segunda-feira, 28 de julho de 2014

A LUXÚRIA

 A LUXÚRIA





ENEATIPO VIII: A LUXÚRIA

De acordo com o eneagrama, há nove tipos de personalidade ou egos preponderantes Veja abaixo o resumo dos 9 tipos:


O dicionário espanhol diz que: “luxúria é um vício que consiste no uso ilícito ou apetite desordenado de prazeres carnais, ou excesso em certas coisas”.
Uma sexualidade intensa sujeita a um mínimo de res­trições não é somente o que dá ao tipo  EVIII do Eneagrama um caráter exces­sivo.

Utilizarei, portanto, a palavra “luxúria” para denotar uma paixão pelo excesso, uma paixão que procura a intensidade, não apenas através do sexo, mas por meio de todo tipo de estimulação: atividade, ansie­dade, temperos, alta velocidade, o prazer da música tocada alto, e assim por diante.


 O aspecto indolente da pessoa sensual pode ser compreendido não apenas como um sentimento de não só estar suficientemente vivo através da estimulação excessiva, mas também como um evitar concomitante da interioridade.

 Podemos dizer que a ganância por uma vivacidade cada vez maior, característica da personalidade sensual, é apenas uma tentativa de compensar uma ausência oculta de vivacidade.

A Estrutura dos Traços
A Luxúria

Assim como a raiva pode ser considerada a mais oculta das paixões, a luxúria é provavelmente a mais visível, sendo aparentemente uma exceção à regra geral de que sempre que existe uma paixão, existe também um tabu ou uma pressão contra ela na psique.

 Digo “aparentemente” porque embora o tipo sensual seja apaixonadamente a favor da sua luxúria e da luxúria de um modo geral como um modo de vida, a própria paixão com que ele abraça esse ponto de vista trai uma qualidade defensiva — como se ele precisasse provar a si mesmo e ao resto do mundo que o que todo mundo considera mau não é realmente assim.

 Alguns dos traços específicos que transmitem a luxúria, como a “intensidade”, o “prazer”, o “amor pela comida”, o “prazer do contato”, etc. estão intimamente ligados ao estrato constitucional da personalidade.


 Uma dis­posição sensório-motora (a base somatotônica da luxúria) pode ser considerada o solo natural no qual a luxúria propriamente dita é sustentada. Outros traços, como o hedonismo, a propen­são para o tédio quando não é suficientemente estimulado, o anseio de excitação, a impaciência e a impulsividade estão no domínio da luxúria propriamente dita.

Podemos considerar que, a luxúria é mais do que o hedonismo. Existe luxúria não apenas no prazer, mas prazer em assegurar a satisfação dos impulsos, prazer no que é proibido e, particularmente, prazer em lutar pelo prazer.

Além do prazer propriamente  dito, acrescenta-se aqui ainda uma certa dor que se transformou em prazer: ou a dor daqueles que são “atormentados” para a satisfação do indivíduo ou a dor gerada pelo esforço de transpor os obstáculos a caminho da satisfação.

 É isso que torna a luxúria uma paixão de intensidade e não apenas de prazer. A intensidade extra, a excitação adi­cional, o “tempero” não procedem da satisfação dos instintos, e sim da luta e de um triunfo implícito.

A Punitividade
Outro grupo de traços intimamente ligados à luxúria é o que poderia ser chamado de punitivo, sádico, explorador, hostil.

Entre esses traços podemos encontrar a “indelicadeza”, o “sarcas­mo”, a “ironia”. De todos os tipos de caráter, este é o mais irado e o que é menos intimidado pela raiva. Ele costuma tipicamente ainda intimidar, humilhar e frustrar as outras pessoas.

É à característica irada e punitiva do tipo VIII do eneagrama que Ichazo se refere ao chamar a fixação do indivíduo sensual de “vingança”.

 A palavra, contudo, tem o inconveniente de estar associada ao tipo mais abertamente vingativo dos tipos de caráter, o tipo IV do eneagrama, cuja hostilidade algumas vezes se manifesta através de explícitas vendettas.

 Sob esse aspecto manifesto, o tipo VIII não é notavelmente vingativo; pelo contrário, o caráter revida zangado na hora e rapidamente vence sua irritação.

 A vingança que costuma estar mais presente no tipo VIII do eneagrama é (sem contar sua reação imediata de “reagir à altura”) em longo prazo, na qual o indivíduo faz justiça com as próprias mãos em resposta à dor, humilhação e impotência que sentiu na infância.

 É como se ele quisesse trocar de posição com o mundo e, depois de ter sofrido frustração ou humilhação para dar prazer aos outros, tivesse decidido que agora é sua vez de ter prazer, mesmo que isso envolva a dor de outras pessoas. Ou especialmente por isso — pois é aí, também, que pode estar a vingança.

O fenômeno sádico de apreciar a frustração ou humilha­ção dos outros pode ser considerado uma transformação do fato de ter que conviver com a própria (como um subproduto do triunfo vingativo), assim como a excitação da ansiedade, dos gostos intensos e das experiências fortes representa uma transformação da dor no processo do indivíduo de ficar calejado na vida.

A característica antissocial do tipo VIII do eneagrama, como a própria rebeldia (na qual ela está embutida), pode ser considerada uma reação da raiva e, portanto, uma manifestação de punitividade vingativa. O mesmo pode ser dito a respeito da dominância, da insensibilidade e do cinismo, ao lado de seus derivados.

A punitividade pode ser considerada como a fixação no caráter sádico ou explorador — e podemos reco­nhecer o mérito de Horney e Fromm por estarem adiante de seu tempo ao enfatizar essas últimas características.

A Rebeldia
Embora a luxúria em si encerre um elemento de rebeldia em sua firme oposição à inibição do prazer, a rebeldia se destaca como um traço à parte, mais proeminente no tipo VIII do eneagrama do que em qualquer outro caráter.

 Embora o tipo VII seja informal, a ênfase da sua rebeldia é intelectual. Ele é uma pessoa com “idéias avançadas”, talvez com uma pers­pectiva revolucionária, ao passo que o tipo VIII é o protótipo do ativista revolucionário.

 Além das ideologias específicas, contudo, existe no caráter não apenas uma forte oposição á autoridade, mas também um desprezo pelos valores impostos pela educação tradicional.

 É em virtude dessa grosseira invali­dação da autoridade que a “maldade” automaticamente se toma a maneira de ser. A origem dessa rebeldia generalizada contra a autoridade usualmente pode ser buscada numa rebeldia diante do pai, que é o portador da autoridade na família.

 Os tipos de caráter vingativo frequentemente aprendem a não esperar nada de bom de seus pais e, implicitamente, passam a considerar o poder paterno como ilegítimo.

A Dominância
Estreitamente relacionada com a hostilidade característica do tipo do eneagrama está a dominância. Pode-se dizer que a hostilidade está a serviço da dominância, e que a dominância, por sua vez, é a expressão da hostilidade.

 No entanto, a dominância também tem a função de proteger o indivíduo numa posição de vulnerabilidade e dependência. Relacionados com a dominância estão a “arrogância”, a “busca do poder”, a “necessidade de triunfar”, “rebaixar os outros”, a “competitivi­dade”, “agir de uma maneira superior", e assim por diante.

Também relacionados com esses traços de superioridade e dominância estão os traços correspondentes de desprezo e desdém pelos outros. É fácil ver como a dominância e a agres­sividade estão a serviço da luxúria; particularmente num mun­do que espera o comedimento individual, somente o poder e a habilidade de lutar pelos próprios desejos podem permitir que o indivíduo se entregue à sua paixão de expressar o impulso.

 A dominância e a hostilidade se colocam a serviço da vingança, como se o indivíduo tivesse cedo na vida decidido que não vale a pena ser fraco, acomodado ou sedutor, e tenha se orientado para ao poder numa tentativa de fazer justiça com as próprias mãos.

A Insensibilidade
Também estreitamente relacionados com as caracterís­ticas hostis do tipo VIII do eneagrama estão os traços da agressividade, que se manifestam através das descrições de “confrontação”, “intimidação”, “crueldade”, “desumanidade”.

Essas características são claramente consequência de um estilo de vida agressivo, incompatível com o medo, a fraqueza, o sentimentalismo ou a piedade.

 Relacionado com essa quali­dade não sentimental, realista, direta, brusca e grosseira existe um desprezo correspondente pelas qualidades opostas da fraqueza, da sensibilidade e, particularmente, do medo.

Pode­mos dizer que um caso específico do enrijecimento da psique é a característica exagerada de correr riscos, através da qual o indivíduo nega seus próprios temores e se entrega ao senti­mento de poder gerado por sua conquista interior.

 Correr riscos, por sua vez, alimenta a luxúria, pois o indivíduo do tipo VIII aprendeu a encarar a ansiedade como uma fonte de excitação, e em vez de sofrer, ele aprendeu — através de um fenômeno masoquista implícito — a revolver-se em sua abso­luta intensidade.

Assim como seu paladar aprendeu a interpre­tar as sensações dolorosas de um tempero picante como prazer, a ansiedade — e/ou, melhor, o processo de se enrijecer contra ela — tomou-se, mais do que um prazer, um vício psicológico, algo sem o que a vida parece insípida e enfadonha.

Trapaça e Cinismo

Os dois traços seguintes podem ser considerados intima­mente relacionados. A atitude cínica diante da vida da perso­nalidade exploradora é enfatizada pelos traços de Fromm do ceticismo, da tendência de considerar a virtude como sendo sempre hipócrita, da desconfiança das intenções dos outros, e assim por diante.

Nesses traços, como na agressividade, vemos a expressão de um modo e uma visão de vida “com garras e dentes vermelhos”.15

Com relação à trapaça e à astúcia, é preciso que se diga que o tipo VIII do eneagrama é mais claramente enganador do que o tipo VII, e é facilmente visto como um trapaceiro, o típico “vendedor de carros usados” que sabe como negociar agressivamente.

O Exibicionismo (Narcisismo)
As pessoas do tipo VIII são divertidas, espirituosas e frequentemente atraentes, mas não são vaidosas no sentido de se preocuparem com a aparência. Sua sedução, fanfarronice e declarações arrogantes são conscientemente manipuladoras; elas visam obter influência e uma posição superior na hierar­quia do poder e da dominância.

 Essas características também representam uma compensação para a sua tendência explora­dora e sua insensibilidade, uma maneira de comprar os outros ou se fazerem aceitáveis apesar dos traços de irresponsabilida­de, violência, intrometimento, e assim por diante.

A Autonomia
Como observou Horney, não poderíamos esperar outra coisa além da autoconfiança de alguém que se aproxima das outras pessoas como se elas fossem concorrentes em potencial ou alvos de exploração.

 Ao lado da autonomia característica do tipo VIII do eneagrama existe a idealização da autonomia, uma rejeição correspondente da dependência e dos empenhos orais passivos.

A rejeição desses traços passivos é tão impres­sionante que Reich postulou que o caráter fálico-narcisista constitui precisamente uma defesa contra eles.16

Além dos conceitos da luxúria e do hedonismo, da rebel­dia, da punitividade, da dominância, bem como da busca do poder, da agressividade, de correr riscos, do narcisismo e da astúcia, existe no tipo VIII do eneagrama a predominância da ação sobre o intelecto e o sentimento, pois este é o mais sensório-motor dos tipos de caráter.

 A orientação característica do tipo VIII do eneagrama para um consistente e concreto “aqui e agora” — a esfera dos sentidos e da sensação física em particular — é um agarrar sensual no presente e uma impa­ciência agitada com relação à memória, às abstrações, às previsões, bem como uma dessensibilização diante da sutileza da experiência estética e espiritual.

 Concentrar-se no presente não é simplesmente uma manifestação de saúde mental como poderia ser em outras disposições de caráter, e sim a consequência de não considerar real nada que não seja tangível e não ofereça um estímulo imediato aos sentidos.

4. Mecanismos de Defesa    *
Quando consideramos qual o mecanismo que pode ser mais característico do caráter sensual-vingativo, o que primeiro



Oposta à inveja no eneagrama, pode-se dizer que a luxúria constitui o polo superior de um eixo sadomasoquista. As duas personalidades, VIII e IV, são de algumas maneiras opostas (como sugerem esses termos), embora também sejam similares em alguns aspectos, como na sede de intensidade.

nos chama a atenção é como essa disposição de personalidade gravita na direção oposta à repressão da vida instintiva que Freud enfatizou na neurose em geral.

 Com efeito, enquanto a inibição da sexualidade é aparente na maioria dos tipos de caráter (a não ser no tipo II do eneagrama e até certo ponto no VII) e a inibição da agressão é ainda mais generalizada, é a não-inibição dessas qualidades que caracteriza a impulsivi­dade sensual.

 No entanto, em sua interpretação do caráter fálico-narcisista, Reich expressou a opinião de que essa orien­tação diante da vida deve ser compreendida como possuindo uma natureza defeituosa: uma defesa contra a dependência e a passividade.

Diremos que o tipo VIII excessivamente “mas­culino” procura, através de uma afirmação e agressão exces­sivas, evitar a posição da impotência “feminina” — impotência essa que envolveria a submissão a restrições da sociedade e a resignação diante dos seus próprios impulsos.

Além disso, a fim de compensar os sentimentos de culpa, vergonha e inutilidade evocados pela desconsideração que ele sente pelos outros, o indivíduo se envolve num processo de negação da culpa e na repressão (no sentido mais amplo do termo) do superego e não do id.

 Essa postura rebelde contra as inibições, numa atitude de solidariedade com o pobre, diabo intrapsíquico, não parece ter recebido um nome específico na psicanálise, embora possa ser considerada semelhante à nega­ção, na medida em que existe uma rejeição da autoridade interiorizada e seus valores.

 Como Freud utilizava a expressão “negação” (verleugnung) principalmente em conexão à rejei­ção da realidade externa, prefiro trazê-la apenas metaforica­mente para esta discussão, e simplesmente salientar a neces­sidade de um termo mais específico para denotar a repressão que não é do lado instintivo do conflito, e sim do contra instintivo.

 Uma expressão como “contra repressão” ou “contra- identificação” poderia servir ao propósito — especialmente a última, visto que os traços rebeldes são interpretáveis como identificações inversas aos comportamentos e atitudes espera dos pela sociedade e pelos pais.

 A oposição do tipo VIII ao tipo IV no eneagrama sugere, contudo, que “contra introjeção” pode ser ainda mais específico, pois, ao contrário do tipo IV, que, com excessiva regularidade traz objetos nocivos para sua psique como corpos estranhos, o tipo VIII do eneagrama é o oposto daquele que está disposto a engolir e está mais do que pronto para cuspir fora o que não está de acordo com seus desejos.

Igualmente característica da forma de reprimir do tipo VIII do eneagrama é a capacidade especialmente desenvolvida para manter a dor fora da consciência — uma condição na qual a pessoa pode não ter consciência de uma febre alta ou uma infecção no ouvido médio, por exemplo.
  
A luxúria é demarcada no eneagrama ao lado do vértice superior do triângulo interno, o que indica uma afinidade com a indolência, com uma disposição sensório-motora e a predo­minância do obscurecimento cognitivo ou “ignorância” sobre a “aversão” e o “anseio” (nos cantos esquerdo e direito, res­pectivamente).

 No nível psicológico, a insensibilidade com relação ao desconforto psicológico dos indivíduos sádicos, de mentalidade dura, envolve uma relativa insensibilidade com relação à vergonha e explica uma aparente ausência de culpa.

Creio que isso também explica a típica atração que as pessoas sensuais sentem pela ansiedade (e pelo risco), que não é evitada, e sim “sadicamente” transformada num estímulo, uma fonte de excitação (um ato de sadismo contra o eu).

 Podemos chamar de dessensibilização essa elevação característica do limiar da dor, que pode ser compre­endida como a base tanto do endurecimento, como desistir de esperar o amor da parte das outras pessoas, quanto de uma revolta contra os padrões sociais.

 Além disso, assim como o caráter masoquista é de algumas maneiras sádico, existe um aspecto masoquista no caráter da luxúria; e enquanto o caráter sádico é ativo, a disposição masoquista é emocional: o primeiro se expande sem culpa em direção à satisfação da sua necessidade; a última anseia e se sente culpada com relação à sua carência.

Assim como o caráter centrado na inveja é o mais sensível do eneagrama, o tipo VIII do eneagrama é o mais insensível.

Podemos imaginar a paixão pela intensidade do tipo VIII do eneagrama como uma tentativa de buscar através da ação a intensidade que o tipo IV do eneagrama alcança através da sensibilidade emocional, que aqui é encoberta não apenas pela indolência fundamental que esse tipo compartilha com a tríade superior do eneagrama, como também por uma dessensibilização a serviço da autossuficiência contra dependente.

A síndrome caracterológica da luxúria está relacionada com a da gula no sentido de que ambas se caracterizam pela  impulsividade e pelo hedonismo.

No caso da gula, contudo, a impulsividade e o hedonismo existem num contexto caracterológico fraco, suave e com espírito delicado, enquanto na luxúria o contexto é o de um caráter forte e de inclinação firme.1

O distúrbio da personalidade antissocial descrito no DSM III pode ser considerado um extremo patológico e um caso especial do tipo VIII do eneagrama. A síndrome mais ampla pode ser melhor evocada através do rótulo de Reich do caráter “fálico narcisista”2 ou da descrição de Horney da personalidade vingativa.


 A palavra “sádico” parece particularmente apropria­da, tendo em vista sua posição oposta ao caráter masoquista do tipo IV do eneagrama. Claudio Naranjo.

Postado por Dharmadhannya
Agradeço se você ao compartilhar citar a Fonte.

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