segunda-feira, 7 de julho de 2014

Você é irado?




Você é irado?

A Raiva e o Perfeccionismo -Parte 1 
Claudio Naranjo

Estudar a ira, a raiva e o perfeccionismo clareia nossas concepções sobre a personalidade humana. Naranjo nos ensina a compreender as virtudes e “pecados” do ser humano com sabedoria. É fascinante compreender nossas fragilidades e assim, nos universalizamos sem preconceitos e sem discriminações.

“Esses são os obstáculos:  as trevas da insensatez, da
autoafirmação, da luxúria, do ódio, do apego.

A escuridão da insensatez é o campo dos outros... o
fardo da sujeição ao sofrimento tem sua raiz nesses
obstáculos. ”

 “A introspecção é o primeiro passo em direção à transformação, e infiro que, depois de conhecer a si mesmo, ninguém pode continuar sendo o mesmo. ”         *
THOMAS MANN — ON HIMSELF

1.   Teoria Fundamental, Nomenclatura e Lugar no Eneagrama.

“Podemos considerar a ira de três maneiras”, diz São Tomás em Questiones Disputatae-,

“Primeiro, a ira que reside no coração (Ira Cordis);
- também, na medida em que ela flui em palavras (Ira Locutionis'),
- e terceiro, quando ela se transfor­ma em ações (Ira Actiones).”


O levantamento quase não nos faz lembrar as características do tipo perfeccionista que es­taremos retratando aqui. No entanto, existe raiva no coração, principalmente sob a forma de ressentimento, mas não tão visivelmente quanto a raiva pode ser vivenciada pelo sensual, o invejoso, ou o covarde.

 Quanto ao comportamento verbal, é mais típico do tipo irado ser controlado na expressão da raiva, em qualquer uma de suas formas explícitas: estamos na, presença de um tipo bem-comportado e civilizado, e não na de um indivíduo espontâneo.

 No que diz respeito à ação, os indivíduos do tipo I do eneagrama expressam a raiva, porém inconscientemente, não apenas para si mesmos como também para os outros, pois eles o fazem de uma maneira tipicamente racionalizada;

com efeito, grande parte dessa personalidade pode ser compreendida como a formação de uma reação contra a raiva: uma negação da destrutividade através de uma atitude deliberada, bem-intencionada.

A definição da raiva de Oscar Ichazo como uma “posição contra a realidade” possui o mérito de dirigir-se a uma questão mais básica do que o sentimento ou expressão da emoção

O fato de que o mecanismo de defesa do caráter obsessivo seja a “formação reativa”, que através da com­pensação transforma conteúdos psíquicos em seus opos­tos, faz que a ira dos iracundos constitua uma paixão menos visível que o orgulho dos orgulhosos e a luxúria dos luxuriosos.

 Enquanto que um invejoso pode não que­rer ver sua inveja, e portanto negá-la, ou aquele que teme muito ter medo ignora seu temor, a negação da ira no caráter perfeccionista parece um caso especialmente acu­sador de inconsciência, e converte em particularmente inepto o termo “iracundo” para sugerir à personalidade aparente de seu portador emoção.

O arrogante,onipotente e perfeccionista  não admite ser contrariado, que tudo não aconteça com ele quer e por isso ele fica irado.

 O “iracundo” é tipicamente aquele que parece de bem com a vida. Frequentemente, no mundo moderno, é um pacifista. A mãe “iracunda” provavelmente não gostará que seu filho tenha brinquedos bélicos ou soldados de chumbo.

 O potencial agressivo em sua psiquismo está supercompensado por algo muito mais aparente: o mandato ético de não-agressão. É que o caráter perfeccionista é usualmente o de um moralista, ou então o de uma pessoa em que chama atenção seu entusiasmo pelas regras, as normas, as boas intenções e os nobres propósitos. Para nenhum outro é tão certo o refrão que diz:
“De boas intenções é feito o caminho do inferno.”

Uma vez descrevi este caráter como o de uma “virtu­de iracunda”, expressão que reflete tanto o aspecto passional-emocional do caráter como sua “fixação” ou perspec­tiva equivocada sobre a vida: a ideia de que não vale nada, nem merece o amor a menos que seja perfeito.

 Isto faz que esta pessoa, tão caracteristicamente devota e preconizadora da bondade, seja crítica em excesso e pouco terna. Poder amar só o perfeito é certamente uma forma de não poder amar.

A autoimagem de boa pessoa, não obstante, man­tém-se com uma dieta contínua de boas intenções e boas obras, e com a racionalização da ira perfeccionista como uma nobre luta por altos ideais.

Existem perfeccionistas que se identificam mais com sua imagem idealizada do que com sua imagem denegrida, e portanto se sentem superiores por sua excelência, ao mesmo tempo em que são intransigentes e  desvalorizam seus semelhantes.

 Em inglês circula a expressão Holier than Thou (mais santo que tu), que vem bem ao caso: faz referência à tendência a exaltar a própria nobreza e ver exageradamente o aspecto ple­beu ou não cultivado do outro.
 Os ingleses foram caricaturizados por sua excessiva inclinação a sentirem-se corretos e perceberem os outros como selvagens - particularmente nos tempos do império e suas colônias.

 Esta variante cor­responde a uma pessoa rígida que espera que o mundo inteiro se adapte a ela, que a escute e imite seu nobre exem­plo, enquanto se identifica com seu eu idealizado.

Outros, comparativamente, criticam-se mais, têm maior contato com seu eu denegrido. É impressionante sobretudo o respeito que têm pela excelência alheia, assim como sua menor tendência a erigir-se em autoridade, dife­rentemente dos rígidos.

Trata-se de pessoas cujo perfec­cionismo nunca chega a ver-se satisfeito; nunca sentem que fizeram as coisas suficientemente bem para ficarem em paz. Podemos caracterizá-los como indivíduos preo­cupados.

Quando nos transferimos do discurso religioso para a observação da vida humana por parte dos escritores que se especializaram na análise do caráter, apreciamos que a síndrome de personalidade que nos ocupa foi estudada desde a Antiguidade, mas não no sentido iracundo que hoje em dia denominamos “psicodinâmica”.

Teofrasto descreve entre seus caracteres um que denomina “o oligarca28”, e define a oligarquia como o afã de mando que aspira o poder e a riqueza. O oligarca aqui retratado vai além de uma combinação aristocrática de presunção, refinamento e domínio não reconhecido. Diz-nos que tem certas frases constantes em sua boca, expressões que aludem aos sentimentos aristocráticos, o desdém e a cerimônia.

‘"Convém que, reunindo-nos entre nós mesmos, tomemos determinações sobre estes assuntos e nos afastemos do populacho e do agora. Coloquemos um ponto final às nossas participações nas magistraturas, e desta maneira às críticas e às honras desta gentalha. É preciso que nesta cidade ou governem eles ou nós mesmos’ (...)

 O oligarca nunca sai antes do meio dia; seu manto está cuidadosamente colocado, sua barba, maravilhosamente asseada e suas unhas bem cortadas (...) Desagrada-lhes sentar-se na assembleia ao lado de algum sujeito sujo ou esfarrapado.”

Nas máscaras italianas, o doutor Balanzone anda todo vestido de negro - algo usual nos doutores do século XIV -, com uma grande gola branca, punhos brancos de pre­gas e um grande chapéu negro na cabeça.

É um sexagená­rio de ar professoral e origem bolonhesa, em referência à antiga universidade; uma caricatura, enfim, dos que fazem alarde a cada momento de seus conhecimentos.

Seu nome remete à balança - símbolo da justiça -, já que se vangloria de ser um famoso representante da lei. Sempre está a ponto de subir à cátedra para lecionar aos demais.

 Ainda que seja para comentar o sucesso mais insignificante, recorre a longos discursos cheios de palavras lati­nas. Declara conhecer a fundo a gramática, a lógica, o direito, a filosofia, a física, a matemática e a geografia.

Semelhante pedantismo e distração do essencial reflete-se na anedota do professor de francês que, justo antes de morrer, sentencia: “Je meure”. Ou, “Je me meure”. - que, de ambos os modos, pode ser dito.
28

Duas síndromes diferentes relacionadas o caráter anal: nossos tipos da ira e da avareza do eneagrama - demarcadas nos antípodas no eneagrama, e que no entanto partilham a qualidade de serem impulsionadas pelo superego, rígidas e controladas.

Se o “caráter anal” não é um conceito ambíguo, também encontramos em Wilhelm Reich a descrição de uma persona­lidade que corresponde de uma maneira mais pura ao nosso perfeccionista: seu caso do “caráter aristocrata”, discutido em Caracter Analysis em defesa de algumas ideias gerais sobre a função do caráter.

Ele descreve seu paciente como tendo “um semblante reservado”, sendo sério e um tanto arrogante; “Sua maneira de andar nobre e cadenciada chamava a atenção... era evidente que ele evitava — ou ocultava — qualquer ódio ou entusiasmo... sua fala era bem fraseada e equilibrada, suave e eloquente...”

“Quando ele se deitava no sofá, praticamente não se percebia nenhuma mudança em sua compostura e requin­te”... “Talvez fosse apenas um insignificante... que um dia ‘aristocrata’ tenha me ocorrido com relação ao comportamento dele”, comenta Reich;

 “eu lhe disse que ele estava representan­do o papel de um lorde inglês”, prossegue ele, e passa a discutir esse paciente, que nunca se masturbou na puberdade, serve-se aristocraticamente da seguinte defesa contra a excitação sexual: “Um nobre não faz essas coisas”.

A síndrome que estivemos discutindo é hoje identificada no DSM III americano13 como um distúrbio da personalidade compulsiva. Este manual oferece as seguintes sugestões para o diagnóstico dessa personalidade:

1.                   Afetividade reprimida (e.g., parece pouco relaxado, tenso, triste e severo; a expressão emocional é man­tida sob rígido controle).
2.                   Auto-imagem escrupulosa (e.g., vê a si mesmo como esforçado, digno de confiança e eficiente; valoriza a autodisciplina, a prudência e a lealdade).

3 - Respeitabilidade interpessoal (e.g., exige uma devo­ção fora do comum às convenções e propriedades sociais; prefere os relacionamentos pessoais polidos, formais e corretos).
4.                   Constrição cognitiva (e.g., constrói o mundo em função de regras, regulamentos, hierarquias; tem pouca imaginação, é indeciso e fica perturbado com ideias ou hábitos novos ou pouco familiares).

5.                   Rigidez de comportamento (e.g., mantém um padrão de vida bem estruturado, altamente regulado e repe­titivo; demonstra preferência pelo trabalho organiza­do, metódico e meticuloso).

Segue-se a descrição das características do comportamen­to da personalidade compulsiva nas palavras de Theodore Millon:
“O triste e severo comportamento dos compulsivos é amiúde bastante surpreendente. Não quero dizer que eles se­jam invariavelmente taciturnos ou deprimidos, e sim transmitir seu característico ar de austeridade e seriedade.

 A postura e o movimento refletem sua constrição subjacente, um tenso domí­nio das emoções, que são mantidas rigorosamente sob contro­le... O comportamento social dos compulsivos pode ser carac­terizado como polido e formal.

 Eles se relacionam com os outros sob o aspecto de status ou posição social; ou seja, eles tendem a ter uma perspectiva autoritária em vez de igualitária.”

Isso se reflete em seu comportamento contrastante com os ‘superiores’ em oposição aos ‘inferiores’. As personalidades compulsivas são respeitosas, insinuantes e até mesmo subser­vientes com relação aos seus superiores, esforçando-se ao máximo para impressioná-los com sua eficiência e seriedade.

 Muitos buscam a tranquilizaçâo e a aprovação ^a sua posição. Esse comportamento contrasta fortemente com suas atitudes diante de seus subordinados. Neste caso, o compulsivo é bastante autoritário e reprovador, mostrando-se frequentemente arrogante e orgulhoso.

 Esse jeito altivo e reprovador está geralmente disfarçado atrás de regulamentos e formalismos. É bastante típico dos compulsivos justificarem suas intenções agressivas recorrendo a regras ou autoridades acima de si mesmos.

Na elaboração final que Karen Horney nos deixou da sua experiência clínica, Neurosis and Human Growth, ela agrupa três tipos de caráter debaixo de uma denominação geral de “as soluções expansivas”.

Trata-se de abordagens à vida através da supremacia, nas quais o indivíduo abraça cedo na vida, como uma solução para conflitos, uma estratégia de “mover-se contra” os outros (contrária à orientação daqueles que se mo­vem sedutoramente “na direção" dos outros ou que se “afas­tam” receosamente dos outros).

Uma dessas três formas da “solução da supremacia” (ou “mover-se contra”) ela chama de “perfeccionista”, e embora a descreva sem fazer referência aos tipos “anal” e “compulsivo” anteriores da literatura, ela contribui substancialmente para o entendimento psicodinâmico da síndrome em questão.

 Eu a cito a seguir:
“Este tipo se sente superior em virtude de seus elevados padrões morais e intelectuais, e em função disso ele trata os outros com superioridade. Ele nutre um desdém arrogante pelos outros, apesar de também oculto de si mesmo -— atrás de uma refinada cordialidade, visto que seus padrões proíbem esses ‘sentimentos irregulares’.

 Ele tem duas maneiras de toldar a questão dos “deveria”, não satisfeitos. Ao contrário do tipo narcisista, ele faz um intenso esforço para estar à altura dos seus “deveria”, cumprindo deveres e obrigações, tendo manei­ras educadas e disciplinadas, não contando mentiras óbvias, etc.

Quando falamos de pessoas perfeccionistas, frequentemente pensamos apenas naqueles que mantêm uma ordem meticulosa em tudo que os cerca, que são excessivamente escrupulosos e pontuais, precisam encontrar sempre a palavra adequada, ou precisam usar a gravata ou o chapéu perfeito.

 Mas esses são apenas aspectos superficiais da sua necessidade de alcançar o mais elevado grau de excelência. O que realmente importa não são esses detalhes insignificantes, e sim a excelência impecável de toda sua conduta na vida.

 Mas como tudo que ele pode alcançar é uma perfeição de comportamen­to, outro artifício se faz necessário, ou seja, igualar em sua mente padrões e realidades —- conhecer os valores morais e ser uma boa pessoa...

O autoengano envolvido está ainda mais oculto dele uma vez que, com relação aos outros, ele pode insistir em que eles efetivamente se mostrem à altura dos seus padrões de perfeição e desprezá-los por deixarem de fazer isso. Sua autocondenação é desse modo exteriorizada.

“Como confirmação da sua opinião sobre si mesmo, ele precisa do respeito dos outros, em vez de uma reluzente admiração (que ele se inclina a menosprezar). Por conseguinte, suas reivindicações se baseiam mais num 'trato’ que ele secretamente fizera com a vida do que numa crença ‘ingênua’ em sua grandeza pessoal.

 Como ele é imparcial, justo e obsequioso, ele tem o direito de ser tratado com justiça pelos outros e pela vida em geral. Essa convicção de que existe uma justiça infalível em atuação na vida confere a ele um sentimento de supremacia. Sua perfeição, portanto, não é apenas um meio cie ser superior, mas também de controlar a vida.
A ideia da sorte imerecida, boa ou má, lhe é estranha. Seu próprio sucesso, prosperidade ou boa saúde é, por conseguinte, mais uma prova da sua virtude do que algo a ser desfrutado”.

Podemos discernir a personalidade que está sendo consi­derada no tipo pensamento extrovertido de Jung:16

“Este tipo será, por definição, um homem cujo constante empenho — na medida em que, é claro, ele seja um tipo puro — é tomar todas as suas atividades dependentes de conclusões intelectuais, que em último recurso são sempre orientadas por dados objetivos, sejam estes fatos externos ou ideias geral­mente aceitas.

 Esse tipo de homem eleva a realidade objetiva, ou uma fórmula intelectual objetivamente orientada, ao princí­pio governante, não apenas para si mesmo, como também para
todo seu ambiente.

Por essa fórmula são medidos o bem e o mal, e determinadas a beleza e a feiura. Tudo que concorda com essa fórmula está correto, tudo que a contradiz está errado, e qualquer coisa que passe indiferentemente por ela é mera­mente incidental.

 Como essa fórmula parece personificar todo o significado da vida, ela é transformada numa lei universal que precisa ser posta em ação o tempo todo em todos os lugares, tanto individual quanto coletivamente.

 Da mesma maneira como o tipo pensamento extrovertido se subordina à própria fórmula, também, para seu próprio bem, todos que o cercam também precisam obedecê-la, pois quem quer que se recuse a obedecê-la está errado — estará resistindo à lei universal, sendo portanto irracional, imoral e destituído de consciência.

 Seu código moral o proíbe de tolerar exceções; seu ideal precisa ser realizado sob todas as circunstâncias, pois a seus olhos esse ideal é a mais pura formulação concebível da realidade objetiva, e, por conseguinte, também precisa ser uma verdade universalmente válida, indispensável para a sal­vação da humanidade. Isso não é oriundo de um grande amor por seu semelhante, e sim do ponto de vista superior da justiça e da verdade.

 Qualquer coisa em sua natureza que pareça invalidar essa fórmula é uma mera imperfeição, uma falha acidental, algo a ser eliminado na vez seguinte, ou, no caso de uma falha ulterior, claramente patológica. Se a tolerância pelos doentes, sofredores ou excepcionais for, por acaso, um dos ingredientes da fórmula, providências especiais serão tomadas para fornecer ajuda às sociedades humanitárias, hospitais, prisões, missões, e assim por diante, ou, pelo menos, planos extensivos serão elaborados.

“Geralmente a justiça e a verdade não são razões sufi­cientes para assegurar a efetiva execução desses projetos; para isso, uma verdadeira caridade cristã se faz necessária, e isso está mais relacionado com os sentimentos do que com qual­quer fórmula intelectual. As palavras ‘deve’ e ‘precisa’ têm grande importância nesse programa.

 Se a fórmula for suficien­temente ampla, esse tipo pode desempenhar um papel bastante útil na vida social como reformador, promotor público ou purificador de consciência, ou ainda como propagador de importantes inovações.

 Porém, quanto mais rígida a fórmula, mais ele se toma disciplinador, tergiversador e presunçoso, alguém que gostaria de obrigar a si mesmo e os outros a dividirem um único mundo. Temos aqui os dois extremos entre os quais se desloca a maioria desses tipos.”

No domínio das aplicações de teste da tipologia junguiana, a mais adequada é encontrada no “ESTJ” (extrovertido, com predominância da sensação sobre a intuição, do pensamento sobre o sentimento, do julgamento sobre a percepção).

 David Keirsey e Marilyn Bates, referindo-se a essas avaliações, dizem que o melhor adjetivo para descrevê-las seria “responsável”.

No domínio da medicina homeopática, a descrição da personalidade semelhante ao tipo I do eneagrama tem sido feita com relação a indivíduos que são especificamente ajuda­dos pelo uso de Arsenicum.

Assim, em Portraits of Homoeopathic Medicines, Catherine R. Coulter se refere à personalidade de Arsenicum como “a perfeccionista por excelência”.18 Ela descreve em detalhe a natureza conscienciosa e meticulosa da criança de Arsenicum.

Corolários da perfeição são encontrados no adulto que compulsivamente reelabora as coisas, que nunca está satisfeito com os resultados, como no caso do professor que reescreve incessantemente suas palestras e que sente uma ansiedade concomitante por se sentir despreparado, o que torna a disposição de Arsenicum a antítese do relaxamento.
Outro corolário é a ordenação e, outro ainda, a autocrítica. Ela também descreve uma forte competitividade que caminha de mãos dadas com a ambição de ser o melhor.

Outra palavra que Coulter introduz na descrição de Arsenicum é a superexigência — aplicada à mania compulsiva de ordem, assim: “... Em todas as esferas ele é difícil de agradar, e, em sua intolerância com relação a tudo que é desarrumado, .irritado com qualquer ato desajeitado — deixar cair um prato, derrubar um copo, espalhar comida — tanto seu quanto de outra pessoa.”

 Outro aspecto da perfeição mencionada no caso de Arsenicum é a meticulosidade — ‘“consciencioso a respeito de ninharias’: Kent.” Coulter diz: “Seu trabalho manifesta aquele ‘toque final’ particular — aquele polimento final — que revela uma atenção meticulosa ao detalhe.”

Bastante característica do tipo I do eneagrama é a ansie­dade descrita com relação a Arsenicum Album — uma ansie­dade que está relacionada com a expectativa de problemas e com uma exagerada meticulosidade

Um frequente objeto de preocupação para Arsenicum, segundo Coulter, é o dinheiro. “Quer ou não ele o tenha, ele pensa e fala muito a respeito dele, frequentemente lamentando sua pobreza ou o alto custo de vida. Seu amor pelo dinheiro é mais forte do que o da maioria dos tipos constitucionais, e ele pode até ser ‘avarento’ (Hering)...”

A descrição de Arsenicum como um tipo dominador também é congruente com o tipo I do eneagrama: “Ele assume a liderança nos relacionamentos pessoais, determinando seu tom e esfera de ação, nada mais restando aos outros senão aquiescer... O dominador Arsenicum não consegue tolerar que outras pessoas assumam o comando e insiste em tomar sozinho todas as decisões...”

Outras observações na descrição de Coulter do tipo Arse­nicum são a tendência para a intelectualizarão excessiva, uma preocupação com “o significado de cada sintoma”, e um “one- upmanship "médico que “faz com que ele desconfie até daque­les cuja ajuda ele está buscando”.

 Ela relata que, enquanto “muitos tipos constitucionais não vêem com bons olhos quais­quer restrições alimentares... Arsenicum adora fazer uma dieta e seguirá religiosamente o regime mais espartano. Ele não apenas se delicia com as dietas da moda, como também a necessidade de uma dieta especial confirma a gravidade do seu estado...”


A correspondência da personalidade Arsenicum da homeopatia com nosso tipo I do eneagrama toma-se ainda mais explícita através da menção de Coulter a um exemplo literário — Miss Betsey de Dickens em David Copperfield, “cuja apa­rência mal-humorada, exigente e às vezes temível oculta uma integridade e delicadeza moral”.

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