quarta-feira, 5 de junho de 2013

A sombra - o "Eu" desconhecido



A  sombra  - o "Eu" desconhecido

Carl Jung viu em si mesmo a inseparabilidade do ego e da sombra, num sonho que descreve em sua autobiografia Memories, Dreams, Reflections [Memórias, Sonhos, Reflexões]:

Era noite, em algum lugar desconhecido, e eu avançava com muita dificuldade contra uma forte tempestade. Havia um denso nevoeiro. Eu segurava e protegia com as mãos uma pequena luz que ameaçava extinguir-se a qualquer momento. Eu sentia que precisava mantê-la acesa, pois tudo dependia disso.

De súbito, tive a sensação de que estava sendo seguido. Olhei para trás e percebi uma gigantesca forma escura seguindo meus passos. Mas no mesmo instante tive consciência, apesar do meu terror, de que eu precisava atravessar a noite e o vento com a minha pequena luz, sem levar em conta perigo algum.

Ao acordar, percebi de imediato que havia sonhado com a minha própria sombra,projetada no nevoeiro pela pequena luz que eu carregava. Entendi que essa pequena luz era a minha consciência, a única luz que possuo. Embora infinitamente pequena e frágil em comparação com os poderes das trevas, ela ainda é uma luz, a minha única luz.


A sombra de Jung carrega  o seu potencial de criatividade, inspiração e de destruição, é tudo aquilo que ele não conhece de si mesmo.

Muitas forças estão em jogo na formação da nossa sombra e, em última análise, determinam o que pode e o que não pode ser expresso. Pais, irmãos, professores, clérigos e amigos criam um ambiente complexo no qual aprendemos aquilo que representa comportamento gentil, conveniente e moral, e aquilo que é mesquinho, vergonhoso e pecaminoso.


Alcançamos a Totalidade quando integramos os opostos no centro da consciência - não julgamos o outro porque reconhecemos o nosso potencial na sombra pessoal e coletiva.

A sombra age como um sistema imunológico psíquico, definindo o que
Em 1945, Jung referia-se à sombra como simplesmente aquela coisa que uma pessoa não queria ser. "Uma pessoa não se torna iluminada ao imaginar formas luminosas", afirmou, "mas sim ao tornar consciente a escuridão. Esse último procedimento, no entanto, é desagradável e, portanto, impopular."

Tudo o que tem substância lança uma sombra. O ego está para a sombra como a luz está para as trevas. Essa é a qualidade que nos torna humanos. Por mais que o queiramos negar, somos imperfeitos. E talvez seja naquilo que não aceitamos em nós mesmos — a nossa agressividade, a inveja, o ódio, a violência e vergonha, a nossa culpa e a nossa dor — que descobrimos a nossa humanidade.


A sombra é conhecida por muitos nomes: o eu reprimido, o self inferior, o gêmeo (ou irmão) escuro das escrituras e mitos, o duplo, o eu rejeitado, o alter ego, o id. Quando nos vemos face a face com o nosso lado mais escuro, usamos metáforas para descrever esse encontro com a sombra: confronto com os nossos demônios, luta contra o diabo, descida aos infernos, noite escura da alma, crise da meia-idade, caracteriza 'desejos não reconhecidos' e 'porções reprimidas da Personalidade. "

Existe dentro de cada pessoa o “médico e o monstro”, a “Santa e a devassa”, o “demônio e o anjo” de muitas faces que aparece nos sonhos com vários rostos - o assassino, o estuprador, o ladrão, o vilão...

Todos nós possuímos uma sombra. Ou é a nossa sombra que nos possui? Carl Jung transformou essa questão em um enigma quando perguntou: "Como encontras o leão que te devorou?"

 Pois a sombra é, por definição, inconsciente; nem sempre é possível saber se estamos ou não sob o domínio de alguma porção compulsiva dos conteúdos da nossa sombra.

Jung disse que todos nós compreendemos intuitivamente o significado das expressões sombra, personalidade inferior ou alter ego. "E se ele acaso esqueceu", brincou Jung, referindo-se ao homem médio, "sua memória pode ser facilmente refrescada por um sermão de domingo, por sua esposa ou pelo coletor de impostos."

Para podermos ser capazes de encontrar a sombra na nossa vida cotidiana — dando-lhe acesso e, assim, rompendo seu domínio compulsivo sobre nós — precisamos, antes de mais nada, alcançar uma compreensão abrangente do fenômeno. O conceito de sombra deriva das descobertas feitas por Sigmund Freud e Carl Jung,

Jung fala da sombra pessoal como o outro em nós, a personalidade inconsciente do nosso mesmo sexo, o inferior repreensível, o outro que nos embaraça ou envergonha:

 "Por sombra, quero dizer o lado 'negativo' da personalidade, a soma de todas aquelas qualidades desagradáveis que preferimos ocultar, junto com as funções  insuficientemente desenvolvidas e o conteúdo do inconsciente pessoal."

A sombra é negativa apenas a partir do ponto de vista da consciência;  ela contém em potencial valores da mais elevada moralidade, ela é tudo aquilo que não aceitamos, que não reconhecemos como parte do nosso potencial.  Isso é particularmente verdadeiro, diz Frey-Rohn, quando existe um lado oculto na sombra que a sociedade considera como positivo, ainda que a própria pessoa o veja como inferior.

A sombra aproxima-se mais daquilo que Freud entendia como "o conteúdo reprimido".

Mas, em contraste com a visão de Freud, a sombra de Jung é uma personalidade inferior que tem seus próprios conteúdos, tais como pensamento autônomo, idéias, imagens e julgamentos de valor, que são semelhantes aos da personalidade consciente superior.

Marina revelou na infância um grande potencial para ser bailarina e cantora e  a família não aceitou e castrou este potencial, é possível que a Mariana bailarina se torne uma sombra que aparece nos sonhos com muita raiva e triste.

Hoje em dia, entendemos por sombra aquela parte da psique inconsciente que está mais próxima da consciência, mesmo que não seja completamente aceita por ela.

Por ser contrária à atitude consciente que escolhemos, não permitimos que a sombra encontre expressão na nossa vida; assim ela se organiza em uma personalidade relativamente autônoma no inconsciente, onde fica protegida e oculta. Esse processo compensa a identificação unilateral que fazemos com aquilo que é aceitável à nossa mente consciente.

Para Jung e seus seguidores, a psicoterapia oferece um ritual de renovação pelo qual a personalidade da sombra pode ser percebida e assimilada, reduzindo assim seus potenciais inibidores ou destrutivos c liberando a energia vital positiva que estava aprisionada.

 Jung continuou a ocupar-se com os problemas correlatos de destrutividade pessoal e mal coletivo durante toda a sua longa e ilustre carreira. Suas investigações mostraram que lidar com a sombra e o mal é, em última análise, um "segredo individual", igual àquele de experimentar Deus, e uma experiência tão poderosa que pode transformar a pessoa como um todo.

Jung buscava respostas para as inquietantes questões que nos perturbam a todos, diz o estudioso junguiano Andrew Samuels, e o trabalho de sua vida oferece "uma explicação convincente, não apenas das antipatias pessoais mas também dos cruéis preconceitos e perseguições dos nossos tempos

Cada um de nós tem uma herança psicológica que não é menos real que nossa herança  biológica. Essa herança inclui um legado de sombra que nos é transmitido e que absorvemos no caldo psíquico do nosso ambiente familiar.

 Ali estamos expostos aos valores, temperamentos, hábitos, atitudes e comportamentos dos nossos pais e irmãos. Com frequência, os problemas que nossos pais não conseguiram resolver em suas próprias vidas vêm alojar-se em nós sob a forma de disfunções nos padrões de socialização.

"O lar é o nosso ponto de partida", disse T. S. Eliot. E a família é o palco onde encenamos a nossa individualidade e o nosso destino. A família é o nosso centro de gravidade emocional, o local onde começamos a ganhar identidade e a desenvolver o caráter sob a influência das  diferentes personalidades que nos cercam.

Dentro da atmosfera psicológica criada por pais, irmãos, guardiães e outras importantes fontes de amor e aprovação, cada criança inicia o processo necessário de desenvolvimento do ego. A adaptação do homem à sociedade exige a criação de um ego — de um "eu" — para agir como princípio organizador da nossa consciência em expansão.

O desenvolvimento do ego depende da repressão daquilo que é "errado" ou "mau" em nós, bem como da nossa identificação com aquilo que é visto e encorajado como "bom". Isso dá à personalidade em crescimento a vantagem estratégica de eliminar a ansiedade e oferecer um referencial positivo.

O processo de crescimento do ego continua por toda a primeira metade da vida, sendo modificado por influências e experiências externas à medida que saímos para o mundo.

Existe uma relação direta entre a formação do ego e da sombra: o "eu reprimido" é um subproduto natural do processo de construção do ego que acabará se tornando o espelho do ego.

Reprimimos aquilo que não se encaixa na visão que fazemos de nós mesmos e, e que não é aceito em nossa mundo social, cultural, religioso e familiar desse modo, vamos criando a sombra. Devido à natureza necessariamente unilateral do desenvolvimento do ego, nossas qualidades negligenciadas, reprimidas e inaceitáveis acumulam-se na psique inconsciente e se organizam como uma personalidade inferior — a sombra pessoal.

No entanto, aquilo que é reprimido não desaparece. Continua a viver dentro de nós — fora da vista e fora da mente mas, ainda assim, real; um alter ego inconsciente que se esconde logo abaixo do limiar da percepção. É frequente que ele irrompa do modo mais inesperado, em
circunstâncias emocionais extremas.

 "Foi o diabo que me fez fazer isso!", é um eufemismo dos adultos para explicar o comportamento do nosso alter ego. O antagonismo entre o ego e a sombra remonta a tempos passado e é um tema recorrente da mitologia:

 o relacionamento entre os irmãos ou os gêmeos opostos (um bom e o outro mau), representações simbólicas do ego/alter ego no desenvolvimento psicológico. Juntos, esses irmãos opostos formam um todo. E, do mesmo modo, quando o ego assimila o eu reprimido, caminhamos rumo à totalidade.

Quando a Personalidade evita de julgar e de condenar o outro, ele reconhece a própria sombra, sua própria fragilidade.

Nas crianças mais jovens, a regulação do limiar da percepção consciente é frouxa e ambígua. Nos playgrounds, podemos observar o processo de formação da sombra nas crianças e seu encorajamento pelos adultos.

 Ficamos espantados com a mesquinharia e a crueldade que vêm à tona quando as crianças brincam. Nossa ansiedade para interferir é, em geral, uma reação espontânea. Pois é natural e instintivo não querermos que a criança se machuque. Mas também  queremos que a criança reprima os sentimentos e ações que nós reprimimos, para que ela possa  se adequar ao nosso ideal adulto de brinquedo apropriado.

E, além disso, projetamos ou atribuímos à criança "mal comportada" aquilo que anteriormente reprimimos em nós mesmos. Quando a criança capta a mensagem, ela deixa de se identificar com esses impulsos para satisfazer as expectativas do adulto.

A sombra dos outros estimula, assim, um contínuo esforço moral na formação do ego e da sombra de uma criança. Quando pequenos, aprendemos a encobrir aquilo que está acontecendo abaixo da percepção do ego, para parecermos bons e aceitáveis às pessoas que nos são importantes.

A projeção — a transposição involuntária de tendências inconscientes inaceitáveis sobre objetos ou pessoas do mundo exterior — ajuda o ego frágil a obter um retorno positivo. “Luis quer me destruir, ele é  falso e mentiroso e não posso confiar nele.”

De acordo com a analista junguiana Jolande Jacobi, "Ninguém gosta de admitir sua própria escuridão. As pessoas que acreditam que seu ego representa a totalidade de sua psique, as pessoas que não conhecem nem querem conhecer todas as outras qualidades que pertencem ao ego, costumam projetar as 'partes' desconhecidas da sua 'alma' sobre o mundo à sua volta".

É claro que o oposto também ocorre. Quando a criança sente que jamais corresponderá às expectativas dos outros, ela pode apresentar um comportamento inaceitável e tornar-se um bode expiatório para a projeção da sombra dos outros. A "ovelha negra" de uma família, considerada ajustada, organizada... é aquele que se tornou receptáculo e portador da sombra daquela família.

De acordo com a psicanalista
Sylvia Brinton Perera geralmente o adulto identificado como bode expiatório é, por natureza, bastante sensível às correntes inconscientes e emocionais.

 Ele foi a criança que tomou sobre si a sombra familiar.
O analista junguiano britânico A. I. Allensby narra uma história de sombra familiar, que lhe foi contada por Jung (essa história foi extraída do livro de John Conger, Jung and Reich: The Body as Shadow [Jung e Reich:

 O Corpo como Sombra]: (Jung) contou-me ter conhecido certa vez um jogador famoso que não admitia jamais ter feito algo errado em sua vida.

"E sabe o que aconteceu aos filhos desse homem?", perguntou-me Jung, "o filho virou ladrão e a filha, prostituta. Como o pai não assumia sua própria sombra, seu quinhão na imperfeição da natureza humana, os filhos foram obrigados a viver o lado escuro que o pai ignorava."

Além dos padrões de relacionamento pais-filhos, outros eventos acrescentam complexidade ao processo de formação da sombra. À medida que o ego da criança vai ganhando percepção, parte dele forma uma máscara — ou persona —, a face que exibimos ao mundo, a imagem daquilo que pensamos ser e que os outros pensam que somos.

A persona satisfaz as exigências do relacionamento com o nosso ambiente e cultura, conciliando o ideal do nosso ego com as expectativas e os valores do mundo onde crescemos.

Sob a superfície, a sombra vai estocando o material reprimido. Todo o processo de desenvolvimento do ego e da persona é uma resposta natural ao ambiente e é influenciado pela comunicação com a nossa família, com nossos amigos, com nossos professores e conselheiros.

A influência dessas pessoas manifesta-se através da aprovação, da desaprovação, da aceitação e da vergonha.

Considerando esse cenário da nossa vida em família, podemos ver como o alter ego se desenvolve. A sombra dos outros membros da família exerce forte influência sobre a formação do eu reprimido da criança;

 especialmente quando os elementos escuros não são reconhecidos dentro do grupo familiar ou quando os membros da família conspiram para esconder a sombra de um deles, alguém poderoso, ou fraco, ou muito querido.

O contexto para a formação da sombra, como a repressão produz o eu reprimido ao fragmentar a coerência  do nosso senso de identidade.
Quando a dinâmica familiar é extremamente negativa, abusiva ou anormal, a culpa e a  vergonha transformam-se no problemático âmago da sombra que nos é legada
A formação da sombra é inevitável e universal. Ela faz de nós aquilo que somos; ela nos leva ao trabalho com a sombra, que faz de nós aquilo que podemos ser.

Criando o falso eu

Em suas tentativas de reprimir certos pensamentos, sentimentos e comportamentos, os pais usam várias técnicas. Às vezes, emitem ordens claras: "Não me diga que você está pensando assim!", "Menino crescido não chora", "Não bote a mão aí nessa parte do seu corpo!", "Nunca mais quero ouvir você dizendo isso!" e "Não é assim que a gente age aqui na nossa família!" Ou se não (como faz a mãe quando vai com o filho à loja) ralham, ameaçam e espancam.

 Muitas vezes, os pais moldam a criança através de um processo mais sutil de invalidação — simplesmente optam por não ver ou não recompensar certas coisas.

 Por exemplo, se os pais dão pouco valor ao desenvolvimento intelectual, presenteiam os filhos com  brinquedos e equipamentos esportivos, não com livros nem com kits de ciência.

Se os pais  acreditam que as meninas devem ser gentis e femininas e os meninos fortes e afirmativos, eles  só recompensarão seus filhos por comportamentos adequados ao sexo de cada um.

 Por exemplo, se o garotinho entra na sala rebocando um brinquedo pesado, eles dizem: "Olha que garotão forte que você é"; mas, se é a menina que entra com aquele mesmo brinquedo. Eles previnem: "Cuidado para não estragar seu lindo vestidinho."

No entanto, a influência mais profunda que os pais exercem sobre os filhos é através do  exemplo. A criança observa instintivamente as escolhas que os pais fazem, as liberdades e prazeres que eles se concedem, os talentos que desenvolvem, as habilidades que ignoram e as regras que seguem.

Isso tudo tem um efeito profundo sobre ela: "É assim que se vive. E assim que se vence na vida." Quer a criança aceite o modelo dos pais quer se rebele contra ele, essa socialização iniciai também desempenha um papel significativo na escolha dos companheiros.

A reação de uma criança aos ditames da sociedade passa por diversos estágios previsíveis. É típico que a primeira resposta seja esconder dos pais comportamentos proibidos. A criança tem pensamentos de raiva, mas não os verbaliza. Ela explora seu corpo na privacidade do seu quarto.

Atormenta os irmãozinhos menores quando os pais estão fora. E, finalmente, chega à  conclusão de que alguns pensamentos e sentimentos são tão inaceitáveis que deveriam ser eliminados; assim, ela constrói um pai/mãe imaginário dentro da sua cabeça, para policiar seus próprios pensamentos e atividades — essa é a parte da mente que os psicólogos chamam "superego".

 A partir desse momento, sempre que tem um pensamento proibido ou se permite um comportamento "inaceitável", a criança experimenta um golpe de ansiedade administrado por ela mesma. Esse golpe é tão desagradável que ela faz adormecer algumas dessas partes proibidas de si mesma — em termos freudianos, ela as reprime. O preço último de sua obediência é a perda da totalidade.

Para preencher o vazio, a criança cria um "falso eu", uma estrutura de caráter que serve ao duplo propósito de camuflar as partes do seu ser que ela reprimiu e protegê-la contra novos sofrimentos.

Por exemplo, o menino criado por uma mãe inacessível e sexualmente repressora pode tornar-se um "durão". Ele diz a si mesmo: "Não ligo se minha mãe não é muito afetuosa.

Não preciso dessa bobagem sentimental. Posso me virar sozinho. E, outra coisa... eu acho que sexo é sujo!" E ele acaba por aplicar esse padrão de resposta a todas as situações. Não importa quem tente se aproximar dele, ele levanta a mesma barricada. Mais tarde, depois de superar a relutância em se envolver com relacionamentos amorosos, é provável que ele venha a criticar sua companheira pelo desejo de intimidade e saudável sexualidade que ela demonstra:

 "Por que você quer tanto contato? Por que você é tão obcecada com sexo? Isso não é normal!
Um menino diferente talvez reagisse de modo oposto a esse tipo de criação; ele iria  exagerar seus problemas, na esperança de que alguém viesse em seu socorro: "Coitadinho de  mim. Estou ferido. Estou profundamente ferido. Preciso de alguém que tome conta de mim."

 Já um terceiro menino talvez se tomasse avarento, lutando para se apoderar de cada naco de amor, comida ou bens materiais que cruzassem seu caminho, com medo de nunca ter o bastante. Mas qualquer que seja a natureza do falso eu, seu propósito é o mesmo: minimizar a dor de perder uma parte da totalidade divina da criança original.

Em algum ponto na vida de uma criança, no entanto, essa engenhosa forma de autoproteção toma-se a causa de novos ferimentos, à medida que ela é criticada por possuir esses traços negativos.

 Os outros a condenam por ser inacessível ou carente ou egoísta ou gorda ou sovina.  Os que a atacam não vêem a ferida que ela tenta proteger nem avaliam a sábia natureza de sua defesa; tudo o que vêem é o lado neurótico de sua personalidade. Ela é julgada inferior, ela não
é íntegra.

E agora a criança está presa na sua própria armadilha. Ela precisa agarrar-se a seus traços  adaptativos de caráter porque eles servem a um propósito útil, mas ela não quer ser rejeitada.

 O que pode ela fazer? A solução é negar ou atacar os que a criticam. "Não sou fria e distante", diz ela em defesa própria, "sou, isso sim, forte e independente." Ou, "Não sou fraca e carente; sou sensível". Ou, "Não sou ávida e egoísta; sou previdente e prudente".

Em outras palavras: "Não é de mim que você está falando. Você só está me vendo sob uma luz negativa."

Num certo sentido, ela está certa. Seus traços negativos não são parte da sua natureza original. Foram forjados na dor e tornaram-se parte de uma identidade que foi assumida, um "pseudônimo" que a ajuda em suas manobras num mundo complexo e às vezes hostil.

 Isso não  quer dizer, no entanto, que ela não tem esses traços negativos; existem inúmeras testemunhas que poderão comprovar que ela os possui. Mas, para manter uma auto-imagem positiva e ampliar suas chances de sobrevivência, ela precisa negá-los.

 Esses traços negativos tomam-se aquilo que chamamos "o eu reprimido", as partes do falso eu que são demasiado dolorosas para serem reconhecidas.

Vamos fazer uma pausa e classificar essa proliferação de partes do eu. Até agora, fomos capazes de seccionar nossa totalidade original, aquela parte amorosa e unificada com a qual nascemos, em três entidades separadas:

1. O "eu perdido" — as partes do nosso ser que fomos Obrigados a reprimir devido as exigências da sociedade;
2. O "falso eu" — a fachada que erigimos para preencher o vazio criado por essa repressão e pela falta de desenvolvimento adequado;
3. O "eu reprimido" — as partes negativas do nosso falso eu que são desaprovadas e que, portanto, negamos.

De toda essa complexa colagem, em geral só percebemos as partes do nosso ser origina que ainda estão intactas bem como certos aspectos do falso eu. Juntos, esses elementos formam a nossa "personalidade", o modo como nos descrevemos para os outros.

 O eu perdido está quase que totalmente fora da nossa percepção; rompemos praticamente todas as ligações com as partes reprimidas do nosso ser.

 O eu reprimido (as partes negativas do falso eu), paira logo abaixo do limiar da nossa percepção e está sempre ameaçando emergir. Para mantê-lo oculto, precisamos negá-lo com todas as nossas forças ou então projetá-lo sobre os outros:

 "Eu não sou egoísta", afirmamos com a maior convicção. Ou: "O quê? Eu, preguiçoso? Você é que é preguiçoso!"

Este texto é resultado de uma pesquisa inspirado em vários mestres da psicologia:
Jung, Liz Greene
http://dharmadhannyael.blogspot.com.br

        Dicas de cursos.!!!



Assessoria em Inglês, Português e Francês.
Elaboração de textos, revisão e tradução.
 Aulas para adultos,
Aulas para terceira idade,
 Aulas com música para iniciantes
preferencialmente
 via Skype , via e-mail  
         mlucampos1@gmail.com 










Nenhum comentário:

Postar um comentário