história da vida da mãe — do ponto de vista de um amigo solidário e amistoso — até o momento em que a mãe resolveu abandonar o marido e os filhos. Josie sentiu-se incapaz de fazer isso durante vários meses, mas acabou atacando a tarefa.

 Derra­mando-se em lágrimas, ela escreveu que, aos 16 anos, sua mãe havia em­barcado num casamento sem amor para escapar de uma infância infeliz e, então, sentiu-se aprisionada e sufocada pelas exigências de três crianças e de um marido que não lhe dava apoio.

Sua mãe não havia tido nenhuma chance de crescer. Pela primeira vez, Josie começou a perceber o quanto sua mãe deveria estar infeliz para abandonar a família — e o perdão, fi­nalmente, tornou-se uma possibilidade.

Ao perdoar aqueles que nos magoaram no passado, libertamos a nós mesmos. Se estivermos preocupados com as injustiças “cometidas contra nós”, atrairemos mais dessas mesmas experiências. Não precisamos amar aqueles que nos ofenderam mas, pelo nosso próprio bem, precisamos per­doá-los.

 Segundo A Course in Miracles, “O perdão é a chave para a feli­cidade”.5 Ao perdoarmos os outros — com o coração e não com a mente — nós nos libertamos do passado. “Quanto mais você odeia alguma coisa, mais você fica preso a ela”; diz Orin, “e quanto mais você a ama, mais livre dela você está.

Portanto, ao amar o seu passado, você se liberta dele.” Tudo o que nos impede de fazê-lo consiste na nossa hipocrisia, auto piedade, na nossa necessidade de “nos castigar” e de evitar a responsabilidade, e no nosso apego ao passado.

Afinal de contas, nós escolhemos os nossos pais; assim, culpá-los pelo modo como fomos tratados é como escolher uma tigela de maçãs e, depois, queixarmo-nos de que o que realmente queríamos era um prato de moran­gos.

 Quaisquer que sejam os desafios e pressões que tenhamos enfrentado em nossa infância, nós escolhemos cuidadosamente os nossos pais na es­perança de que pudéssemos aprender e crescer com a experiência — e eles concordaram em “fazer o jogo” conosco e permitiram que fôssemos os seus professores.

 Desde que assumamos a responsabilidade pelas nossas escolhas e reconheçamos as lições que esperávamos aprender, não há nada a perdoar. Nunca estamos à mercê da nossa infância. Ela nos influencia, mas não nos controla. Não somos fantoches indefesos. Do passado somente aceitamos aqueles problemas que nos convêm.

Um de meus clientes, que ansiava por conseguir chorar, disse-me que seus pais haviam-no criado acreditando que, para um homem, era vergo­nhoso chorar — em público ou em particular — e deixou implícito que se considerava uma vítima indefesa dessa crença.

Da forma mais delicada possível, eu lhe disse que, quando pequeno, alguém provavelmente lhe contara que a lua era feita de queijo mas que, num determinado momento, ele havia reconsiderado essa crença.

 Se uma criança de 6 anos tem a ca­pacidade de mudar suas crenças, então o mesmo acontece com um homem de 40! As nossas crenças, conforme diz Seth, são como os blocos de armar com que as crianças brincam. Elas são mantidas nos lugares apenas pelo nosso medo, pelas nossas dívidas e missões ocultas.

Volte os olhos para a infância
Anote os piores aspectos da sua infância. Quais foram as circuns­tâncias, situações, acontecimentos ou atitudes e características pater­nas ou maternas que você mais gostaria de ter mudado? De que você mais se ressentia em sua infância? E em relação a seus pais?

Observe agora a sua lista e pense no que você ganhou com essas dificuldades. Fazendo um exame retrospectivo, que lições você aprendeu? Que poderes e qualidades emocionais adquiriu?

Que de­cisões acertadas você tomou em consequência dessas experiências? Por que você teria escolhido os seus pais? O que você aprendeu com eles?

Que mensagens a sua família lhe transmitiu a respeito da vida adulta? Algumas das seguintes lhe parecem familiares?

                     Trabalhe duro e jogue duro.
                     Os anos de escola são os melhores de nossa vida.
                     Não nos envergonhe.
                     Sempre dê prioridade aos outros.
                     Não se pode educar uma criança sem algumas surras na hora certa.
                     Seja bom.
                     Um trabalho que vale a pena ser feito deve ser bem-feito.
                     O que os vizinhos vão pensar?
                     Não ouça o mal, não fale nada de mal, não veja o mal.
                      
                     Quando a jornada fica difícil, os fortes seguem em frente.
                     Encontre um bom homem ou uma boa mulher para cuidar de você.
                     Sorria sempre.
                      
                     A única pessoa em quem você pode confiar é você mesmo.
                     A vida é dura para pessoas como nós/você.
                     Arranje um emprego estável e com uma boa aposentadoria.

Pense nas mensagens — diretas ou tácitas — que, quando crian­ça, você recebeu a respeito da vida de adulto. Como essas mensagens influenciaram a sua vida? Você precisa reavaliar algumas dessas crenças e atitudes?

O Jovem_em Adulto
Imagine-se num prado, no verão, sentado em meio à grama alta e às flores silvestres, contemplando um lago azul-esverdeado que cintila ao sol. Reserve alguns minutos para encontrar você mesmo nesse lindo lugar.

Depois, afaste-se do lago e procure um poço que leva às profun­dezas da terra. Haverá uma escada ou corda para que você possa descer por ele. Desça pelo poço, tocando as paredes moles e que se esboroam nas mãos, sentindo o cheiro da terra, ouvindo os ecos de seus passos enquanto você penetra cada vez mais fundo no subsolo.

Por fim, o poço abre-se numa caverna árida e mal iluminada. Entre na caverna e olhe ao redor. No meio há uma cadeira de razoável tamanho — e lá, totalmente sozinho, encontra-se sentado o seu Jovem Adulto.

Aproxime-se de seu Jovem Adulto ê peça-lhe para falar-lhe sobre si mesmo. Reuna a maior quantidade possível de informações sobre suas crenças, atitudes, valores e fantasias, para que você possa reco­nhecê-lo quando ele se manifestar em sua realidade adulta. Em se­guida, peça que ele se junte a você na luz, e façam o caminho de volta.


Ao emergirem do poço, a paisagem de verão enche-os de luz e beleza. Caminhem para o lago e mergulhem na água fresca e cinti­lante. Veja o seu Jovem Adulto ficar radiante de luz. Então, suave­mente, volte para o quarto.

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