terça-feira, 10 de junho de 2014

O Orgulho e o Eneagrama - Tipo2





“O ORGULHO”
“A VIRTUDE cardeal do Sol é a MAGNANIMIDADE. A capacidade de brilhar e iluminar os outros ao seu redor. A virtude de brilhar pelo reto pensar, reto falar e reto agir. Assim como o orgulho é o pior de todos os vícios, a magnanimidade é a maior de todas as virtudes.
São Thomas de Aquino determinou sete características como inerentes ao orgulho:
Jactância - Ostentação, vanglória, elevar-se acima do que se realmente é.
Pertinácia – Uma palavra bonita para “cabeça-dura” e “teimosia”. É o defeito de achar que se está sempre certo.
Hipocrisia – o ato de pregar alguma coisa para “ficar bem entre os semelhantes” e, secretamente, fazer o oposto do que prega. Muito comum nas Igrejas.
Desobediência – por orgulho, a pessoa se recusa a trabalhar em equipe quando não tem suas vontades reafirmadas. Tem relação com a Preguiça.
Presunção – achar que sabe tudo. É um dos maiores defeitos encontrados nos céticos e adeptos do mundo materialista. A máxima “tudo sei que nada sei” é muito sábia neste sentido. Tem relação com a Gula.
Discórdia - criar a desunião, a briga. Ao impor nossa vontade sobre os outros, podemos criar a discórdia entre dois ou mais amigos. Tem relação com a Ira.
Contenda – é uma disputa mais exacerbada e mais profunda, uma evolução da discórdia onde dois lados passam não apenas a discordar, mas a brigar entre si. Tem relação com a Inveja" 
O pecado de raiz do tipo DOIS do Eneagrama é o orgulho. Orgulho não é a mesma coisa que vaidade ou narcisismo. Orgulho é a expressão de um “eu inchado”, de um “ego inflacionado”.

 O autoconceito do tipo DOIS não-redimido pode assumir até mesmo características messiânicas: “Sou mais amoroso do que vocês todos; meu amor salvará o mundo. Cuidarei que meu amor os salve. Farei com que meu amor se tome tão imprescindível à vida e ao sistema de vocês que sem mim não terão êxito algum”.
 O orgulhoso imaturo usa seu amor para estabelecer vínculos. O lado problemático deste comportamento está em que com esta sua dedicação e solici­tude manipula e toma dependentes os outros.
O orgulho toma difícil encontrar um franco acesso a si mesmo e a Deus. Um sincero reconhecimento do pecado é mais difícil a ele do que a outras pessoas; reconhecer o pecado significaria perceber o próprio orgulho, mas é este exatamente que impede a percepção.
Arrependimento lúcido é antes de tudo questão de auto percepção “objetiva”. Precisa trabalhar duro para instalar um “observador interno” objetivo capaz de pôr um freio ao seu natural subjetivismo.
Também é difícil estabelecer um cordial relacionamento com Deus. No fundo, não precisa de Deus porque ele mesmo é forte e decidido. Antes está convencido de que Deus precisa dele. Como poderia Ele salvar o mundo sem a ajuda dele?
O orgulho preso dentro de si mesmo, não se dirige apenas contra seus concidadãos (neces­sitados de ajuda) mas também contra Deus.
Um jovem teólogo, tipo DOIS, expressa isto assim: “Nós, somos ateus práticos. Só quando estamos doentes, esgotados ou presos a um leito devido a um colapso, conseguimos rezar de coração: ‘Senhor, tenha piedade de mim! ’ Certa vez me ocorreu rezar desta forma: ‘Senhor, tenho compaixão de ti!”’ O tipo DOIS espera de todos - inclusive de Deus - gratidão. Pelo fato de se sentir, em seu orgulho, de vez em quando, como criador e mantenedor da vida, tem dificuldade em demonstrar sua gratidão pela vida. Desse modo, fecha a si mesmo o acesso à verdadeira alegria de viver.
O lado escuro do tipo DOIS não redimido é o falso amor. Seu orgulho consiste em ter por autêntico este falso amor e ficar ofendido quando os outros recusam este “amor”. Já o tipo DOIS redimido é capaz de verdadeiro amor, que não é artifi­cialmente “desinteressado”, mas faz jogo aberto, percebe as próprias necessidades e limites e deixa os outros em sua liberdade.
A estratégia de fuga do tipo DOIS consiste em reprimir as próprias necessidades e projetá-las sobre os outros. Não tem acesso às suas reais necessidades porque passou a vida toda cuidando das necessidades dos. outros.
 As palavras de Jesus: “Fazei aos outros o que quereis que eles vos façam ” (Mt 7,12) são - quando se lhes dá um valor preferencial - veneno para o tipo DOIS.
De certa forma age exatamente assim. A pressão que exerce sobre si mesmo reflete-se em seu meio ambiente e se manifesta naquela pressão sutil sobre os outros, difícil de ser contida. Envergonha-se por causa disso. O tipo UM esconde sua ira, o DOIS a realidade de ser ele tão necessitado. Teme o que possa acontecer se sua necessidade de calor, amor e companhia se libertar e fugir de seu controle.
As necessidades do tipo DOIS são em geral de ordem emocional: carinho, sexo e afeto. Outras necessidades sensoriais podem facilmente entrar como sucedâneos: comer, fazer compras até não poder mais.
A eleição do orgulho como primeira ação deixa de ser alusiva à sede de atenção e distinção do caráter orgulhoso e, ademais, me parece uma sábia estratégia a dos antigos guias espirituais de enfatizar a importância desta paixão que, como a gula, se expressa através de um caráter indulgente, compreensivo e menos dado que os outros a sentir-se em falta.
Dentre os vários tipos do Eneagrama, o Tipo Dois que está relacionado ao Orgulho é visto como o Doador. Tendo perdido a Ideia Sagrada da Liberdade, de que suas necessidades serão atendidas sem que ele precise estar sem­pre servindo ou manipulando os outros, o Tipo Dois aprendeu que é preciso dar para receber.
 Ele desenvolve a fixação mental da Adulação, usando-a para seduzir os outros. Também desenvolve a paixão emocional do Orgulho, que o faz sentir-se indispensável para aqueles a quem ajuda.
No nível instintivo, o Subtipo Dois é agressivamente Sedutor em situações íntimas; Ambicioso em situa­ções sociais, para garantir a atenção e o prestígio de estar ligado a pessoas poderosas; e acha que, porque dá tanto de si, tem direi­to a um privilégio do tipo “Priméiro eu” para preservar seu pró­prio bem-estar.
 É difícil que o orgulhoso possa progredir espiritualmente sem que alguém lhe chame a atenção e aponte sua evasão do desprazer e a falta de autocrítica, que o leva a sentir-se superior, onipotente,  estupendo, digno de deferências, importante.
 Não obstante, no fundo deste caráter, existe uma grande neces­sidade de amor, e a vida inteira se orienta em torno desta necessidade de ser querido através de uma falsificação da realidade. Assim o exige a inflação de sua autoimagem.
Mesmo sendo o orgulho uma paixão pela qual nos vemos superiores ao que somos, convém esclarecer que este sentimento de superioridade não se expressa comumente como arrogância e bem pode passar inadvertido aos demais.
É muito comunicativo e extremamente prestativo; é gregário e muito sensível e impressionável, vaidoso e narcisista, considera-se mais refinado, intuitivo, divertido, talentoso e espiritual do que os outros; pode ficar fascinado por si mesmo; domina mas sem agressividade e de maneira sutil; gostar de si mesmo é até certo ponto saudável mas pode haver um exagero auto limitante; é como um animador que precisa da plateia.
 A pessoa que “verdadeiramente” tem uma boa opi­nião de si mesma irradia sua auto complacência de tal forma que é instantaneamente compartilhada por quem a rodeia, sem que necessite deixar explícita sua nobreza através da submissão ou atos virtuosos.
Tão convencida está de seus méritos que não sente que tenha que convencer os outros e nem sequer a si mesma; mas goza do resultado desta auto- inflação: o bem-estar. Enquanto a maior parte das pessoas sofre a distância que a separa de seu ideal, o orgulhoso, confundido com seu ideal, encontra prazer em si, e muitas vezes é consumido pela vaidade.
Sem dúvida, não se trata de um ideal “virtuoso”, como no caso do caráter iracundo. Sua virtude não é a vir­tude da disciplina nem uma que se firme* no controle de si mesmo, mas esta virtude suprema e espontânea que é a capacidade amorosa. Sentindo-se plena de amor, a pessoa de caráter orgulhoso se sente “grande”, para servir, capaz de dar aos demais e merecedora de receber o melhor deles.
E é “verdadeiramente” uma pessoa carinhosa, só que quando empreende o caminho de conhecer-se a si mesma descobre o quanto este ser carinhoso é, no fundo, um rol que se confunde com a realidade.
 Pode-se dizer que inti­mamente não quer o outro pelo outro e para o outro, senão para sentir-se capaz de amar e, portanto, uma pes­soa completa e digna de ser amada.
O tipo dois do eneagrama incorpora a compreensão, que é o traço fundamental do Tipo Dois (E2). Ele é capaz de perceber intuitivamente as necessidades especiais dos outros e oferecer-lhes exatamente a ajuda que precisam. Possuem a energia radiante magnética, de que elas necessitam para manifestar seu próprio e singular traço divino
Mas, por mais que a natureza sedutora de seu amor seja visível aos demais, difi­cilmente o é para ela mesma. Não esqueçamos que o orgu­lho se situa, no eneagrama, junto à mentira, à simulação, à falsificação de si.
Chegar a compreender que se viveu “acreditando-se um personagem” de si mesmo é particu­larmente complicado em vista de sua conduta terna, sim­pática e empática que atrai tanto feedback positivo.
Frente aos outros caracteres que se vêem ameaçados ao questionar-se ante os embates da vida, o caráter orgu­lhoso não recebe tantos desafios quando comparado aos que abordam o mundo desde uma superioridade mais competitiva, como a dos pontos vizinhos no eneagrama.
Consideremos o caso do orgulho. É fácil perceber que, assim como a expressão de orgulho do indivíduo constitui uma tentativa de compensar uma insegurança com relação a seu valor pessoal, as pessoas orgulhosas, enquanto grupo, têm em comum uma repressão e compensação excessiva pela sensação de inferioridade e carência dominantes na inveja. Já no caso da inveja, podemos falar da raiva que se voltou para dentro num ato de autodestruição psicológica.
O mundo conhece bem o jogo do orgulhoso, como o revela a expressão femme fatale para designar certas mulhe­res de grande atrativo. Implica dizer que o atrativo é um bem para ela mesma, mas de nenhum modo para quem “sucumbe” a ela.
Uma interpretação clássica deste personagem é o que nos legou Emile Zola em Nana - a bela prostituta que arruína seu nobre e perdido namorado; outra é Carmen, irresistível, vital e provocadora.
Ainda que Teofrasto7 não inclua em sua coleção um caráter que designe como orgulhoso8 - inclui o “fanfar­rão”9 segundo ele, seu comportamento se inclina em direção a uma capacidade singular para a mentira com­pulsiva, conceito que a psiquiatria chama “pseudologia fantástica” e que se associou com a desordem da persona­lidade histriônica.
“A fanfarronice parece ser uma invenção fictícia de bens inexistentes”. Teofrasto inicia falando desta fanfarro­nice como a grandeza da imagem que se dá de cara aos demais e que vai além de uma mera exibição da dignida­de.
 Sua mentira se faz evidente quando nos diz que o fan­farrão “é quem, no bazar, fala aos estrangeiros de grandes somas de dinheiro que investiu no mar e lhes informa de que grande negócio é este tipo de empréstimo, de suas perdas e ganâncias.
 Enquanto alardeia deste modo, manda o escravo ao banco para que deposite uma ridícu­la quantia de dinheiro. ”
Ainda que a adulação em si mesma seja um aspecto dos caracteres VII e III do eneagrama, na adulação que descreve Teofrasto encontra-se mais do que o correspon­dente ao sentido estrito da palavra; daí que seja possível identificá-la como um exemplo do eneatipo II do eneagrama - orgulho (É interessante observar que na maioria das versões do livro de Teofrasto é esta imagem do adulador10 que ocupa o pri­meiro lugar.)
Tomo uma citação do seu texto:
“O adulador é capaz de dizer à pessoa com quem passeia: ‘Já te deste conta de como as pessoas te olham? Não se fala de outro em Atenas a não ser de ti. Ontem, no pórtico te elogiavam. Ali havia mais de trinta pessoas sentadas e surgiu o tema de quem é o homem de maior valor. Todos os presentes começa­ram por ti e depois voltaram a parar no teu nome.”
 E continua dizendo estas amabilidades e outras seme­lhantes, retira uma pelugem de seu casaco e se acaso se deposita em seu cabelo uma palhinha trazida pelo vento, retira-a e acrescenta com um sorriso: Tu vês?
Como faz dois dias que não te vejo, tens a barba coberta de pelos brancos e para a tua idade tens o cabelo negro como nenhum outro.’ Apenas este desa­ta a falar, o adulador faz com que os demais se calem, elogia-o quando o ouve e no momento em que o outro se cala, exclama: “Magnífico. ”
Nesta imagem se observa uma forma sutil e implícita de adulação que se distingue da simples afirmação de valia da outra pessoa. O orgulho do outro se satisfaz indi­retamente através de manifestações de apreço, preocupa­ção e admiração, e através da estimulação e adulação dos 10 O bajulador, segundo a edição portuguesa já citada.
 A descrição de Teofrasto também chama a aten­ção para uma certa generosidade do caráter adulador: “E, por descontado, é também capaz de fazer, como se fosse um escravo, as compras no mercado das mulheres, sem parar para respirar sequer (...) Pergunta ao seu anfitrião se não tem frio e antes que se pronuncie palavra, abriga-o com seu manto.”
Neste último comentário, insinua-se que esta preocu­pação supostamente generosa pode ser invasora e carente de tato com respeito aos desejos do outro - traço que se discute com maior profundidade no caso de caracteres como o “inoportuno” e o “intrometido”. Fazendo referên­cia a este último, afirma:
“O intrometimento parece ser um excesso de boa disposição tanto de palavra como de obra. O introme­tido é um indivíduo capaz de prometer, precipitada­mente, o que não vai cumprir... Insiste para que os escravos preparem mais vinho do que os convidados podem beber (...) Propõe-se a indicar um atalho e logo não encontra o lugar onde quer ir (...)
Assim mesmo se apresenta diante do oficial superior para perguntar quando vai decidir o início da batalha e quais vão ser as ordens seguintes (...) No sepulcro de uma mulher recém falecida, faz escrever o nome de seu marido, do seu pai e o da mãe, o da própria defunta e seu nascimento. Como se fosse pouco, pede que se grave também que todos eram pessoas de bem.”
O mecanismo de defesa do caráter histriônico é o que se chama “repressão” pura e simples, ainda que seu nome completo não seja tão simples: “repressão do representante do ideacional do instinto, dizia Freud.
Em resumidas palavras, trata-se de uma pessoa que apesar da aparente liberdade com que sente e expressa suas emoções, não se permite saber o que sente. Certamente podemos dizer que não quer assumir a responsabilidade por elas, porém, os limites entre a má fé e a inconsciência são misteriosos, como bem comentou Sartre em sua crítica a Freud.
Este texto extraído do livro “Autoconocimiento Transformador” de Claudio Naranjo clarifica com sabedoria as características  do E2
         “Samuel Butler nos deu uma imagem do “homem orgulhoso”, como um que “enfeita suas penas como a coruja, para estufar e parecer maior do que é”. O descreve  como  alguém “que lançou em si mesmo ‘poções amorosas’, que o transformaram em sua própria namorada”, e “comete idolatria consigo mesmo, adorando sua própria imagem”.
            Não obstante, o orgulho não é sempre uma paixão tão visível, e o egocentrismo pode ficar muito bem encoberto pela generosidade. Neste caso, o conceito que a pessoa orgulhosa tem de si mesma lhe permite sentir-se boa, ou melhor, radiante, transbordante, cheia de si mesma, como se tivera mais do que o suficiente. Pode incluir também a convicção de ter muito o que dar, de que a sua mera companhia é uma dádiva para os demais.
            Em uma mulher (este é um caráter eminentemente feminino e, também, mais comum em mulheres), a pseudo abundância do E2 pode concretizar-se em uma personalidade maternal e no sentimento de que, naturalmente, tem muito que dar aos bebês, não apenas seus, mas a todas as crianças em geral. Claro está que não percebe que a sua generosidade provém da sua necessidade de dar e do quanto necessita receber.  
 O mais característico é que consiga ser necessitada, uma vez que assim se confirma como pessoa. Ser necessitada significa que não é apenas alguém que faz bem feito, mas antes um grande amante, uma grande mãe ou uma grande filha, no qual está implicado não somente a beleza, mas também o amor como capacidade de dar.
  Não se trata só de uma questão de sedução, pois sedução é dar para receber depois ou prometer dar algo para deixar o outro em dívida; por sedutor que seja um E2, também é verdade que ele recebe (autoconfirmação) no próprio ato de dar.
            Jane Austen observou com agudeza como uma conduta generosa pode servir a uma imagem orgulhosa, quando nos mostra a associação entre liberalidade e presunção no seu retrato do ambicioso Mr. Darcy de “Orgulho e Preconceito”.
            (...) Desde que em princípios dos anos setenta eu afirmara que as pessoas E2 são “mãezonas”, se propagou a opinião de que são, sobretudo, “ajudadores”.  Isso pode induzir a equívocos, pois o papel de pessoa serviçal é mais característico do E9. Nesse caráter tão emotivo e romântico, a “ajuda” se traduz como “apoio emocional” e, em conjunto, se pode entender essa personalidade mais como “amorosa” do que como “ajudadora”.
            O papel de sedutor e a paixão por atrair podem levar a alguns deles a adotar um estilo infantil obediente, porém turbulento, com Nora em “casa de Bonecas” de Ibsen, que ao final da obra consegue desprender-se do seu papel infantil e irresponsável.
Mas a maioria dos E2são ao mesmo tempo ternos e agressivos, inclusive hábeis para armar cenas. O lema “faça o amor e a guerra” seria apropriado para o seu estilo: um híbrido de Vênus e Marte. Em alguns casos, a agressão do E2 é compensada pela sua excepcionalidade e seu irresistível atrativo; em outros, com o familiar personagem de Scarlett O’Hara de “E o Vento Levou”, a máscara de falso amor mal pode dissimular o egoísmo e o aproveitamento explorador.
            O orgulho do E2 não sói ser do tipo que derivado da satisfação primária em destacar-se dentre os outros competitivamente. Satisfaz-se, antes, pelo amor. A sedução foi desenvolvida para serem amados. Ao falar de sedução não me refiro só ao erotismo, mas senão, mais marcadamente, à aparência de poder oferecer mais do que realmente dispõe.
  Algo que reflete muito isso são as promessas que acenam com muito mais do que realmente se vai proporcionar. “Estarei ao teu lado” ou “Te amarei o resto da minha vida” são frases típicas de uma pessoa E2, mas esses votos dramáticos e em geral comovedores não se cumprem necessariamente.
            Assim como no E1 se destaca o perfeccionismo, no E2 se destaca o falso amor, presente tanto na auto complacência narcisista como na benevolência sedutora dedicada aos demais. Uma das suas formas de expressão pode ser a adulação e, efetivamente, reconhecemos um E2 no retrato que Butler faz de um bajulador, sobre o qual assinala que “faz soar campainhas ao ouvido de um homem, como um cocheiro com seu cavalo, enquanto que no lombo lhe acomoda uma pesada carga”.
            Os casos mais problemáticos de E2 se diagnosticam hoje como pertencentes à “personalidade histriônica”, que se descreve como teatral, impulsiva, insistente, variável, volúvel, novidadeira e inconsequente. Há algo de excessivo na expressão da pessoa E2, seja esta terna ou agressiva, em seu entusiasmo tão arrebatador, em seus rompantes de mau gênio tão manipuladores...
 Trata-se de dar uma falsa imagem para alcançar um propósito, de por em jogo uma emoção para conseguir um efeito. Apesar de serem diretos e da impressão de veracidade indiscutível que produzem, esses indivíduos são menos observantes das normas que a maioria das pessoas e podem ter adquirido o hábito de mentir já na infância.
            Já me deparei com mulheres cujas mães diziam que, quando pequenas, “não eram mentirosas, mas sim muito imaginativas”. Uma delas, por exemplo, disse quando às suas companheiras de escola que vivia em uma casa com uma piscina que tinha uma baleia. Todas as crianças queriam visitá-la para ver algo tão fabuloso, mas ela se esforçava para mantê-los afastados.
            (...) As pessoas E2 se guiam pelo prazer, são alegres, graciosas e por vezes até um pouco aloucadas. Não aceitam as restrições com facilidade e podem ser invasoras, ao não respeitar tampouco os limites dos outros. Valorizam a liberdade, que confundem facilmente com libertinagem.
 Rebelam-se fortemente diante da disciplina, da monotonia, da rigidez. Nada contrasta tanto com um E2 como a severa e disciplinada personalidade de um E1. Os E2 se rebelam contra a pontualidade, a correção, a ordem e o previsível. Detestam a rotina e as coisas corriqueiras. Pode-se imaginar, por exemplo, uma “mulher fatal” esperando numa fila? Em um banco, buscarão sempre falar imediatamente com o gerente.
Ficar no quinto lugar de uma fila é demasiado ofensivo para o seu orgulho. Deveria ser-lhes concedido o privilégio de serem sempre os primeiros e assim sentir que nunca terão de esperar.
            Obviamente, o fato de que os desejos sejam mais importantes que os princípios pode implicar em um comportamento mais ou menos antissocial. (...) é também o caso de Scarlett O’Hara, cuja falta de escrúpulos autoriza   a ler as cartas que o homem pelo qual se interessa escreve a sua esposa, sua inocente rival.
            Uma característica que vale a pena destacar, dada a frequência com que suscita problemas interpessoais, é a sua excessiva mutabilidade. A inconsistência ou incoerência do E2 não provém somente da sua sedução prometedora e enganosa, ou da sua aversão à monotonia, à rotina e ao previsível, mas antes de suas ânsias de entusiasmo: um entusiasmo que encoraja o conceito que tem de si mesmo. Se é certo que podemos dizer que todos temos distintas subpersonalidades com intenções diferentes e, inclusive, por vezes contrárias, isso é ainda mais correto no caso dos E2 Ademais, neles há muito pouca comunicação entre o eu de hoje e o eu de amanhã.
 Tendem a viver no tempo presente, mas não se trata de um salutar centramento no presente. A maioria de nós necessita aprender a viver mais no presente e não tanto no passado ou no futuro, porém para os E2 o presente é um subterfúgio: vivem no presente porque não querem pensar nas consequências futuras das suas ações, nem recordar os compromissos de ontem.
            (...) A expressão francesa “femme fatale”, que se ajusta com perfeição ao subtipo sexual do E2, tem sua sabedoria: embora se refira principalmente à sua qualidade de irresistível, também alude, obviamente, à qualidade de perigosa.
            Um traço marcante nos orgulhosos é não reconhecer suas necessidades, mas a mesma pessoa que sente que pedir algo é “rebaixar-se”, pode muito bem exigir ou obrigar-nos insistentemente. Quando o menino mimado se faz adulto, busca sempre ter privilégios.
Querem gozar de todo o tipo de atenções e que todo o mundo esteja a sua disposição. Se vão a um restaurante, por exemplo, desejam a melhor mesa e se lhes é oferecido um vinho, o aceitam somente depois de examiná-lo cuidadosamente.
 São exigentes e extravagantes, às vezes com caprichos difíceis de satisfazer. Uma vez conheci uma menina de seis anos muito mimada e consegui compreender que isso se devia a sua reação frente uma separação temporária de seus pais, o que a fez sentir-se desatendida.
 A partir de então, suas exigências e seu comportamento esgotador se tornaram uma tentativa de obter provas de que eles a amavam. Parecia que quanto mais “difícil” fosse de aguentar, maior era a prova de amor que alcançava, como se em seu íntimo pensasse algo parecido a: “Me amam, apesar de tudo”.
A mesma dinâmica explica o caráter caprichoso do E2, assim com a sua obstinação. Uma pessoa orgulhosa precisa conseguir exatamente o que quer; do contrário fará uma cena, chorará, fará qualquer coisa para monopolizar a atenção (por exemplo, se a torrada desta menina não tem suficiente manteiga... lá vem escândalo!).
            Em seu desprezo pela patologia social a sociedade capitalista, Erich Fromm fala de um “princípio da não frustração”. Afirma que a necessidade de consumo maciço que forma parte do nosso sistema econômico “desempenhou um papel determinante ao estabelecer-se como traço do caráter social do homem moderno, constituindo um dos contrastes mais notáveis com respeito ao caráter social do século XIX”.
Fromm formula isso como o princípio de que cada desejo deve ser satisfeito imediatamente e nenhum anseio deve ficar frustrado, e propõe como amostra disso as compras e os planos de financiamento.
            (...) Fromm continua explicando como o princípio da satisfação imediata do desejo se reflete na conduta sexual e reconhece em Aldous Huxley o mérito de “havê-lo mostrado da forma mais crua” no livro “Admirável Mundo Novo”, onde uma das palavras de ordem para o condicionamento dos adolescentes era “não deixe para amanhã o que você possa desfrutar hoje”.
            Ainda que o E7 seja quase tão hedonista quanto o E2, creio que o E2 tem mais de consumidor. Seria o tipo de pessoa da qual se poderia dizer, como sugere Freud, que o desfrute amoroso consiste em “abranger tudo”: “os artigos supérfluos, os lugares de interesse, a comida, a bebida, os cigarros, a gente, as conferências, os livros, os filmes... tudo é consumido e tragado”. Tradução de Arnaldo Gouveia  

Este texto é resultado de uma pesquisa, é uma compilação inspirado em vários mestres do assunto. Claudio Naranjo e outros.
Agradeço se ao compartilhar o texto voce compartilhar o link. grata 
Postado por Dharmadhannya

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